História Umbrella High School - Apaixonados

* * * Jill * * *

 

O que eu fiz de errado?

Será que pareci atirada demais?

Talvez ele só queria o encontro e ver que eu realmente estava prestes a cair na dele, então desistiu porque já tinha perdido a graça...

Será?

Por mais que o Chris pareça malandro, não consigo acreditar nesta teoria.

-- Jill, vai se atrasar!

Minha mãe fala lá debaixo e levanto já pronta me desviando dos meus pensamentos. Pego minha bolsa e vou lá para baixo dando um beijo em minha mãe para me despedir.

-- Tenha um bom dia, mãe...

-- Você também, querida, estude bastante!

-- Pode deixar.

Saio de lá e o Chris não está...

Ele não vem.

Já teve meio o que queria e não tem porque voltar.

Mas quem resiste àquele sorriso encantador?

Àqueles olhos...

Respiro fundo, sentindo a tristeza bater em meu coração e começo a caminhar em direção a escola atenta para minha mãe não me ver indo sozinha.

Sou uma estúpida...

Foi culpa minha, claro que foi.

Mas o que eu fiz?

-- Está indo para onde?

Dou um salto de susto já que um carro me acompanha e eu nem havia notado, mas com o riso dele eu me seguro para não me desmanchar.

-- Achei que você não ia vir...

-- Mas eu vim, anda, entra.

Eu sorrio sem deixá-lo ver e entro séria no carro, mas ele permanece com ele parado e quando viro para olhá-lo ele me encara com um sorriso.

-- O que foi?

-- Me desculpe por ontem...

-- Está melhor?

-- Muito!

Agora ele me dá AQUELE sorriso estonteante dele e agradeço por estar sentada, porque sei que eu ia ao chão com esta visão, então desvio sorrindo e volto a encarar o caminho.

-- Que bom, Chris.

-- Nós... Podíamos... Sair de novo... Um dia desses.

Ai, gente...

Será que devo?

-- O que acha?

-- É, pode ser...

Tento manter minha respiração calma, mas a volta do sorriso encantador não me faz controlar direito meus atos e palavras.

-- Eu... Tenho uma coisa para você...

O quê?

Ele estica a mão no porta-luvas e me entrega um pequeno frasco... Um spray de pimenta.

-- Se um dia eu não estiver por perto...

Eu sorri do jeito dele e me senti ainda mais sem jeito.

-- Obrigada, Chris...

-- Não por isso.

Eu o guardei na bolsa e tentei manter os olhos distantes dele. Só que quando sinto que ele pega em minha mão a puxando para mais perto, eu viro e aquela vontade de não pensar em mais nada me consome.

Ele dá um beijo leve em minha mão e prende seus olhos nos meus fazendo meus pensamentos delirarem.

Será que realmente gosta de mim?

Será que vai me despachar depois que ficarmos?

Será que eu sofreria muito?

-- O que você está fazendo comigo, boneca?

Eu congelo no lugar e os olhos dele me invadem de um jeito, sinto que ele é sincero, mas meu medo vibra dentro de mim sabendo que a chance de eu me magoar é enorme.

-- Podíamos sair hoje...

-- Não posso deixar minha mãe sozinha de novo.

-- Por favor... Dessa vez vai ser diferente... Vai ser como devia ter sido ontem, eu prometo.

Viro para ele sem entender direito suas palavras e vejo que perdeu o sorriso por um momento, então pega uma mecha do meu cabelo e a enrola nos dedos ainda sério, pensativo, angustiado.

-- O que foi?

-- Me perdoa, Jill.

-- Pelo que?

Ele desviou parecendo querer me dizer mais do que deixou claro.

-- Por eu ser um idiota...

-- Você não é um idiota.

-- A maioria das pessoas pensa que sim.

-- Mas eu não... Não sou como a maioria.

-- Sim... – Ele sorriu – E isso que mais gosto em você, por ser tão diferente e única... Ninguém é como Jill Valentine.

Eu ri com as palavras dele que me acompanhou e se endireitou no carro e ao olhá-lo de longe, vi que me observava de um jeito diferente.

-- Vamos?

Apenas concordei com a cabeça e ele foi a caminho da escola, mas eu desviei para janela para não ficar na cara minha expressão de boba apaixonada e meu sorriso exagerado.

Ele gosta mesmo de mim?

Tenho medo...

E se estiver mentindo?

Isso é muito complicado, puxa.

