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História Hills - Chapter IV - Madness


Escrita por: TheJuliett

Notas do Autor


Oi gente! Duas semaninhas apenas! Consegui voltar bem mais cedo desta vez. Trago comigo este capítulo repleto de mistérios, quebra-cabeças que necessitam ser solucionados e que aos poucos passarão a se encaixar. Temos vários pontos de vista neste capítulo para tornar tudo mais emocionante :) Aliás, muito obrigada pelos comentários no capítulo anterior, amei ler e responder à todos eles <3 Espero que gostem e desejo a todas(os) uma boa leitura *3*

Capítulo 5 - Chapter IV - Madness


Fanfic / Fanfiction Hills - Chapter IV - Madness

—Hills Capítulo quatro - Madness

"A casa, como o homem, pode tornar-se cadáver, basta que a superstição a mate. Então é terrível".  - Victor Hugo. 

 

Desperto em um sobressalto. O cenário que se estende logo à minha frente soa confuso, completamente fora de foco. Pisco repetidas vezes, agitando com delicadeza os espessos cílios dourados conforme as coisas começam a fazer sentido e vou vagarosamente recobrando o que creio ser parte de minha consciência. Com demasiada dificuldade implico determinada força que faz com que meu tronco se erga possibilitando-me uma visão mais ampla e menos embaçada. Aparentemente estou deitada, as pernas estendidas em uma linha contínua seguindo um traçado retilíneo que tem fim próximo à base do colchão, e este por sua vez exala um cheiro levemente amadeirado que faz com que minha cabeça protele. Só então me dou conta de que estou suando profusamente, meu corpo imerso em grudentas camadas de suor. O cheiro que provém de meu corpo, devo confessar, não é nem de longe o mais agradável. Isso faz com que me questione há quanto tempo estou nesta cama, nesta fatídica situação duvidosa. Por mais que me esforce não consigo obrigar meu cérebro a expor suas últimas e mais recentes lembranças, todas prosseguem alheias na escuridão como se estivessem perdidas em algum lugar distante, algo estranhamente familiar à um Universo paralelo e difuso. Algo cheira mal e não é apenas o odor eminente, algo muito ruim está relacionado a toda esta situação que desconheço. Tenho plena convicção disso. Do lado de fora observo o sol em seu último suspiro, pouco a pouco desaparecendo em meio a melancolia protestante da noite que está prestes a cair. Sinto medo, porém desconheço a razão. O ímpeto caótico de puxar com violência as cobertas acima do rosto me consome, como se de fato ao consumar tal ação eu pudesse me proteger, criar uma espécie de barreira ou escudo eficaz que poupasse-me do infortúnio que certamente está por vir em breve. Nada posso fazer e isso é simplesmente insuportável, enlouquecedor. Estou deitada aqui neste exato instante, nesta posição deplorável que brutal, mas sorrateiramente dá início ao processo desagradável de entortar minha coluna jovem e impecável, apenas a espera de um acontecimento desconhecido e potencialmente devastador. Diga-me você se não é aterrorizante? 

[…]

5 dias antes

Lucille

“Do que exatamente ela consegue recordar-se?”. Minha voz emite um largo efeito de eco que reverbera pelo quarto mofado. O homem ao meu lado completamente trajado de branco vira-se para me encarar com maior precisão, os olhos redondos fitam os meus com a intensidade de raios elétricos. É um homem feio, esguio. Rosto largo, nariz delgado. Sempre me identifiquei com homens feios, existe algo na ausência de uma beleza padrão que me fascina. Não pergunte-me o motivo, eu não saberia dizer ao certo. Ele parece hesitante, ambos sabemos que ele sabe. E ele sabe que eu sei. Mas ambos nos calamos sobre o assunto, um pacto mudo de confidencialidade em prol de um bem comum muito mais relevante. 

