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História Hino ao Amor - Se achar em um mesmo lugar


Escrita por: makkachin

Capítulo 20 - Se achar em um mesmo lugar


Todo mundo já tinha tomado café e estava indo para o trabalho quando Yuuri apareceu na cozinha. Ele bocejou antes de procurar por um pouco de cereal, sentando-se à mesa por alguns momentos. Dentro dele o nervosismo começava a aflorar, e olha que a competição só iria começar em alguns dias. Hoje ele só tinha que pegar o trem até Hiroshima com Yuuko e amanhã os treinos iriam começar, então por hoje ele estava relaxando, o que era bastante incomum.

Depois de mais de meses sem ver Victor, eles dois finalmente iriam ficar juntos outra vez. O encontro provavelmente só iria acontecer amanhã, porque Yuuri tinha que adquirir suas credenciais e depois correr até o hotel. No primeiro dia eles ainda não tinham transporte do local de acreditação até onde iriam ficar, então não dava pra deixar pra muito tarde.

Se bem que ele conhecia Hiroshima, já que muitas das competições regionais tinham acontecido lá. Dessa vez, no entanto, o Grand Prix iria ocorrer no Big Wave, que no verão servia como piscina Olímpica e no inverno rinque de patinação. Depois dos gastos com as Olimpíadas, a Federação de Patinação do Japão não recebeu tanto incentivo para a realização da competição mais perto de Tóquio, sem falar que o centro do país já estava um pouco saturado de esporte.

Tudo aquilo fez com que a competição fosse transferida mais ao sul, para Hiroshima, o que foi uma boa coisa para Yuuri, porque se ele tivesse que ir até Sapporo a sua conta bancária iria ficar mais vazia. Sim, ser um dos retardatários na lista de patinadores da federação vinha com poucas regalias. Mas pelo menos eles fizeram uma força para conseguir duas vagas para Yuuri competir, senão ele nem teria a chance de ir para a final.

“Yuuri?” Mari entrou na cozinha. Ele terminou de mastigar a comida e olhou para sua irmã. “Você vai sair que hora?”

“Daqui a pouco. Só tenho que fechar a mala e ir me trocar. O trem pra Fukuoka parte às onze, e depois a gente faz uma parada pra almoçar por lá antes de seguir pra Hiroshima.”

Ela mexeu a cabeça, assentindo para ele. “E você está pronto?”

Yuuri pensou por um momento. Depois confirmou. “Acho que estou tão pronto como eu posso estar. Não sei como vou me sair junto com os outros competidores, que têm mais chances do que eu.”

Mari chegou perto dele e se sentou. “Mesmo que não tenha chances, faz tanto tempo que você não compete no circuito principal, acho que essa é uma ótima ideia pra você se soltar, aproveitar a oportunidade, não?”

Ele teve que concordar. “Ainda assim não tem como não sentir o nervosismo. Não estou acostumado com isso.”

Mari estendeu sua mão pela mesa e Yuuri a pegou. Os dois se olharam por um momento.

“Eu sei que não costumo ir às competições com você, e a gente tem mundos diferentes. Mas eu queria que você soubesse que eu sempre torço. E espero que você faça seu melhor, okay?”

Uma onda de emoção lá do fundo começou a se mover dentro de Yuuri. Ele e Mari sempre foram próximos, mas ao mesmo tempo havia uma distância física entre os dois que nunca permitiu uma aproximação completa. Entretanto, eles sempre apoiaram um ao outro.

“Eu vou tentar fazer o meu melhor.”

Mari sorriu. “Victor vai estar por lá, não?”

Yuuri sentiu seus olhos se arregalando.

“Todo mundo aqui imagina o que pode estar rolando entre vocês dois, mesmo que a gente não fale muito.”

“Eu acho que-”

“Não precisa explicar nada.” Ela parou ele com uma mão. “Ninguém falou nada porque cada coisa tem seu tempo, mas a gente pode ver como você foi diferente enquanto ele estava aqui, e como mudou depois que ele se foi. Independente do que acontecer, você sempre vai ser o nosso Yuuri, certo?”