Quando ele estaciona o carro na escola, sinto que fico nervosa e que se eu tentar sair, vou desmaiar por causa dele. Então ele coloca a mão sobre a minha em meu colo e viro para olhá-las unidas e meu coração dispara no peito sentindo a carícia leve dele em meus dedos.

Ao ouvir ele se aproximar, paro de respirar porque sei que não tenho mais forças para evitá-lo, só que sinto um beijo leve e carinhoso dele em meu ombro e deita a cabeça no meu pescoço com o rosto virado para os meus cabelos. Com a outra mão ele tira o meu cinto e me puxa mais perto deixando o rosto virado para o meu pescoço, mas não avançou, ficou ali apenas acariciando minha mão e eu sorri como a maior besta do Universo.

Não faz isso...

Não faz isso, porque me apaixono e não consigo desapegar depois...

O que deu nele para não tentar me beijar?

Só meio que um abraço?

Ele me puxa para mais perto e se aproxima mais, continuando com o rosto deitado próximo ao meu e sem pensar, passo meu braço livre ao redor dele e acaricio seus cabelos o ouvindo fazer um som de agrado e eu rio.

-- Me dá uma chance...

Com o sussurro dele já não sei mais se eu conseguiria negar isso e mesmo com algo lá no fundo me dizendo para ficar atenta, isso afunda no mar de sentimentos que já tenho por ele.

-- Eu preciso de você.

-- Por quê?

-- Eu não sei direito... Só sei que preciso de você comigo.

Ai, Minha Nossa...

Quando ele tira o rosto do meu pescoço vejo em como fica próximo ao meu, mas ele não avança, apenas encara meus olhos de uma maneira que eu ainda não tinha visto.

-- O que deu em você, Chris?

-- Por quê?

-- Ontem estava todo estranho, me tratando muito diferente do que costuma... E hoje... Está assim.

-- Você gosta assim?

Eu sorri e desviei me entregando completamente e ao virar para ele seus olhos doces e aparentemente sinceros me atravessam completamente. Mas quando sinto sua mão tocar em meu rosto o acariciando suavemente me sinto nervosa e tenho vontade de sair correndo.

-- Jill, eu...

-- Eu preciso ir.

Me afasto dele com o medo de antes de ontem me consumindo outra vez e abro a porta apenas dando um sorriso para ele que me observa sem sorrir.

-- Tenho que ir na biblioteca... Nos vemos depois?

-- Sim... Claro...

-- Boa aula!

-- Obrigado e par...

Eu saí dali rapidamente sem olhar par trás, mas minhas mãos tremiam, meu corpo inteiro suava e meu coração palpitava de um jeito inexplicável.

Não, não pode ser...

Não posso estar apaixonada por ele!

Mas acho que já é tarde para me preocupar... Droga.

Quando entro na escola praticamente vazia, me viro meio escondida e olho para lá observando que ele permaneceu dentro do carro.

Droga...

Droga, droga, droga, DROGA!

Saio dali vagando sem uma rota definida, apenas querendo encontrar minha razão e juízo que deviam ter caído em algum lugar por ali.

Eu tentei, tentei impedir isso...

Mas quem pode com aqueles olhos e aquele sorriso???

E... Esse jeito romântico dele, carinhoso e doce... Eu poderia sair correndo de seus olhos e sorriso, mas não tenho forças para correr do seu carinho.

Estou apaixonada...

Não dá mais para negar isso...

Estou perdidamente apaixonada por Chris Redfield.

 

* * * Piers * * *

 

Quando abri a porta do quarto do meu pai ele já estava sentado na cama e revirei os olhos pela teimosia extrema dele.

-- Pai, faz favor de ficar deitado!

-- Não suporto ficar parado, preciso trabalhar...

-- Ninguém vai morrer se ficar mais um dia de repouso, ande, volte para cama e tire o dia para descansar!

-- Você é tão preocupado quanto a sua mãe...

Ele sorriu e voltou a deitar na cama, ficando com aquele sorriso que eu sabia que pensava na minha mãe.

-- Ela teria muito orgulho de você, filhão!

-- Do senhor também...

-- Você era a vida dela... E seus olhos são iguais ao dela.

Era incrível que depois de tantos anos, meu pai continuasse a se lembrar da minha mãe com um amor evidente estampado no olhar.

Eles se amavam...

-- Você se lembra dela?

-- Um pouco...

-- Então se esforce para manter estas lembranças, filho.

-- Farei isso, pai...

