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História Hino ao Amor - Aprender a voar


Escrita por: makkachin

Capítulo 17 - Aprender a voar


O mundo parecia uma bola de algodão. Yuuri estava acordado, ele tinha seus olhos abertos, mas tudo parecia distante dele naquele momento. Não era uma sensação ruim, pelo contrário, depois do que havia se passado naquele quarto, a sensação que seu corpo sentia era maravilhosa, e as imagens no cérebro de Yuuri eram perfeitas, íntimas.

Ele ainda conseguia sentir o gosto de Victor em sua boca, e em sua pele o toque do homem ainda era uma presença constante. Sua cabeça doía um pouco, mas era aceitável, e completamente possível de se aguentar.

“Yuuri?” A voz calma de Victor soou, e Yuuri tomou um tempo para conseguir enxergar o homem ao seu lado. Ele se virou com calma e Victor estava ali, pronto para abraçar Yuuri, para ter ele em seus braços.

O corpo de Victor o envolvendo era incrível. Talvez fosse porque Yuuri tinha passado por um intenso momento, por algo que ele nunca tinha feito antes, e sentir Victor junto com ele dessa forma era muito confortante. Ele aproveitava para cheirar o homem, roçando o nariz pelo peito de Victor, ainda que mal tivesse forças para aquilo.

“Você foi tão perfeito, Yuuri. Nunca imaginei exigir isso de você, nunca achei que iria fazer isso quando vim ao Japão, mas agora eu sinto que meu coração se abriu e você apareceu como uma coisa que eu nunca achei que precisasse, mas agora não quero perder.”

A voz do homem era calma, e parecia muito estranho que todos os sentimentos em Yuuri estavam se desmanchando ao ouvir Victor. Ele havia lido algumas coisas sobre Dominância e submissão, mas nunca tinha passado por algo assim - esse sentimento de precisar de alguém, de voar pelo ar e ser trazido de volta ao chão junto com a mão de outra pessoa. Era até estranho imaginar que seu corpo não estava respondendo bem aos comando de Yuuri, e ele só queria estar com Victor.

O homem continuava a sussurrar palavras doces no ouvido de Yuuri, abraçando ele contra seu corpo, e se não fosse aquilo Yuuri nem sabia se ele estaria ali. Ele não sabia de quase nada. Só os toques de Victor eram aquilo que fazia ele respirar e abrir os olhos.

“Eu não quero deixar você dormir até eu ter certeza que você está bem, então mesmo que você tenha sono, espere um pouco que eu vou cuidar de você, okay?” Mesmo com a voz atentiva de Victor, Yuuri não conseguiu dar uma resposta contundente, apenas assentindo.

Ele escutou a curta risada de Victor, provavelmente sobre o estado de Yuuri, mas ainda assim não era um riso de escárnio, pelo contrário, era aquele tipo de riso que você só dá ao seu cão amado quando ele faz algo fofo. E mesmo que Yuuri tivesse certeza que ser comparado a um cão por ele mesmo era estranho, ele não queria fazer nada de diferente naquele momento a não ser ficar deitado ao lado de Victor.

Por um longo tempo ele ficou apenas respirando. Sua cabeça ia aos poucos retornando ao normal, lentamente voltando a fazer sentido, e ele se sentia mais na terra do que no ar. Tudo voltou a seu lugar e ele finalmente se sentiu acordado, mais vivo. Porém, ao mesmo tempo, aquele sentimento bom foi desaparecendo, dando lugar apenas a normalidade. Yuuri queria ter ficado a flutuar por mais tempo.

“Tudo bem agora?” Victor pediu quando ele abriu os olhos. Yuuri assentiu, mas depois falou.

“Acho que sim.” Sua voz era rouca, e ele teve que pigarrear para fazer as palavras saírem. Victor chegou bem perto do rosto de Yuuri, avaliou seus olhos e depois assentiu, satisfeito com sua análise.

“Eu não exagerei com você?”

“Não, Victor.”

“É que eu fui meio que tomado por tantas emoções ao mesmo tempo, e eu senti que você poderia se dar para mim de tantas formas que eu tive que tentar uma delas.”

Aquelas palavras de Victor fizeram Yuuri sentir seu rosto pegando fogo ao imaginar as formas que ele se deu para Victor. Mas ele tinha consentido a tudo aquilo. Ele tinha se dado mesmo, de corpo e alma.

“Eu… não sei muito o que dizer. Mas eu gostei.”

O sorriso que Victor lhe deu tinha a confirmação que o homem sabia daquilo, e não era surpresa.