“Ela bateu a cabeça com demasiada força. Não posso afirmar com plena certeza quais são exatamente os sintomas ou os efeitos colaterais. Precisaríamos enviá-la de carruagem até a capital para fazer mais exames, porém temo que a viagem a desgastaria ainda mais. A jovem não corre risco de vida, mas seu corpo está febril, a neve e o frio rigorosos poderiam bem desencadear atribulações piores. Por ora o ideal seria o repouso absoluto, a significativa quantidade de fármacos circulando por suas veias neste exato instante encarregarão-se de possibilitar o sono dos condenados. Esta jovem senhorita necessita de cuidados, posso me encarregar disto e transportá-la até o hospital mais próximo em Billboardshire*. Obviamente, se assim desejar”. O doutor Rottmayer enuncia as palavras cuidadosamente. É o melhor e mais experiente médico/cirurgião em um raio de 1600 km. De fato sua experiência e auxílio foram fundamentais para meu próprio anseio, ainda assim agora ele já não me soa mais útil. Sua repentina intromissão começa a despertar minha ira, pouco a pouco, como uma chama ardente se avivando dentro de mim. 

“Não será necessário, muito obrigada. Creio que dispomos de todos os medicamentos requisitados, com certeza com uma boa dose de descanso a senhorita Ashcott tornará a se sentir muito melhor e disposta. É de fato uma fatalidade, uma moça tão jovem aventurar-se perigosamente e de maneira irresponsável. Não posso culpá-la, pobre coisinha, está bastante paranóica com o decorrer de sua cerimônia. Eu lhe avisei que me encarregaria do essencial, porém ela insiste em preocupar-se excessivamente. Bem, certamente o senhor não necessita fazer o mesmo, vá em paz doutor! Sabe, já cuidei de enfermos o suficiente e acredite que esta garota não me será um problema”. Ao finalizar minhas explicações estrategicamente conduzo o doutor Rottmayer em direção as escadarias, uma mão cautelosamente apoiada à base de suas costas rígidas. Seus músculos fatigados pela meia-idade contraem-se desgostosos com meu toque ao que pouco me importo, velhos são mesmo estranhos. 

“Esplêndido, senhora Hiddleston. Não gostaríamos de receber um comunicado infame relatando notícias ruins a despeito desta jovem moça inocente, não? Eu bem sei devido a meus longos anos no ramo da medicina que alguns imprevistos ocorrem, porém ela permanece longe de uma zona parcialmente de risco. Espero receber uma visita das senhoritas em breve, visto que a jovem Jane Ashcott há de casar-se com seu irmão dentro de um curto período de tempo. Ah, quase me esqueço! Mande lembranças minhas ao barão se não lhe for um incômodo. Até mais ver, Lucille”. O tom de petulância em sua voz é latente quase absurdamente palpável. Sinto minhas entranhas contorcendo-se com a repulsa. Este velho asqueroso. Usando de palavras aparentemente gentis para ameaçar-me, quem pensa que é? A forma ácida com a qual ousou pronunciar meu nome, simplesmente revoltante. Intrometendo-se em meus planos sem o menor pudor. O revirar de olhos no final então, inaceitável. 

De repente sei exatamente o que tenho de fazer. 

[…]

5 dias antes 

Thomas (Barão Hiddleston)

Lucille está inquieta por algum motivo que desconheço. Com o canto dos olhos observo-a folhear um antigo livro cujas páginas empoeiradas parecem velhas o suficiente a ponto de começarem um processo de desintegração acelerada. Ela não o lê literalmente, tenho plena convicção disso. Hábitos incomuns nunca morrem. Sempre que deseja ocultar algo de mim vê-se frustrada, uma vez que bem sabe que jamais poderá fugir de minha atenção, sequer de minha alta percepção aguçada. Conheço-a com maestria, todos os seus trejeitos, manias bizarras e defeitos detestáveis. Não posso culpá-la pelo simples fato de ser minha irmã gêmea, de estarmos estranhamente conectados um ao outro como se atados por um elo invisivel incrivelmente forte e quase infalível. Mulheres são famosas por seu sexto sentido, gêmeos são famosos por uma conexão inexplicável e inabalável. Eu não costumava crer nestas suposições, porém é inegável que Lucille e eu temos nossa própria forma muda de comunicação que transcende as barreiras da linguagem e desafiam qualquer explicação moralmente lógica. Rá, rá, e eu não disse? Este é o destino caçoando de mim. Em terra de incrédulos possuir uma crença é o que há. 