As vagas lembranças da minha mãe despencaram sobre mim...

Ela morreu quando eu era muito novo, mas me lembro do calor dos seus braços, do olhar amoroso e do jeito carinhoso com que falava comigo.

Mas desvio o pensamento ao ouvir uma buzina lá fora e levanto vendo o carro do Chris pela janela.

-- Eles chegaram... Fique na cama!

-- É só uma gripe, Piers!

-- Não importa, você está trabalhando demais, tem que cuidar!

-- Sim, “pai”.

Eu ri e me aproximei para me despedir recebendo o abraço apertado dele enquanto o ouvia rir.

-- Tenha um bom dia, filhão!

-- O senhor também... E hoje volto mais tarde, tenho treino.

-- Tudo bem... Ah, filho?

Viro para olhá-lo novamente e vejo o sorriso de canto dele e eu já sabia em que assunto queria voltar a falar.

-- Quando vai trazer sua namorada para eu conhecer?

-- Pai...

-- Pare de me enrolar!

-- Pai, eu...

-- Eu quero conhecê-la, traga-a aqui!

Eu desviei dele já sem saber dar mais desculpas já que me pede isso há meses e eu sempre contorno.

Será que ela viria para conhecê-lo?

Não quero força-la a nada...

-- Diga para ela que o sogro quer conhecer a menina que está fazendo o filho dele suspirar apaixonado pelos cantos!

Eu rio e jogo uma almofada próxima na direção dele o fazendo rir também e saio pela porta acenando.

-- Vou falar com ela!

-- Não aceito mais desculpas!

Eu ri saindo apressado da casa e já vendo o Chris bater no pulso por causa da demora e a Claire revirando os olhos para ele.

-- Qual é, Piers, tenho hora!

-- Não me cobre o favor que EU estou fazendo para você!

-- Eu sei que carregar a Claire pode ser um estorvo muito grande, mas amigos servem para isso.

Você nem imagina...

Ela o encara feio e dá um tapa em sua nuca o fazendo rir ainda mais e eu desvio deles para não grudar os olhos onde não devia.

-- Eu já vou...

Ele foi para o carro e a Claire olhou para mim, mas com a parada súbita do Chris que agora nos olhava desconfiado desviamos e agimos normalmente.

-- Mais uma coisa... Por que chegaram atrasados ontem?

Eu vi que a Claire gelou, mas virou para ele com cara de tédio.

-- Você não tem hora para pegar sua próxima vítima?

-- Não é minha vítima!

Ele riu como um bobo provavelmente se lembrando da Jill...

O Chris que negue o quanto quiser, mas está na cara que a Jill está o fazendo mudar para melhor... Está o fazendo se apaixonar. Engraçado isso, já que o conheço há anos e nunca o vi assim com ninguém, mas fico feliz, porque assim finalmente ele tomará juízo.

Porque não há nada melhor do que se apaixonar...

Nada melhor do que encontrar a garota certa para você.

-- Vai logo ao ataque, vá!

Ele nos encarou de novo e apontou o dedo.

-- Se você chegar atrasada de novo e eu ter que ouvir dos nossos pais que a culpa é minha, você vai se arrepender!

-- Vai fazer o quê?

-- Eu v...

-- Ok, ok, vá logo, Chris, que assim sua irmã chega na hora também!

Com minha interrupção na discussão, ele sorriu e concordou, entrando no carro e saindo com tudo finalmente deixando que a Claire virasse para mim e prendesse os olhos nos meus por um minuto.

Mas eu desvio antes que eu faça caca aqui no meio da rua e indico a garagem já seguindo para lá e vejo que me acompanha em silêncio enquanto abro a porta e entro na camionete velha do meu pai.

Ela me acompanha, mas sinto seus olhos grudados em mim e ao me virar, ela sorri daquele jeito meigo que só ela tem e eu rio como um bobo, já me aproximando mais dela.

-- Você fica mais linda a cada dia... Vem cá.

Ela sorri para mim e se aproxima me deixando sentir o gosto perfeito que a boca dela tem.

Meu pai devia estar na cama, então não tem porque não aproveitar um pouco, é só não extrapolarmos como ontem.

A puxo mais para mim, com delicadeza e tranquilidade, a beijando da forma carinhosa que eu sabia que ela gostava e ao sentir seu carinho em meus cabelos, eu sorrio e separo nossos lábios ficando a poucos centímetros de seu rosto enquanto acariciava seus cabelos.

