Ela era uma boneca meio descabelada, mas ainda assim uma boneca.
Yoongi precisou segurar o sorriso ao ver a expressão abismada no rosto de Kim Dahyun. Ela estava com os olhos arregalados, destacando seus enormes cílios, e a boca rosada entreaberta – de queixo caído. Os cabelos castanhos com mexas coloridas preso num coque bagunçado, fios soltos multicor caindo sobre o rosto enrubescido.
Parecia mesmo uma boneca.
- Oh, céus! Você viu isso? – Ela exclamou, enfática, acordando Yoongi de seu curto e irresponsável transe. – Não foi alucinação, eles saíram de mãos dadas. Oppa, eles voltaram! Voltaram mesmo!
Dahyun deu pulinhos no lugar, um sorriso enorme brilhando no rosto, e Yoongi se perguntou como ela conseguia ser tão animada! Infernos, de onde saía toda aquela energia? A garota tinha ficado andando de um lado para o outro do corredor desde cedo, hiperativa, enquanto Yoongi se conformou em sentar no chão e cruzar as pernas. Mesmo assim, Dahyun parecia cheia de empolgação enquanto ele só queria um pedaço de pizza e uma cama para se deitar.
- Não se empolga, maluca. Eu confesso que estou aliviado também, mas é melhor manter o bico fechado. Não vai sair por aí espalhando a notícia.
Dahyun comprimiu os lábios e fez sinal de que estava fechando a boca com um zíper. Parece uma criança, Yoongi pensou, mas até que é bonitinha. Um sorriso furtivo escapou-lhe dos lábios antes que pudesse impedir. Aquele jeito amalucado dela provocava uns sorrisos fora de hora.
- Não vou contar, juro! Eu fiquei com medo de que eles acabassem se matando, mas essa sua ideia de trancar os dois deu mesmo certo. O que você acha que aconteceu lá dentro, hein?
Não fazia ideia. Mas, para Yoongi, desde que não precisasse mais ver a expressão cabisbaixa no rosto de Jungkook, o problema estava resolvido. Só esperava que tivessem se resolvido de uma vez por todas.
- Não sei e nem me interessa. – Reclamou, contrariado. – Estou sei lá quantas horas parado aqui feito um porteiro, e morrendo de fome. Quer passar em algum lugar?
As palavras escapuliram da garganta, sem nem pensar duas vezes. Entretanto, o arrependimento durou menos de um segundo, sumiu por completo ao ver o rosto da menina se iluminar e as sobrancelhas dela se levantarem em surpresa e confusão.
- Hãn? – Dahyun piscou algumas vezes os olhos grandes, desacreditada. – Passar onde?
- Pra comer, maluca. É uma coisa que os seres humanos fazem.
- Ah, tá. – Emendou, rápida, recuperando a compostura. – É, eu também estou com fome.
Yoongi riu da cara de avoada dela.
- Ótimo. Vamos, então.
Capítulo 21 – Cura
Era memória.
E depois de alguns minutos aquela realização insana finalmente penetrou em mim, minha ficha caiu de verdade, e a cena foi ficando cada vez mais clara. Continuei olhando pra Jungkook enquanto ele dormia, e eu mal podia acreditar naquilo. Ao mesmo tempo em que eu repassava a cena na minha cabeça trocentas vezes – a voz dele cantando, eu saindo de fininho da minha cama e me enfiando no edredom junto com ele, o bocejo fofo – por outro lado pareceu surreal demais. Faziam quantos anos desde que eu tinha perdido a memória? Quase seis! Eu pensei que nunca fosse recuperar nada daquilo, já tinha me conformado depois de tanto tempo.
Meu cérebro começou a borbulhar, e eu tinha que pensar rápido no que ia fazer. Logo de primeira, decidi que não podia nem comentar aquela possibilidade maluca com o Jungkook. Ele ia ficar extasiado de felicidade, é claro, mas também ia ficar esperançoso. Eu nem mesmo tinha certeza de que aquilo realmente tinha acontecido, podia ser só invenção da minha cabeça doente, bêbada de felicidade por finalmente ter ele de volta. Podia ter sido sonho, mesmo. Um sonho bem realista.