Ele assentiu, tentando morder os lábios para não falar alguma bobagem. Não era segredo para sua família a orientação de Yuuri. Mas ele também nunca fez um grande alarde disso, e nem eles. Só que saber que eles o aceitavam como era, que estavam do seu lado, especialmente em um mundo como o que eles viviam, era a melhor coisa. Saber que a família estava do seu lado o deixava mais leve.

“Eu vou fazer vocês terem orgulho de mim.”

Mari apertou a mão dele.

“Nós já temos, Yuuri.”

 

~*~

 

A caravana de patinadores e comissão técnica que se encontrou no Sheremetyevo antes de eles pegarem o voo para o Japão era grande. Victor tinha quase sentido saudade dessas viagens, de estar ao lado de patinadores do mundo todo, porque apesar de eles estarem na Rússia, vários atletas do mundo treinavam ali, e viajavam juntos para competir. Otabek estava com Victor, Guang Hong e Seung-gil Lee, além de outros patinadores da China e da Coreia também. E era uma grande confusão entender a conversa de um e de outro, mas pelo menos o acompanhante de Victor era mais quieto, o que ajudava.

Foi até engraçado ver a despedida de Otabek de Yuri em São Petersburgo antes de eles partirem para Moscou, mas Victor não podia rir da tristeza dos outros, pois ele sabia muito bem como se sentia. Porém, era reconfortante saber que Yuri estava feliz, e que Otabek era um bom homem.

“Você vai ver Yuuri, não?” Otabek pediu quando os dois tinham se sentado na aeronave.

“Com certeza. Nós vamos nos encontrar no rinque, alguma hora, ainda não sei.” Victor tinha um sorriso em seu rosto, e sim, só de imaginar o rosto de Yuuri perto do seu outra vez ele sentia o coração bater mais forte.

Talvez fosse estupidez ele se sentir assim, afinal de contas ele era um homem vivido, já distante da adolescência e das coisas simples como a paixão, mas era exatamente aquilo que ele sentia, e nada melhor do que se apaixonar por alguém para esquecer da tristeza. Algumas vezes Victor pensou se ele apenas trocou seus afetos, quando perdeu Makkachin ele começou a gostar de Yuuri, e claro que não tinha como comparar, mas ele queria sim encontrar algo para ocupar seus pensamentos. E encontrou.

A viagem de avião foi longa, e até que toda a caravana russa conseguiu chegar a Tóquio e depois pegar o trem para Hiroshima, muitas horas se passaram. Victor e Otabek mantiveram uma conversa calma e descompromissada, e o tempo até que correu um pouco mais do que o normal.

Com algumas lembranças de sua última viagem à Terra do Sol Nascente, Victor tentou procurar semelhanças com o que havia visto em Hasetsu a esse mundo movimentado das cidades grandes. Tóquio era algo incomparável, sim, mas quando eles foram se aproximando da região oeste da ilha de Honshu, era possível ver como as cidades ficavam menores, e ainda que Hiroshima fosse grande, havia um certo ar de cidade pequena.

Os vários rios cortando a cidade se cruzavam pela janela antes de eles chegarem à estação. Todo mundo iria descer no hotel e só depois partir para a acreditação, já que a Federação Russa de patinação tinha alugado um ônibus para esse primeiro dia. Victor tinha que mexer a bunda da poltrona e organizar os patinadores, pois mesmo que cada um tivesse seu treinador oficial, Victor era o chefe da delegação.

O trabalho de levar todo mundo para o lugar certo não era o mais fácil, e depois que eles chegaram até o rinque era necessário organizar a todos, fazer com que cada um tivesse seus documentos em mãos. Os casais da dança no gelo ainda teriam um treino aberto à noite, mas Victor não precisaria ficar com eles. Aliás, ele nem podia, pois os chefes de delegação iam se reunir no hotel para a palestra inicial.

Se ele pudesse ele teria pulado todas essas coisas, mas Yakov estava confiando em Victor para organizar os patinadores. E ele estava à trabalho, então não tinha muito o que fazer.

Como era final de tarde e o sol ainda não tinha se posto, Victor decidiu caminhar pelas ruas de volta ao hotel, que era longe, mas nada impossível de se caminhar. O final de Outubro já trazia ondas de frio para a cidade, mas aqueles últimos raios iluminados ainda conseguiam esquentar bem o ar.

