História Hipnosis - Exposto

Kim Dahyun se dirigiu até o escritório de Namjoon em busca de respostas. Taehyung havia se negado a conversar consigo, e ela preocupou-se com o efeito que o reaparecimento de mais aquele fantasma do passado poderia causar em seu melhor amigo.

Abriu a porta sem bater e encontrou o designer folheando sua pasta de desenhos, provavelmente repassando os conjuntos do ensaio fotográfico.

- Você sabia que o agente do garoto era Go Dongsun? – Ela perguntou, direta, e Namjoon levantou o olhar em sua direção, confusão estampada em seu rosto.

- Sabia. – Confessou – Mas não fui eu quem chamei! Ele apareceu aqui, dizendo que sabia da nossa parceria com Jungkook e Yoongi, e que tinha alguns modelos que gostaria de me apresentar. Não pensei que tivesse problema, mas aparentemente estava errado.

Dahyun fez uma careta de desagrado.

- Estava. Como ele descobriu que íamos trabalhar com a empresa de Jungkook?

- Não sei. – Deu de ombros, e Dahyun soube que ele estava sendo sincero. – Ele já apareceu com essa informação. Talvez o próprio Jungkook tenha contado.

Eles ainda mantinham contato? – Dahyun pensou – Se fosse esse o caso, seria ainda pior para Taehyung quando visse os dois juntos. Ele ficaria devastado.

A garota passou a mão pelos cabelos coloridos, genuinamente preocupada. Odiava com todas as suas forças ver Taehyung aflito. Odiava não saber como ajudá-lo.

- Namjoon, não conta pro Taehyung isso, por favor. Não conta que Go Dongsun veio atrás do Jungkook.

- Tudo bem, não vou contar. Olha, Dae, me desculpe. Eu não queria causar problemas. – Suspirou resignado – Eles não se gostam, né?

“Eles não se gostam” – Dahyun achou a escolha de palavras infantil. Fazia parecer que era algo superficial, leviano.

- A coisa toda vai bem além disso.

Capítulo 8 – Exposto

Quando eu cheguei ao consultório pomposo de Lana Evans, já fui logo cortando o papo furado e entreguei minha listinha para ela. Já tinha acabado seu horário de expediente e a secretária simpática nem estava mais por lá, então acho que o melhor a se fazer era ir direto ao ponto e não gastar o tempo da minha noona à toa.

Tinha pensado bastante, durante o dia inteiro. Sabia exatamente o que estava sentindo, e quase decorei as respostas de cada pergunta que eu previ que ela faria.

Ela passou os olhos cor de esmeralda calmamente pela minha listinha e depois deu um sorriso de lado.

- Então, Go Dongsun, huh?

Isso me surpreendeu. Pensei que ela fosse tocar no assunto da hipnose primeiro. Achei que fosse surtar.

- Aham. O cara que prendeu meu namorado no estúdio bem no dia do nosso aniversário de namoro. – Confirmei com um aceno de cabeça – Se não fosse por ele, eu e Jungkook ainda estaríamos juntos.

- Você não sabe disso.

- Eu sei sim. Tenho certeza.

Na minha cabeça era mais do que óbvio que se aquele traste não aparecesse nas nossas vidas, Jungkook ainda seria meu. Ele não teria ficado preso no trabalho, e eu não teria bebido duas garrafas de vinho. Eu não teria dito aquelas coisas horríveis e ido embora.

- E o que sentiu ao vê-lo?

- Ressentimento, raiva. Nojo. – Dei de ombros, como se não fosse nada. Mas não era só isso, e Lana ficou me esperando dizer mais – Senti que teria que competir com ele pela atenção de Jungkook, de novo. Só que dessa vez ele não é mais o chefe. Não pode prendê-lo entre quatro paredes.

- E você está com medo.

Medo de quê? Às vezes a Dra. Lana falava umas coisas meio malucas.

- Não estou com medo. Eu só quero vencer dele, desta vez. Sinto que perdi para ele no passado e não quero que aconteça de novo.

Ela acenou afirmativamente com a cabeça e me lançou um sorrisinho carinhoso, desses meio maternos.