“E então? Vai me contar o que tanto ronda seus pensamentos, querida irmã? Ou terei que extraí-los por conta própria?”. Sorrio um tanto medíocre, os olhos de Lucille crescem imediatamente, arregalando-se tanto que assemelham-se a duas bolinhas de bilhar. A despeito do que parece trata-se apenas de uma piada interna originária de nossos remotos tempos de infância, quando uma teimosa Lucille recusava-se a partilhar suas aflições com uma versão muito mais jovem de mim obrigando-me a atacá-la com minha pior arma, seu pior pesadelo. Cócegas. Inofensivo, uh? O fato é que minha gêmea detesta com toda a intensidade do planeta o ruído de risadas. Incomum, certo? Uma garota que odeia rir e despreza o som da alegria. Em sua legítima defesa ela já sofreu o suficiente. Paremos por aqui. 

“Você sabe. Tenho problemas demais para lidar. A propósito agora possuo mais um. Sua garota está me causando dor de cabeça, Thomas. Muita dor de cabeça, quase uma enxaqueca! E isso é ruim, não! É péssimo. Você sabe o que ela aprontou? Ah, pela sua expressão vejo que não sabe de nada. Talvez devesse dar uma olhada em sua noiva em fuga logo no andar de cima. Vá! Está esperando o que? Um convite apropriado?”. Lucille dá de ombros com desleixo, o queixo largo projetando-se para a frente em uma posição um tanto quanto estranha. Só então reparo em seus cabelos escuros caindo em longas cascatas, os olhos fundos marcados pelas olheiras arroxeadas que os circundam, o lábio comprimido em uma linha tênue. Duvido que tenha sequer pregado os olhos esta noite. Então de repente sou arremessado em uma memória do passado. Lucille sentada de joelhos na sala de estar, expressão fúnebre tal qual neste exato momento, mãos apertadas atrás das costas. Desgosto em seu olhar. E a pequena confissão deixando sua boquinha infame de criança: “Ele simplesmente não quis me obedecer, Thomas”. Vagarosamente a pequenina estende o conteúdo de suas mãos antes ocultas. Lá está Ambien, meu cachorro predileto ainda quase um filhote encolhido em uma bolinha, olhos cerrados. Completamente gelado. Morto. 

Repentinamente sou tomado por um lapso de pânico absoluto. Ergo-me da poltrona desajeitadamente, a mesma tomba em um baque surdo fazendo com que a sala de leitura adquira aparência semelhante a uma cena de crime forjado. Não me importo. Preciso chegar até o andar de cima, mais precisamente ao quarto de Jane. Meus pés movem-se com agilidade, porém meu cérebro constantemente ativo perturba meu estado de espírito. Minhas mãos cerram-se em punhos e invado o quarto de minha noiva em tempo recorde. Iluminada apenas pela luz de um lampião praticamente apagado ela jaz imóvel acima da extensa cama de casal. Os cabelos dourados revoltos grudam em sua testa pálida e úmida. Com relutância estendo a mão para tocar-lhe a face. Ela arde, queima, delira em febre. Uma onda de preocupação aguda alastra-se por meu corpo tal como um impulso nervoso sendo propagado em segundos. Esta pobre garota. Tão logo a preocupação converte-se em raiva, uma raiva borbulhante que agita meu sangue antes gélido, a fera antes dormente agora completamente desperta, alerta. 

“O que diabos você fez, Lucille?”. Brado a todos pulmões. Lucille adentra o quarto a passos de formiga, curtos e silenciosos. Põe-se ao meu lado munida de sua expressão habitual, impenetrável, indiferente. Ao menos não ousa sorrir. Permanece ali contemplando a mesma cena hedionda do que eu, a única diferença é que não se abala em instante algum, uma silhueta larga e sombria como uma personagem clichê de filmes de horror. Lucille não entende a gravidade da situação, não deseja compreender. Tudo o que ela mais quer é satisfazer seus anseios egoístas até que não me reste mais nada que não a sarjeta. 

