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História Hino ao Amor - Se deixar sentir


Escrita por: makkachin

Capítulo 11 - Se deixar sentir


Yuuri ficou ouvindo a voz de Victor a cantar por um bom tempo. Durante o treino do domingo ele nem tentou comentar muito naquilo, afinal no sábado ele já não tinha dito nada, mas ficava difícil de não pensar no homem. Parecia ser uma coisa simples, mas ele cantou uma música para Yuuri patinar, e aquilo deveria significar alguma coisa, não? Não era todo dia que alguém iria fazer uma serenata para você.

Victor apenas sorriu e brincou, do jeito dele, mas não comentou sobre ter cantado. Aliás, ele agiu como se nada tivesse acontecido, o que não surpreendeu Yuuri em nada. Ele apenas tentou disfarçar as coisas que sentia dentro de si e continuar o treino.

Naqueles dois dias do final de semana Victor tinha dado algumas dicas para Yuuri sobre seus saltos e os outros elementos da patinação, falando algumas coisas que ele poderia fazer com suas coreografias e que temas eles poderiam explorar nos programas de Yuuri. Um deles já tinha sido definido, claro, então ainda restava a Yuuri e Victor conversar sobre o programa mais complexo: o longo.

Algumas ideias tinham surgido durante os treinos, com Victor sugerindo coisas malucas e novas, que Yuuri nunca tinha feito, e ele foi tentando imaginar cada uma delas. Victor parecia ter um monte de ideias sobre Yuuri, e ele queria descobrir um lado novo dele, o que era bem inesperado. Yuuri não sabia se ele tinha esse lado diferente que Victor parecia querer descobrir, mas o homem era insistente.

“Por que você não tenta soltar um pouco mais os ombros? Você sabe que isso não é um programa oficial, só um pedaço de coreografia pra ver como você se sai, pra ver como as coisas fluem, não?” Victor disse ao movimentar suas mãos pelo ar.

Na segunda-feira à noite, depois de um dia inteiro com aulas, e muitas interrupções pois as crianças queriam tirar fotos com Victor, Yuuri estava cansado. Mesmo com o rinque apenas para eles dois, o silêncio não parecia tão quieto, porque as vozes ecoavam lá dentro ainda. Tudo tinha sido mais do que cansativo, e ainda assim Victor estava sorrindo e animado.

Yuuri queria poder ir pra cama, mas ele não iria fazer aquilo, afinal de contas Victor estava doando a sua ajuda sem cobrar nada, e se Yuuri tinha a chance de ficar ao lado dele, por qualquer tempo que fosse, Yuuri iria aproveitar aquilo.

“Não é que eu não goste de Beyoncé, mas as músicas dela não combinam muito com a minha forma de patinar?” Disse Yuuri, indeciso sobre suas próprias palavras.

Victor tinha sugerido a ele patinar um mini-programa ao som de “Partition”. Era só uma parte do treino deles, dois saltos e um elemento de giro com um pouco de coreografia para Yuuri testar coisas diferentes, como ele já havia feito antes, mas tentar ser sexy parecia algo tão não-natural para ele que Yuuri se sentia estranho.

“Mas e como a sua forma de patinar é sempre a mesma? Não tem motivos para você querer apenas fazer as mesmas coisas, e eu acho que existe algo dentro de você que pode se libertar, hein?” Victor chegou mais perto de Yuuri ao dizer aquelas palavras, e mesmo com a barreira do rinque entre eles, Victor estava perto demais.

Yuuri deu um passinho pra trás.

“Eu…” Yuuri sacudiu a cabeça. Ele olhou para Victor de novo, e havia algumas notas sugestivas naqueles olhos, como se Victor realmente quisesse ver ele patinando com aquela música. Mas Victor era um homem com um patinar sensual, mas de uma forma bem natural. Já Yuuri não se sentia confortável daquele jeito.

“Tente, pelo menos.”

E com Victor implorando era complicado não fazer alguma coisa. Yuuri patinou para o meio do rinque, onde começava a coreografia do programa e depois esperou por Victor colocar a música pra tocar. Ao som das primeiras notas ele tentou fazer seu corpo sentir elas, mas mesmo com apenas uma pessoa olhando para Yuuri ele se sentia um alienígena. Talvez fosse apenas porque Victor estava ali, já que Yuuri não queria fazer um papel ruim.

Ele tentou seguir a coreografia mesmo assim. Parecia que uma batalha estava sendo travada em sua mente já que Yuuri não sabia se interpretava a canção ou se patinava seu programa concentrado nos elementos. O resultado daquilo veio logo na primeira combinação de saltos triplos, uma das mais fáceis que ele fazia, dois triplos toeloop. Era pra ser apenas uma coisa simples pra ele poder treinar, mas ainda assim Yuuri foi tentar o primeiro salto e logo caiu. Ele tinha pensado mais na coreografia precedente ao salto do que na própria forma em que seu corpo adquiriu antes de se lançar ao ar, por isso a queda nem foi uma surpresa.

