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História Hino ao Amor - Norte


Escrita por: makkachin

Capítulo 43 - Norte


A ideia para o programa longo foi a mais complicada de encontrar. Não porque Yuuri não tinha ideias, pelo contrário, ele tinha muitas. Contudo, eles já tinham planejado tanto para o programa curto com fãs cantando, emoção e bastante energia por todos os lados, Yuuri sabia que seria difícil conseguir bater tudo aquilo com ainda mais animação. Depois de muito pensar, ele decidiu que queria ir na direção oposta.

Se um dos programas era movimentado, e iria levantar o público, o programa longo tinha que ser calmo, carregar as pessoas através de uma ideia que significasse bastante, e que fosse acessível a todo mundo. Foi aí que ele pensou nessa ideia de fazer um hino ao amor, mas não sendo óbvio, não fazendo a coisa que seria mais direta nesse sentido. Yuuri queria algo diferente, queria achar uma música que falasse de amor sem ser tão explícita, que fosse algo simples, algo ingênuo.

E ele passou algum tempo procurando por músicas na internet, e todo mundo sabe como é possível se perder em um lugar pra se achar em outro milhas e milhas de distância de onde se estava, e foi assim que ele descobriu a trilha para seu programa.

Em um momento onde Yuuri queria se encontrar, achar o norte para seu pensamento, o que ele descobriu foi uma música com aquele exato nome: Norte.

Quando ele a ouviu a primeira vez até pensou que não fosse a escolha certa, mas passeando mais um pouco pelos vídeos ele achou uma versão daquela música com um coral do Canadá, e daí as ideias começaram a surgir, como água que brota de uma nascente. Junto com isso vieram os colares, as tintas e os anéis, e num piscar de olhos o programa estava pronto.

Parecia até que era só isso a história desse programa, mas tinha muito mais por trás. Se Yuuri não tivesse conhecido Victor ele nunca estaria aqui neste momento, olhando para a arquibancada de uma arena cheia de gente, pensando em como ele poderia dar o seu melhor para chegar ao pódio na final do Grand Prix de Patinação Artística. Ele conseguia lembrar de todos os momentos em que sorriu ao lado de Victor, e daqueles em que chorou quando eles tiveram que se separar. Os momentos em que sentiu raiva quando aprendeu os motivos que os colocavam um longe do outro, mas relembrou a esperança que sentiu quando achou uma forma de consertar o que se havia quebrado - uma forma de mostrar o amor que ele tinha para o mundo, e para Victor.

A nota de Georgi foi anunciada pelo sistema de som, e Yuuri respirou fundo. Ele sabia que para ganhar de JJ, que estava em primeiro lugar depois de patinar melhor do que nunca, Yuuri teria que superar os duzentos pontos, mas na temporada ele mal tinha passado dos cento e setenta, por isso parecia quase uma missão impossível. Ele tinha noção de que se acertasse todo o seu programa, e os juízes se impressionassem com ele, Yuuri iria conseguir tirar alguma coisa perto dos duzentos pontos, mas seria difícil, por isso mesmo ele entrou no gelo sem ter nada a perder.

Sem falar que Yuuri tinha algo muito mais importante para se preocupar. Ele tinha que pensar em Victor, o resto era o resto.

“E o último patinador da noite, do Japão, Yuuri Katsuki.” Seu nome foi anunciado e o público rugiu como leões.  Tudo aquilo colocou Yuuri bem no presente.

“Se lembra que você não pode cair,” disse Yuuko, segurando a mão dele para não o deixar ir.

“Eu sei que não posso cair. Se eu cair terminam minha chances de pódio.”

Ela sacudiu a cabeça. “Não é por isso. Se você cair a sua roupa toda branca entra em contato com o gelo, e você sabe o que acontece se ela encostar na água.”

Yuuri assentiu, rindo para si mesmo. Yuuko estava mais preocupada com o show do que com a classificação de Yuuri. Mas ele estava do mesmo jeito. Com uma última inalada de ar Yuuri se soltou da borda e foi para o meio do rinque para cumprimentar o seu público. Esse momento era só seu, tudo aqui fecharia um ciclo, ao mesmo tempo em que iria abrir outro, e a partir desse momento nada mais seria o mesmo.

