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História Hills - Chapter I - Broken


Escrita por: TheJuliett

Notas do Autor


Olá galera! Muito obrigada pelos favoritos, e muito obrigada pelos lindos comentários das duas lindas divas que eu recebi :) Prometi postar até este final de semana e aqui está! Sejam todas bem-vindas e obrigada pelo apoio! Meus capítulos são grandinhos em média 3000 à 5000 palavras. Espero que gostem! Boa leitura *3*

Capítulo 2 - Chapter I - Broken


Fanfic / Fanfiction Hills - Chapter I - Broken

— Hills * Capítulo um  

"A desilusão é a visita da verdade". - Chico Xavier.

 

Meu coração dilata-se, comprimi-se dentro do peito, aos poucos murchando e reduzindo quase que inteiramente seu tamanho convencional dentro de minha cavidade torácica, sei que anatomicamente isto é impossível, mas a sensação é palpável. Sinto uma dor excruciante alastrar-se por meu peito e repentinamente estou sem fôlego, desesperada por oxigênio e na necessidade extrema de obtê-lo acabo me engasgando com o próprio elemento. Devo soar muito patética ou desesperada, pois todos os integrantes de minha família agora tem seus olhares cautelosamente posicionados acima de minha lamentável existência naquele ambiente. Não sei bem o motivo específico, mas algo dentro de mim parece morrer naquele instante. Sinto-me traída, mesmo sabendo que não há razões suficientes para isso. Eu sempre soube que eles acabariam falando ou fazendo algo em um determinado dia que terminaria por arruinar toda a minha vida. E finalmente aconteceu. Não preciso perguntar, pois sei que papai já prometeu minha mão ao Barão Hiddleston, ele não seria tão estúpido a ponto de ignorar um fato tão grandioso como este. E certamente mamãe fez-lhe a habitual lavagem cerebral. Se de fato desejavam dinheiro e uma vida confortável não poderiam ter sido presenteados com sorte maior por parte do destino. Quanto a mim? Estou condenada. Se partir agora serei vista como uma pária no vilarejo, as pessoas me odiarão, terão nojo de mim. Serei tachada como a jovem mulher irresponsável que trocou a chance de uma vida aparentemente “perfeita” por uma fuga irresponsável com ninguém menos do que um humilde lenhador. Eu serei motivo de chacota, mães aconselharão suas proles a não ser como eu, a pobre desvirtuada sem juízo algum. Pouco me importo sobre o que pensariam de minha mãe, mas certamente fariam de meu pai enfermo um alvo conveniente, culpariam-no por não ter me instruído da maneira correta, ririam de si e por fim terminariam por rejeitá-lo da sociedade, ele seria impedido de votar, seria impedido de participar de seus eventos mensais de política e para meu já tão limitado pai isso seria o fim, tenho plena certeza de que desejaria mil vezes mais a morte. Eu simplesmente não poderia conceder-lhe tamanho desgosto e não conseguiria lidar com a culpa que sem dúvida alguma me perseguiria pelo resto da vida se viesse a ser a causadora de sua morte. Mamãe me odiaria para sempre e rogaria-me pragas pela eternidade. Sally seria incomodada por minha causa, pessoas a comparariam a mim pelo simples fato de sermos pertencentes à mesma família, e ela não gostaria de ser comparada à alguém que mesmo não intencionalmente fora responsável por uma grande onda de desgraças em sequência. Sei que meu amor por Kilorn é imenso, quase tão grande que não cabe dentro de meu peito, porém ainda tenho algo mais importante a zelar: o nome de minha família. Além disso tenho amor próprio também, e jamais conseguiria conviver com a dor e a humilhação. Gostaria de poder seguir meus sentimentos, certamente eles me levariam à parte de minha felicidade, mas mesmo estando com Kilorn eu não me sentiria completa nessas circunstâncias. Sempre me pegaria à noite pensando em tudo o que deixei para trás, nas amarguras e desgostos que causei. E é quando este meu lado racional opta por tomar conta de minha mente que sei exatamente o que tudo isso significa: é a minha sina, o meu destino impiedoso. Casar-me com um homem que não amo, dar-lhe filhos apenas para satisfazê-lo e melhorar sua imagem em sociedade, deitar-me ao seu lado desejando outra pessoa, sonhando em ser livre outra vez. Para sempre infeliz e completamente vazia em espírito. 

