História High Skool Luv (hiatus) - Humilhação.

Há exatos 6 anos, Taehyung havia se mudado com o pai da pacata Daegu para a confusão que era Seul. A mudança foi necessária porque a mãe de Taehyung falecera, vítima de um câncer de mama, e ficar na cidade onde eles viviam até então era perturbador demais, tudo lembrava ela. Além disso, seu pai era gerente de banco e havia recebido uma promoção. Seul era a cidade onde ele teria o melhor salário possível.

Taehyung era filho único, portanto fora bastante mimado até os 10 anos, quando sua mãe falecera, mas não a ponto de dar ordens e querer tudo a seu modo. Ele só não gostava de ser contrariado como a diretora havia feito no colégio quando ele questionou o fechamento do departamento de Idiomas Estrangeiros. Se achava que tinha razão, batia o pé e tentava ser ouvido.

Era aquilo que Seokjin falava para ele pelo telefone. Que ele não deveria se dar por vencido e sim tentar buscar seus direitos e fazer um abaixo assinado. Taehyung duvidava que aquilo fosse dar certo.

"Hyung, eu falei com todos os alunos de Idiomas. A maioria já conseguiu entrar em outro departamento e o resto está encaminhado."

"Você não pode desistir fácil assim." Nenhuma resposta do outro lado da linha. Taehyung estava se dando por vencido. "Ou até pode. Daí você vem para o departamento de Teatro comigo".

"Você sabe que eu não sei nem atuar como figurante. Já tentei antes. Desastre total."

"Eu posso te ajudar."

"Não seria a mesma coisa." Insistiu. Atuar não combinava em nada com Taehyung. Ele se sentia nervoso diante o público, vomitaria em cima de qualquer um se seu estômago revirasse. "Esses departamentos são como clubinhos. Você tem que participar apenas se conseguir se sentir à vontade. Imagina passar 2 anos fazendo algo que eu não gosto..."

"Eu entendo, só queria te ajudar."

"E você ajudou, hyung. Só de me dar apoio já é uma puta ajuda."

Seokjin riu do outro lado da linha. "Já começou a xingar?"

Taehyung riu também. "Foi mal. Me empolguei."

"Você que sabe, TaeTae. Mas se não tiver nenhuma alternativa, posso ser sua última esperança. Ajudaria no que você precisasse."

"Obrigado, hyung."

Finalizaram a chamada e Taehyung se jogou de bruços na cama em seu quarto escuro, pensando em seu próprio destino completamente incerto. Evitaria trazer mais problemas para o pai, essa era a única certeza que ele tinha.

No dia seguinte, foi para o colégio sem muito ânimo. Dormira pouco, passou a noite se remexendo na cama, até em sonhos procurando uma solução para o seu problema.

Não podia ter as notas diminuídas por causa da falta de atividade extracurricular. Sabia que Idiomas Estrangeiros contaria muitos pontos na hora de entrar em uma universidade, mas agora já não tinha tanta certeza disso. Arrumou a mochila que estava jogada em um dos ombros, passou a mão pelos cabelos que insistiam em cair sobre sua testa e entrou no colégio Hanlim.

Taehyung podia não ser popular pelas razões certas, como jogador dos prestigiados times de futebol, baseball ou basquete, nem um dos alunos mais inteligentes da classe, mas com certeza era pelo seu jeito peculiar. Já havia pintado os cabelos de vermelho, de azul, já havia os descolorido também, e agora estavam castanhos claros, contrastando com os cabelos pretos dos demais alunos.

Ele também era introvertido e não puxava assunto com as pessoas de sua classe. Quando precisava fazer alguma tarefa em dupla ou grupo falava sempre o essencial para o desenvolvimento do trabalho e preferia fazer tudo na biblioteca do colégio a ir para a casa dos colegas de classe ou levá-los para a sua. Ele também tinha uma beleza exótica e intimidante, e poucas foram as garotas que se arriscaram a fazer confissões e lhe entregar presentes,até receberem em troca uma carranca. Nenhuma parecia chamar a sua atenção.

Na verdade, sua única amizade verdadeira durante aqueles anos fora Seokjin, e isso apenas porque o seu santo bateu com o do mais velho desde o primeiro instante em que se conheceram. Seokjin era como um irmão mais velho e protetor, que o aconselhava sem pedir nada em troca e nunca o julgava. Conheceram-se quando Taehyung estava na nona série do ensino fundamental e Seokjin no primeiro ano do ensino médio. Dois anos depois e continuavam inseparáveis. Pelo menos na medida do possível, já que eram de classes diferentes e Seokjin tinha seus próprios amigos e uma vida social.