E, mesmo que fosse uma memória, não haviam garantias de que eu me lembraria das outras. Se eu contasse, Jungkook ia ficar eufórico, me perguntando o tempo todo, e eu ia ter que dar aquelas respostas negativas de novo. Eu conheço bem meu coelhinho e tenho certeza que ele seria levado pela corrente, tentando me ajudar a lembrar de mais coisas, me contando as milhões de histórias sobre nós dois que eu já tinha ouvido antes e não me lembrava. Eu não queria decepcionar Jungkook. Foi difícil pra ele da primeira vez, se conformar de que aquelas memórias jamais voltariam, e eu não queria fazer ele passar por isso de novo em vão.
Se fosse mesmo memória, que eu tivesse todas de uma vez. Ou pelo menos um número maior do que uma única, mísera e insignificante lembrança, de uns trinta minutos há seis anos atrás. Eu não ia ficar iludindo Jungkook à toa.
Mas eu precisava de uma confirmação, e a única pessoa no mundo capaz de me dar isso era ele. Meu coelhinho, dormindo profundamente na minha cama, não mais o adolescente do sonho, não mais o garoto com olhos inchados de choro que eu conheci ao acordar no hospital. Um homem de 27 anos com uma empresa para gerir e um monte de defeitos. Com ciúmes doentios, uma insegurança de dar nos nervos e sempre com um pé atrás, sem consistência, hesitante ao tomar qualquer atitude. Muito enrolado! Até covarde, às vezes. Jungkook não era perfeito, mas era meu e eu o amava. Eu o conhecia de todos os lados, até do avesso, e queria ele inteiro, com todos os defeitos.
Senti o abraço dele se apertar a minha volta, me comprimindo contra o peito, e abri um sorriso apaixonado e nostálgico. Ele afundou o nariz nos meus cabelos e inspirou profundamente, murmurando ruídos sonolentos e incompreensíveis. E, merda, por mais que a gente tivesse que enfrentar a terceira guerra mundial eu nem ia ligar se pudesse acordar daquele jeito todos os dias. Jungkook me deixava idiota.
- Hm, Tae?
- Ei. – Suspirei, como um trouxa, levantando o queixo para ver a expressão dele, os olhos ainda fechados e um meio sorriso bobo. – Coelhinho.
- Você está mesmo aqui.
Pelo menos eu não era o único trouxa apaixonado, e isso acabava servindo como uma pequena migalha de compensação ao meu orgulho insistente.
- Estou. É a minha casa, não é?
Ele finalmente abriu os olhos e soltou uma risada frouxa.
- Que bom, é mesmo você. O Taehyung dos meus sonhos não seria tão babaca.
Tinha certeza que o “eu” dos sonhos do Jungkook devia ser o maior dos puxa-sacos, mas resolvi perguntar mesmo assim.
- E o que o Taehyung dos seus sonhos diria?
- Ele diria “sim, venerável Jungkook. Estou aqui e farei tudo o que desejar”.
- Nossa, mas que grande otário.
- É, eu concordo. – Jungkook se virou na cama, ficando em cima de mim e me espremendo contra o colchão, com um sorriso sincero nos lábios. – Prefiro o de verdade.
Ah, como era libertador vê-lo assim. Sorrindo de novo, sincero, como se o tempo não tivesse passado. Chegava a ser meio estranho até, como nem comentamos sobre a briga do dia anterior, e todas as palavras maldosas simplesmente se desvaneceram feito fumaça no ar. Se no dia anterior nós nem podíamos nos encarar direito, agora eu recebia aquele olhar carinhoso, meu tão sonhado sorriso de coelho.
Parecia bom demais pra ser verdade mas, feito um bobo, eu nem liguei.
Por outro lado ainda tinha aquela dúvida bizarra na cabeça, se tinha sido sonho, memória ou alucinação. Se a porcaria da hipnose tinha mesmo surtido efeito.
- Jungkook, quando foi a primeira vez que eu te chamei de coelhinho, hein?
Ele franziu as sobrancelhas, os cotovelos apoiados aos lados da minha cabeça e o peso todo dele, quente, largado sobre o meu corpo.
Ai, senhor, assim fica complicado de raciocinar!
- Hm… Na casa da Dahyun? Depois daquele ataque de pânico que você teve e eu tive que sair feito doido no meio da madrugada pra poder te acalmar. Você não se lembra?
- Não, não. – Neguei com a cabeça. – Disso eu lembro. Quero dizer a primeira vez na vida, antes da amnésia. Você disse que eu já te chamava assim.
