História História 16 - REFLEXO - Capítulo 21 - REGRAS

Em sua sala, Hitsugaya esperava quieto pelo retorno de Karin.

Após o término de mais um dia do seu novo treinamento, o grisalho recebeu a visita de um oficial da 6° divisão trazendo consigo uma mensagem endereçada justamente à sua companheira de combate, Karin.

Sem explicar muita coisa, o shinigami disse ser algo enviado pelo capitão de sua divisão, o líder da família mais influente da Soul Society, Kuchiki Byakuya.

A garota, no entanto, pareceu ficar demasiadamente surpresa e até um tanto descrente com a repentina mensagem. Não fora muito gentil em seu primeiro contato com o capitão remetente e certamente não mudara em seus outros encontros. Não muito contente, se despediu de Hitsugaya dizendo encontrá-lo mais tarde após sua discussão com o capitão nobre que lhe chamara.

Isso só se deu, é claro, graças ao pobre oficial que, temendo ser repreendido por seu capitão, pediu para que a morena ao menos recebesse o envelope para que ele não sofresse com uma possível ira do superior que lhe mandara em tal missão.

A jovem, entendendo a situação do subordinado preocupado, aceitou o pedido e decidiu se ir ao encontro de Byakuya, mesmo que ainda a contragosto.

Karin, imediatamente, despediu-se e dirigiu-se à 6° divisão, enquanto o grisalho voltou para sua sala.

Durante seu caminho, o rapaz ainda deparou-se com seus dois conhecidos que mais visitavam seu escritório, Kyouraku e Matsumoto, que imediatamente se interessaram pelo fato do grisalho estar seguindo para sua sala sem a companhia de sua fiel companheira de treinos.

Agora, em sua sala, contava com a companhia - nem tão desejada no momento - dos dois capitães.

- Ainda não acredito que o Kuchiki-taichou chamou a Karin… - Comentou a ruiva, curiosa. - Ele sempre pareceu tão indiferente com tudo e todos. Achei que, no mínimo, ficaria uma fera por ela ter batido nele da outra vez.

- Normalmente, eu concordaria com você, Matsumoto-taichou. Mas, se tratando da nossa querida Ojou-chan, de nada mais posso duvidar. - Declarou o comandante.

- A Karin-chan é jovem, bonita e tem uma personalidade forte, mas não me parece que ela chegou à ser amigável com ele alguma vez. Digo, da última vez ela bateu nele e parecia realmente irritada. - Lembrou ela. - É incrível que ela tenha ido até ele por um pedido de um dos subordinados dele… Se bem que ela sempre foi extremamente gentil… Mas ainda assim, não acho que o Kuchiki-taichou insistiria em falar com alguém que lhe bateu.

- Talvez seja exatamente por isso. - Sugeriu Kyouraku.

Hitsugaya que até agora apenas ignorava as palavras trocadas entre os outros dois capitães, não compreendeu bem as palavras do superior. Entretanto, estas, ainda assim não lhe pareceram agradáveis.

- O que está querendo dizer com isso, Kyouraku-soutaichou? - Questionou o grisalho.

O homem olhou para o capitão e pareceu gostar do interesse do rapaz.

- Parece irritado com algo, Hitsugaya-taichou. - Comentou ele.

- Lhe fiz uma pergunta. - Devolveu. - O que estava querendo dizer com “é exatamente por isso”?

O homem sorriu levemente, satisfeito.

- Talvez ainda seja muito jovem para entender, Hitsugaya-taichou, mas alguns dos mais poderosos homens podem ser facilmente domados ao se depararem com uma mulher que não está sob seu poder. Não acha? - Disse com um tom um tanto sugestivo. - Em outras palavras, o nosso nobre capitão pode muito bem ter sido atraído pela personalidade forte e espírito indomável de sua bela amiga.

O grisalho não concordou muito com o que ouvira.

- Não acho que o Kuchiki seria desse tipo. É um homem rigoroso em seguir regras e, como nobre, não é algo que um deles faria. - Argumentou o mais jovem.

- Mas taichou, isso não nega o fato dele ter mandado chamar a Karin-chan. - Evidenciou a capitã.

- E no que isso se relaciona com o que o comandante disse? - Retrucou o grisalho.

A ruiva pareceu descrente com a pergunta.

- Você realmente não presta atenção em nada, não é, taichou?! - Exclamou ela um tanto indignada. - Se ele chamou ela, é porque tem algum interesse. Além disso, até então, a Karin-chan é uma garota livre e sem qualquer compromisso. Não consegue entender o que isso pode querer dizer?

O rapaz ficou brevemente quieto.

- Não estamos no mundo humano e Kuchiki é um nobre. - Argumentou Hitsugaya.

- Hitsugaya-taichou, - Chamou o superior. - como eu disse, talvez seja jovem demais para entender. Mas, algum tempo antes de você entrar para Gotei 13, o Kuchiki-taichou havia acabado de ficar viúvo. Sua mulher era uma jovem de Rukongai. - Disse ele. - Entende o que eu quero dizer? Ele quebrou todas as regras que deveria seguir para casar-se com ela.