Mesmo no mundo virtual, Taehyung ainda era uma pessoa um pouco fechada. No chat do colégio todos se identificavam ou então pediam fotos para se revelarem e fazerem amizades. Exceto ele, que preferia continuar anônimo sem chamar muita atenção. Aquele sistema de troca de mensagens havia sido criado pela escola 6 meses antes, em julho, para que ajudasse os alunos a se conhecerem melhor. Em agosto, todos haviam sido cadastrados individualmente com um login e senha, mesmo aqueles que não se interessaram pelo aplicativo. As mensagens eram criptografadas, mas a direção do colégio tinha pleno acesso aos nicknames de todos os alunos cadastrados. O que significava que se alguém fizesse alguma besteira usando o aplicativo e fosse denunciado, o culpado seria identificado rapidamente.

Dois meses atrás, Taehyung, cadastrado como "AlienV", encontrara alguém com um nickname ainda mais engraçado que o seu, "KookieMonster", e decidira mandar uma mensagem privada. De um simples "oi" surgira uma amizade, uma forte ligação. Começaram a se falar todos os dias.

Comentavam sobre as provas difíceis (e por isso deduziram que ambos estavam no segundo ano, quer dizer, em uma das cinco turmas do segundo ano). Então isso levou os dois a falarem mal dos professores (um tinha cara de batata e berrava muito alto como se a classe fosse surda, a outra só dava aula sentadas porque era muito roliça e se cansava rápido de tanto ficar de pé). E logo vieram as conversas sobre as notas (nenhum dos dois tirava nota alta em exatas, então sabiam que não eram os nerds da sala). Também falaram dos problemas em casa (eram filhos únicos, mas achavam que não haviam sido mimados o suficiente, além disso os pais de KookieMonster estavam a ponto de se divorciar, enquanto que o de AlienV sempre reclamava das despesas). KookieMonster nunca perguntara sobre a mãe de AlienV, então AlienV achou melhor não explicar nada.

Taehyung naquele exato momento entrava no colégio e mandava uma mensagem de "bom dia" para o amigo virtual. Em menos de um minuto, obteve resposta. Sorriu largo ao ler a mensagem, um simples "Bom dia, alien. Dormiu bem?".

- Por que está com essa cara de retardado rindo de orelha a orelha, hein? - Seokjin assustou Taehyung, abraçando o mais novo de lado. - Se bem te conheço, está trocando mensagens com seu namorado virtual, não é mesmo?

- Amigo virtual, hyung. - Corrigiu, rolando os olhos. - E nem era nada demais.

- Deixa eu ver. - Seokjin tentou pegar o celular do amigo, que o travou e o colocou rápido no bolso da calça. - Sabia! Aí tem coisa! Esse seu sorriso não me engana. Estava trocando o que? Sexting? Nudes?

- Fala sério, hyung. Você acha que um ser puro que nem eu faria essas coisas?

- HA! HA! HA! - O mais velho fingiu rir alto, chamando a atenção de algumas pessoas. Taehyung detestava esse lado escandaloso de seu hyung, por isso o cutucou nas costelas. - Você, puro? Faz-me rir, Kim Taehyung.

- É sério. Só estávamos dando bom dia.

- Vou fingir que acredito porque realmente não quero imaginar você trocando nudes aqui dentro desse recinto. - Chegaram à area do pátio onde alunos se reuniam antes de tocar o sinal indicando o início das aulas. - Agora deixa eu ir que preciso entregar um trabalho logo na primeira aula, mas ainda preciso tirar umas dúvidas. Mais tarde me conte sobre esse seu sorriso satisfeito que eu quero saber quando foi que evoluiu pra isso tudo. - Novamente Taehyung rolou os olhos, mas assentiu.

Despediram-se e Seokjin afastou-se até onde estavam os seus amigos do terceiro ano que já se preparavam para subir as escadas. Já estavam em fevereiro e aquele era o último ano de Seokjin, o que significava mais estudos, mais esforço por notas altas, um melhor desempenho para passar na melhor universidade possível.

Taehyung se preparava para ir à escada oposta que dava acesso às turmas do segundo ano quando tropeçou em algo. Fez o possível para não cair, mas se desequilibrou feio a ponto de chamar a atenção de alguns que estavam por ali, e logou escutou risinhos.

