História Mortos Vivos - Clementine

A cidade estava deserta, escura e árvores caídas sobre os chãos rachados. Clementine se perguntou se poderia acontecer algo pior do que estava acontecendo com ela.

No meio de toda aquela confusão que estava acontecendo, ela conseguia por partes relembrar como estava sua cidade, quando ainda era uma. As lojas com roupas caríssimas em manequins quebrados, anúncio de “Vendas de carro 0km com melhor promoção do ano! 75% de desconto e sem juros!”, barracas de pipoca e sorvete jogadas no chão em carcaços, carros caros completamente destruídos. Ela conseguia ver a cidade de antigamente a partir daqueles destroços, mas doía saber o que ela era agora.

Clementine lembra exatamente como tudo começou, na época quando os jornais científicos abordavam explicitamente sobre “ O vírus que está acabando com o país aos poucos”, era algo pequeno, ninguém se importava tanto, até que uma boa parte da população agia como animais. Eles queriam nos acalmar com fatos científicos só que era tudo mentira, todos sabiam, estavam virando zumbis, estava virando um apocalipse.

Enquanto caminhava sem rumo em meio dos corpos em decomposição, Clementine se lembrava da sua “vida normal”, inclusive sobre sua matéria favorita da época, português, costumava dizer que gostava das palavras e seus significados, já teve várias favoritas, mas depois do ocorrido, o vírus nos cérebros, ela e sua mãe sempre citavam a palavra esperança, diziam para todos os ainda humanos o significado dela: sentido de quem vê como possível a realização daquilo que deseja; fé. 

Depois de tudo que aconteceu, Clementine não sabia exatamente qual caminho seguir, por o que lutaria se ela perdeu tudo e todos? Do que adiantaria ter esperanças? Sua família toda tinha ido embora e tinha quase certeza de que a essa altura eles não estariam certamente vivos. A palavra esperança já não fazia mais sentido. Após horas caminhando sem rumo, ela ouve passos, certa de que seria mais um dos infectados, zumbis que queria comer sua carne. Pensou está alucinando quando ouviu uma voz infantil e feminina, ela sabia de quem era aquela voz de longe:

Olá? Tem alguém aí? Poderia me ajudar?

Era ela, sua irmã, Lauren, não dava para acreditar:

- Lauren? É você? 

- Clementine?!

Quando virou para ter certeza de que era ela, viu sua pele de oliva, cabelos pretos escorridos sobre seus ombros e na mão segurava bem forte seu urso predileto.

Ela não era um deles, ela estava viva! Pela primeira vez em meses ela pode ver sentido novamente naquela palavra. Abraçou - a fortemente e segurou na mão de sua irmã e dali resolveu seguir adiante, mesmo não sabendo pra onde ir, sabia que não podia desistir, pela Lauren.