-- Eu estava com saudade...

-- Eu estava com mais saudade ainda, minha ruivinha...

-- O que fez ontem?

-- O de sempre... Ajudei meu pai por aqui, só que ele ainda está gripado e pedi para que fique na cama.

-- E ele vai ouvir?

-- Provavelmente não...

-- É, se ele for como o filho dele, é mais teimoso que uma mula!

-- Ah, é mesmo?

Ela riu e eu a acompanhei a puxando mais para um beijo, só que quando ela parou e encheu meu rosto de beijos leves eu sorri e deitei a cabeça em seu peito com ela me abraçando e acariciando meu cabelo.

-- Ele pediu de novo para te conhecer...

-- O que você disse?

-- Ele não me deixou falar muito...

-- Hum...

Afasto um pouco o meu rosto para observá-la e vejo seu sorriso sapeca que me encanta ainda mais.

-- O que foi?

-- Se quiser... Eu venho.

-- Mesmo?

-- Sim... Só que ele não pode contar para ninguém!

-- Sim, claro, ele sabe disso.

-- Mas... Será que ele vai gostar de mim?

-- Não tem como não gostar de você, minha princesa.

A beijo rapidamente e ela sorri tímida me fazendo puxá-la para mim agora e escuto que sorri em meu peito.

-- Então diz para ele que eu venho...

-- Quando?

-- Quando quiser...

-- O aviso hoje à noite que você topou e se quiser... Pode ser amanhã.

-- Tudo bem.

-- Mesmo?

-- Sim!

Pronto, resolvido...

-- Ótimo, digo a ele mais tarde, vai ficar feliz.

-- Legal...

A aperto mais em meus braços e me concentro no perfume doce de seus cabelos, aproveitando os minutos que graças ao Chris apaixonado pela Jill, temos nesta semana.

-- Não podemos nos atrasar hoje, meus pais surtaram ontem!

-- Desculpe, acho que nos empolgamos...

-- E quando isso não acontece?

Ela riu comigo agora levantando o rosto e me deixando ver aqueles olhos únicos que brilhavam mais que o sol.

Esse problema todo precisa terminar...

Namoramos escondido há meses!

Temos que resolver isso, não dá mais para ficar assim e quando o Chris souber que escondemos dele todo esse tempo... Ele é MUITO ciumento com a Claire e quando souber que está namorando e que está namorando com o melhor amigo dele, ele vai surtar.

E quanto mais adiarmos, pior será este surto...

-- O que foi?

-- Temos que resolver isso, Claire...

-- Piers...

Ela se afastou com a mesma expressão que sempre fazia quando eu tocava no assunto, mas não posso mais ignorar isso.

-- Eu não aguento mais essa situação... Ruivinha, entenda, eu quero um relacionamento sério, quero poder te ver mais e não ter que contornar todo mundo para te ver escondido.

-- Meu pai, Piers...

-- Eu sei... Mas vamos falar com o Chris... Ele pode nos ajudar com seu pai, ir preparando terreno e aí vou falar com ele, não tenho medo de encará-los.

-- Mas eu tenho!

-- Não precisa, amor... Nada nesse mundo vai me separar de você, mas quero levar isso do jeito certo.

-- Eu sei...

-- Imagina se seu pai descobre sozinho... Descobre que namora escondido, o que vai pensar de mim?

-- Eu sei, mas...

-- Não é melhor eu aparecer lá disposto a encará-lo do que me manter escondido como se eu não quisesse ter algo sério com a filha dele ou que, sei lá, queira só me aproveitar...

-- Não fala isso...

-- Mas é verdade, Claire! E ele terá razão em pensar assim, já que nunca apareci lá para falar de você, falar que amo a filha dele, falar que quero seguir um namoro nos conformes, que quero um futuro ao seu lado...

Ela desviou e vi que seus olhos umedeceram e já me senti péssimo de novo, só que não consigo mais com esta situação.

-- Vamos falar com seu irmão...

-- E se ele contar ao meu pai?

-- Ele não vai contar...

-- Como sabe?

-- Conheço ele muito bem.

-- Então sabe que vai surtar e ir para cima de você...

-- E com razão já que namoro há meses com a irmã dele e escondo isso.

Ela desviou mais e pego sua mão a trazendo perto do meu rosto e dando um beijo leve, voltando seus olhos azuis em minha direção.

-- Eu amo você, minha ruivinha...

-- Eu também te amo, Piers... Como uma louca.