O grisalho, por fim, se calou. Não sabia exatamente o que pensar, mas sabia que Karin não gostava da presença de Byakuya. E isso, de alguma forma, parecia lhe reconfortar intimamente.

- Por acaso, capitão, qual seria o motivo de tão insistente relutância em aceitar a hipótese? - Perguntou o homem.

- O que quer com essa pergunta? - Retrucou o mais novo.

- Me parece irritado com algo que normalmente não lhe interessaria. Fiquei curioso em saber o que realmente te irrita. Seria por causa de quem enviou a mensagem ou de quem recebeu? - Questionou ele. - Sinceramente, acho a primeira opção muito pouco provável.

Matsumoto preferiu não se intrometer desta vez, apenas observar.

- Não sei aonde está querendo chegar, Kyouraku-soutaichou. - Respondeu o rapaz, evasivo.

- Tenho certeza de que sabe sim, Hitsugaya-taichou. - Devolveu o mais velho com total seriedade. - Estou dizendo que me parece que se incomodou justamente por ser aquela garota à receber tal chamado.

Sem Hitsugaya perceber, um clima de tensão realmente havia se formado entre os dois shinigamis durante seu diálogo. Contudo, após as insistentes insinuações do comandante, o grisalho finalmente reparou estar realmente irritado com o assunto. Entretanto, ele mesmo fazia questão de tentar ignorar sua irritação. Não havia porquê se irritar desde que nada fosse feito contra a garota.

Karin não gostava de Byakuya e isso era um ponto a se levar em conta. Todavia, chamá-la para uma conversa particular, independente do motivo, não era algo que lhe oferecesse algum risco.

Sendo assim, Hitsugaya não precisava se irritar.

Porém, ele já estava irritado.

- Me parece algo sem sentido. - Respondeu. - Somos shinigamis e ela uma humana. Temos muitas décadas de vida à mais que ela. - Apontou o grisalho.

Para Kyouraku, a resposta lhe pareceu mais para o próprio grisalho do que para ele.

- Se é assim, então, me entendeu perfeitamente… Contudo, parece estar se esquecendo de algo importante: o pai dela também era um shinigami e também tinha muitas décadas à mais que a mãe dela. No entanto, ela existe como filha deles. - Lembrou o superior.

Se a resposta fora para Hitsugaya ou para Kyouraku, não importava. O último argumento acabava de invalidar o anterior.

- O que está tentando fazer me dizendo tudo isso? - Questionou o grisalho.

- Apenas te lembrar que ela ficará por perto apenas pelos próximos 2 meses, isto é, a menos que ela descubra uma outra motivação para continuar a nos visitar. É possível que ela até fique mais, mas se continuar a pensar dessa forma, não espere que para sempre o motivo dela seja você. - Respondeu o moreno.

- Não tenho porquê esperar qualquer coisa. Desde o começo, ela nem deveria ter estado aqui. - Respondeu Hitsugaya.

O comandante sorriu.

- Esse é o ponto. - Concluiu. - Ela veio aqui justamente para ajudá-lo a ficar mais forte, mas talvez devesse começar a pensar sobre si mesmo, capitão. Afinal, para quê precisa ficar tão forte? O que quer proteger?

O homem, por fim, se levantou ajeitando seu chapéu de palha na cabeça.

- Não quero ouvir sua resposta agora e, sinceramente, acho que está na hora de eu ir. Ainda tenho algumas coisas à terminar agora que a Nanao-chan virou capitã e não pode mais me ajudar. - Lamentou. - Até a próxima, Hitsugaya-taichou. E Matsumoto-taichou, por favor, me conte o que puder depois. Quero saber se nossa jovenzinha está bem.

O comandante se retirou logo em seguida, após um assentir da ruiva que continuava calada e, seguiu o seu rumo para sua respectiva divisão.

Não demorou muito para que logo em seguida a morena chegasse. Ainda um pouco irritada, adentrou a sala com certa rudeza e, logo em seguida, jogou-se no sofá bufando pesado e massageando seus olhos. Contudo, esta apenas disse que estava irritada pela forma soberba como o outro capitão agia. Matsumoto, obviamente, se manteve bastante insistente em descobrir o que acontecia entre a garota e o capitão da 10° divisão, mas Karin nada falou alegando realmente não ter nada para falar.

Hitsugaya, no entanto, não acreditava que este realmente fosse o caso. Karin, obviamente, omitia algo e ele sabia disso. Byakuya não era o tipo de homem que chamaria alguém por nada, sempre havia um motivo e a morena não era alguém que se irritasse por qualquer coisa. Assim, ficava óbvio que algo que acontecia entre os dois estava sendo omitido e o grisalho sabia disso.

Em meio a água fria de seu banho, o jovem capitão tentava esfriar sua cabeça e esquecer tudo o que lhe causara irritação. Entretanto, as palavras de Kyouraku ainda ecoavam por sua mente.

Dentro de dois meses, sua vida voltaria ao normal e Karin novamente voltaria a morar no mundo humano.

Contudo, os próximos meses se mostrariam um prazo longo e, ao mesmo tempo,  contraditoriamente, curto demais para o jovem capitão da 10° divisão.

Seus banhos frios e demorados se tornariam cada vez mais frequentes. As dores de cabeça de Hitsugaya estavam apenas começando.