1. Spirit Fanfics >
  2. Hino ao Amor >
  3. Propostas

História Hino ao Amor - Propostas


Escrita por: makkachin

Capítulo 8 - Propostas


“Aqui é a recepção,” Yuuri falou assim que eles entraram pelas portas do Yu-topia. Victor parecia bastante interessado no design japonês do prédio, e ele falou que queria olhar o jardim assim que clareasse o dia, já que sendo tarde da noite não tinha como ele apreciar a fachada do Onsen.

Victor não falou muita coisa durante a viagem de táxi, mas quem era Yuuri para dizer alguma coisa, ele nem abriu a boca. Não tinha nada estranho entre eles dois, pra falar bem a verdade, mas Yuuri queria poder ser mais aberto com Victor, pelo menos para ter o homem mais perto dele. Talvez era melhor que ele não tenha falado muito, porque era bem capaz de ele dizer coisas que não precisava.

“Se você seguir por esse corredor vai ver os quartos da ala leste, e por esse outro os da ala oeste, onde tem também os aposentos da família.” Yuuri mostrou os dois corredores com suas mãos.

“Você mora aqui também, então?”

“Sim. É o mesmo quarto que eu tive sempre,” ele admitiu. Naquele momento o rosto de Victor ficou surpreso, e excitado ao mesmo tempo.

“Você vive no mesmo quarto desde quando era criança?”

“Bom, eu não morei sempre com meus pais, afinal eu saí de casa por uns anos para treinar nos Estados Unidos, mas já faz mais de três anos que eu estou aqui, permanentemente.” Yuuri tinha um pouco de vergonha de admitir. Victor achou aquilo engraçado, mas não havia escárnio em sua risada.

“Pelo menos você não precisa pagar o aluguel, não?”

Yuuri assentiu. “É uma das coisas boas de morar com os pais, sim. E eu também moro perto de onde treino, tenho todos os meus amigos por aqui. Talvez já seja hora de sair, afinal eu tenho vinte e sete anos, mas sei lá, ainda não achei nenhum motivo para sair de casa.”

Victor olhou para Yuuri e mordeu os lábios. A animação que tinha em seu rosto anteriormente se escondeu um pouco, e Victor já não parecia o mesmo. Ainda assim ele fez uma cara meio alegre, meio que falsamente, e pediu que Yuuri o levasse até o quarto que ele tinha escolhido. Yuuri não sabia o motivo daquela mudança de humor, mas ele preferiu o fato de que Victor não pediu mais nada pessoal para ele.

Eles andaram pelo corredor da ala oeste, e Yuuri levou Victor para o quarto escolhido. Ele não sabia exatamente se a mãe dele tinha reservado um para Victor, e Yuuri poderia ter checado nos registros da pousada, mas tudo era bastante simples por ali, e todos os quartos eram iguais. Talvez ele tenha levado Victor para mais perto de si com outras intenções, mas ele não revelou elas para Victor e nem admitiu elas para si mesmo.

Assim que eles chegaram mais para o fim do corredor, Yuuri mostrou o quarto de Victor.

“Esse é o seu. Logo ali no final é o meu, então se você precisar de alguma coisa…” Ele não terminou a frase, mas algo ficou subentendido.

“Muito obrigado, Yuuri,” o Victor de sempre retornou para dizer aquelas palavras, e Yuuri sentiu que as coisas pareciam normais de novo. Talvez ele tenha tido seu tempo para pensar enquanto eles caminhavam. “Eu acho que vou tomar um banho antes de você me oferecer um café, pode ser?”

Yuuri então lembrou que havia o café ainda restando da conversa de antes. Ele ficou meio indeciso. “Se você quiser?”

Victor percebeu a indecisão de Yuuri. “Bom se você não quer tomar um café comigo nós podemos fazer isso um outro dia, eu vou ficar aqui no Japão por uma semana, então a gente vai ter tempo.”

Só de ouvir a confirmação de quanto tempo ele ia ficar, Yuuri pensou em algumas coisas. Ele teria uma semana para criar uma imagem de si próprio para Victor, já que havia uma chance de os dois nunca mais se verem depois dessa semana. Sem falar que era tão pouco tempo que ele já ficou em pânico, pelo menos um pouquinho.

“Bom, eu vou tomar um banho também, e daí a gente se reúne na entrada para eu te levar pra cozinha, pode ser?” Yuuri sugeriu.

“Pode, claro. A não ser que você queira tomar um banho comigo, daí ninguém precisa esperar ninguém?” A cara de Victor era bem sugestiva quando ele disse aquilo. Yuuri quase engasgou na própria saliva.

“Eu acho…” As palavras tinham dificuldade em sair de sua boca. Na verdade ele nem sabia se conseguia juntar as letras para falar qualquer coisa.

Victor deu uma gargalhada e colocou uma mão no ombro de Yuuri. “Não precisa se preocupar, isso era só uma brincadeira. A não ser que você queira mesmo, porque eu nunca digo não para uma companhia no chuveiro.”

O pânico dentro de Yuuri queria fazer ele pular pelas paredes, ou dizer sim.