O caminho até o hotel passou antes de Victor perceber, e logo ele já foi procurando pelo seu quarto. Ele ainda não tinha pedido a Yuuri em que hotel ele iria ficar, por isso mesmo Victor não saiu a procura dele, ainda que não tivesse tempo para nada além de trocar de roupas e descer para o salão de festas.

Nos corredores ele viu alguns dos patinadores e técnicos, alguns que ele conhecia, outros que nunca tinha visto antes, mas que parecia ser fãs de Victor. Ele parou para autógrafos e fotos, mas logo teve que continuar seu caminho.

O seu quarto já estava todo arrumado, e como ele tinha jogado um pouco mais de dinheiro era um quarto só para ele, tudo parecia um pouco solitário. Victor se trocou e passou um pouco de perfume, além de procurar na sua bolsa por sua maquiagem para o rosto, base e pó além de lápis para os olhos. Era tudo bem simples, mas Victor vez ou outra gostava de usar.

A reunião dos chefes foi chata, para dizer o mínimo. Alguns deles olhavam com desconfiança para Victor, surpresos de ver ele ali, e outros estavam estupefatos, ou atraídos, ele não saberia dizer. Tudo que foi dito eram coisas que ele já sabia de outras vezes, mas Victor tinha que estar ali. Ainda bem que não demorou mais de uma hora, porque ele queria voltar para o quarto e tomar um banho de banheira, só para relaxar.

Porém, na saída da reunião alguns dos chefes quiseram ter uns minutos de conversa com Victor, e obviamente ele nunca iria dizer que não, Victor não era daquele jeito.

Ele só sorriu e atendeu a todo mundo.

 

~*~

 

Yuuri já estava no hotel, ouvindo o som de Yuuko tomando banho. De Hasetsu só tinham vindo eles dois, já que Takeshi tinha que ficar por lá para atender aos outros patinadores. Na sexta-feira e no sábado, dias de competição, todo mundo iria assistir no Onsen, então nem teria horário de patinação, mas ainda assim alguém tinha que ficar, e eles nem tinham muito dinheiro para sair também.

“Esse banheiro é uma maravilha!” Yuuko disse ao sair. Yuuri sorriu para ela e sacudiu a cabeça.

“Eu vou tomar um banho depois, acho que quero comer algo antes. Talvez vou pegar alguma coisa no bar, não quero gastar com o restaurante agora, e está tarde demais pra comer muito.”

“Tem uma máquina de vendinhas do outro lado do elevador, se eu não me engano. Se você for lembre-se de pegar uns chocolates pra mim,” ela pediu sorrindo, dedos no telefone para falar com o marido e as filhas.

Como ele queria sair mesmo, Yuuri pegou sua carteira e deixou o quarto. O corredor estava calmo, e mesmo que a maioria dos patinadores estivesse ali também cada um já estava com a sua rotina para o dia seguinte.

Ao passar por uma janela, vendo a cidade iluminada, Yuuri parou por um momento. Bem naquela hora o seu telefone soou no bolso, e ele colocou a mão lá dentro para o pegar.

Onde você está?

A mensagem de Victor o fez sorrir. O dia tinha sido cansativo, mas só de ver aquelas palavras tudo parecia diferente.

Estou aqui no corredor do hotel, na janela olhando para Hiroshima. É lindo.

‘Mas não tão lindo como você’ ele queria ter escrito, mas não o fez. Ao longe o som do elevador chegando naquele andar e a porta se abrindo atraíram a atenção de Yuuri, mas logo o telefone soou de novo e ele olhou para a mensagem de Victor.

Eu nem pedi em que hotel você está. Acho que nós vamos nos ver só amanhã, então. Não quero perturbar a sua noite.

Yuuri já estava a ponto de responder que Victor nunca iria o incomodar, mas ele parou ao ouvir passos no corredor. Ele levantou os olhos do telefone em mãos, e a pessoa que estava caminhando fez o mesmo. Yuuri sentiu seu coração batendo um pouco mais forte, e logo ele se largou a correr em seu peito.

Ele sorriu.

Victor sorriu de volta.

 

 

 



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