História Umbrella High School - Guerra De Pensamentos

* * * Jill * * *

 

Quando ele estaciona o carro, ainda o encaro de canto, observando sua expressão de amargura por algo que COM CERTEZA aconteceu e ele não disse.

Será que devo dizer alguma coisa?

Ah, eu não sei...

Mas parecendo que ele não quer conversar comigo já que nem se vira para me olhar, abro a porta do carro.

-- Obrigada, até amanhã.

Quando vou sair, sinto ele me puxa e volto a olhá-lo.

Ele está com um olhar frio e um sorriso estranho no rosto, algo que me faz sentir um frio na espinha sem saber direito o porquê.

-- Fica um pouco aqui comigo...

-- Chris...

-- Por favor, Jill, eu não vou te atacar.

Apesar dele dizer essas palavras de maneira mais rude, penso que talvez queira me contar o que está o incomodando e assim, quem sabe, eu possa ajudá-lo de alguma forma.

Olho para minha casa desejando que minha mãe não me veja no carro com ele e fecho a porta encarando seus olhos que agora estavam fixos na minha porta.

Eu esperei.

Então ele olhou para mim.

-- O que aconteceu com você?

-- Quer sair comigo?

O quê?

-- O quê?

-- Sair comigo... Hoje.

Ele está frio comigo e me convida para sair?

O que aconteceu com ele?

-- O que você tem, Chris?

-- No momento, tenho uma vontade imensa de te levar para sair.

Isso não soa muita sinceridade...

Mesmo ele tentando me beijar várias vezes, nunca me convidou para sair e muito menos foi frio comigo. E acho que se realmente quisesse sair, adotaria aquele jeito doce que ele consegue manusear muito bem quando está perto de mim e quer conseguir alguma coisa.

-- E aí? Topa?

O olhar intenso dele e o sorriso de canto me fizeram desmanchar ali mesmo.

Mas desviei me lembrando dos princípios que adotei em relação ao Chris e eu já sabia o que devia dizer.

-- Acho melhor não.

-- Por quê?

-- Minha mãe não pode ficar sozinha por muito tempo...

Isso não deixa de ser verdade, mas de qualquer forma, preciso de uma desculpa ou sei que não vou me controlar perto dele... Mesmo mais distante do que nas outras vezes, meu coração palpita no peito.

-- Não será muito tempo.

-- Não?

-- Te levo para jantar e trago de volta, simples assim.

-- E por que isso agora?

-- Como assim?

-- Nunca me convidou para sair antes... Por que está convidando agora?

Se eu achava que a expressão dele estava fria antes, agora superou minha imaginação... O olhar dele ficou mais intenso, ele escondia algo grave em sua expressão, até sua respiração parecia ter mudado.

Ele está diferente...

Esse não é o Chris que eu conheci.

Mas ele desvia e volta com um sorriso lindo para mim que faz meu coração voltar a saltitar no peito e tenho que cuidar para eu não parar de respirar.

Ele é tão lindo...

Tão perfeito...

Alguém, por favor, me abana.

Se controla, Jill!!!

Quando ele se aproxima e pega uma mecha do meu cabelo o enrolando entre os dedos, sinto sua respiração no meu rosto e sinto a vontade de tê-lo mais perto, como hoje de manhã.

A memória do calor dos lábios dele nos meus me fazem ficar com o coração na boca mais uma vez... Nunca senti nada igual.

-- Diz que sim, boneca.

Ele sussurrou mais próximo de mim, com aquele sorriso irresistível, mas o olhar ainda estranho.

-- Eu te salvei do Albert... Não mereço um voto de confiança?

-- Sim, mas...

-- Não mereço uma retribuição de ao menos um tempo a mais com você?

-- Sim, Chris, mas eu...

-- Não mereço uma chance com você?

Eu parei.

Por mais que doa em minha alma... Acho que realmente não merece uma chance porque sei bem como você é e o que vou significar para você.

Mas ele não entende...

Ou insiste em não desistir disso.

-- Chris, eu já disse que não quero ser mais uma para você...