-- Então confie em mim, vamos tentar falar com ele.

-- Tenho muito medo...

-- Eu PROMETO que NADA me fará desistir de você.

Eu a puxo para mais perto e ela sorri levemente enquanto acaricio seu rosto próximo ao meu, focando em seus olhos doces que me enfeitiçam.

-- Mas... Agora...

Ela sorri e eu aproximo mais meu rosto do dela vendo que ri.

-- Por que estamos falando tanto?

-- Eu não sei...

Com mais um beijo, passo meus braços ao seu redor e ela ao meu, nos entregando aos poucos minutos que nos restavam.

Seus lábios macios, suaves, doces e tentadores que me enlouqueceram desde a primeira vez que toquei neles.

Linda...

Perfeita...

Eu a amo como um louco...

E nada no mundo vai me separar dela.

 

* * * Chris * * *

 

Eu permaneci no carro tentando entender minha frustração em ter deixado ela fugir DE NOVO.

Cara... Estou ferrado!

Como isso aconteceu?

Estou me amarrando!!!

Eu sei, estou me amarrando completamente na Jill!!!

Isso é uma tragédia... Ou será que não?

Ah, Minha Nossa... Mas quem resiste?

Aqueles olhos azuis, sorriso doce, expressão suave e jeitinho tímido me enlouquecem! Principalmente quando me mostra que sente algo sincero e verdadeiro por mim e não apenas tesão passageiro porque sou o Capitão do time de futebol e todas as garotas me disputam.

Ela gosta de mim... Para valer.

E pela primeira vez me sinto importante para alguém.

Vou pirar!

Saio do carro indo em direção a escola e seguindo ao vestiário sem nem me ligar direito no caminho, eu apenas queria contar ao treinador algumas técnicas novas que montei.

Quando chego lá, não tem nenhum sinal dele, tudo escuro e indicando que ainda não tinha chegado, então bufo alto e saio de lá, mas ao passar pelo vestiário feminino, sou puxado bruscamente para dentro e sinto o beijo molhado de alguém que eu já sabia quem era, então paro.

-- E então, gato?

-- Jéssica...

Sinto um embrulho cruel no estômago em ter certeza de que tudo que aconteceu ontem foi real... E que eu realmente fui um lixo em concordar em enganar a Jill.

Fui muito podre...

Mas vou me redimir, eu prometo.

-- Me conta como foi.

-- Legal...

Ela me olhou entediada e reparei que novamente estava com aquela flor exagerada no pulso, mas ignorei quando puxou meu rosto em sua direção.

-- O que mais?

-- Foi tranquilo, fiz o que você falou...

Se eu contar que eu quero a Jill para valer, a Jéssica pira e pode tentar fazer algo contra ela, então o melhor é eu seguir com o que pensei ontem... Vou jogar o jogo dela hoje e dar um jeito de me odiar e desistir desse acordo.

Eu não quero isso...

Não quero ficar com a Jéssica, não mais...

Um tempo atrás, confesso, eu teria enlouquecido com a chance de dormir com ela, mas isso passou e hoje meu interesse está voltado completamente a outra garota que não merece o que eu fiz ontem.

-- Ela aceitou numa boa?

-- Digamos que sim...

-- Onde a levou?

-- Num restaurante da cidade.

-- E ela?

-- Pareceu apaixonada...

-- Ótimo! Mas e você?

-- Fiz o possível para parecer apaixonado também...

O que não precisa de muito esforço já que eu... Já que... Eu...

-- Ela ao menos beija bem?

-- O quê?

-- A novata... Beija bem?

Eu gostaria de saber disso também...

Mantenha-se no personagem, Chris, para se livrar da Jéssica, só fale o que ela quer ouvir e saia daqui.

-- É... Ainda tem muito para aprender...

-- Vão sair de novo?

-- Não sei se eu quero...

-- Não se faça! E até nosso comprimento de acordo, tem um tempinho...

-- Sim, eu sei...

-- Então vai lá, gato... Faz esse favor para mim... Finge que está na dela e invista mais, sei que vocês garotos amam um par de peitos, então, não será esforço para você continuar nisso mais um pouco.

-- Tudo bem...

-- Mas você não gosta dela, não é?

-- Não!

-- Mesmo?

-- Não gosto dela!

-- Jura?

-- Eu não sinto nada por ela, Jéssica! Só saí por causa de nosso acordo, eu nunca me prenderia a alguém e muito menos a Jill Valentine! Está bom assim?