No próximo salto, contudo, ele pensou no elemento, e daí esqueceu metade da coreografia pelo meio do caminho. O triplo flip saiu, mas Yuuri chegou ao final da apresentação e viu no rosto de Victor que o homem não estava satisfeito.

A música parou, e ao invés de ir para onde Victor estava Yuuri sentou no gelo, cansado. Talvez fosse por isso que as coisa não estava funcionando, mas ele sabia que se aquela música fosse diferente Yuuri teria pelo menos conseguido tentar.

Victor entrou no rinque nos seus tênis e caminhou até Yuuri. Assim que ele parou ao lado dele, Victor pigarreou, e Yuuri levantou os olhos.

“Eu sei que isso foi um desastre.” Yuuri bufou.

Victor concordou com sua cabeça. “Você está tentando demais as coisas, sem deixar o seu corpo ir sozinho. Eu sei que é um desafio, mas a gente não pode se preocupar tanto a ponto de perder o objetivo.”

“Mas é que eu não sei interpretar esse tipo de música. Ainda se eu fosse um virgem ou alguma coisa assim…” Yuuri parou de falar e sentiu suas bochechas ficando vermelhas. Não tinha necessidade em ele revelar aquele tipo de detalhe, e foi uma coisa boa ele poder olhar para o chão e não ver Victor.

O silêncio soou entre eles por um momento, mas então Victor se sentou ao chão do lado de Yuuri, que não levantou os olhos para ver o homem. Ele se sentia envergonhado.

“Não é só porque a gente é virgem que não sabe interpretar uma música sensual, não é?” Victor disse. “E eu nem estou falando de você ser um ou não, mas é que parece que sua cabeça pensa e pensa sobre o que tem que fazer ao invés de se deixar fazer, se deixar levar. As coisas podem ser tão simples quando a gente se deixa sentir…”

Yuuri tinha que concordar, e a conversa de Victor deu um tempo para ele controlar o rubor em seu rosto.

“Eu nunca dei muita atenção pra esse lado,” Yuuri confessou. Ele tentou levantar seus olhos, com medo, mas Victor apenas olhava com expectativa para ele, mais nada. Certamente não tinha motivos para ele ter medo.

“Talvez porque você nunca se permitiu, hein?” Victor virou seu rosto um pouco para o lado, e o olhar dele se modificou. Uma faísca entre os dois surgiu, e Yuuri não sabia exatamente como agir. Só naquele segundo ficou bem óbvio como havia grandes diferenças entre um e outro, e como Victor poderia ser sensual se quisesse.

Yuuri olhou para baixo. No momento seguinte, a mão se Victor chegou perto do seu rosto, tocou a pele de Yuuri, levou um choque a correr pela espinha dele, e o fez levantar os olhos outra vez. Era difícil de olhar para Victor daquele jeito, pois havia alguma coisa naquele olhar, algo que Yuuri não sabia como chamar.

“E como eu faço pra me permitir?” Pediu Yuuri. Victor estava perto demais dele, era possível contar o número de pelos em suas sobrancelhas, mas Yuuri não estava contando eles. Era impossível olhar para além daqueles olhos.

Ele viu o momento em que Victor deixou os seus olhos descerem até os lábios de Yuuri, e mesmo sem se tocar, além daquela mão, era quase como eles estivessem se beijando.

Yuuri respirou fundo, tentando se mover, mas era impossível.

Os olhos de Victor brilharam ainda mais.

 

~*~

 

Não era a intenção de Victor chegar assim de perto de Yuuri, mas ouvir ele quase implorando para saber como sensualizar a si mesmo era pólvora para os sentimentos de Victor. Ele se deixou levar, como disse a Yuuri, e ele estava pronto para selar os lábios dos dois, ensinar de verdade como Yuuri poderia aprender a deixar sua sensualidade aparecer.

Mas então o telefone no bolso de Victor soou. Os dois se separaram, Yuuri virando para o outro lado, criando um abismo gelado entre eles dois.

Victor suspirou, e como eles já estavam longe mesmo, pegou seu telefone. Era só uma mensagem de seu antigo estudante, Yuri.

Você ainda está no Japão? Esse cara que você está seguindo deve ter algo de ouro…

Victor não conseguiu segurar o curto riso.

Como se Yuri não tivesse feito o mesmo quando ele começou a sair com Otabek.

Os dois tinham se conhecido ao longo da carreira, e foram muitos anos de aproximação até alguma coisa acontecer. Eles tinham se tornado amigos antes de qualquer coisa, e Victor esteve ao lado de Yuri para ver aquilo acontecer. Foi a chegada de Otabek que fez com que ele ficasse menos obcecado com Victor, o que foi uma coisa boa.