-- Sim, já disse... Não quer ser uma qualquer que anda por aí com qualquer um enquanto se faz de santa.

Seus olhos brilharam agora e mesmo com sua voz ficando mais brusca no final da frase, eu não me assustei com ele, mas sim, por ele... O que aconteceu para tê-lo deixado dessa forma?

-- O que aconteceu com você?

-- Se sair comigo, eu te conto o que aconteceu.

-- Não posso deixar minha mãe sozinha...

Ele respirou fundo parecendo impaciente ao desviar totalmente de mim e até se afastar, então do nada sai do carro e segue para minha casa.

O que ele vai fazer?

Eu saio apressada para pará-lo, mas ele bate na porta antes de eu chegar nela, só que o puxo pelo braço.

-- O que está fazendo?

-- Resolvendo seu problema...

-- Eu...

Minha mãe abre a porta me interrompendo e sorri ao nos ver, mesmo comigo sem entender nada, mas o Chris sorri docemente para ela.

-- Sogrinha!

-- Chris... Como vai?

-- Vou ótimo! E a senhora?

-- Vou bem, mas...

Ela olhou para minha expressão de provável susto e desentendimento, mas o Chris foi mais rápido.

-- Eu gostaria muito de levar a sua filha para jantar hoje, a senhora autoriza?

O quê?

-- O quê?

Minha voz falhou com meu susto...

Chris Redfield pedindo permissão para minha mãe para poder me levar para sair?

Que desespero todo é esse?

Será que... Será que realmente é para valer?

Ah, não... Não pode ser isso, seria bom demais para ser verdade.

Olho para minha mãe que também parecia não esperar por isso e quando olha para mim, desvio dela encarando o Chris que mesmo com o sorriso doce, carregava aquela mesma frieza no olhar.

-- Ah, por mim tudo bem, mas...

-- Viu só, Jill, sem desculpa agora!

Ele se vira para mim interrompendo minha mãe que esconde um riso com o jeito dele e eu continuo sem saber o que dizer.

-- Passo aqui às oito horas... Um bom dia, sogrinha!

Com mais um sorriso para ela e uma encarada para mim, ele sai sem dizer mais nada e o observo até entrar no carro com uma péssima expressão e arrancar rapidamente dali.

O que é que você tem?

-- Ele estava ansioso, hein!?

Com as palavras da minha mãe, eu sorrio forçadamente e entro dando um beijo em seu rosto fingindo que estava tudo bem.

Mas meus pés param quando penso...

Tenho um encontro com Chris Redfield!!!

MINHA NOSSA!!!

VOU SAIR COM CHRIS REDFIELD!!!

O que eu faço agora?

O que eu digo?

O que devo vestir?

Como devo agir?

-- Filha?

Eu viro assustada para minha mãe e tento novamente fingir que está tudo bem e que não existe desespero ou empolgação nenhuma dentro de mim.

-- Você gosta dele?

-- Mãe...

-- Nem venha com desculpas Jill Valentine, sou sua mãe e já me enrolou uma vez!

Depois que o Chris saiu quando me trouxe para casa na noite de seu heroísmo, minha mãe fez um milhão de perguntas que consegui desviar de maneira bem humorada não demonstrando afeição alguma por ele.

“É um amigo brincalhão, mãe, só isso.”

Mas agora...

EU TENHO UM ENCONTRO COM O SORRISO ENCANTADOR!!!

-- Você gosta dele?

Minha barriga se embrulhou ao pensar em como eu gostava...

Eu tentei, tentei, tentei, tentei mais um pouco e tentei mais uma vez, mas não consegui... Não consegui deixar isso de lado, eu gosto dele de um jeito que me assusta, que faz eu me sentir fraca e vulnerável ao lado dele.

-- Sim...

-- E quer esse encontro?

-- Muito.

-- E por que está insegura?

Minha mãe enxerga através da minha alma, por isso nem adiantaria eu tentar mentir sobre isso.

-- O Chris é o tipo de garoto que todas querem e ele adora isso... Não quero sair machucada.

-- E você está certa... Mas pelo jeito seu coração não entende.