Com seu sorriso completamente maquiavélico agora, ela concorda.

-- Está perfeito...

Se ela soubesse...

Quando ela notar que estou mesmo amarrado na Jill e que quero investir para valer, ela vai pirar.

A Jill... É importante para mim.

E vou conseguir uma chance com ela, sei que vou.

-- Podia me dar uma prova agora...

-- Que prova?

-- Essa...

Ela veio e me beijou, mas enrijeci no lugar sentindo repulsa de mim mesmo e me afastei dela indo para porta.

-- Eu tenho que ir.

Mesmo sem entender, ela sorri maldosamente e ao sentir o ar livre da parte de fora, me sinto livre de um problema.

Será que virá de atrás de mim de novo?

Cara, que porre isso...

Se precisar, eu atuo de novo, mas ela que nem tente fazer algo ruim com a minha boneca, porque agora sim estou livre para ir de atrás dela sem peso na consciência... Bom, não muito.

Vou esquecer disso e focar na minha bonequinha linda...

É isso!

Coloco um sorriso no rosto e saio indo para minha sala já vendo alunos para todos os lados e ao chegar, dou de cara com a minha linda que conversa animada com a Sherry.

Disfarço e vou para o fundão até meus amigos e depois de cumprimentá-los, dou um tapa nas costas do Piers que encarava a parede com um sorriso no rosto.

-- Sai fora!

Ele bufa esfregando as costas e eu rio batendo propositalmente minha mochila na cabeça dele que me empurra sem conter um sorriso e sento já levando uma bola de papel na cara.

-- Redfield!

-- O que foi?

-- Estávamos pensando aqui... – Leon esfregou as mãos – Está mais do que na hora de fazermos uma festa do TIPO! O que acha?

-- Sabe que se tem festa, estou dentro!

-- Pois é... Pode ser na sua casa?

-- Ah, cara... Não sei se meus pais liberam dessa vez.

-- Ah, qual é, fala com os coroas que já vamos combinando tudo!

Os demais comemoraram e eu revirei os olhos vendo que o Piers voltou a sonhar acordado, mas o Joseph me empurrou.

-- E quero MUITA gatinha para curtir!

-- Só as do terceirão...

Leon piscou para eles que concordaram e desviei olhando para Jill que ainda sorria com a Sherry.

Se for só as do terceirão, me livrarei da minha irmã... Claro, tem a Sherry se ela for, mas uma é mais fácil de contornar do que três para chegar na minha boneca e essa pode ser minha chance.

-- E aí... Bom, a novata é do terceiro ano também está inclusa.

Eu viro para o Leon que me encara lendo meus pensamentos e eu rio, mas o Kevin só discorda com a cabeça.

-- A Jéssica também...

Sim, as duas... Mas meu foco é em uma morena linda com olhos azuis tentadores que me faz sonhar acordado.

-- Acho que a ideia pode ser interessante!

Eles comemoram com as minhas palavras e o professor entra na sala fazendo todos sentarem e abaixar o tom das risadas, mas eles me cutucam me fazendo voltar a olhá-los.

-- Então está fechado, só gatas do terceirão!

-- Vou falar com meus pais...

Eles sorriem e viro com o Piers me encarando estranho e eu rio do seu jeito, parecendo que nem se ligou das nossas combinações para uma festa.

-- O que foi?

-- Estou pensando...

-- O quê?

-- Pensando...

-- E está me encarando por quê? Não se declara não, porque minha praia é outra, viu...

Eu ri e ele desviou sorrindo, mas vejo que está tenso.

-- Aconteceu alguma coisa?

Ele fica quieto e sei que tem algum problema, conheço o Piers há eras e ele não me engana quando tem algo travado na garganta.

-- Seu pai está bem?

-- Sim, está bem...

-- Tudo bem com a Claire?

-- Sim, até que chegamos cedo...

-- Não quer mais trazer a mala, é isso?

-- O quê? Não, nada a ver...

-- Então fala o que está te incomodando!

-- Confia em mim, Chris?

-- Cegamente... Por que, não devo?

-- Sim, mas é que...

-- Silêncio, turma!!!

O professor chamou a atenção da turma encarando a mim e ao Piers, então começou a passar no quadro.

-- Conversamos depois?

Ele apenas concordou com a cabeça e continuei estranhando sua atitude, ele nunca fica calado desse jeito, parecendo tenso e preocupado se não tem algo sério, porque vive se arreganhando em sorrisos e brincadeiras.

