História História 16 - REFLEXO - Capítulo 15 - CONFLITOS

O apito soou e a partida estava oficialmente terminada.

Cansados, os dois combatentes finalmente baixavam suas guardas. Karin parou de usar seus poderes quincys e guardou sua espada, ficando apenas com a forma meio animalesca enquanto sentava-se no gelo para descansar.

Hitsugaya, também exausto, guardou sua fiel companheira Hyourinmaru, que mesmo após tantos anos parada mostrou-se tão poderosa e confiável como sempre. Da quadra, nada se podia fazer senão esperar que todo aquele gelo derretesse ou fosse removido pela equipe de limpeza.

Em meio a batalha, o grisalho criara diversos pilares e pequenos rochedos gélidos para atrapalhar o percurso da amiga, mas que logo iam sendo destruídos seja com a força bruta ou a magia da garota. Graças à isso, o local se tornou uma pequena amostra do que seria o local mais frio, pictoresco e isolado da terra.

Estranhando a ausência de Matsumoto, que deveria imediatamente se aproximar novamente com a prancheta de dados, o rapaz olhou para o corredor no segundo andar, porém foi nos limites das grades de contenção que encontrou ela e o comandante parados à espera de algo.

Sem entender, estreitou seu olhar em busca de qualquer sinal que explicasse a parada dos dois.

A morena a sua frente, vendo o amigo parecer confuso com algo, logo seguiu o seu olhar e de igual maneira encontrou os dois shinigamis na entrada, contudo, esta logo entendera o motivo destes ainda não terem se aproximado como previsto.

- Relaxa, eu esqueci de desfazer a barreira. - Contou ela.

- Barreira? - Questionou o grisalho.

A garota respirou fundo e se levantou do chão gélido.

- É. Fiz uma quando perdi a paciência com você antes. Não queria ninguém interferindo. - Explicou e seguiu lentamente até o banco na lateral onde deixara suas coisas. O grisalho a acompanhava logo atrás. - Você realmente conseguiu me deixar puta com aquela palhaçada mais cedo, mas conversamos sobre isso depois.

Sentando-se no banco, abriu sua bolsa e jogou algo de tecido negro no chão. Com os pés, abriu o interior criando uma espécie de círculo.

- E quando pretende desfazê-la? - Referiu-se à barreira.

- Assim que terminar de me vestir. - Disse a garota subitamente se transformando novamente, desta vez em um gato doméstico negro de olhos castanhos. As roupas que até agora usava deslizaram pelo animal que saiu do círculo de tecido que se formou.

- Um gato… - Comentou. - Shihoin Yoruichi.

A gata, de cima do banco, olhou para o rapaz.

- Algo do tipo. - Concordou sem muita emoção. Em seguida, pulou para o chão onde, desta vez, entrara no círculo que ela mesma fizera. - Vou precisar da sua ajuda nisso. - Declarou.

O grisalho, sem entender, questionou:

- Minha ajuda?

- Exato. - Concordou e logo a felina novamente começava a crescer e tomar sua forma humana. O tecido negro era suspenso do chão e se adequava conforme a transformação se dava. Um vestido longo e negro de alças finas se expôs. Por fim, a transformação concluiu-se e a morena, abaixando-se, virou de costas para o amigo. - Feche para mim e vamos dar o fora daqui. - Referiu-se ao zíper traseiro da peça que seguia do início da coluna à altura das axilas.

O rapaz subitamente engasgou com o nada.

- Quê?! - Exclamou constrangido.

Karin novamente olhou sem paciência para o capitão.

- Ah, qual é, Toushirou?! É só um zíper! - Exclamou a morena. - Meu casaco rasgou por sua culpa. Faça o favor de me ajudar com isso, valeu?!

O grisalho estalou a língua e tentava encontrar algo que lhe ajudasse a escapar do constrangedor pedido.

- Peça a Matsumoto. É mais lógico! - Argumentou aos seus olhos novamente encontrarem a ruiva na entrada.

- E deixar aquele velho pervertido chegar perto de mim assim? Nem pensar! - Respondeu ela com total repúdia.

O capitão, por fim, suspirou pesado em derrota. Kyouraku era mulherengo e ele bem sabia disso, não tinha como contra-argumentar com a garota. Ela estava certa. Mesmo que contrariado, atendeu o pedido da morena e o executou o mais rápido que pôde. Já de pé, a garota estalou os dedos.

- Liberar! - Ordenou e a barreira logo se quebrou.

A morena, por fim, suspirou aliviada. Agora podia descansar de fato. Como já era de se presumir, com o desaparecer da barreira, tanto Matsumoto quanto Kyouraku logo se dirigiam ao encontro dos dois jovens.

A garota, pegando sua mochila, logo se virou de costas. Mais alguém vinha na direção dos dois.

- Toushirou, te encontro na sua sala depois. Pegue a prancheta com a Rangiku-san, tenho umas coisas a discutir com você sobre o resultado. - Disse a morena.

- Para aonde vai? - Questionou o grisalho estranhando o debandar súbito da amiga.

- Tenho umas coisas para resolver. - Respondeu apenas. - Sua amiguinha pé-no-saco está vindo para cá. Aproveite a chance e peça desculpas de uma vez. - Aconselhou a garota que logo em seguida desapareceu usando o shunpo.

Embora o uso de um apelido um tanto pejorativo, o jovem capitão logo entendeu que Hinamori vinha em sua direção logo atrás dos dois capitães.

Ele, por sua vez, compartilhava de parte do sentimento expresso por Karin. Hitsugaya não queria encontrar a garota. Ao menos, não naquele momento.