[...]

“Jane, percebe o quanto é isso maravilhoso? Seu pai poderá ir até a capital e tratar de suas enfermidades, eles lhe deixarão curado e então será um novo homem. Não gostaria de ver seu pai andar novamente? E Sally! Sally poderá fazer aquele intercâmbio que sempre desejou, ter acesso à novas culturas e estudar línguas! E eu serei a mulher mais orgulhosa deste mundo, e tudo isso por causa de você, querida”. Mamãe caminha até mim e ainda receosa deposita sua mão esquerda sobre meu ombro desnudo. Não tenho forças ou sequer determinação para afastá-la. Novamente sei que já perdi esta batalha e não há nada que possa fazer, e isso simplesmente paralisa todo o meu corpo, é quase tão assustador quanto aparições sobrenaturais. 

“E quanto a mim? O que será de mim, mamãe? Trarei a todos vocês bonança, mas não serei nem um pouco feliz”. As palavras deixam meus lábios de maneira lenta, estremeço ao expor em poucas frases o meu cruel destino. De que adianta fazer-lhes tanto bem e ser tão prejudicada? É egoísmo de minha parte, sei disso, mas também não posso evitar me sentir dessa maneira. Tão vaga, como se não precisasse mais existir. 

“Ora, minha filha, não seja hipócrita. Um homem daqueles sabe muito bem como fazer uma jovem beldade como você plenamente feliz. Sei que está assustada, e é tudo muito novo em sua cabeça, mas terá tempo o suficiente para colocar as ideias no lugar e no fim verá que é melhor dessa forma. Você tinha planos com aquele rapaz, sempre vi claramente em seus olhos as intenções, porém sempre lhe alertei que ele lhe traria infortúnio. Soa doloroso agora, mas creia em mim quando lhe digo, você aprenderá a amar o barão da mesma forma que amou o tal lenhador”. Ela sorri com candura, suas mãos fazem carícias em meus ombros rígidos. Ela espera me confortar com essa fala. Não chega nem perto disso. Não é tão simples, não é fácil como mamãe alega ser. Matar a um amor que perdurou durante anos é o sacrifício mais árduo que serei obrigada a fazer. E em nome de quê? Luxo, conforto, aparência social? Soa como o Inferno para mim. 

“As garotas do vilarejo delirarão, Jane! Você foi a escolhida dentre tantas outras belas jovens. Elas a odiarão de inicio, isto é fato, mas logo você será vista como uma celebridade por aqui. As pessoas desse lugar não tem nada para ostentar, e portanto adoram falar da vida alheia. Creia em mim irmã, você será eternamente o assunto delas, todas se espelharão em você, desejarão ser como você, para conseguir o mesmo posto. Mas nunca o terão, pois só você foi capaz! É uma heroína como nos folhetins de romance! Você se lembra deles, Jane? Você costumava lê-los para mim à noite, nós adorávamos fantasiar que éramos lindas princesas. Para mim você já é uma, sempre foi, mas agora será baronesa. Isso é tão alucinante!”. Minha irmã Sally está em êxtase total. Se o barão tivesse pedido sua mão ela estaria completamente fora de si, e Deus, como eu desejo que isto tivesse de fato houvesse ocorrido. Seria tão mais fácil para Sally, ela estaria feliz com essa vida, aceitaria-a de bom grado. O destino definitivamente escolheu a pessoa errada. Ainda assim não consigo ter raiva de Sally, sei que não é sua culpa, e eu  amava realmente fingir ser uma princesa. Acontece que esse nunca foi e nem nunca será o meu conceito de realeza. Alucinante era certamente a palavra adequada.