“Eu acho que não dessa vez?” As palavras de Yuuri saíram com dúvidas, e Victor certamente podia ver aquilo. “Talvez a gente deixa para uma próxima?” Ele falou, já querendo se estapear por ter dito aquelas palavras.

Victor apenas sorriu. “Vamos deixar para uma próxima, então.” Ele levantou as sobrancelhas várias vezes, e Yuuri não conseguiu controlar o rubor em suas bochechas.

Por um momento nenhum dos dois se moveu, mas então Yuuri virou as costas e foi pro seu quarto, e Victor fez o mesmo, pelo que Yuuri ouviu. Era melhor ele tirar um tempinho para esfriar a cabeça ou ele ia acabar fazendo alguma bobagem, e Yuuri não queria ter que se mostrar ainda mais para Victor agora.

Ele tomou um rápido banho no banheiro da família, que era conectado entre todos os quartos da casa por uma outra porta ao lado, já que no Onsen apenas os quartos dos hóspedes tinham seus próprios banheiros. Yuuri conseguiu relaxar um pouco, mas ainda assim, quando ele foi se trocar, carregando uma toalha nos cabelos, ele se sentia um pouco indeciso sobre o que iria fazer com Victor. Num momento o homem flertava com ele, mas logo em seguida parecia vulnerável, sem falar no fato de que os dois eram virtualmente estranhos.

Tinha alguma coisa no passado de Yuuri que fazia ele quase pensar que conhecia Victor, mas talvez era só as fantasias dele querendo ficar mais reais do que eram. Ele tinha conhecido Victor em algumas das competições, mas Yuuri começava a sentir uma certa familiaridade com o homem que não tinha nada que ver com o que ele deveria sentir.

Ele teve que dar uma boa respirada antes de sair da porta do quarto, e para sua surpresa Victor já estava esperando por ele, encostado na porta de seu próprio quarto e vestindo apenas um roupão de seda, todo florido, assim como o sorriso em seus lábios.

“Pronto para o café?” Victor pediu.

Como Yuuri não tinha palavras para dizer, ele apenas assentiu. Enquanto ele caminhou para a cozinha, com Victor logo atrás, Yuuri só conseguia pensar na pele branca de Victor contrastando com o tecido, como os seus músculos longilíneos apareciam por baixo da roupa, sem falar na abertura mostrando um pouquinho de seus pelos claros no peito.

Não que Yuuri nunca tinha sentido atração por ninguém, mas durante todos os anos de treino ele não tinha tido a chance de se aproximar de muitas pessoas. Ele queria ter tido mais experiência à respeito dos flertes e conquistas, mas na verdade ele se sentia mais virgem do que qualquer outra coisa. E não que Yuuri não tenha tentado fazer uma coisa ou outra, ele só não se sentia pronto pra mais nada.

E o fato de ele pensar sobre aquilo com Victor do seu lado também não fazia Yuuri se sentir uma grande pessoa.

O café saiu mais rápido do que ele esperava, mas durante todo aquele tempo Yuuri não disse nada. Claro, quando ele levou a xícara para Victor, que estava sentado à mesa da cozinha compartilhada, o homem estava sorrindo para Yuuri, como se fosse algo que sempre acontece entre os dois, esse tipo de coisa familiar.

“Obrigado, Yuuri.”

Victor olhou bem nos olhos de Yuuri antes de pegar o café, mas os dedos dos dois não se encostaram. Yuuri voltou ao fogão e preparou outra xícara para si, tentando encontrar coisas para fazer ao invés de olhar para Victor. Talvez aquele tipo de comportamento fosse infantil demais, mas Yuuri nunca disse que era tão adulto.

“Você está me evitando?” Parecia que alguém percebeu aquilo, então.

Yuuri pegou sua xícara e se virou. Ele sacudiu a cabeça, mas Victor levantou uma de suas sobrancelhas, como se pedisse “sério?” e Yuuri suspirou.

“Não é que eu estou te evitando. Não sei exatamente como me comportar com tudo isso,” ele levantou os ombros para sinalizar que “tudo isso” era muito coisa. Yuuri esperava que Victor entendesse ele.

“Mas e tem algum segredo para se comportar? Até agora você está indo bem, mesmo que um pouco nervoso,” disse Victor.

“Não é todo dia que se encontra o nosso maior ídolo.”

Com aquelas palavras, Yuuri podia jurar que um pequeno rubor se pintou nas bochechas de Victor. Talvez era um truque de seus olhos.

“E por que você gosta tanto de mim?” A pergunta poderia ser extremamente prepotente, mas Victor mostrava ser genuinamente curioso, como se não entendesse todo o furor que os fãs tinham por ele.

Yuuri não conseguia exatamente pensar tão rápido em respostas, mas ele tentou fazer sua cabeça funcionar. Claro que era difícil quando Victor olhava daquele jeito para ele, era impossível pensar em outra coisa a não ser a cor dos olhos de Victor quando eles brilhavam diretamente para Yuuri. E Victor percebeu aquilo, deixando seu sorriso se expandir.

O único jeito de se concentrar era virar os olhos para o outro lado quando ele se sentou à mesa.