Talvez seja uma garota...

Será que está a fim de alguém?

Só pode.

-- Vamos revisar o conteúdo e dividirei temas para os trabalhos!

O quê?

A maior parte da turma se lamentou e eu apenas vidrei no caderno para copiar os textos que pareciam em grego para mim.

Não demorou para passar as aulas, mas meu desânimo bateu na única aula que eu não tinha minha boneca linda para admirar e fiquei MUITO feliz por uma graça divina em ver que o esquisito do Carlos não apareceu.

Isso mesmo, fica longe da MINHA boneca!

Quando o sinal finalmente tocou, o Piers me lembrou de algo que me fugiu da mente completamente.

-- Você se esqueceu que a partir de hoje temos treino praticamente todos os dias?

Sim.

-- Ah... Não.

-- Revisa seus planos com a Jill agora...

Droga...

-- E falando nela...

O encaro sem entender até que escuto uma voz familiar de atrás de mim.

-- Chris?

Quando me viro vejo um par de olhos azuis que me hipnotizam e sinto o meu sorriso de idiota tomar conta do meu rosto.

-- Jill...

Ela olhou para o Piers que sorriu amigavelmente e ela retribuiu sem jeito parecendo desconfortável.

-- Esse é o Piers...

-- Oi...

-- Oi, Jill, como vai?

-- Bem...

-- Legal...

Mesmo com ela parecendo sem jeito, virou para mim.

-- Eu não vou para casa agora, então...

-- Aonde você vai?

Claro que eu não queria ser obcecado, mas era mais forte que eu e mesmo ouvindo o risinho disfarçado do Piers do meu lado, eu ignorei apenas para me concentrar no sorrisinho envergonhado da minha boneca.

-- Vou na casa de uma amiga...

-- Ah, legal... Bom, eu... Tenho treino hoje mesmo, então...

-- Tudo bem...

-- Quer que eu te pegue lá depois para te levar para casa?

-- Não, imagina, não precisa...

-- Você está com o...

Fiz um gesto no ar com a mão para indicar o spray de pimenta que dei e ela entendeu sorrindo.

-- Sim, estou sim!

-- Legal...

-- Legal... Eu vou... Bom treino para vocês...

-- Obrigado, até amanhã!

-- Até...

Eu sentia os olhos dela atravessarem meu corpo e quando saiu de perto me bateu um desânimo avassalador, mas não tive tempo de sofrer já que fui empurrado por uma hiena que não poupou energia em me apontar.

-- Chris! Você... Está... Completamente... NA DELA!!!

Piers riu como um idiota e devolvi o empurrão indo para o campo e ele me acompanhou zoando com a minha cara, mas acho que depois disso, não posso mais negar para ele.

-- Confessa!!!

-- É, e daí?

-- E DAÍ??? CHRIS REDFIELD APAIXONADO!!!

Ele quase berrou isso no corredor, o que fez umas garotas por perto nos encararem como se tivéssemos revelado o assassino do presidente Kennedy.

-- Dá para falar mais baixo?

Eu caminhei normalmente, mas ele riu o caminho todo já me irritando.

-- Cara... Nunca pensei que viveria para ver este dia... Eu sabia! Sabia que ia cair na dela!

-- Quer um troféu por isso?

-- Não, quero que seja feliz! A Jill parece uma garota muito bacana e está na cara de que é apaixonada por você!

-- Você acha?

-- Tenho certeza!

Eu sorri animado em saber que não era o único que tinha reparado nisso, então levo mais um empurrão dele que me encara sério agora.

-- Não zoa com ela, Chris!

-- Eu não vou...

-- É sério, vai se arrepender se fizer algo errado!

Já sei...

-- Eu sei, fica tranquilo... Ela é diferente.

-- Sim, ela é uma alma divina que veio ao mundo para fazer Chris Redfield se apaixonar!

-- Apaixonar?

Os demais chegaram interferindo nossos risos e reviro os olhos com o Piers rindo novamente como uma hiena.

-- Então já assumiu, Redfield?

-- ANDEM LOGO, PRECISAMOS TREINAR SE QUEREM GANHAR O TROFÉU E EU QUERO, ENTÃO ANDEM!!!

Com os berros do treinador, vamos ao vestiário nos trocar porque sabíamos que a tarde seria longa.

E foi...

Depois de horas a fio sem descanso, sem moleza e sem piedade alguma, o treinador nos liberou dizendo que amanhã teríamos treino novamente.