-- Não, ele não entende.

-- Olha, minha querida... O Chris parece ser um bom rapaz, não acho que pediria para mim se não tivesse um interesse maior.

-- Você acha?

-- Sim, eu acho... Mas mesmo assim, posso estar enganada, então cuide com ele e principalmente com seu coração que pode te iludir.

-- Vou cuidar...

-- Ótimo... Mas mesmo assim, espero que se divirta.

-- Obrigada, mas você vai ficar bem sozinha?

-- Sim, não se preocupe... Agora suba e faça seus deveres porque nada de sair com seu príncipe encantado e se esquecer das tarefas da escola.

-- Tudo bem...

Eu saí contente dali e corri para o quarto fechando a porta e indo diante do espelho ver minha expressão de boba apaixonada.

Vou sair com ele!!!

Será que realmente gosta de mim?

Será que realmente isso pode dar certo?

Eu e ele... Nós... Podemos ficar juntos para valer?

Tudo bem, eu não vou exigir nada sério, não quero ser a louca que dá o primeiro beijo e exige um namoro, mas não quero ser descartável desde antes do primeiro encontro.

Quero que me valorize...

Quero que goste de mim como eu gosto dele.

Será que esse encontro é um erro?

Tenho medo de gostar mais...

De me apegar mais...

E sofrer mais.

Mas não posso evitar, essa coisa que sinto por ele invade meu coração de um jeito sufocante... E aquele beijo, ah, por Deus... Bom, não foi exatamente um beijo, mas ele tem um calor e uma essência inacreditavelmente provocantes.

Não sei se posso me controlar mais uma vez.

Chris Redfield...

Chris Redfield...

Chris Redfield...

Me jogo na cama e puxo os cadernos tentando me concentrar nos deveres, quando me pego escrevendo “Chris Redfield” no canto do caderno.

Para com isso!!!

Risco aquilo angustiada e depois pego a borracha para tentar apagar as marcas da minha insanidade.

Se controle, ou esta noite será a última vez que o verá!

Você não pode ceder tão facilmente!

Não pode ceder!

Não pode!!!

Não pode...

Foco nos deveres tentando afastá-lo de meus pensamentos quando outro momento do dia me invade.

Carlos...

Minha Nossa, o que houve com ele?

Parecia transtornado hoje de manhã, não parava quieto, sua angústia e nervosismo estavam presentes o tempo todo.

E aqueles machucados em seu braço...

Eu vi marcas roxas...

O que será aquilo?

Como será que aconteceu?

Me lembro das meninas me contando que às vezes ele aparecia no colégio com marcas de briga e por isso todos achavam que ele gostava de se meter em confusão como o irmão, mas não acredito nisso.

Por que estava machucado?

Então outra memória me vem a cabeça... O beijo.

O que foi aquilo?

Parecia irritado, bravo, até foi rude comigo e se manteve afastado o dia todo, e então me beija assim, do nada.

Foi estranho...

Ele estava angustiado, não parecia apaixonado.

E... Foi realmente estranho.

Eu nunca o vi como algo além e um amigo, mas isso não explica o fato de eu sentir que aquilo foi algo errado... Muito errado.

Eu não sei explicar, mas aquele beijo me paralisou, não consegui definir se era bom ou ruim ou simplesmente se eu queria aquilo.

Foi algo confuso...

Não foi certo, não sei o porquê, mas aquilo não foi certo.

Será que isso afetará nossa amizade?

Acho que ele vai se sentir mal depois de tudo e com razão, mas não o apedrejarei por isso, afinal, todos podem confundir sentimentos e espero MUITO que ele tenha se enganado ou REALMENTE nossa amizade não será mais a mesma.

Ele é importante para mim... Não quero que se afaste.

Mas não é porque estou apaixonada, isso tenho certeza, já que meu coração palpita na presença de apenas um na minha frente.

O Carlos é querido, amigo, confiável... Sei que não o conheço há muito tempo, mas sei que posso contar com ele, posso confiar nele. Sei que se eu precisar, ele largará tudo e virá me ajudar.

Só não me pergunte como sei disso.