“Eu me lembro sim. Cantávamos juntas a música das fadas, era a sua predileta quando menininha. Tentávamos reproduzir os penteados que estampavam as gravuras. Mas isso tudo se foi, a mágica se perdeu, Sally. Eu e você crescemos e é bobagem acreditar que o amor é tão simples como nos folhetins de romance. Deus do céu, eu mal o conheço!”. Murmuro apavorada. Quem me garante que este homem é de boa índole? Ouvi histórias sobre o soldado Marker que agredia sua mulher Lady Mabel. Ele a espancou tantas vezes que a pobrezinha simplesmente enlouqueceu. Hoje é apenas uma viúva caduca que fala com o nada. Tamanho sofrimento, tamanha dor. Estou sujeita a esta situação, afinal nem ao menos sei com quem estou lidando. Homens de poder gostam de se impor sobre suas mulheres e eu nunca fui competente em obedecer ordens. Deus sabe quais consequências esse péssimo hábito poderá me acarretar. 

 “Não precisa ser assim. Você pode manter a magia dentro do seu coração e então se lembrará de mim, e será forte, porque eu gostaria que você fosse. Vai ficar tudo bem, Jane, e de qualquer forma sempre estaremos aqui para você”. Sally sorri e então me envolve em seu abraço extremamente quente e afável. Por um momento sinto-me agradecida, pois ela me livrou das garras de mamãe. Em outro estou chorando copiosamente, pois sei que embora tenha boas intenções ao dizer isso, Sally está contando uma mentira. Se o barão me agredisse e eu decidisse voltar para casa mamãe jamais me receberia, ela me consideraria uma traidora do nível mais sórdido existente. Portanto sei que estou sozinha nisso, e é por tal motivo que choro desesperada. 

[…]

Estou esperando próximo ao riacho de Caldon. Estou muito adiantada, sei disso. Mas precisei vir até aqui, não julguei um ato justo ludibriar Kilorn, meu único e verdadeiro amor. De alguma forma a longa caminhada até este lugar me trouxe um pouco de paz interior, e embora esteja um pouco mais calma ainda tento elaborar uma maneira coesa de contar à Kilorn que não podemos mais fugir juntos. Posso imaginar sua expressão desolada, a decepção estampada em seus olhos cor de mel. Ele jamais me perdoará, e estou cada vez mais perto de partir em frangalhos o coração daquele que amei durante tanto tempo. É cruel. É alucinante. Quando vejo-o aproximando-se, novamente aquela sensação de afogamento me domina, as palavras parecem presas dentro de mim, e preciso respirar muito fundo para não começar a chorar de imediato. Eventualmente o farei mais tarde, mas não me permito fazer isto agora enquanto tenho de ser firme. Kilorn sorri da forma mais bela que já vi, tanto que sinto-me uma criminosa extremamente culpada por ter de lhe arrancar este sorriso tão belo. Uma mecha de seu espesso cabelo acastanhado pende acima de seus olho direito e com agilidade ele a afasta, sorrindo ainda mais. O sorriso não dura muito mais, ele percebe que há algo de errado quando eu não retribuo o gesto de felicidade, sequer permito que me beije. Por dentro estou me despedaçando em camadas, partes de um vidro que jamais poderão se unir outra vez. Conclui que se lhe desse esperanças, determinado do jeito que é Kilorn tentaria arranjar uma maneira de me livrar de minha sina, mas como sempre ele ouviria o coração e não sua razão. Isso lhe custaria provavelmente sua vida e por conta disso não posso encorajá-lo, por mais que me doa preciso de fato afastá-lo de mim para sempre. E o farei agora e com pesar. 

“O que há com você, Jane? Imaginei que fosse estar no mínimo um pouco animada. O que significa essa expressão de funeral, não me diga que alguém morreu? Se está com medo de sermos pegos na fronteira de Wisconsin não se preocupe, eu já dei um jeito nisso. Querida, sorria para mim”. Kilorn faz menção de tocar minha face, mas eu o bloqueio rapidamente antes que isso possa me causar ainda mais dor. Não posso ceder, eu o amo e é por isso que tenho de partir seu coração. A expressão que ele esboça em seguida é de puro espanto, ele encolhe a mão e estreita os olhos para mim. 