Ele continuou patinando, usando seu tempo para acalmar o coração e se preparar. Enquanto isso na arquibancada, os primeiros fãs começaram a se levantavam. O objetivo deles era apontar para o lugar exato onde Yuuri teria que olhar para começar seu programa. Ele tinha pedido a todos que iriam a arena para mostrarem onde estava Victor, porque era dali que Yuuri iria sair.

Seguindo as mãos ele encontrou Victor do outro lado dos juízes, e foi até perto da borda para colocar seus olhos no homem que estava mais em cima nas arquibancadas. Todas as câmeras do mundo focaram naquele momento, e Yuuri sorriu, olhando para Victor.

Ele respirou fundo, e o som singelo de um piano soou pelo ar.

“O programa longo de Yuuri tem como tema um “Hino ao Amor”, e ele vai patinar ao som de Norte, cantada pelo Coastal Sound Youth Choir.”

We will call this place our home (Nós vamos chamar este lugar de nosso lar)

The dirt in which our roots may grow (A terra onde nossas raízes podem crescer)

Though the storms will push and pull (Mesmo que as tempestades empurrem e puxem)

We will call this place our home (Nós vamos chamar este lugar de nosso lar)

Assim como dizia a letra, Yuuri começou o programa ao colocar a mão sobre o seu coração, o lugar onde era a casa dos sentimentos que ele tinha por Victor, onde era casa do seu amor por ele. Aquele lugar seria o chão para as raízes da felicidade tão desejada se enterrar fundo, e mesmo que as tempestades viessem forte para empurrar e puxar ele de um lado a outro, ele iria chamar aquele lugar de lar.

Mas não só o seu coração seria o lar daquele amor. No próximo movimento da coreografia Yuuri colocou a mão por dentro de gola da camisa e tirou uma corrente com um anel. E aquele anel era a chave para abrir a porta de outro lar para seu amor. Victor.

O público segurou a respiração em surpresa, e Yuuri apenas sorriu para si mesmo, deixando o som calmo da música rolar enquanto ele começava o seu programa.

Os primeiros dois elementos eram saltos, um quádruplo toe e um triplo axel, que ele executou prodigiosamente, enquanto o público não sabia se gritava e torcia por ele, ou ficava em silêncio para não estragar a beleza etérea do que se desenhava no gelo da arena.

Ele então partiu para seus giros, colocando eles na primeira parte do programa para ter mais tempo de executar todos os seus seis outros saltos na segunda parte, e ganhar mais nota com isso. Yuuri tentou não pensar em mais nada, apenas deixar a música levar ele com seu calmo embalo, criando uma obra de arte no rinque, movendo seu corpo, sua mente, suas expressões para dizer que ele tinha batalhado muito para chegar até esse momento. Para mostrar isso.

Aos poucos, o público entrava em transe junto com ele, tanto que nem conseguiam perceber porque, pouco a pouco, a música ficava mais viva na arena. Duas semanas antes da competição Yuuri conseguiu contato com três corais que residiam ao redor de Montreal, e os três haviam se disposto a participar desse movimento, desse hino. Todos os integrantes iam se levantando aos poucos nas arquibancadas e se juntando a música para cantar. Havia uma certa mágica naquele momento que para o próprio Yuuri era difícil de entender, mas ajudava ele a mostrar o máximo do seu amor naquele gelo.

A little broken, a little new (Um pouco quebrado, um pouco novo)

We are the impact and the glue (Nós somos o impacto e a cola)

Capable of more than we know (Capazes de mais do que nós sabemos)

We call this fixer upper home (Nós chamamos esse conserto de casa)

Havia uma harmonia especial para aquele momento, porque ressoou em todos os cantos, e as pessoas olhavam maravilhadas para todos os lados, para ouvir o que estava acontecendo. Yuuri tentou canalizar todas aquelas emoções que ele via, todas as emoções que ele sabia que as pessoas sentiam para poder realizar os seus quatro próximos saltos, que eram os mais difíceis e vinham um atrás do outro.

Yuuri respirou fundo ao fazer a primeira combinação de quádruplo e triplo toe, e logo em seguida partiu para o triplo axel, meio loop e triplo salchow. Só aquelas duas combinações sendo executadas perfeitamente já garantiam a Yuuri mais de trinta pontos, e com as palmas do público ele sentia que elas valiam ainda mais.