- Você está com medo de Jungkook não te escolher justamente porque agora Go Dongsun não manda mais nele. A escolha é unicamente dele agora, quem ele quer mais, quem ele prefere. – Ela curvou o corpo na minha direção, arrumando os cabelos loiros que lhe caíam em frente aos olhos. Parecia estar me ensinando uma coisa bem importante, e eu me senti pequeno e indefeso. – Tae, você está com medo de que ele não te escolha.

Era verdade. Eu odiava aquilo com todas as minhas forças, mas ela teve razão mais uma vez. Agora que a relação profissional entre Jungkook e Dongsun não existia mais, a escolha era exclusivamente dele.

Aquilo me aterrorizava! Era por isso que eu precisava me lembrar, aquela era a minha arma secreta para ganhar daquele maldito.

- Noona, ele ainda me deseja. – Disse com a voz arrastada, quase que infantil – Eu vi nos olhos dele, exatamente como antes. Não sei se ele ainda me ama ou me quer de volta, mas se pelo menos eu pudesse...

O semblante maternal se fechou em questão de segundos. Transformou-se num mais sério, profissional, duro.

- Tira essa ideia da cabeça, Taehyung. – Ela me interrompeu num tom firme – Você não vai, em hipótese alguma, se enfiar nesses testes de hipnose.

- Mas, noona...

Praticamente implorei, como uma criança manhosa faria, e ela negou com a cabeça.

- Isso vai destruir você.  

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A sexta-feira chegou, mais rápido do que eu gostaria. Mesmo assim, tive um bom tempo para colocar meus pensamentos em ordem, refletir no que Lana havia me dito e conversar um pouco com a Dahyun sobre o assunto.

Pensei que estava preparado para rever Jungkook outra vez. Mais do que isso, pensei que estava preparado para ver meu coelhinho e Go Dongsun juntos no mesmo ambiente de novo.

Foi necessária muita meditação, porque eu simplesmente detestava a forma como Dongsun tratava meu namorado antigamente. Cheio de puxa-saquismo e flerte, mas ao mesmo tempo o fazia de subordinado e cachorrinho. Era nojento. E era ainda pior ver que Jungkook não fazia nada a respeito. Ele nem percebia!

Depois de toda a minha preparação psicológica, chegou a hora que eu mais temia. A porcaria do primeiro ensaio fotográfico com os dois bonitinhos juntos, – os modelos – e os produtores. Claro que eu não estava nem um pouco ansioso para esse momento fatídico, mas era trabalho. E um bocado de orgulho meu também, eu não podia simplesmente não ir até lá e dar uma de covarde.

Então eu só respirei fundo, ignorei o fato de que meu estômago parecia mais uma pedra de gelo e me obriguei a entrar no elevador e ir até o estúdio.

Quando as portas de metal se abriram eu já estava esperando aquela cena terrível de novo, do meu ex-namorado todo lindo e sexy com uma roupa reveladora demais e veias suculentas demais. Felizmente, não foi o que aconteceu. As portas se abriram e eu dei de cara com Yoongi hyung, conversando com um jovenzinho muito bonito de cabelos acinzentados.

Pelo menos eles acertaram no tom do cabelo!

- Hyung!

Tenho que admitir que já saí logo na direção dele e me esforcei para não olhar para os lados. Se Yoongi estava lá, isso significava que Jungkook também estava. E se o modelo estava lá, significava que Go Dongsun também. Eles podiam já ter se encontrado.

Durante os dias que eu passei premeditando aquele encontro imaginei um milhão de cenários. Não ia acontecer desse jeito. Na verdade eu ia chegar lindo e maravilhoso, ia esnobar os dois e até fazer piadinhas, tipo o dono de toda a autoconfiança do mundo. Mas infelizmente eu não era mais aquele garoto impulsivo que saiu falando em rede nacional que era gay.

- Taehyung. – Yoongi me cumprimentou, mas eu senti que ele não estava olhando para o meu rosto e sim para um ponto qualquer atrás de mim, como se estivesse procurando alguma coisa. Ou alguém.

A Dahyun ia adorar saber disso.

- Senhor Kim – O garoto bonito me cumprimentou, se curvando educadamente. Pessoalmente ele era ainda mais lindo do que em fotos, e eu não pude evitar um sorriso satisfeito – Eu sou Kim Mingyu.

Kim Mingyu. Tomara que o imbecil do Dongsun não tenha sido baixo ao ponto de colocar caraminholas sobre mim na cabeça do garoto – Pensei.

