História Hipnosis - Ação e Reação

Ao invés de ir direto para o elevador, Jungkook abriu a porta pesada à sua direita e alcançou as escadas, sentando-se inutilmente num dos degraus.

Seria assim toda vez que saísse do escritório de Taehyung? Não ia conseguir nunca mais ter uma conversa normal com ele sem que fosse atingido por aquela onda de sintomas inexplicáveis que ele causava?

Dessa vez tinha sido pior, e Jungkook sentia a ereção pulsar entre as pernas bambas. Ridículo, é o que era, e só o olhar desejoso de Taehyung enquanto apertavam as mãos, o polegar provocativo acariciando sua pele, só isso havia bastado para que ficasse duro. Ridículo.

E a droga do cabelo loiro não ajudava, pensou. Estava tentando se concentrar na respiração, em acalmar a porcaria da libido, afastar o rosto abusado do ex-namorado da memória e, quem sabe, livrar-se daquele probleminha entre as pernas. Mas era inútil, e lá vinha de novo a imagem de um Taehyung loiro com olhos felinos, e, merda, como ele ficava sexy com os cabelos loiros! Parecia a própria personificação do pecado.

Ficar sentado na escada não ia dar jeito, e Jungkook pensou que precisaria de uma rápida visita ao banheiro, ou não ia conseguir voltar ao trabalho.

Talvez devesse se aliviar sozinho todas as vezes que fosse encontrar Taehyung, antes que fizesse alguma bobagem.

Apertou o volume entre as pernas, e um gemido sôfrego escapou-lhe da garganta, fazendo eco pela escada de cimento. Lembrou-se de um monte de bobagens que já havia feito com Taehyung, e detestou a própria memória. Todas pareceram tentadoras.

Oh, céus, como queria praticar algumas bobagens.

Capítulo 15 – Ação e reação

Quando o dia do jantar de lançamento chegou, eu estava uma pilha de nervos. Não era para menos. Aquela seria a apresentação oficial da volta de taekook para o mundo midiático, e a primeira vez que eu ia ter que fazer fanservice na vida. Tinham se passado duas semanas desde a minha conversinha com Jungkook, e eu continuei bombardeando meu ex com olhares felinos toda chance que eu tinha, mas a gente não tinha conversado mais.

Ele geralmente ficava me olhando com aquela máscara de gelo, mas eu o peguei no flagra com os olhos em chamas algumas vezes. Então, apesar de estar nervoso para o jantar, ainda tinha minha confiança intacta. Jin hyung ajudava também, me dizendo que eu não tinha nada com o que me preocupar. Dizia que quando ele explodisse, ia ser bom.

Eu já não tinha tanta certeza disso. Se Jungkook era mesmo uma bomba relógio, eu estava forçando ele além do ponto, e senti medo de que ele pudesse simplesmente começar a gritar comigo feito um maníaco, jogando todas as verdades do passado na minha cara, todas as coisas horríveis que eu disse à ele na noite em que terminamos. Acho que esse era meu maior medo.

O motorista passou para me buscar no apartamento, e eu tentei não pensar muito sobre o assunto enquanto ia até o salão que tínhamos alugado pro evento. Deviam ser umas sete horas da noite, e quando eu cheguei a Dahyun já estava por lá, correndo feito uma barata doida e arranjando as coisas de última hora. Minha ex tinha feito um trabalho divino. O salão estava todo decorado em tons de rosa e azul bebê, arranjos de flores de verdade em cima de todas as mesas e umas toalhas que pareciam ser de veludo. Bem no meio do salão se estendia uma passarela bem comprida, e aos lados, cadeirinhas pretas com nomes nas costas. Eu tinha certeza que uma daquelas cadeiras tinha meu nome, e bem ao lado outra tinha o nome de Jungkook. Senti um frio na barriga só de pensar sobre o assunto.

- Oppa! – Ela gritou ao me ver, e veio com pressa em minha direção – Uau, você está bonito.

- Você fala como se fosse novidade – Impliquei, mas me senti lisonjeado por ela achar que eu estava bonito. Eu tinha me esforçado um pouquinho mais do que de costume.

Namjoon tinha feito meu terno. Era estampado em tons de marrom e carmim, e parecia muito caro. Pensei que ele devia ter escolhido a roupa do Jungkook também, e torci para que tivesse feito a minha com mais capricho, por mais idiota e estúpido que possa soar.

- Você também não está nada mal – Sorri, olhando minha ex dos pés à cabeça. Ela estava um arraso, com um vestido branco curto e armado, de mangas rendadas e transparentes até os cotovelos. – Está tentando impressionar quem?

Dahyun revirou os olhos, notando logo meu tom malicioso. Yoongi hyung estaria lá, é claro. E por mais que ela não admitisse, aposto toda a minha fortuna que Dahyun queria muito impressioná-lo.