Logo ele fez o seu triplo loop, e depois um triplo lutz, antes de partir para um dos momentos coreográficos do programa, e uma das surpresas que ele tinha preparado. A música era muito sugestiva para este momento, porque falava sobre as cores de cada pessoa que desbotam ano após ano, sobre como com o tempo nós começamos a rachar e perder o brilho, mas quando existe algo maior é possível encontrar a força de vontade para repintar, repintar e repintar, todos os dias.

E bem naquele momento em que a música falava de repintar, Yuuri tinha em sua coreografia um movimento de se ajoelhar, e com a velocidade de sua patinação, deslizar pelo gelo e capturar o máximo de cristais em suas mãos, só para depois passar elas na sua camisa branca, onde haviam sido pintadas em diversas línguas, com uma tinta invisível até entrar em contato com água, a palavra amor.

Quando ele passou suas mãos molhadas sobre a camisa, e em múltiplas cores o amor apareceu, a arena toda exalou ainda mais surpresa, e a partir daquele momento ninguém mais conseguiu ficar sentado.

Os corais ao redor da arena cantaram ainda mais alto, e todas as pessoas se levantaram de pé para dar as mãos, se balançando com calma ao som da música. Yuuri tinha mais dois saltos no fim de seu programa, e ele passou por aqueles com facilidade, o triplo flip e uma combinação de dois duplos axel, e a cada momento de sua coreografia em que ele conseguia colocar a mão no chão, pegando mais cristais de gelo e molhando sua roupa para revelar uma nova forma de amor escrito em sua camiseta, o público o aplaudia ainda mais.

Para finalizar a apresentação tinha a sequência de passos, onde Yuuri planejou ainda mais uma surpresa. Numa das coisas que mais lhe deu dor de cabeça junto com Yuuko e Minako, ele tinha feito uma sequência de passos que era milimetricamente imaginada no gelo, onde ele aos poucos ia construindo linhas e riscos com as lâminas de seus pés.

No começo parecia que aquilo que ele desenhava no gelo não fazia sentido, porque tudo era apenas uma parte do que ele queria mostrar, mas com o final do programa se aproximando, os riscos e linhas começavam a fazer sentido, porque neles estava escrito uma frase curta, que talvez não fosse importar para todo mundo, mas com certeza iria para Yuuri e para Victor.

Love me once again (Me ame mais uma vez)

E quando as últimas notas da música soaram, e o público já se emocionava até não poder mais, Yuuri se ajoelhou no meio do gelo, e olhou diretamente para os olhos de Victor, lá no alto da arquibancada. Ele tirou a corrente com o anel de seu pescoço, e o beijou, antes da última nota da música.

“Me ame mais uma vez, Victor, por favor,” ele disse para si mesmo, mas era impossível de se ouvir qualquer coisa.

Yuuri não sabia se conseguiria se levantar, porque todas as emoções que ele tinha guardado até aquele momento vieram como uma cachoeira, varrendo tudo de uma vez só. Ele se lembrou do protocolo de cumprimentar os juízes e o público, mas a sua mente não estava naquilo, ele só conseguia pensar que fez seu programa da forma mais perfeita e mais linda que ele poderia imaginar. Que nem nos treinos tinha saído tão bem assim, porque dessa vez era pra valer, e Yuuri só teria uma chance de fazer o certo.

Talvez era a mente dele pregando peças em Yuuri, mas ele viu um dos juízes enxugando lágrimas dos olhos antes de se virar para o público de novo.

Victor estava enxugando lágrimas do olhos. Ele estava ainda lá em cima, e Yuuri patinou até a borda mais perto dele. Yuuri pegou a corrente com o anel em sua mão, olhou para Victor, e jogou lá para cima, pois aquele anel era dele - e eles iriam se trocar anéis depois.

Então Yuuri se virou, agradeceu ao público mais uma vez, e saiu do rinque para abraçar Yuuko, que também tinha lágrimas em seus olhos.

Independente do resultado, Yuuri tinha realizado o seu maior sonho, de por um momento se sentir como o homem mais feliz do mundo.



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