- Ah, já. Nossa, mas eu nem me lembro direito. Isso foi há muito tempo, mesmo. A gente nem tinha se beijado ainda quando você começou com essa história de apelido. Você costumava implicar comigo, ficar me chamando de coelhinho pra me irritar.
É, isso soa como algo que eu faria. Principalmente o meu eu adolescente.
- Mas você não se lembra do dia específico? Tipo, a primeira vez que eu te chamei assim?
- Hm, não. Desculpe, Tae. – Ele pausou uns segundos, me olhando com uma cara suspeita. – Mas por que você quer saber, hein?
- Sei lá. Curiosidade. – Dei de ombros e resolvi contornar logo o assunto, antes que ele desconfiasse. – E eu conseguia? Te irritar?
- Não. – Ele riu frouxo, os olhos vagos perdidos no nada, como se estivesse revendo nossa história como num filme na mente. – Eu até gostava. Me fingia de ofendido só pra chamar sua atenção.
- Ah. Isso devia ser bonitinho. – Disse, e abri um sorriso forçado e triste.
Às vezes eu ficava com inveja. Queria mesmo poder lembrar, conversar com ele sobre aqueles momentos que haviam escapado de mim. Nessas horas eu me sentia assim, defeituoso.
Aí ele abaixou o rosto e me beijou, acabando completamente com a sensação ruim. Eu tive vontade de largar aquela história de amnésia e hipnose pra lá, ficar embolado com ele o resto do dia. Não tinha conseguido a minha confirmação, mas não mudava o fato de que havia uma chance de que eu pudesse ter me lembrado de alguma coisa do passado.
Eu precisava ver logo Jin hyung. Estava ansioso.
- Eu tenho que sair. – Murmurei sem vontade, assim que os lábios macios dele se afastaram dos meus. – Tenho um compromisso importante.
- Ah não. – Jungkook envolveu a minha cintura com os braços e apoiou a cabeça no meu peito. – Você fica.
Eu queria ficar, obviamente. Mas aquela cena, ainda tão viva na minha mente, provocou um sentimento que é sempre perigoso demais. Não sou muito fã dele, e veio desconvidado mesmo, me pinicando a paciência.
Me deu esperança.
- Parece que os papéis se inverteram. – Ri, me lembrando de como eu sempre tentava convencer Jungkook a ficar na cama mais uns minutinhos. Como resposta ele me apertou mais forte, demonstrando que eu não ia conseguir sair tão fácil. – Eu volto logo, prometo. Você pode ficar aqui e me esperar, que tal?
Jungkook resmungou um bocado, até por fim me deixar levantar da cama e tomar banho. Enviei uma mensagem apressada a Jin hyung, avisando que eu ia aparecer e mandando ele se virar pra me arrumar um horário urgente. Que me encaixasse em qualquer buraco, cinco minutos bastavam. Eu queria mesmo ser rápido e voltar logo pra casa.
Foi triste deixar Jungkook sozinho no meu apartamento, mas eu tinha certeza que ele estaria lá quando eu voltasse. Dessa vez ele tinha que estar.
~x~
Jin hyung abriu a porta do consultório e me olhou dos pés a cabeça, o que me deixou meio incomodado. Deu pra perceber que ele estava tentando se conter pra não rir, o que obviamente me irritou um bocado porque eu nunca sei o que está se passando na cabeça desses psicólogos surtados.
- Você e Jungkook voltaram. – Ele disse, e por sorte eu já estava sentado na poltrona, ou talvez meus joelhos tivessem falhado.
Mas que filho da mãe. Como ele descobriu?
- Você devia largar esse emprego de psicólogo e virar vidente. – Revirei os olhos, tentando disfarçar minha surpresa. – Namjoon falou alguma coisa?
Imaginei que Yoongi ou Dahyun pudessem ter contado pro Namjoon, mas Seokjin apenas negou com a cabeça, o típico sorrisinho sabido e inconveniente dando o ar da sua graça.
- Nem precisou. Você está com cara de quem teve uma ótima noite de sono, e eu não te vejo tão bem disposto assim desde que Jungkook reapareceu. Também, esse olhar bobo de apaixonado não me engana.
- Ok, Sherlock. – Concordei irônico, sem a menor intenção de esticar aquele assunto e decidido a ignorar as alfinetadas de Seokjin. – Eu não vim aqui pra te contar as boas novas. Como você mesmo percebeu, nós voltamos. Jungkook está em casa me esperando, então eu estou com um pouquinho de pressa.