- Namjoon oppa quem escolheu o vestido. – Justificou, me pegando pelo pulso e me puxando entre as mesas redondas – Vou te mostrar seu lugar. O jantar vai ser cedo, depois o desfile, e mais tarde tem o coquetel.

Confirmei com a cabeça, me deixando ser arrastado pelo salão. Ela parou ao lado de uma mesa estrategicamente posicionada, bem perto de onde a imprensa ficaria.

Danadinha, essa Dahyun. Não estava nem aí para a droga dos meus sentimentos.

- Quem mais está nessa mesa? – Perguntei, mesmo que já soubesse a resposta.

- Os sócios da SUGA e da RM. – Foi apontando para as cadeiras vazias – Eu, Namjoon, Jungkook e Yoongi.

- Tem duas cadeiras sobrando.

Minha ex abriu um sorriso desses brilhantes e fofos, e os olhos dela ficaram bem pequenininhos. O sorriso tranquilo me trouxe alívio, porque eu já estava com medo de ela ter colocado Go Dongsun na nossa mesa, mas Dahyun não faria isso comigo.

Deviam ser os modelos, pensei. A menina magrela e o garoto de dentinhos charmosos.

- Ah, isso? – Ela olhou para trás, na direção da entrada, como se procurasse por algo. – Acho que eles já chegaram.

Eles?

Então eu vi, passando pelos portões luxuosos de vidro, dois homens. Um deles, alto e esguio, vestia um terno clássico preto. Ele tinha um sorriso largo e contagiante, cabelos pretos penteados num topete, dando uma bela visão de sua testa. O outro, vestido em um elegante paletó grafite, era meio baixinho. Tinha os cabelos desbotados num tom que ficava entre loiro e cinza, e olhos bem pequeninos, quase fechados. Meu coração se acelerou e eu abri um sorriso largo.

Hoseok e Jimin.

- TaeTae! – Jimin praticamente pulou em cima de mim, me puxando para um abraço – Que saudades. Você sumiu, seu desnaturado!

Ah, a vozinha fina de Jimin. Percebi que estava com saudades até da vozinha fofa dele, do sorriso acolhedor e de seu olhar descomplicado. Me senti mal por ter perdido contato com meus amigos, mas foi porque eu sabia que eles ainda andavam com Jungkook. Pode parecer ridículo, só que eu passei por uma fase de me reerguer – e encontrar Jungkook era a última coisa que eu queria fazer na época.

Fui um idiota, e um péssimo amigo.

Hoseok hyung também me abraçou, dando pulinhos animados. Apesar do terno sóbrio – preto com camisa social branca – ele não estava nem um pouquinho mais sério do que antes, e continuava espalhando aquela energia positiva por onde passava, o sorriso brilhante lotado de dentes.

- Você parece mil vezes mais rico! – Hoseok comentou, me olhando dos pés à cabeça, e eu ri de sua cara de pau. – Sério, está demais!

- Juro que eu era mais rico antes, quando meus pais ainda me bancavam.

- É o cabelo loiro. – Jimin disse, passando as mãos pelos próprios cabelos – Deixam a gente com essa cara de rico, ainda bem! Gasto a maior grana pra conseguir manter assim.

Dahyun revirou os olhos enfaticamente, fazendo aquela cara debochada dela.

- Ninguém disse que você tem cara de rico, Jimin.

Era meio surreal encontrar com eles, e pensei que seria louco quando os outros chegassem, e íamos estar todos reunidos, como nos velhos tempos. A turma.

Eu, Jimin e Hoseok nos sentamos nos nossos lugares e Dahyun saiu para continuar a arrumar os últimos detalhes. Antes de sair dando pulinhos, entretanto, ela cochichou na minha orelha que os meninos não sabiam do fanservice, e não era pra contar. Na hora eu só concordei, até meio aliviado por eles não saberem, mas depois comecei a ficar meio incomodado com aquilo. E quando Jungkook chegasse e a gente começasse a agir todo amiguinho? O que Jimin e Hoseok pensariam? Tipo, eles iam achar que a gente estava flertando de verdade, e isso não me parecia justo.

Fiz uma anotação mental para falar com Jungkook sobre o assunto depois, mesmo sabendo que eu provavelmente ia acabar esquecendo, porque Jeon Jungkook me deixa assim. Ele me faz esquecer de um monte de coisas só de aparecer por perto.

E foi só pensar no demônio que lá estava ele, do outro lado do salão, passando pelas portas de vidro. Oh, merda. Agradeci aos céus por estar sentado, juro que minhas pernas começaram a convulsionar debaixo da mesa.