Era algo bem plausível dele fazer.

Fiquei alguns minutos ainda conversando com eles, até que as fotos começaram e os dois se afastaram. Me concentrei nos modelos e me forcei a não olhar para os lados. Eu só tinha que fazer isso: Ficar lá por umas duas horas olhando para um mesmo ponto. Fácil, não é?

Não mesmo.

Em certo ponto eu me distraí. Escutei a voz da Dahyun me chamando ao longe e virei os olhos pelo estúdio, procurando por ela. Para quê? Lá estavam eles.

Meu ex-coelhinho e aquele traste do Dongsun, conversando. Só os dois. E sorrindo.

Foi só eu ver a cena que começou.

Meu estômago se revirou de tal forma que parecia estar afundando, como se eu estivesse caindo de uma queda livre. Involuntariamente meus olhos se encheram de lágrimas e minhas mãos começaram a suar feito loucas, no que eu cerrei os punhos com força para disfarçar as convulsões. Minha vista ficou turva e eu só conseguia ouvir minha respiração rápida e descompassada, quase tão rápida quanto os batimentos cardíacos que ressoavam alto dentro da minha cabeça.

Eu sabia o que era. Ataque de pânico.

Fazia bastante tempo desde a última vez que tive um desses e já tinha quase me esquecido da sensação angustiante. Não gostei nada de me lembrar.

Eu estava tremendo com muita força e me obriguei a não piscar, porque sabia que as lágrimas iam cair e eu não choro na frente das pessoas. – Mas que droga! Logo agora? Por que demônios eu não posso ser mais forte que isso? – Precisava sair dali rápido, antes que fosse notado. Minha respiração estava alta demais, ofegante.

Permaneci prostrado não sei por quanto tempo, tentando respirar fundo e acabar com aquele tormento. Alguns segundos paralisado, sem saber o que fazer, foram suficientes para meu plano de fugir sem ser percebido ir por água abaixo.

Ele me viu. Ele olhou para mim e eu soube que não tinha como negar, Jungkook entendeu de cara o que estava acontecendo.

Já tinha visto a mesma cena vezes demais para não saber.

Aquilo me acordou, e eu fechei os punhos com mais força, tentando controlar a tremedeira em vão. Virei as costas e saí andando em direção ao elevador, mas ele estava longe demais e eu não podia simplesmente ficar parado esperando. Abri a porta das escadas e subi os andares feito um maluco frenético, em direção ao ambiente seguro do escritório, onde eu poderia sofrer aquele ataque sozinho. Onde poderia chorar.

Minha respiração pesada e rápida fez eco pelas escadas, e eu me permiti finalmente fechar os olhos e libertar as lágrimas, consequência do meu surto de ansiedade.

Só mais um andar, eu pensei, e estaria seguro.

Entrei no meu escritório e bati a porta com força, caminhando a passos largos até a escrivaninha e apoiando as mãos suadas ali, o cansaço por ter subido de escadas se confundindo com o ataque, todos os meus nervos em alerta, o corpo entrando em colapso. Ia passar – tentei me convencer – sempre passa.

Mas eu não conseguia parar de tremer!

Comecei a chorar, mesmo, com vontade, e não entendi por que. As coisas passam de um jeito louco pela nossa cabeça durante um ataque desses. Parece que você está com todos os problemas da vida na cabeça, mas não consegue distinguir nenhum e aí você sabe que precisa se concentrar em respirar, mas parece tão estúpido! Tipo, quem se importa em respirar?

Podia sentir minhas pernas fracas e minha testa molhada de suor gelado, escorrendo por minhas têmporas até o pescoço e nuca, me causando espasmos involuntários.

Então, uma voz. Uma voz macia e familiar, cantando uma melodia desconhecida.

Ah, não.

Eu só posso estar alucinando.

E duas mãos fortes pressionaram meus ombros por trás, me tirando da frente da escrivaninha e me direcionando feito um boneco de pano inútil até a poltrona, me obrigando a me sentar sobre o estofado.

Eu sabia bem quem era, mas foi só quando ele ficou de frente para mim e eu pude vê-lo, que realmente tive certeza que aquela loucura toda era real.

Todos os meus medos e todos os meus desejos, expostos.

Jeon Jungkook.