“Não vou mais fugir com você, Kilorn”. Não sei de onde tiro coragem o suficiente para enunciar aquela frase de maneira tão fria e desumana. Quando tudo terminar Kilorn me verá apenas como a megera que o enganou, usou seus sentimentos e simplesmente quando não os julgou mais úteis atirou-os ao chão sem piedade alguma. E não posso fazer nada para impedi-lo de pensar dessa forma. 

“Jane, pare com isso. Você é uma péssima atriz, até acho que andou assistindo demais as peças de teatros horrivelmente dramáticas de Lady Rose. Você não pode me enganar, eu sou especialista em ler os seus sentimentos, esqueceu? Agora pare de brincar e dê-me aqui a mala de roupas que está escondendo em algum lugar, precisamos alcançar os cavalos antes do meio-dia, do contrário seremos acometidos pela insolação e chegaremos a nosso destino parecendo dois camarões”. Kilorn me estende a mão como de costume, e eu tiro forças de lugares desconhecidos para reprimir o ímpeto caótico de me atirar em seus braços, contar-lhe a verdade e desistir dessa loucura que é minha vida. Não posso, penso. Eu só traria desgraças. 

“Não estou atuando, Kilorn. Estou dizendo a verdade. Não irei mais fugir com você, pensei muito a respeito e tirei algumas boas conclusões sobre isto. Não iríamos muito longe com esse plano, em algum ponto acabaríamos fracassando. E certamente nosso dinheiro seria escasso por conta de nossas rendas baixas é claro. Você não pode me prover uma vida segura e viveremos fugindo, eu não desejo tal coisa para mim. E minha família não merece tamanho desgosto de ver sua filha mais velha fugir para se casar com um lenhador. Que exemplo eu daria à Sally? Não sei onde estava com minha cabeça durante todos esses anos, eu pensei que fosse amor, porém quando me dei conta de que seria fácil viver sem você percebi que de fato eu nunca o amei de verdade. Estávamos vivendo uma mentira, Kilorn. Eu vivi minha própria mentira. Você é meu amigo de infância e isso é tudo. Foi um erro pensar que seríamos felizes juntos, eu mereço alguém melhor do que você, e você merece alguém que o ame realmente. Desculpe, essa pessoa não sou eu, pensei que fosse, mas estava equivocada”. Despejei com acidez. Nunca em toda a minha vida nessa Terra proferi tamanha besteira. Mentir para Kilorn dessa forma e em seguida ter lidar com sua expressão de ultraje foi a pior coisa do mundo. Eu optei por não lhe contar a respeito do barão, afinal se o fizesse talvez as coisas ficassem mais complicadas, e eventualmente logo ele saberá. 

“Você disse que me amava inúmeras vezes, Jane. Você fez amor comigo, entregou seu corpo à mim e prometeu que eu seria o primeiro e único a tê-la para sempre. Você jurou que eu sempre fui o único para quem teve olhos durante todos esses anos. E agora está me dizendo que não passava de uma mentira inventada pelo seu cérebro confuso? Desculpe, mas não posso crer. O que vivi foi absurdamente real e você sabe disso, pois sentiu o mesmo do que eu. Jamais desejei tocar outra mulher que não fosse você, Jane Ashcott, e isso foi uma maldita realidade para mim! Eu a amo mais do que jamais amei a alguém nessa vida, a amo porque você nunca se importou com minhas raízes ou com minha profissão humilde. Mas essa pessoa que está de frente para mim agora não é a Jane. Eu não sei quem é e a detesto”. Kilorn encarou-me com uma expressão de nojo. Senti tudo em mim doer, desde meu coração às minhas pernas. Eu queria pedir-lhe inúmeras desculpas e jurar-lhe que ele sempre foi e sempre será o único a me possuir. Mas não tinha escolha, se quisesse de fato protegê-lo era necessário prosseguir com a farsa. 