“Eu era bem pequeno e mal tinha começado a patinar,” disse Yuuri. Ele não sabia se devia contar toda a história, mas agora que tinha começado… “Eu comecei a treinar e fui procurar por patinadores da minha idade, mas é difícil encontrar vídeos das categorias de base na patinação. Claro, você era uma exceção, já que desde muito jovem você foi o centro dos holofotes.”

Yuuri olhou para as suas mãos por cima da mesa, tentando não deixar seus olhos se perderem em Victor.

“Havia algo no jeito que você patinava, desde muito novo, que atraiu todo mundo, por isso que você tem tantos fãs. Acho que é essa espécie de irreverência, esse sentimento de liberdade enquanto patina, todos os personagens que você interpreta no gelo, tudo isso é tão chamativo que fica difícil não olhar pra você. E aí a gente chega na execução dos saltos, dos giros, da patinação como todo. Você foi um patinador fantástico, e é uma pena não ter como competir mais com você.”

Foi só quando ele terminou de falar que Yuuri levantou os olhos, e com surpresa dentro de seu peito ele viu Victor com um olhar perdido, quase emocionado. Yuuri não sabia se foi algo que ele disse, e ele nem sabia o que fazer para confortar Victor, ou se ele deveria.

Depois de um instante Victor deu uma leve risada, apenas ar saindo por seu nariz, e sacudiu a cabeça. Ele levou a xícara à boca e tomou o café. Tudo em volta deles estava em extremo silêncio àquela hora da noite, por isso mesmo Yuuri se assustou assim que seu telefone vibrou.

Era Phichit, mandando uma mensagem, mas Yuuri não olhou naquele momento. Ele preferia deixar seus olhos verem Victor o olhando de volta.

“Isso tudo é o que você sente?” Victor pediu.

Yuuri assentiu em confirmação.

“E você queria competir comigo?”

Yuuri assentiu de novo.

“Mas você já competiu algumas vezes.”

“Sim, mas nunca competi de verdade,” Yuuri disse. “Eu patinei ao seu lado, mas nunca como um verdadeiro adversário, alguém digno de competir com você.” E só de admitir aquilo, Yuuri sentiu vergonha daquele Grand Prix de tantos anos atrás.

Victor não falou nada por um instante, mas logo ele colocou sua mão por sobre a mesa e tocou na mão de Yuuri.

“Se o patinador que eu vi hoje à noite é você, então você é um competidor de verdade. Não é só porque você teve algumas competições ruins que você não tem talento. Sem falar naquele vídeo do meu programa que eu vi, aquilo foi fantástico. Você tem tanto para oferecer ao esporte, tanto para mostrar pro mundo, que eu vim pra cá pra ver. Acho que isso tem que contar de alguma coisa, não?”

Yuuri não conseguia parar de olhar para os dedos de Victor nos dele. Era complicado até pensar nas palavras que ele disse, mas elas eram importantes.

“Não é só porque eu competi mal, mas eu acho que nunca consegui me encontrar dentro do gelo, nunca consegui mostrar o que de melhor eu sei fazer.” Yuuri sentiu uma energia dentro de si, uma vontade de poder mostrar tudo que ele sentia sobre sua patinação, tudo que ele queria fazer, que ele quase pulou da cadeira.

Victor apertou a mão dele, e Yuuri fez seus olhos se grudarem nos de Victor.

“Então me deixa eu te ajudar. Nessa semana que eu estou aqui, me deixa ver o que você quer fazer, ajudar a montar seus programas, tentar procurar o patinador que eu posso ver em você e trazer pra fora, mostrar pro mundo.”

Os olhos de Victor brilhavam enquanto ele falou aquilo, e Yuuri não conseguia nem imaginar como o homem poderia se sentir assim ao falar de Yuuri.

“Sério?” A voz dele quase sumiu quando Yuuri pediu aquilo.

“Claro.” Victor sorriu. “Eu quero fazer você o melhor patinador que você pode ser, e comigo do seu lado, o mundo vai querer ver você. Já imaginou? Yuuri, do Japão, ajudado por Victor Nikiforov.” Ele olhou para o alto, como se escrevesse as palavras no ar. “Não é que eu estou tentando me mostrar, mas eu tenho certeza que se os juízes souberem que eu estou te ajudando, eles vão olhar para você de outra forma, e toda ajuda é ótima no mundo da patinação, certo?”

Yuuri queria dizer que sim, mas ele só podia confirmar com a cabeça.

“E mesmo que eu vá embora depois, a gente pode encontrar uma forma de se ajudar. Você tem talento o bastante para chamar atenção do seu ídolo, porque você não pode competir como ele, hein?”

A pergunta parecia simples, e se fosse qualquer outra pessoa fazendo ela Yuuri teria rido na cara dela. Mas com Victor perguntando, era difícil não pensar nisso. Se o próprio Victor tinha vindo da Rússia para ver Yuuri, tinha algum motivo para aquilo. Não tinha?

Yuuri só achava difícil pensar em um, especialmente quando Victor sorria para ele como se Yuuri fosse a lua de uma noite escura. Era difícil dizer um não para um homem assim, e ele tinha que confessar que seria impossível fazer aquilo.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...