“A gente mesmo não vai ficar assim tão perto nos próximos meses, então eu tinha que te dar alguma coisa pra deixar a sua mente e seu corpo pensando em mim.” Pareciam simples palavras, mas elas tinham um significado importante para Yuuri.

“Eu não vou conseguir esquecer você, sem sombra de dúvida.”

Victor colocou uma de suas mãos nas bochechas de Yuuri e trouxe o rosto deles dois para perto. Os lábios deles se encontraram no meio do caminho como se fosse a coisa mais simples do mundo, e, para eles dois, era. Sentir a língua de Victor penetrando na boca de Yuuri, tomando conta dele e lambendo-o de forma tão singela era sempre algo bom, e Yuuri queria ter aquilo para sempre.

Será que era por Victor ser a primeira pessoa que conseguiu chegar tão perto de Yuuri que ele se sentia assim? Ou será que isso entre os dois era algo importante, alguma coisa que iria fazer sentido pelo resto da vida deles? Ficava complicado imaginar, mas Yuuri nunca tinha sentido nada daquilo, e ele queria ter a chance de sentir.

“Se você quer dormir agora, acho que você já pode, ouviu?”

Yuuri olhou para Victor.

“Você vai ficar aqui do meu lado?”

“Bom, tecnicamente, esse quarto é meu. E mesmo se não fosse, eu não iria sair daqui.”

Com um sorriso em seus lábios, Yuuri se deixou fechar os olhos e relaxar. Com o cheiro de Victor e o gosto do homem em suas células, ele permitiu ao sono envolver ele. Talvez ele fosse acordar no outro dia e tudo não passaria de um sonho, mas pelo menos teria sido o melhor sonho que ele já tinha sonhado.

 

~*~

 

No resto do final de semana os dois não tiveram mais tanto tempo um para o outro. Mesmo que tenham acordado na mesma cama, Victor e Yuuri tiveram que partir em direções diferentes. Os Katsuki carregaram Victor e o resto dos hóspedes da pousada para uma almoço comunitário, e depois daquilo Victor já tinha que fechar as suas malas, enquanto Yuuri tinha trabalho no rinque de patinação.

Yuuri queria ter ficado junto com Victor, mas ele tinha suas responsabilidades, ainda que naquela tarde ele tenha sido um desastre em todos os sentidos. Ele não conseguiu se concentrar em quase nada do que fez, apenas pensando em Victor, e todo mundo no rinque sentiu aquilo, mas ninguém disse nada. No final da tarde Yuuri queria só deixar o resto dos alunos ir embora que ele iria de volta para o Onsen também, ao invés de treinar como deveria.

Porém, ele estava a ponto de sair do rinque quanto Victor chegou, carregando suas malas, e surpreendeu Yuuri.

“Oi?”

“Yuuri, você não estava prestes a matar o treino, estava?”

Só aquela pergunta de Victor, com sua voz levemente autoritária, fez Yuuri tremer um pouco, e olhar para o chão com seu rosto envergonhado.

“Eu não conseguia me concentrar direito e…” Ele não completou a frase, consciente de que Victor iria entender.

Yuuri parou bem no meio da porta, e Victor deixou suas malas no chão e caminhou até Yuuri. Ele colocou uma das mãos no rosto de Yuuri e o levantou, fazendo os olhos dos dois se conectarem. Era quase complicado demais olhar para Victor, pois Yuuri apenas queria abraçar ele, mas os dois estavam em público, e não tinha jeito para Yuuri poder ter Victor para si com tantas possibilidades de serem descobertos, não que eles estivessem escondendo algo em primeiro lugar.

“Eu quero que você entre no rinque e treine. Eu vou ficar aqui te olhando, porque meu voo só sai tarde da noite, e eu posso ir depois que você treinar.”

O coração de Yuuri começou a bater mais forte. “Você ficaria aqui só pra me ver treinar mais uma vez?”

Victor olhou para Yuuri como se ele fosse um bobo por perguntar aquilo, e colocou uma de suas mãos nas costas dele, trazendo o corpo dos dois para perto, nem se importando se alguém fosse ver.

“Eu vou ficar aqui para ter certeza de que você vai treinar direito, e depois eu vou embora, mas isso não quer dizer que você vai ter o direito de deixar o seu treinamento de lado. Se eu precisar eu mando pra você uma coleira pelo correio com o meu nome, só pra eu mandar em você.”

Aquilo parecia a coisa mais estúpida que alguém poderia dizer, mas lá dentro, Yuuri nem achou a ideia de ter uma coleira com o nome de Victor uma coisa tão estranha.

