Capítulo 3 – Prelúdios de uma Tempestade
11 de Agosto de 1943
15 dias haviam se passado, 15 malditos dias preso naquele lugar que cheirava a pólvora e terra molhada (mesmo em dias ensolarados). A rotina militar definitivamente não era pra mim, todos os dias Tenente Johnson nos acordava às 3:00 da manhã aos berros dizendo que somente vagabundos acordavam depois do nascer do sol, e que não estávamos ali pra levar uma vida de vagabundos. “Grande merda Tenente banana” pensei enquanto me levantava mal humorado.
Depois de despertos, fazíamos nossa higiene pessoal, vestia o uniforme (que volto a repetir, ficara enorme em mim) para logo tomar café da manhã e seguir para área de treinamento onde o Tenente já estava a nossa espera. Após um breve discurso sobre moralidade e patriotismo, Sr. Johnson nos fez dar 20 voltas em volta da toda a base repetindo o mesmo grito de guerra.
“Quando eu morrer quero um fuzil e uma bereta, chegar no inferno dar um tiro no capeta e o capeta vai ficar desesperado, meu Deus eis aqui o seu soldado, o soldado da pátria americana.”
O trecho daquele hino martelava meus pensamentos noite após noite, e me perguntava se realmente valia a pena lutar e morrer em uma guerra que não era minha, ou melhor, de ninguém.
Assim que terminamos a sequência, sentia que ia uma taquicardia a qualquer momento, apoiei as mãos nos joelhos e ofeguei sentindo o suor escorrer pelo meu corpo.
- Isso é que dá cabular as aulas de educação física – Se aproximou o ruivo, que pasmem não estava nem ao menos suando depois dessa maratona. – Se tivesse seguido meu cronograma diário de exercícios não estaria assim. Mais nããoo... sempre preferiu aqueles livros mofados ao invés de se exercitar com seu melhor amigo – Jonathan deu um suspiro teatral, “Cínico” pensei irônico.
- Não ouse falar dos meus livros seu troglodita, não trocaria jamais o conforto da minha biblioteca por esses exercícios desnecessários que servem apenas para nos deixar fortes de corpo e molengas de cérebro. – Rebati com certa petulância, enquanto meu amigo revirava os olhos em uma mistura de descaso e ofensa do que havia falado.
- Tudo bem, eu já sei desse seu papo furado de cor e salteado não precisa ficar repetindo garoto magricela – Agora vamos que ainda tem muito o que fazer querido. - Terminou cutucando minhas costelas com o indicador me causando cócegas.
Passamos o resto da manhã saltando em pneus, pendurando em cordas, escalando muros, e para finalizar, abdominais e flexões que foram feitas à base de muito suor e lágrimas de minha parte. Após o almoço, fomos apresentados ao chefe do departamento de operações especiais do condado de Louisiana Dr. Joseph C. Grimes, que nos falou sobre o avanço das tropas alemãs pelos continentes Europeu e Asiático e sobre a aliança entre Japão e Itália fortalecendo o movimento Nazista. “Preocupante” como o próprio chefe havia nos dito.
Confesso que me senti estranhamente interessado sobre o assunto, tentando entender cada vez mais sobre as táticas apresentadas por Grimes para quem sabe poder atuar nessa área e me livrar do serviço pesado.
=//=
- Aqui estão os documentos que me pediu Sr. – Disse a secretária de aparência jovem trajando um vestido verde musgo próprio do exército, os cabelos loiros presos firmemente em um coque bem feito no alto de sua cabeça e óculos meia lua.
- Obrigado Margareth, pode se retirar – O homem alto de cabelos castanhos agradeceu sem tirar sua atenção das pastas em sua mesa.
Quando se viu sozinho, o homem começou sua busca pelas “iscas perfeitas” e parou em duas fichas que se enquadravam perfeitamente no perfil requisitado.
- Matthew Edward Collins, 20 anos, nascido em 15 de Novembro de 1923, New Orleans LA, estudou a vida inteira em colégio público, boas notas e aluno exemplar. – Leu em voz alta, analisando de forma criteriosa – A mãe é enfermeira e pai desconhecido, trabalha em uma biblioteca como restaurador e arquivista, interessante... – Concluiu pensativo, pegando a outra ficha, quando ouviu a porta se abrir revelando Tenente Johnson passar por ela e se sentar a sua frente.
- Mandou me chamar? – Perguntou acendendo seu charuto, expelindo a fumaça fedida no ambiente.
- Sim caro amigo, quero que dê uma olhada nessas fichas – Disse estendendo as pastas ao homem.
- Não me diga que conseguiu achar as iscas? – Pegou os objetos olhando de forma crítica.
- Ao que tudo indica, eles são perfeitos para que nosso plano ocorra como o planejado. – Como está a evolução deles? - Perguntou interessado.
- Bem, o ruivo Fitzgerald mostrou grande aptidão física o esperado de qualquer soldado de verdade, tem fibra, raciocínio rápido quando se trata de combate corpo a corpo – Tragou o charuto – Já o garoto Collins é totalmente o oposto do amigo, não possui as mesmas habilidades, tão pouco o porte físico, mais quando o assunto é estratégia...o moleque é um gênio – Finalizou cuspindo fumaça como uma chaminé.
- São informações valiosas amigo, se antes eu tinha dúvidas sobre esses dois, elas se esvaíram como a fumaça do seu charuto – O homem riu satisfeito com o resultado.
- Quando pretende mandá-los ? – O tenente perguntou curioso
- O mais breve possível meu caro Johson, temos uma guerra para ganhar. – Finalizou o homem encarando as fichas de suas novas peças de xadrez.
Continua...
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.