“Eu vivi intensamente. Eu aproveitei cada minuto, mas acabou. Não vejo propósito maior em me unir a você nessa jornada fútil e desnecessária. Estou pronta para seguir em frente, sinto muito se isso o magoa. Gostaria de ter acordado de meu sonho fantasioso de conto de fadas antes, Kilorn, mas não fui capaz. Precisei de demasiado tempo para que isso ocorresse. Agora é claro como a água cristalina deste riacho para mim, eu não o amo. E você precisa aceitar isso, porque é a verdade. Eu ainda sou a mesma Jane, apenas possuo novos ideais. Fui feliz com você, de fato fui, não posso negar-lhe isto. Só que acabou, o sonho acabou e eu quero uma vida diferente da que você está propondo para mim neste momento. Não tenho um jeito melhor de lhe dizer isso: eu não quero mais você, Kilorn”. Cada letra, sílaba formando palavras de uma sentença fatal para mim. Não posso mais voltar atrás, está feito. Ele me odeia, ele me quer afastada para sempre. Dói, queima como o Inferno, mas aos poucos terei de me acostumar com a dor. Sei que disponho de tempo o suficiente para isso, afinal terei a eternidade inteira para pensar sobre meus erros. E este é um que me assombrará para sempre. 

“Espero que saiba o que está fazendo. Pois não lhe acolherei quando estiver enferma ou precisando de cuidados sendo deixada a mercê de um homem que certamente não a amará como eu a amei. Ainda amo. Mesmo tendo de ouvir tais sentenças brutais saindo de sua boca não consigo odiá-la, pois ainda me recordo de como você costumava ser antes. Sempre linda e atenciosa, bondosa e amável. Isto que estou vendo agora é uma farsa, é o seu pior lado. Mas se é o que quer preciso deixá-la ir. Perguntarei apenas uma vez, Jane Ashcott, é isso o que você deseja?”. Ele mediu minha expressão impassível de todos os ângulos possíveis, e não sei como não conseguiu encontrar traços de meu desespero agudo. Travei uma batalha interna entre amor e razão, e no final todos sabemos qual foi a predominante. 

“É exatamente isso que desejo. Adeus, Kilorn Woodens”. E então incapaz de olhar-lhe nos olhos pela última vez dei-lhe as costas e tomei meu rumo de volta ao vilarejo, deixando para trás tudo o que eu mais amei na vida. Meu sonho de passar a vida ao lado de Kilorn foi brutalmente aniquilado, o destino não teve piedade de mim. Nem eu mesma tive. Agora sei que Kilorn retornará ao seu lar e em poucos anos enquanto eu estiver distante arranjará para si uma boa esposa que cozinhe e crie sua porção de filhos. Eles farão um amor preguiçoso e ele irá se esquecer de mim. Quanto a mim jamais lhe esquecerei, e enquanto estiver sendo possuída pelo barão pensarei na forma gentil que Kilorn me tomou pela primeira vez, unindo nossos corpos em uma só alma. Meu único e verdadeiro amor. 

[…]

Mamãe está em júbilo. Receberemos o Barão Hiddleston e sua irmã para o jantar. Fato é que eu nem sabia da existência de sua irmã, isto só prova o quão indecente está união soa. Mas aos olhos das pessoas do vilarejo soa extremamente romântico e encantador, a plebeia que se casará com o barão e será feliz para sempre. Mal sabem eles que eu preferiria me jogar de um penhasco se de fato possuísse a coragem e pudesse fazê-lo. Da cozinha mamãe e eu emitimos uma sinfonia de metais sincronizados conforme nos preparamos para produzir algo que segundo ela: ‘agarre o barão pelo estômago’. Não me sinto bem o suficiente para colocar meu coração no que estou fazendo, porém tento ter o mínimo de consideração pelo pobre homem e sua companhia visto que eles ainda são seres humanos, muito embora os preferisse bem longe de mim e de minha família. Gostaria de poder me imaginar confeitando este bolo para Kilorn, mas a simples menção de seu nome já faz com que meu coração estremeça e pare de bater por um milésimo de segundo. Portanto não é uma opção para mim. 