Contudo, não tinha como Victor comparar o relacionamento dos dois com o dele e de Yuuri, afinal de contas eles não tinham os mesmo sentimentos. Ou tinham?

Eu estou trabalhando com ele em seus novos programas, e me divertindo com as crianças que patinam por aqui.

Victor completou um momento depois. Sem falar que já faz um tempo que eu não me sinto tão inspirado com patinação.

Não tinha motivos para ele não contar aquilo a Yuri, ainda que Victor se sentisse indeciso sobre aqueles sentimentos.

Ele olhou para o lado e viu Yuuri ainda com seu rosto virado. Victor não sabia muito como agir naquele momento, por isso ele se levantou de pé e disse para Yuuri ir treinar o seu único salto quádruplo, e Yuuri obedeceu.

Victor caminhou até fora do rinque enquanto lia a nova mensagem de Yuri Plisetsky.

Quer dizer que esse carinha desconhecido fez o velho Victor rejuvenescer? Achei que isso nunca iria acontecer.

Victor sorriu para si mesmo, mas quando ele levantou os olhos para olhar Yuuri, que já patinava no rinque, aqueles olhos castanhos estavam treinados em Victor, frágeis e confusos. Victor tinha estragado o momento com seus próprios desejos, e aquele vale gelado estava cada vez maior entre os dois.

Ele não respondeu a mensagem, apenas guardou o telefone no bolso e ficou olhando Yuuri treinando o seu salto. Sem cair ao gelo, Yuuri conseguiu fazer o seu quádruplo toeloop mais de dez vezes, e Victor queria gritar e parabenizar ele, mas a estranheza do momento não o deixou.

Aquela energia se estendeu até o final da noite, e mesmo quando os dois voltaram ao Onsen já bem tarde, poucas palavras foram trocadas. Yuuri não olhava direito para Victor, e tinha algo estranho seu olhar. Victor queria poder dizer que ele foi bobo e pedir desculpas, mas ele não tinha feito nada de errado.

Quem sabe ele viu coisas onde não tinha, e achou que Yuuri sentia aquela atração entre os dois.

“Eu vou tomar um banho e dormir,” disse Yuuri quando os dois entraram no Yu-topia.

Ele seguiu em frente sem olhar para Victor.

Se Victor não fizesse nada os dois iriam dormir assim.

Victor respirou fundo.

“Yuuri? Espere aí?” Ele fez seus pés se moverem, e Yuuri parou no meio do corredor. O silêncio do Onsen em volta deles não parecia gelado como o rinque do Castelo de Gelo, mas ainda assim denotava essa distância entre eles.

Yuuri olhou para Victor, mas não disse nada.

“Eu queria pedir desculpas por antes. Acho que você não gostou e…” Victor poderia dizer que não era a intenção dele fazer aquilo, mas isso seria uma mentira.

“Acho que…” Yuuri mordeu os lábios. “Não foi nada.” Ele disse e se virou para ir ao quarto.

Um movimento involuntário fez Victor agarrar no braço de Yuuri e não deixar ele ir em frente. Estava na cara de Yuuri o protesto, mas algo o impediu, e sem fazer Victor o soltar ele se virou. Aquela fragilidade em seu olhar estava li, fácil de ser vista. A confusão também, uma dor estranha nos olhos dele.

Algo se aqueceu dentro de Victor, e ele sentiu uma vontade de abraçar Yuuri. Por um momento os dois não fizeram nada, mas Victor disse um belo “dane-se” para si mesmo, e deu o último passo até ele poder colocar seus braços em volta de Yuuri.

O cheiro do suor dele, o corpo quente, até mesmo os cabelos molhados faziam Victor sentir algo. Atração, era simples. Mas ao mesmo tempo ele se sentia culpado por fazer Yuuri decidir nem tomar um banho no ginásio para ir correndo pra casa como se tivesse que fugir de algo.

Só que no momento em que eles se tocaram, em que o abraço virou realidade, Victor queria fazer qualquer emoção ruim desaparecer.

Quando os dois se separaram, Victor não deixou Yuuri ir longe, o segurando pelas costas para tentar enxergar ele bem de perto. Sem palavras para serem ditas, a quietude parecia grande demais, especialmente quando os olhos de Yuuri passaram pelos lábios de Victor.

Ele sentia alguma coisa, Yuuri. Talvez não fosse o mesmo que Victor tinha dentro de si, mas era algo forte o bastante para seus olhos não se desgrudarem da boca de Victor. E aqueles olhos pareciam intensos, quentes. Victor se lembrou da distância entre os dois dentro do ginásio, mas logo esqueceu de tudo aquilo quando Yuuri lambeu seus lábios.

E, de repente, a indecisão dentro de Victor sumiu.



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