Mas tenho certeza.

Espero que ele melhore e possamos continuar a nos darmos bem...

Volto minha atenção aos deveres e vejo a marca de onde risquei, fazendo com que minha mente traiçoeira me traga de volta a mente...

Chris Redfield...

AH, MINHA NOSSA, O QUE VOU VESTIR???

Largo tudo e vou ao meu guarda-roupas...

Droga!

O que eu uso?

Puxei um vestido azul, mas o descartei, então fui para outro... Mas nada parecia bom ou aceitável.

-- Qual será sua cor favorita?

Paro e penso nele...

Lindo...

Perfeito...

E simplesmente e completamente perfeito.

Ah, Minha Nossa, vou surtar assim!

Certo, ele só usa aquela jaqueta do time... É vermelha.

Será que ele gosta de vermelho?

Pego um vestido que se aproximava disso com algumas flores espalhadas nele e um sorriso se abre no meu rosto.

-- Acho que esse está bom...

Fecho o guarda-roupas e o penduro no trinco, voltando até a cama com os cadernos e pensando nele com um sorriso bobo.

Ele estava estranho hoje...

Mas continuou lindo como sempre.

Espero que melhore até a noite e volte com aquele jeito doce, mesmo comigo sabendo que seria mais difícil de eu me controlar.

Mas, se pensar bem... O que demais tem em um beijo?

Já estou completamente soterrada de sentimentos por ele mesmo, talvez isso também seja uma paixão que se libertará com alguns beijos... Mas tenho medo desses sentimentos se fortalecerem e eu acabar sozinha, chorando, apaixonada e sendo incluída na lista de “peguetes” dele.

Isso não...

Droga!!!

Não sei em que pensar!

Não sei como agir, não sei de nada!

Acho que devo apenas respirar fundo e seguir meu coração...

Meu coração...

Vou confiar em você seu danado, por favor, não deixe eu me decepcionar.

 

* * * Ingrid * * *

 

Eu girava a caneta em meus dedos sem parar enquanto os encarava lá embaixo depois do sino ter batido para o término da aula.

O sorriso de malícia dele e o sorriso de adoração daquela vadia...

As líderes de torcida tinham que ser exterminadas!

Começando por essa maldita da Ada Wong.

Leon...

Tão lindo e gostoso.

Como pode ter caído na dela?

Tudo bem, querido, você não resiste a um par de coxas visíveis todas as horas e um par de peitos que você deve provar todos os dias, eu entendo.

Mas está na hora de conhecer a mulher que realmente foi feita para você...

Euzinha aqui!!!

Eu sou seu destino, meu amor.

E mesmo você nunca tendo sequer olhado para mim durante todo esse tempo, você vai notar esta verdade inquestionável.

Essa vadia de uniforme e só uma fase, porque sou eu quem você quer.

Sou eu quem você tem que querer.

E farei você ver isso...

-- Ainda sonhando?

Sheva chega com alguns papeis e os larga em sua mesa enquanto me olha entediada.

-- Ele vai ser meu, pode escrever.

-- Leon está tão perto de ser teu quando Chris Redfield está de ser meu... Vamos encarar que isto está perto do impossível.

-- Encare você que é uma fracassada, porque eu cansei de ser invisível!!!

-- Se acalma, Ingrid...

-- Ele vai ser meu!

-- Como?

-- Farei ele me notar e perceber que sempre me amou, simples.

Ela riu como uma escandalosa e reviro os olhos para ela que me joga uma bolinha de papel e rio junto.

-- Isso é sério!

-- Certo, então façamos assim... Eu te ajudo a conquistar o Leon e você me ajuda com o Chris!

-- O Capitão do time está lambendo o chão que a novata pisa...

-- É só mais uma para ele, mas sou eu quem ele realmente ama!

-- Você é doida.

-- Você também... Mas acho que está na hora de deixarmos de ser doidas para tornar nossos sonhos realidade! Topa entrar nessa?

-- Tem alguma ideia?

-- Algumas...

-- Ótimo!