Jungkook estava de tirar o fôlego, literalmente. Sério, acho que prendi a respiração por alguns segundos e ele veio andando até a nossa mesa, com um sorriso bobo nos lábios, denunciando que ele também não sabia que Jimin e Hoseok estariam lá. Ele estava usando uma camisa preta estampada, e um blazer de veludo azul escuro por cima. Parecia ainda maior do que de costume, mais alto, mais forte. Mais gostoso.

Como é possível?

Pensei que aquele troço de fanservice não ia ser tão mal, no fim das contas, já que eu ia poder tocar aquele pedaço de carne, nem que fosse só um pouquinho. Só olhar pra ele me deu calor em uns lugares onde por muito tempo a única estação tinha sido o inverno.

Jungkook se aproximou da nossa mesa e cumprimentou Hoseok e Jimin normalmente, como se os tivesse visto logo no dia anterior. Foi estranho ver isso e eu me toquei que meus amigos continuaram amigos do meu ex, o que me deu um pouco de ciúmes, mas passou. Só então eu percebi que Yoongi hyung estava logo atrás, com um terno bordô e rosto de porcelana. Ele me lançou um olhar meio severo, tipo desses que os pais dão quando estão tentando te impedir de dizer alguma bobagem, e eu entendi que tinha a ver com o fanservice. Yoongi tinha sido, de todo mundo, o que mais argumentou contra a ideia do fanservice. Isso me deixou com umas caraminholas na cabeça, já que ele era o mais próximo de Jungkook, e provavelmente estava tentando protegê-lo, mas assim que meu ex-coelhinho se sentou ao meu lado e eu senti o cheiro forte e amadeirado de fragrância masculina, todos os pensamentos lógicos me fugiram da mente e eu estupidamente só consegui pensar em “merda, como ele está cheiroso”.

Não demorou muito para a imprensa chegar, e logo o salão estava borbulhando com convidados. Jin hyung se sentou conosco, e avisou que Namjoon ainda estava nos fundos, arrumando os modelos para o desfile. Toda vez que Jungkook abria a boca para falar qualquer coisa eu fazia muita questão de olhar para ele fixamente, sem pudor nenhum, com a divina desculpa do fanservice à meu favor. Olhei para ele de cima a baixo, e por algumas horas até me esqueci dos flashes das câmeras em nossa direção, quando Jungkook me abria sorrisos de coelho que eu sabia serem obviamente forçados, mas me deixei iludir feito um perfeito otário. Meu corpo todo tremia toda vez que ele sorria para mim, e eu fiz questão de engolir as borboletas na boca do estômago e flertar de forma bem descarada.

Jungkook me lançou um olhar cintilante quando eu umedeci os lábios com a língua enquanto ele falava, e eu percebi que ele precisou fazer um esforço enorme para ignorar. Eu não sabia se ele ia me beijar ou me xingar, mas gostei de perceber que eu causava um efeito nele, e isso me deu confiança para ir cada vez mais longe. Jin hyung ficou rindo das nossas interações, enquanto mil câmeras capturavam cada momento. Toda vez que alguma coisa assim acontecia, Dahyun e Yoongi olhavam para o lado, meio desconcertados, e pensei que Jimin e Hoseok não deviam estar entendendo lhufas.

Era bom poder agir livremente perto dele e meu lado narcisista começou a inflar. Quem teve aquela ideia maravilhosa? Eu ia ter que agradecer Im Jaebum depois.

Num surto de impulsividade, alcancei a orelha fofinha de Jungkook, e vi seus olhos se arregalarem quando eu apertei de leve, suas bochechas tomando um tom cor de rosa. Aquele ainda era o ponto fraco dele, e eu sorri malicioso e satisfeito.

Limites, não é? Me lembrei da nossa última conversa, de como ele tinha enfatizado que eu não podia brincar com a sua orelha.

Desde quando Kim Taehyung liga pra limites?

- Você colocou alguns brincos. – Disse, bem perto da orelha dele, enquanto me distraía com as três argolas prateadas. – Não tinha esses antes.

Falar do passado. Também estava fora das regras idiotas que ele tinha colocado, mas eu estava com o ego tão inflado que simplesmente ignorei, e reparei pelo canto do olho quando Yoongi me lançou um duro olhar de reprovação.

Jungkook me encarou com fogo nos olhos, e eu achei que aquela bomba ia explodir, bem ali, no meio de todo mundo e em frente às câmeras. Ele mordeu o lábio inferior, e eu sabia que o gesto foi só porque ele devia estar puto e me amaldiçoando em todas as línguas possíveis, mas aquilo me deu um tesão absurdo. Todos os meus pelos se arrepiaram e eu fiquei alguns segundos hipnotizado pela boca dele, o coração batendo rápido na garganta, sentindo meu corpo se incendiar por dentro.

- Taehyung-ssi. – Jungkook resmungou entredentes, chamando minha atenção, e eu desviei rápido o olhar dele, sei lá por quê. Foi intenso demais, e eu não consegui sustentar. Acho que poderia ter voado em cima dele bem ali.