“Desta vez nada, Thomas. Sua princesinha protegida arriscou a própria vida em um surto qualquer. Não me culpe por seus erros, irmão. Não me crucifique por seus martírios, você a quis trazer, agora aprenda a controlá-la a seu bel prazer. Ela não irá durar muito e você sabe disso, não é forte como as outras, não tem a mente que se possa facilmente moldar. Não vai se cansar de buscar respostas e quando por fim as encontrar não saberá aceitar as consequências que hão de implicar em sua vida, ela vai debilmente enlouquecer com sua mentalidade perecível. Não consegue conviver com o fato de ter sido afastada de seus pobres caipiras semelhantes. Ela não está ao seu nível, nunca esteve e nunca estará”. Lucille afaga com suavidade forçada a pele jovem e sedosa de minha noiva em seu leito. Dedos cobiçosos, ansiosos por sugar toda a vitalidade, a juventude, a beleza. A inveja de minha irmã por vezes ultrapassava todos os limites do bom senso, da boa índole humana. Eu sempre soube que isso era ruim, mas de qualquer forma agora era tarde para reverter sua psique já deturpada. O que sempre me assustou foi o grande domínio que ela exerce sobre mim, o poder de suas palavras hábeis, bem calculadas, comedidas e concebidas para gerar coerção. Minha irmã é o pior de mim, a voz agourenta que deve ser silenciada, mas silenciá-la seria o mesmo que renegá-la. E não posso rejeitá-la novamente, já o fiz uma vez e as consequências foram amargas. Tenho plena convicção de que Lucille pode ser perversa, porém ela jamais iria desejar o meu mal. Sequer conspirar contra mim. Como posso ter tanta certeza? Não faço a mínima ideia, mas por ora isso precisa bastar. Do contrário, sem ela, o que me restaria no mundo?

“Só não faça nada imprudente. Nada que me desagradaria em grande escala. Tenho meus planos para Jane que demandam certa dose de paciência, você precisa me conceder este tempo para que tudo se execute de maneira impecável. Confie em mim, Lucille, sei bem o que estou fazendo, apenas não torne as coisas mais difíceis para mim do que já são agora. Agora vá, deixe-me a sós por alguns minutos, por favor”. Eu a encaro diretamente nos olhos escuros, obrigando-a a me dar um pouco de credibilidade. Sei que Lucille muitas vezes me enxerga como um homem fraco, porém sempre a convenço do contrário. Desta vez não será diferente. Ainda assim sinto que minha irmã esconde algo, não tenho como saber ao certo o quê, mas como tudo nessa vida infame uma hora a verdade há de ser revelada. Não tão tarde eu presumo. 

Agora sozinho neste quarto de iluminação precária não posso evitar sentir pena de Jane Ashcott - talvez um pouco de asco por mim mesmo. Estou a conduzindo por um caminho sem volta, não há placas de retorno, sequer escapatória. Uma vez que o plano começar não haverá mais como voltar atrás e ela estará condenada. 

[…]

Dia atual 

Jane 

Todos agem de forma esquisita. O barão não permite que eu deixe meus aposentos enquanto minha saúde não estiver completamente recuperada. Palavras dele, não minhas certamente. Sinto que estou prestes a mergulhar em um mar de enguias pegajosas, todas altamente tóxicas e perigosas. Embora não me recorde de absolutamente nada fui informada de que estive desacordada durante um período de cinco dias, o que pode ser considerado bastante tempo. Ninguém me revela o motivo e quando ouso indagar a respeito abandonam-me a falar com as paredes como uma maluca psicótica. Não mencionam a cerimônia que não ocorreu, sequer tocam no assunto. É quase como se estivessem me preparando para algo pior, se é que pode ficar de fato pior do que isso. Estou sufocando e mal consigo me acostumar com o frio absurdo que parece consumir cada célula de meu corpo. Ao menos estou feliz por uma razão: Lucille não fez mais nenhuma aparição. Não gostaria de ter que lidar com ela enquanto estou supostamente enferma, para não dizer completamente fora de mim ou até mesmo cautelosamente paranóica. 