“Agite bem essa massa, Jane. Queremos consistência firme, seu barão merece um bolo dos deuses! Sally, pare de rodopiar pela sala com este vestido e venha até aqui me ajudar com o assado. Deus meu, já são são seis horas”. Mamãe toma de mim a colher e começa a ditar o ritmo em que devo bater a massa. Mesmo a contragosto obedeço-a desejando evitar futuros transtornos. 

“Jane, você está com uma cara péssima. Assim que terminarmos a comida vou lhe ajudar com a maquiagem, tenho o vestido para você!”. Sally sorri gentilmente e me envolve com seus dois braços esguios. Respiro fundo e reprimo as lágrimas que ameaçavam despencar de meus olhos. Seja forte por mais algumas horas e então poderá chorar o quanto quiser, Jane, penso. 

“Só estou cansada, Sally. Mas obrigada”. Murmuro inexpressivo voltando-me para a massa do bolo novamente. 

“Nem pensar, Sally! Estes seus vestidos não são dignos de uma future baronesa! O Barão Hiddleston não deseja uma garotinha e sim uma grande mulher e é exatamente isto que terá esta noite. Eu lhe bordei o vestido mais belo de todos, Jane”. Mamãe sorri abertamente pela primeira vez em tempos. Em parte estou feliz em poder vê-la de bom humor, ainda assim gostaria que fossem em outras circunstâncias. Tão logo me atenho à minha função e desligo-me do mundo ao meu redor, ignorando tudo o que possa me causar ainda mais dor. 

[…]

A campainha soa cerca de uma hora e meia depois. Mamãe acaba de colocar a mesa, papai apruma-se em sua cadeira de rodas parecendo extremadamente nervoso e apreensivo. Eu apenas estremeço, mas Sally é a única que parece não se importar com tudo isso, pelo contrário, ela está muito animada e portanto vai saltitando até a porta. Assim que ela destranca a fechadura e gira a maçaneta puxando logo em seguida a pesada porta de mármore é revelada a figura do homem alto e misterioso da noite passada. Ao seu lado está uma mulher que parece apenas um pouco mais velha do que eu, mas ela exala uma beleza sombria e eu arriscaria dizer sofisticadamente aterrorizante. Ela possui olhos especulativos que parecem não perder um detalhe sequer, quase posso imaginar as engrenagens de seu engenhoso emaranhado de neurônios que compõe o cérebro funcionando a todo vapor. O vestido azul marinho lhe cai como uma luva, delineando as curvas de sua cintura fina. Os finos lábios pálidos não esboçam reação alguma quando minha irmã lhe dirige a palavra desejando-lhe uma boa noite. Ela tem seus olhos fixos em mim com a intensidade de uma estrela reluzente, como duas lâmpadas que cegam. Sinto-me intimidada, porém tento não transparecer. O barão não parece se incomodar com a figura da irmã paralisada, tanto que quando arrasta-a consigo torna a fixar também seus olhos em minha direção. Agora sinto-me bastante desconfortável, sendo escoltada por estes olhares que aparentam desejar tirar tudo de mim, desde minha felicidade até meus segredos mais profundos. Como o do fato que não sou mais virgem e que sequer se passa pela cabeça de mamãe, só espero que o barão não crie um causo com isso quando eventualmente vier a descobrir. Repentinamente o barão se afasta de sua cópia quase que perfeita quase como uma versão feminina de si e se aproxima de mim como da primeira vez. Com o tom de voz cordial ele enuncia. 

“Boa noite, senhorita Ashcott. Creio que não tenhamos sido devidamente apresentados ainda. Meu nome é Thomas Hiddleston e estou plenamente encantado em conhecê-la”. Ele me estende sua mão novamente, a qual aceito relutante. Seus lábios marcam minha mão esquerda com um beijo e assisto seu rosto ganhar um pouco de cor. 

Olhando para ele percebo o peso da realidade. Eis aqui o resto da minha vida. E a bela mulher sorri de maneira sombria. 


Notas Finais


Espero que tenham gostado :) Se você leu até aqui muito obrigada <3 Beijocas e até o próximo capítulo :D
P.S. A Lucille (irmã do barão) terá uma participação um pouco diferente nesta história do que a que desempenha no filme "a colina escarlate".


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