Pelo menos as fotos deviam ter ficado boas, e eu tive certeza de que as veria pela timeline do Twitter no dia seguinte.

- Vamos lá pra trás – Dahyun chamou, assim que terminamos de jantar – Namjoon vai fazer um discurso e nós temos que estar no palco com ele.

Eu, Jungkook e Yoongi seguimos a Dahyun, enquanto Hoseok, Jimin e Seokjin foram sentar nas cadeirinhas de onde iam assistir o desfile. Fiquei bem perto do Jungkook o tempo todo, mas assim que chegamos nos bastidores eu vi um troço que fez o frio na barriga se intensificar mil vezes, e eu pensei que fosse vomitar.

Go Dongsun, claro. O imbecil estava lá, e veio feito cachorrinho atrás de Jungkook. Eu fiquei tão alienado por causa da presença do meu ex-coelhinho e aquela história toda de fanservice, que nem me lembrei que aquele maldito estaria lá, e amei muito Kim Dahyun por ela não ter colocado o babaca sentado na nossa mesa.

Ele simplesmente começou a elogiar Jungkook e dizer que ele estava lindo, bem na minha frente, o que me lembrou os velhos tempos. Não estou exagerando quando digo que fiquei com vontade de vomitar e pensei que devia disfarçar meu desconforto, já que eu estava indo muito bem até ali, todo seguro e confiante. Então, saí de fininho e me infiltrei em um dos camarotes que eu não fazia ideia de quem era, e nem me importava, porque todos os modelos já estavam do lado de fora se organizando para a entrada. Fechei a porta atrás de mim e me apoiei no balcão em frente ao espelho, respirando fundo. Eu tinha que me recuperar, rápido. Me senti idiota por ter sigo pego de surpresa, já que aquilo era algo que eu obviamente poderia ter previsto.

Escutei a porta se abrindo e me virei, dando de cara com o rosto de Jeon Jungkook.

E ele estava sedento.

A expressão dele era dura, mas ao mesmo tempo perturbada, e eu senti meu ego se inflar em menos de um segundo, a imagem do abusado do Dongsun me fugindo imediatamente da memória. Olhei Jungkook dos pés a cabeça, muito satisfeito por ele ter largado aquele estorvo e vindo atrás de mim.

- Você tem que parar de fazer isso!

- Isso o quê?

Me fiz de desentendido e dei um sorriso malicioso. Claro que eu sabia exatamente do que ele estava falando, do olhar felino que eu continuava a mirar nele toda a oportunidade que me aparecia, dos limites que eu tinha ignorado.

Mas, ah. Como havia valido à pena. Eu adorava ver a reação que ainda causava em Jungkook.

- Você sabe exatamente o que está fazendo, Taehyung. Pare.

- Não sei do que você está falando.

Ele me olhou com um semblante descrente, as sobrancelhas arqueadas. Era um pouco engraçado, brincar com ele dessa forma, e eu continuei sorrindo de lábios cerrados enquanto ele procurava as palavras para dizer.

- Eu estou falando dessa atuação sem sentido sua, que você está levando longe demais. De você ficar me olhando como se eu fosse um oásis no meio do deserto. É ridículo.

Ouch. Jungkook tocou na ferida. Ele me conhecia bem o suficiente para saber o ponto que mais dói: Meu orgulho.

Mas ele devia saber melhor. Eu não ia aceitar de cabeça baixa.

- Você parece bem incomodado. – Senti meu estômago dar voltas – Só confirma que eu ainda causo um efeito em você.

Jungkook ficou sem palavras. Eu continuei a encará-lo com o meu melhor olhar desejoso enquanto ele olhava para mim, os lábios levemente entreabertos num semblante desconcertado.

Eu resolvi levar a brincadeira um pouco mais longe e passeei com a língua pela linha dos dentes superiores, indo de um lado ao outro, e fui recompensado com um efeito imediato.

Lei da ação e reação, como dizem.

Alguma coisa se acendeu em seus olhos negros, notei, antes que ele acordasse e se movesse. Jungkook veio caminhando a passos largos na minha direção, mordendo o lábio inferior, fazendo com que eu me sentisse uma presa acuada e eu instintivamente recuei quando ele estava prestes a me alcançar, dando passos para trás, até que minhas coxas bateram no balcão e eu não tive mais para onde correr.

Ele estava em cima de mim, faminto.

- Você por acaso se esqueceu de com quem está brincando? – Sibilou entredentes, a boca muito próxima da minha orelha, o quadril dele espremido contra mim, o volume familiar do seu membro ereto pressionando minha virilha e eu deixei escapar um gemido contido. – Não se lembra de como a nossa relação na cama funcionava, hyung?

Engoli em seco ao ouvir a tal palavrinha maldita.