[…]

Há uma grande comoção do lado de fora. E não parece normal em um local isolado de qualquer espécie de civilização habitada. O barulho adentra meu quarto causando um rebuliço em meu estômago. Debruço-me sobre a janela e afasto as cortinas de cetim que atrapalham-me a visão. Como uma boa e experiente bisbilhoteira não consigo conter o ímpeto de espiar através do vidro. Ao longe avisto dois homens fardados que descem galantes de uma carruagem tal qual a do barão, suas botas pretas de cano alto afundam na neve e só o que sou capaz de ouvir é o chapinhar de seus passos e os murmúrios distantes de suas vozes masculinas conforme se aproximam vagarosamente. São escoltados por uma criada extremamente alta com roupas inadequadas para o frio que se instala no exterior da mansão, observo-a encolhendo-se enquanto conversa polidamente com os dois oficiais. Tão logo eles adentram os domínios da mansão e já não consigo ver mais nada, os murmúrios no entanto tornam-se cada vez mais audíveis. Na ponta dos pés corro com demasiada dificuldade - pois aparentemente e por motivos a mim não revelados esforcei por demais as pernas - até a porta extensa de mármore e recosto o ouvido esquerdo a fim de captar o máximo possível de informações. Minhas mãos espalmam-se e permito-me relaxar enquanto minhas batidas irregulares começam a nivelar-se com precisão. 

“Estamos aqui para conversar com a senhora Hiddleston. Saberia nos informar se ela aceitaria receber-nos por um minuto?”. A voz mais grave faz-se presente ribombando pelos sulcos vazios da mansão quase como um esbravejar rabugento de um velho fatigado. 

“Perdoe-me senhores, porém a senhora Hiddleston deixou a mansão logo cedo pela manhã para uma de suas caminhadas rotineiras. Creio que estará de volta em cerca de uma hora. Gostariam de aguardá-la ou desejam retornar em um horário mais apropriado a seu julgamento?”. A voz doce da garota alta não parece tão intimidadora. Imagino-a agora com um sorriso amistoso estampado no rosto, as mãos habilmente depositadas dentro do bolso de seu vestido arrumadinho. 

“Se não for um incômodo preferimos aguardá-la até que esteja de volta. Seria muito rude de minha parte requisitar-lhe um chá?”. A mesma voz cavernosa repete-se com uma pontada a mais de gentileza. Agora a cena em minha mente ocorre de maneira bastante fantasiosa, o oficial mais velho com seu bigode pós meia-idade lança a jovem criada um sorriso maroto ao qual ela responde com um acenar de cabeça. 

“De maneira alguma. Sigam-me, por favor. Ah, e se me permitem, sem querer me intrometer em sua investigação  que presumo ser altamente confidencial poderiam informar a esta jovem criada um tanto quanto intrigada do que se trata esta visita tão inesperadamente agradável?”. Sua voz é cândida, comedida. Tenho de admitir, ela é boa, certamente muito esperta e segura de seu charme natural. Pelo que pude observar ao longe parece ser uma garota bonita e agora percebo que é bastante consciente deste fato a ponto de utilizá-lo a seu favor. Afinal, eu não sou a única no mundo que nutre uma curiosidade fora dos padrões da normalidade. Isso concede-me demasiado alívio, não sou  exatamente uma aberração da natureza. 

“Ah, senhorita. Não deveríamos deixar vazar nenhuma informação, no entanto a senhorita tem se mostrado extremamente prestativa e acho que posso retribuir-lhe esta gentileza. De certa forma acabará vazando de todo modo, as pessoas não conseguem conter-se por muito tempo, principalmente tratando-se de um cadáver. Até o departamento de polícia insiste em divulgar novidades, afinal nada mais emocionante do que um suposto assassinato em uma cidade que apenas possui históricos de furtos realizados por pobres e mendigos desesperados. O Doutor Rottmayer foi dado como desaparecido há cinco dias atrás após uma visita à mansão Hiddleston. A esposa telefonou ao delegado Meyer em prantos sem saber a localização do marido que não retornara para casa. E qual não foi nossa surpresa ao depararmo-nos com um corpo a margem do riacho Blakefield? O legista confirmou a identidade após 24 horas de investigação, tratava-se mesmo de nosso médico sumido! Pobre Eileen com seus três filhos pequenos, sem o salário do marido terá de voltar à labuta. A sociedade para não dizer a vida, é mesmo uma injustiça. Portanto aqui estamos, esperando que a senhora Hiddleston possa clarear nossas mentes a despeito da última vez que encontrou-se com o Doutor Rottmayer. A propósito sabe de que paciente ele veio tratar?”. Uma voz mais branda fez-se presente. Certamente o comparsa resolvera se manifestar. Ao ouvir a palavra cadáver um alerta ensurdecedor foi emitido em minha mente. Eu lembro-me de pensar que este é mesmo o local perfeito para se cometer um assassinato e sair-se impune. Não era impossível que Lucille o tivesse executado. E mesmo não me lembrando deste homem uma certeza havia: ele viera até aqui por minha causa. 