Assim como nos outros dias.

Sim, precisamos treinar para ganhar...

Mas eu queria a Jill também...

Agora preciso apostar minhas fichas de manhã!

Ou na saída que me prometeu!

É isso!

Estou com uma ótima impressão, acho que logo vou tê-la de vez para desfrutar daquela boquinha linda e carnuda dela... Uau.

Com meu banho terminado, me despeço da rapaziada e saio dali exausto indo em direção ao carro e do carro, para casa.

A noite já tinha caído quando cheguei e senti meus olhos pesados enquanto entrei na casa, mas minha barriga roncou bruscamente e fui para cozinha sem encontrar ninguém.

Pego um salgado na geladeira e viro na boca o resto do suco que tinha da caixa, engolindo o salgado sem mastigar direito.

Mas quando eu escuto um barulho de algo sendo derrubado, dou um salto e vejo uma imagem muito familiar segurando um vaso prestes a cair e o recolocando na cômoda outra vez.

-- Jill?

Ela olha para mim parecendo assustada e depois que me lembro de que ela não sabe que moro aqui, deixo de sorrir.

-- Chris... O q-que faz aqui?

-- Ah, eu... Vim com o irmão da Claire!

Eu engulo rápido o pedaço do salgado na boca, lavo as mãos e me aproximo dela feliz que minha intuição de estar próximo a um bom momento estava certa.

Talvez, eu...

Talvez, nós...

Talvez este seja o momento.

-- Está ocupada?

-- Vim fazer o trabalho com a Sherry, mas agora só estávamos conversando com a Claire e a Becca...

-- Legal...

Eu coloquei a mente para funcionar até que olho pela janela e sorrio ao ver o jardim... Perfeito para noite!

-- Vem comigo um minuto?

-- Para onde?

-- Pode confiar em mim?

Eu tive medo da resposta, mas ela concordou sem demonstrar dúvida e peguei em sua mão a puxando para fora dali antes que alguém nos pegasse. Levo ela até lá fora e tampo seus olhos a fazendo rir.

-- Fique de olhos fechados!

-- Por quê?

-- Porque estou pedindo...

-- Tudo bem.

Caminhamos devagar até o jardim, no centro dele onde eu sabia que era a melhor vista e paro.

-- Fique de olhos fechados, promete?

-- Prometo...

Saio dali e vou até onde ligava as luzes e o chafariz de todo o lugar e mesmo para mim já sendo comum, sei que ela vai gostar e um lugar assim talvez a faça voltar a ficar como ontem... Disposta a me dar uma chance.

Eu quero...

Eu preciso disso...

Tudo se ilumina e a água corre ao redor me fazendo ir na direção dela e ficar parado nas costas dela, mas me aproximo e pego em sua mão, aproximando minha boca de seu ouvido.

-- Pode abrir...

Escuto ela rir e quando levanta a cabeça provavelmente com os olhos abertos, ela para, parecendo admirar o lugar.

-- Chris... É lindo.

-- Não tanto quanto você, minha bonequinha...

Ela vira para mim, mas ainda olha ao redor maravilhada e com um sorriso lindo no rosto que apenas me encanta mais por ela.

Droga, Chris...

Ela estava perto demais e mesmo sem me olhar, eu sentia a força que me puxava na direção dela, então peguei novamente em suas mãos e seus olhos vêm aos meus parecendo tensos.

-- Jill...

Eu não sei o que dizer...

Mas talvez agora, não sejam palavras que eu realmente precise.

Tenho que arriscar...

Foco em seus olhos por um momento vendo se ela sairia correndo ou não, então quando parece hipnotizada como eu, me aproximo mais dela e levo meu rosto para o seu sem perder seus olhos nem por um segundo.

Quando nossos rostos estão colados, fecho meus olhos e toco em seus lábios com os meus de maneira tranquila e suave. Ao sentir que ela queria também, começo a movê-los calmamente a princípio e ela me acompanha. Então docemente peço passagem para minha língua e quando ela concede, passo meus braços ao redor dela e a beijo sem cerimônias.

Um beijo intenso e apaixonado...

De duas pessoas que realmente estão apaixonadas...

O sabor, a maciez e a suavidade... O prazer de ter uma boca que me quer tanto quanto eu a quero é sublime.

Jill...

Minha bonequinha...

Não adianta mais, é burrice negar...

Estou apaixonado...

Estou completamente apaixonado por Jill Valentine.