Ela puxa a cadeira para perto de mim e rimos juntas, entusiasmadas com nossos planos para finalmente pescar esses dois para nós.

E desta vez não pode haver erros!

 

* * * Chris * * *

 

Eu estava com a cabeça encostada na parede enquanto a água do chuveiro escorria pelo meu corpo.

Ela não é quem você pensava que fosse...

Ela é falsa...

Uma mentirosa...

Uma qualquer...

Jill Valentine... Minha bonequinha.

Durante a tarde toda aquele jeitinho doce dela invadiu meus pensamentos e me puniram pelo que estou fazendo.

Mas por que não fazer?

Ela se finge de difícil para mim, mas fica se agarrando com o irmãozinho marginal daquele imbecil do Albert.

E ainda se finge de mal entendida...

“O que aconteceu com você?”

Eu mereço...

Bato a cabeça de leve na parede tentando tirar aqueles olhos azuis da minha mente e me focar na Jéssica e no que eu prometi para ela.

Já consegui o encontro, então aquela delícia da Jéssica já está no papo e qualquer mágoa que eu possa ter, poderei perder entre os lençóis de um quarto caro enquanto estarei com a única garota que realmente já me interessou.

Mas não consigo me focar nesses pensamentos...

Nada de Jéssica...

Só Jill...

Aquele olhar doce, sorriso tímido e o toque suave de seus lábios nos meus me fazem enlouquecer de dor e de rancor.

Dor por tê-la visto com outro...

Rancor pelo acordo que fiz com a Jéssica...

Ela não merece isso.

PARE!!!

NÃO SEJA ESTÚPIDO!!!

É CLARO QUE ELA MERECE ISSO E TUDO DE RUIM DA SUA PARTE!!!

VOCÊ NÃO SENTE NADA POR ELA, NADAAAA!!!!!!

Não sente nada...

Nada...

Então por que meu peito se contorce em pensar nela?

Por que meu estômago se embrulha em pensar no meu acordo?

Por que estou enojado de me olhar no espelho?

Respiro fundo e desligo o chuveiro com os pensamentos a mil em minha cabeça.

Visto minha calça jeans escura, meu tênis preto e uma camisa vermelha polo que eu jamais usei.

Por que me arrumar tanto?

Ela já está completamente na minha mesmo...

Pego meu perfume e capricho, parando diante do espelho para ajeitar meu cabelo e meu eu me encara com ar de desaprovação.

-- Ela não é quem parecia ser!

Eu desvio de mim mesmo sentindo uma guerra travada em minha mente porque mesmo tendo visto ela nos braços de outro, havia uma parte de mim que se recusava completamente a odiá-la.

“Talvez haja uma explicação...”, essa parte diz.

EU VI OS DOIS SE BEIJANDO!!! QUE EXPLICAÇÃO PODE HAVER PARA ISSO???

“Você não sabe como aconteceu...”

E NÃO PRECISO!!! EU A ODEIO E ODEIO O DIA QUE PENSEI QUE ELA ERA DIFERENTE E QUE PODERIA REALMENTE ESTAR SENTINDO ALGO REAL POR MIM!!! MAS NÃO... SOU NOVAMENTE APENAS UM OBJETO!!!

“Pense bem no que vai fazer...”

JÁ PENSEI!!!

“Vai se arrepender...”

ME ARREPENDO DE TER ACREDITADO NELA!!!

De ter pensado, por um momento, que realmente ela poderia ser diferente!

Sou um estúpido...

Pego as chaves do carro e saio ouvindo meus pais discutindo com a Claire e tento sair de fininho.

-- CHRIIIISS!!!

Me viro e vejo meu pai cuspindo fogo com um papel na mão e vejo que é um aviso de atraso.

-- Como sua irmã se atrasou para aula hoje?

É verdade, até me esqueci disso...

Mas é uma ótima pergunta que por um acaso, o Piers não me respondeu.

-- Já disse que fiquei falando com as meninas e não ouvi o sinal, pai!

-- Isso não é desculpa!

-- Minha Nossa, para que tanto estresse? – Perguntei.