- Foi mal, não vi que tinha uma barata passando pelo caminho. - Jooheon disse simplesmente, com aquele sorriso maldoso no canto da boca, olhando Taehyung dos pés à cabeça. - Mais cuidado da próxima vez, verme. Pode ser que eu te esmague com uma pisada só.

Alguns alunos deram risadinhas, entre eles os garotos do departamento de Dança, como Jimin e Hoseok, outro que Taehyung reconheceu como sendo do departamento de Basquete, Namjoon, e alguns amigos insignificantes de Jooheon que estavam ao seu lado.

Jooheon era o típico garoto popular apenas por ser forte e ameaçador. Tudo bem que ele também era o capitão do time de basquete e estava no último ano. Mas Taehyung apostava 10000 wons como aquela pose toda de machão era porque Jooheon na verdade tinha o pinto pequeno e era complexado por isso.

- Sai da frente, Jooheon, que eu tô atrasado. - Taehyung tomou coragem e tentou passar pelo garoto, afinal ele não bateria em si ali, no meio do colégio, né?

Mas os capangas dele, vulgos brutamontes do basquete, o barraram e empurraram de volta.

Aquilo estava começando a tomar proporções que Taehyung preferia evitar. Já se formava uma rodinha ali perto.

- Como é que é? O verme está atrasadinho? - Os garotos do basquete bufaram em meio às risadas de hienas. - E aí, o que foi que a mamãe preparou de lanche? - Jooheon aproximou-se, puxando a mochila de Taehyung de seu ombro. - Será que foi pãozinho com manteiga? Não? Não, né. Afinal sua mãe está a sete palmos do chão e...

Jooheon foi atingido por um soco mal dado de Taehyung, que pouco sabia sobre lutas, apenas o que via na TV. Então o maior revidou com um soco no estômago do mais novo, nem chegou a ser forte, mas Taehyung caiu de joelhos no chão.

- Você é um cara morto, Kim Taehyung! - Jooheon esbravejou. Preparava-se para desferir outro golpe, quando Yoongi, outro garoto do time de basquete, o segurou pelo braço.

- Já chega, né, Jooheon? Quer ser suspenso ou o que? Temos jogo na outra semana.

- É isso aí! - Concordou com Yoongi, ainda vidrado pela quase briga. - Você tem sorte, pirralho - Apontou o dedo na cara de Taehyung que ainda estava ajoelhado no chão - porque não posso pegar suspensão agora. Senão eu arrebentava essa tua carinha de verme do esgoto. Vambora, pessoal.

Os garotos do basquete saíram junto de Jooheon e o resto se dispersou. Alguns carregavam um olhar cheio de pena de Taehyung, enquanto a maioria parecia sentir apenas desprezo, como se ele não pertencesse ali. Como um raio, o garoto pegou sua mochila no ombro, levantou-se e saiu em disparada para o banheiro mais próximo.

Humilhação. Era isso o que ele sentia. Havia sido humilhado (mais uma vez) na frente de toda a escola. A agressão verbal doía mais do que a agressão física. Não fora a primeira vez que apanhara, mas fora a primeira vez em que escutara o nome da mãe na boca daquele idiota. Verme! Verme era aquele Jooheon, que ousava atacar as pessoas que não faziam nada para ele, que só queriam passar o resto de sua vida escolar no anonimato, mas que graças a pessoas como ele aquilo era impossível. Taehyung não podia escutar o outro mexer com sua mãe e deixar barato. Precisou revidar. Agora estava na dúvida se havia feito a coisa certa. Jooheon jamais o perdoaria por ter tocado em seu rostinho de jogador troglodita.

No caminho para o banheiro, onde choraria até cansar, ainda antes de sair do pátio, Taehyung esbarrou em um garoto, o que fez sua mochila cair de novo no chão.

- Merda! - Esbravejou. - Não olha por onde anda, não?

- A culpa não foi...

- Que seja, some! - Taehyung não queria descontar em ninguém, mas aquele era Jeongguk, um dos garotos do basquete e provável amiguinho de Jooheon, então não merecia menos do que aquilo.

Taehyung continuou seu caminho até uma cabine do banheiro masculino no andar térreo. Desligou o celular para o caso de alguém lhe perturbar. Não que ele achasse que o seu pai ou Seokjin o ligariam, mas não queria abrir brecha para a dúvida. Ficaria ali até a hora da saída, se possível, para poder se acalmar e sair como se nada tivesse acontecido.