- Imagino. – Ele deu uma risadinha maliciosa e eu precisei me obrigar a ficar calado. – Então, por que veio?
Aí eu contei pra ele do sonho. Disse tudo, cada detalhe, o quão real aquilo me pareceu. Contei também da pergunta que fiz a Jungkook e que ele não se lembrava da primeira vez que eu o chamei de coelho.
Os olhos de Jin hyung brilharam tanto que eu me senti até lisonjeado, como se fosse um baú imenso de diamantes.
Ou uma cobaia. Uma cobaia de um cientista maluco.
- Por que você tem tanta certeza de que essa foi a primeira vez que chamou ele assim?
Franzi as sobrancelhas, em dúvida. Não tinha pensado nisso.
- Sei lá. – Dei de ombros. – Pareceu a primeira vez. Pela frase, acho. Eu disse “às vezes você se parece com um coelho”, exatamente nessas palavras. E na hora, no sonho, quando eu vi Jungkook bocejando eu tive a impressão de que era a primeira vez que notei a semelhança com um coelhinho.
- Eu não acho que tenha sido sonho. – Jin hyung disse, se levantando de súbito da sua poltrona e caminhando a passos largos na minha direção. – Acho que está funcionando.
- Sério?
Um calafrio intenso e desconfortável passou pela minha espinha. Então talvez fosse mesmo memória. Eu podia acabar me lembrando de tudo, todos aqueles três anos nebulosos, como eu conheci Jungkook, nosso primeiro beijo, a primeira vez em que dormimos juntos e o dia em que ele me pediu em namoro. Tudo.
Céus, Jungkook ia ficar tão, tão feliz!
- Nós vamos fazer outra sessão. Agora. – Seokjin puxou uma cadeira e se sentou à minha frente, a mão estendida na minha direção. Entendi logo que ele queria de novo o colar que Jungkook tinha me dado e puxei a carteira do bolso, retirei o objeto e entreguei a ele. – Mas você precisa estar ciente, Tae, de que as memórias ruins também podem voltar. Se a hipnose realmente der certo, eu não posso te garantir que você vá lembrar de tudo, nem só das coisas boas. Você precisa ter certeza absoluta de que quer mesmo fazer isso.
Meu estômago se embrulhou e eu senti meu coração indo até a garganta, a sensação horrível de enjoo, como se estivesse prestes a vomitar. Jin hyung só podia estar de brincadeira. Eu estava nervoso, é claro, mas não tinha nem sombra de dúvidas: eram minhas memórias, as boas e as ruins, e eu queria todas de volta.
Além disso, Jungkook. Ele tinha carregado todas aquelas lembranças sozinho por tempo demais. Ainda que no passado ele dissesse que não importava, que me amava do mesmo jeito com ou sem amnésia, mesmo assim… Eu estava cansado de ouvir histórias sobre mim como se fossem de outra pessoa. Detestava ver minhas fotos antigas e não me lembrar delas, porque era como se um pedaço de mim estivesse faltando.
E, agora que nós dois estávamos bem de novo, parecia o momento perfeito pra me lembrar de tudo.
- Eu tenho certeza absoluta.
Seokjin abriu um sorriso satisfeito. Eu não sou burro e sabia muito bem que se aquela coisa toda desse certo seria um salto enorme na carreira dele. O cara basicamente teria descoberto a cura da amnésia retrógrada, mas mesmo que suas intenções obscuras pudessem ser completamente egoístas, eu ainda confiava em Jin hyung. Ele não faria se achasse que ia me machucar.
Ou eu assim espero.
Então ele fez a mesma coisa de novo. Eu segurei o colar e fiquei olhando pra mão dele, e vi outra vez o relógio imaginário que me faria voltar no tempo. Seokjin me perguntou as horas e eu sabia a resposta.
“Já é quase uma da manhã.”
“E amanhã eu tenho aula.”
~x~
Eu saí de lá me sentindo meio avoado, mas não de uma forma ruim. Foi como se tivesse acabado de acordar de um cochilo e minha cabeça estava leve.
Só durou alguns minutos e depois eu fiquei eufórico feito uma criança.
Como da primeira vez, me lembrei de tudo o que tinha acontecido durante a sessão. E o mesmo sonho voltou, claro como cristal, até a sensação bizarra de estar deitado com ele e pensar que aquilo era errado. Foi como se Seokjin tivesse mesmo me enfiado numa máquina do tempo e me feito encarnar naquele Taehyung jovenzinho, mimado e confuso.