Ele assentiu. “Eu vou tentar.”

“Eu não quero que você tente,” disse Victor com vigor. “Eu quero que você dê o seu melhor, afinal de contas nós treinamos forte essa semana para fazer com que você chegasse aonde está. Quem sabe nem tudo está perfeito, talvez esses programas poderiam ser melhores, mas nós fizemos o nosso melhor, e eu quero ver você competindo como nunca - pois quando eu ver você competindo ao seu melhor, eu quero poder dizer que eu fiz de tudo por você, e você fez tudo por mim. Você consegue fazer isso?”

Como se existisse uma ligação entre os dois, com aquelas palavras Victor a estreitou das formas mais potentes.

“Vou sim,” disse Yuuri, tentando abaixar a cabeça de novo, mas Victor o manteve lá, fazendo os olhos dos dois se olharem.

“Então entre de volta e mostre pra mim a melhor patinação da minha vida.”

Aquele momento fez o tempo parar, mas então Yuuri movimentou tudo ao dar meia volta e correr para arrumar seus patins. Ele queria fazer Victor ter orgulho dele, fazer o homem vibrar com tudo que Yuuri poderia fazer no rinque. Ele foi por entre os corredores para pegar suas roupas, colocar as botas no pé e amarrar elas, e quando Yuuri finalmente voltou ao rinque tudo estava vazio, a não ser por Victor com suas malas ao lado, bem na borda do gelo.

Parecia que todos os momentos entre eles dois até agora se resumiam a horas em que ninguém estava em volta, como se a mágica entre eles só existisse no vazio. Quem sabe mais ninguém do mundo sequer fazia ideia de que eles dois eram algo um para o outro, porque ninguém tinha visto eles juntos daquela forma, e Yuuri se sentia feliz com isso.

Ele não queria esconder do mundo o que existia entre ele e Victor, mas Yuuri queria poder guardar para si todas as coisas boas entre eles dois, e não deixar o mundo estragar o que de bom existia.

Naquele treino o gelo parecia estar empurrando Yuuri para o alto. Todos os movimentos de sua patinação estavam em perfeita sincronia com o próprio universo, e mesmo quanto Yuuri caía, ele se levantava e fazia o máximo para poder seguir em frente. Talvez era porque Victor estava indo embora e Yuuri não queria pensar na falta que o homem iria causar, então ele dava seu todo pela coreografia.

Vez ou outra seus olhos captavam o maravilhamento de Victor, a forma como ele parecia em transe ao ver Yuuri, e era assim que ele sempre queria ver o seu técnico, o seu homem. Yuuri queria lançar um feitiço para fazer Victor não olhar para mais nada, mas ele descobriu que se patinasse daquele jeito, quem sabe ele nem precisaria de mágica.

Mas como replicar esses sentimentos no gelo sempre? Será que ele só precisava pensar na distância entre os dois, e lembrar do quanto ele pode se entregar, o quanto ele pode voar com Victor? Quem sabe era assim que ele tinha que colocar as ideias em sua cabeça, pois ao final da última passada dos seus programas, com o suor escorrendo pelo rosto e os cabelos uma bagunça toda, Yuuri viu em Victor a felicidade.

Apenas aquilo.

Ele viu como tinha feito tudo que Victor tinha pedido. Só que ele não queria parar. Não queria deixar que aquela fosse a última vez deles dois ali, queria continuar o treino só para que Victor não fosse embora. E foi naquele momento que Yuuri percebeu que lágrimas saíam de seus olhos.

Quando ele notou que Victor o olhava, ele também viu uma furtiva gota caindo dos olhos de seu homem.

“Por favor não me faça sofrer, Yuuri,” pediu Victor, controlando as emoções como sempre, mas Yuuri já conhecia o homem o bastante para ver ele por trás da máscara.

Yuuri olhou ao chão e deixou as lágrimas caírem.

“Não chore, Yuuri,” pediu Victor. E outra vez era difícil conter as lágrimas.

O abraço dos dois foi complicado, e o beijo foi como água em um deserto. Yuuri sentiu como Victor estava emocionado porque o homem nem disse muito, apenas abraçou ele forte, agarrou ele como se o mundo fosse acabar, e então soltou Yuuri, deixou ele ir sozinho para longe.

Victor pegou suas malas e não olhou para trás. Apenas voou para longe também.

Yuuri sentiu como se alguém tivesse quebrado suas asas naquele momento, pois mesmo livre, ele não conseguia mais voar.



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