- Foi uma bela batalha, Hitsugaya-taichou. - Cumprimentou o comandante relaxado.

- Foi realmente ótimo, taichou! E pensar que a Karin-chan ficou tão poderosa! - Comentou a ruiva. - Nem parece a mesma criança que encontramos no mundo humano… Embora também não podemos esquecer que ela ainda é a irmã e a filha “deles”... - Lembrou ela.

- De fato… - Concordou o grisalho ainda curioso com o motivo que levara a garota treinar tanto durante todos os anos afastados.

- E aonde está a nossa outra combatente? - Questionou o moreno.

Hitsugaya se perguntava o mesmo.

- Disse que tinha algo a resolver e que voltaria depois. - Disse ele.

- Algo a resolver? - Questionou a capitã. - O que poderia ser? Sabe de algo, taichou?

- Não sei e, de qualquer forma, não é como se fosse da nossa conta. - Respondeu o grisalho já movendo sua cadeira.

- Aonde vai? - Questionou Kyouraku.

- Preciso de um banho. - Respondeu sem qualquer emoção ou interesse. O capitão realmente queria apenas um pouco de paz. - Matsumoto, deixe a prancheta na minha sala depois. Parece que ela vai querer discutir algo com base nisso.

Embora tenha iniciado seu movimento de retirada, acabou por parar ao ver a outra amiga a sua espera.

- Hinamori. - Comentou ele em um tom baixo.

- Shirou-chan… - Chamou ela com um sorriso tímido.

- É capitão Hitsugaya, Hinamori. - Corrigiu.

A jovem riu sem graça.

- Está tudo bem com você? - A garota parecia preocupada.

O rapaz apenas acenou com a cabeça.

A tenente deu um sorriso fraco em resposta.

- Fico feliz. - Disse. - Tenho que voltar para minha divisão agora, mas poderíamos conversar depois?

O clima estava um tanto pesado e desconcertante. Um adiamento de uma conversa mais aprofundada era tudo que o grisalho queria.

- Certo. - Respondeu somente.

A garota novamente sorriu.

- Nos vemos depois, então… - Despediu-se e finalmente se foi.

O rapaz respirou fundo e continuou seu percurso. Matsumoto e Kyouraku concordaram em se direcionar para a sala de Hitsugaya onde o esperariam.

- Ainda estão se estranhando… - Comentou o comandante.

A ruiva foi a próxima à suspirar cansada.

- Parece que sim… E pensar que se conhecem há tanto tempo… - Contou. - Seria bom se voltassem a conversar como antes.

- Pelo que parece, a moça têm certa resistência em deixar o rapaz respirar sozinho… - Lembrou ele de uma das conversas entre Karin e Hitsugaya.

- É sim… A Hinamori-chan é uma boa garota, mas não deixa o taichou fazer as coisas por ele mesmo. Acho que isso, de certa forma, fere o orgulho dele como homem. - Explicou.

- No entanto, a outra é o completo oposto, forçando-o a fazer tudo por si mesmo. - Comparou. - Um trio interessante…

- Trio? … - Quis certificar-se do que ouvira.

- A Ojou-chan parece não gostar da nossa tenente. - Apontou.

A ruiva analisou momentaneamente e acabou por concordar.

- Bem, isso é verdade… Mas por que acha..? - Questionou.

- Bem, você há de concordar comigo que não existem muitos motivos para uma mulher não gostar de outra com quem nunca falou. - Opinou ele.

- Mas a Karin-chan não é do tipo que teria esse tipo de rivalidade infantil. Na verdade, ela sempre foi muito madura para a idade dela. Ela mesma sempre incentivou o taichou à voltar a falar com a Hinamori-chan. Não faria sentido. - Explicou a capitã.

- Bem, neste caso tudo se tornou mais confuso. - O homem olhou de soslaio para uma das portas que acabavam de se fechar. - Ou talvez, o coração de uma mulher seja muito mais difícil de entender do que se espera.

A ruiva, da mesma forma que o superior, reparara na mesma porta. 

Karin que acabava de passar por ela.

- Então, o que quer comigo? Não acho que seja próximo do Toushirou. - Declarou a morena encarando o homem parado à sua frente.

O homem de longos cabelos negros e de expressão altiva observou a garota momentaneamente antes de lhe dirigir a palavra.

- De fato, não sou próximo ao capitão da 10° Divisão. - Admitiu.

- Essa parte eu já imaginava, mas não respondeu à minha pergunta. - Disse a morena. - Está me observando desde o dia da árvore. Não gosto disso. - Declarou ela com firmeza.

- Apenas queria ter certeza de quem se tratava antes de me aproximar. - Explicou.

- E? - Questionou sem muita paciência.

- Não esperava encontrar uma Kurosaki em Seireitei. - Disse ele.

- Não sei do que está falando. - Mentiu ela, se virando.

- Não só sabe, como também tem uma inegável semelhança com seu irmão. Tanto a personalidade, quanto o poder se assemelham. - Disse o capitão.

Karin estalou a língua irritada.

- O que quer comigo, “Bo-chan”? - Questionou ela pela última vez. Encarava com firmeza o dono da sala.

O moreno, por sua vez, estreitou seu olhar.

- Não é o único com informações por aqui, Kuchiki Byakuya. Sei bem quem você é. - Declarou a morena.

Karin encarava com intensidade e sem hesitar o capitão da 6° Divisão da Gotei 13.

Intimamente um mau pressentimento lhe atormentava. Algo naquela conversa não lhe agradaria.