E era mesmo real. Eu não me lembrei de mais nada, mas pelo menos voltei pra casa com a certeza de que tinha recuperado uma coisinha, por mais insignificante que fosse. Jungkook nem lembrava disso, mas pra mim foi uma tremenda descoberta.
E, lógico, eu também estava ansioso para voltar pro meu coelhinho. Tinha certeza que ele estaria em casa, me esperando. Eu tinha ótimos motivos pra estar eufórico.
Pensei que não dava pra ficar mais feliz, mas assim que eu virei a chave na porta do meu apartamento e entrei, achei que devia ter morrido e ido pro céu. Um cheiro incrível e nostálgico me recebeu, fazendo minha boca salivar, e só então eu percebi que ainda não tinha comido nada. Minha barriga roncou de fome.
- O peixe com especiarias da sua mãe. – Disse, assim que coloquei os olhos em Jungkook.
Ele tinha se sentido em casa, reparei logo. Estava de pé no balcão da cozinha, cortando alguma coisa, enquanto uma panela fumegava no fogão, soltando aquele cheiro delicioso. O olhei de cima a baixo, os cabelos molhados denunciando que ele tinha tomado banho ainda há pouco, e agora estava vestido com uma camisa velha e larga minha, que eu não usava em uns bons séculos, e uma calça de um dos meus conjuntos de pijamas de seda.
Nunca na vida eu tinha visto Jungkook em pijamas de seda, e achei graça da visão inusitada.
- Imaginei que você fosse estar com saudades das receitas da minha mãe. – Comentou, largando a tarefa de lado e vindo até mim. Eu senti um baita frio na barriga quando ele se aproximou, como se ainda fosse o mesmo adolescente daquela memória nova. – Você demorou.
Jungkook selou nossos lábios num beijo rápido, antes de se virar e voltar ao balcão. Meu corpo todo tremeu só com aquele selinho casto. Eu me senti feito um marido trabalhador, voltando pra casa no horário do almoço e confesso que esse pensamento idiota me deixou feliz. Tinha tempo demais que eu voltava pra uma casa vazia.
- É, a coisa levou mais tempo do que eu esperava. – Respondi vagamente. Emendei logo num outro assunto, antes que ele me perguntasse o que eu tinha ido fazer. – Você deve ter remexido até a alma do meu armário pra encontrar essa camisa velha.
- Nesse apartamento inteiro essa foi a única coisa que eu reconheci. Você fez um bom trabalho se livrando dos meus vestígios.
Ele continuou de costas pra mim e eu engoli em seco.
- É a camisa que eu estava usando. Quando saí de vez do nosso apartamento.
Ouvi Jungkook murmurar um “hm” concordante, mas eu sabia que ele estava ofendido. Infernos, o que ele queria? Podia apostar que ele também tinha se livrado de tudo que o lembrava de mim. Eu não ia ficar me torturando, cercado com coisas que me fariam pensar em Jungkook, quando as minhas memórias já eram tortura suficiente pra uma vida.
Quase falei isso tudo pra ele, mas eu não estava afim de ter esse papo. Ia ser desconfortável, chato, e eu não queria lavar roupa suja. Poxa, a gente tinha acabado de se acertar. Eu só queria ignorar tudo o que aconteceu enquanto estávamos separados e ficar com ele.
Então eu segurei a minha vontade de confrontar e me aproximei dele, que ainda estava de costas pra mim. Abracei Jungkook pela cintura e deixei um beijo casto em sua nuca.
- Tem mais uma coisa que você vai reconhecer.
Ele se virou, ainda com uma cara meio contrariada, e ficou me observando em silêncio. Desfiz nosso abraço e fui com os dedos ágeis até o colarinho da minha camisa, abrindo os primeiros botões, desvendando o colar de prata que eu tinha recolocado no pescoço antes de sair do consultório de Seokjin.
Os olhos de Jungkook cresceram no mesmo segundo, brilhantes, e ele alternou o olhar entre o cordão e o meu rosto, abrindo um sorriso satisfeito e convencido, antes de morder o lábio inferior e me engolir num beijo faminto que me fez perder toda a força das pernas.
Me senti exatamente como um adolescente, com aqueles hormônios desregulados.
E quando eu vi já estava sentado em cima do balcão, a língua quente e macia de Jungkook fervendo no meu pescoço, deslizando, e meus dedos desesperados embolados no cabelo dele.
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