“A noiva do barão Hiddleston, Jane Ashcott pelo que sei. A história não nos foi transmitida com clareza, mas Bree contou-nos o pouco que presenciou. Pobre menina, aterrorizada por algum motivo desconhecido, completamente apavorada em um pânico súbito. Correu pela neve sem um rumo certo, afogando-se em uma imensidão de vazio, até desmaiar. Não sabemos o motivo do desmaio tampouco Bree soube contar-nos. Frágil como uma jovem senhorita foi colocada em um leito, permaneceu desacordada durante cinco dias. Não a vimos desde então, permanece isolada em seus aposentos como se protegida por uma redoma de vidro. Boatos relatam que ela não consegue lembrar-se de absolutamente nada, memória completamente apagada o que é bastante sinistro devo confessar”. A criada amansa a voz, baixando-a a um tom praticamente inaudível, ainda assim capto fragmentos da conversa. Uma familiaridade com o relato me acomete, não posso confirmar, mas sinto no âmago de meu ser que ela não está contando-lhes uma mentira. 

Então de repente as vozes cessam. Presumo que ela os tenha conduzido até a cozinha e de lá continuarão concedendo mais detalhes. Sufocada pela enorme carga de informações permito que um suspiro sôfrego ultrapasse meus lábios e sento-me como uma criancinha no chão de ébano. Abraço-me em um instinto protetor. Estou determinada a descobrir o que me ocorreu, pois agora tenho plena certeza de que corro riscos. Preciso encontrar a tal Bree que poderá me fornecer melhores detalhes de meu drama, ainda assim preciso ser cautelosa, não posso arriscar ser pega, sequer flagrada. Um passo em falso e sinto que as coisas podem ficar ainda piores. E sim, agora sei que podem ficar piores. Começando por coletar dados. Se Lucille não está aqui agora torna-se mais fácil perambular pela casa e isso deve me servir de algo. Então ergo-me do chão e giro com determinação a maçaneta que range enferrujada, é uma ideia inútil, afinal se desejam me fazer prisioneira certamente trancaram a porta. Mas conforme completo o movimento a mesma se abre revelando a silhueta de um homem. Assustada recuo para trás, sem sucesso, uma mão agarra com veemência meu pulso e puxa-me para fora. Suspiro aliviada ao constatar que trata-se apenas do barão. Não é totalmente a prova de riscos, ainda assim não é Lucille que poderia matar-me de súbito e sem motivo aparente. 

“Precisamos sair daqui agora mesmo, Jane!”. Sussurra exasperado, exercendo forte pressão sobre mim, obrigando-me a me mover com extrema agilidade. 

Não compreendo, ainda assim sei que a repentina visita dos oficiais tem tudo a ver com isso. 

 


Notas Finais


Oi de novo :) Desejo a todos vocês um feliz ano novo carregado de boas vibrações e um maravilhoso 2017 que está por vir, que possamos renovar nossas energias e nos encontrar sempre por aqui :D Obrigada à todas que acompanharam a história durante estes últimos meses de 2016, foi um prazer tê-las por aqui! Espero que continuemos juntas durante o ano que vem :3 Aliás, fiquem bastante atentas, pois mais detalhes da infância de Thomas e Lucille passarão a surgir em um thriller psicológico arrebatador! Aqui vai um incentivo para o próximo capítulo: Lucille fará algo imprudente e o desenrolar da investigação a respeito da morte do Doutor Rottmayer promete surpresas!
Beijocas e até breve! Fui!


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