-- Você é o irmão mais velho, tem a OBRIGAÇÃO de cuidar da sua irmã!

-- Não posso pegá-la pela mão e levá-la até a sala.

-- Mas tem que orientá-la!!!

Eu desviei dele porque quando meu pai se irrita e resolve soltar os cachorros, não adiantava tentar discutir.

-- Se acalmem, a Claire será mais cuidadosa, não é, querida?

-- Sim, é claro!

-- Então resolvido, pronto!

Minha mãe disse olhando para o meu pai que saiu ainda cuspindo fogo com o papel na mão e ela foi de atrás, deixando eu e a Claire encará-los assustados.

Mas quando viro para ela, vejo que sorria.

-- Por que se atrasaram, Claire?

Ela abandona o sorriso e desvia nervosa apenas balançando os ombros.

-- Você também vai surtar por isso?

-- Não... Mas quero saber o porquê de você e o Piers se atrasarem se te deixei bem antes do horário na casa dele.

-- Ué, não é óbvio?

-- Não.

Ela desviou meio tensa e estudei cada movimento dela sem entender.

-- Ué, ele... Teve que voltar para dentro, acordar o pai dele, falar com ele, pedir o carro, tirar umas coisas de dentro... E, ah, Minha Nossa, Chris, ninguém morrerá por um atraso bobo!

-- O pai do Piers levanta com as galinhas.

-- Mas hoje não!

Ela está mentindo...

Por que está mentindo?

Olho para o relógio e vejo que vou chegar atrasado devido a esse “momento familiar”, então ignoro a situação.

-- Tudo bem, tenho que ir.

-- Boa sorte na sua conquista de hoje, maninho...

-- Ela já está no papo.

-- Coitada...

-- Avisa a mãe que vou jantar fora.

Eu saio dali com a palavra dela ecoando em minha mente... “Coitada”.

Coitada...

COITADA???

Coitado de mim por ter acreditado nela!!!

Entro no carro irritado por tudo que aconteceu e irritado comigo mesmo por nem saber ao menos porque eu estava irritado.

Arranco de lá nervoso, mesmo sabendo o que eu devia fazer.

Só finja que está apaixonado, simples...

Finja que a ama e diga isso se for necessário.

Só isso...

É só mentir...

Quando paro em frente a casa dela encosto minha testa no volante e pressiono as mãos nele com minha cabeça explodindo.

-- Ela não merece sua consideração... É só mentir... Só mentir... Só mentir... Só mentir... Faça o que sempre faz, finja estar completamente na dela... É só mentir... Minta, Chris, apenas minta.

Eu apertei mais as mãos no volante ao me lembrar dos olhos doces dela e confusos na primeira vez em que nos vimos... Aquele esbarrão no corredor em seu primeiro dia.

Que loucura, não é mesmo!?

Aqueles olhos brilhantes e sorriso doce...

Aquele rostinho de boneca...

Como pude ter me enganado tanto?

Será que realmente aquilo tem uma explicação?

Ao ouvir a porta se abrir, me afasto do volante e sinto meu coração palpitar de nervosismo.

Viro para ela e tenho uma visão dos deuses...

Está toda arrumada, um vestido vermelho que lhe caia muito bem e que infelizmente não me deixava ver nada acima de seu joelho. O cabelo meio preso por uma trança bem trabalhada e o sorriso que a deixava maravilhosamente linda e perfeita.

-- Você está linda...

Ela desvia parecendo envergonhada e me lembro dela o beijando, cedendo no momento e aperto novamente minhas mãos no volante.

-- Vamos?

-- Vamos...

Quando ela concorda, ligo o carro e sigo com minha mente estando uma bagunça de lembranças e sentimentos.

Seu jeito doce, puro e verdadeiro...

SEU JEITO FALSO.

Suas palavras sinceras e carinhosas...

SEU VENENO.

Meu sentimento por ela... Isso que tento, mas não sei explicar...

MEU ÓDIO.

Cada momento com a minha bonequinha...

AQUELE BEIJO NO MARGINAL.

Estou perdido...

Estou completamente e totalmente perdido...

O que devo fazer?