História Histórias de um prisioneiro - Capítulo 4 - Perigo eminente

Capítulo 4 – Perigo Eminente

15 de Agosto de 1943

O mês estava quase no fim e Matthew ainda não havia mandado notícias a  mãe, e não era por falta de tempo, isso ele tinha certeza, mais algo em seu interior não queria mostrar a Anne o quanto se sentia infeliz naquele lugar, pois sabia que se abrisse o jogo com a mais velha provavelmente desabaria em um choro desesperado e preocuparia a mãe se motivos, e não queria incomodá-la com seus chiliques. Mais naquela manhã cinzenta de domingo, o moreno sentiu a estranha necessidade de escrever para Anne, sendo assim, pegou um caderno de folhas amareladas, cujo objeto sempre levava consigo juntamente com seu livro ,sempre o mantivera escondido de todos, pois era ali que descontava suas frustrações e sentimentos à respeito do mundo, e por isso sempre o guardava embaixo de seu colchão por entre os trilhos da cama de forma a passar completamente despercebido nas vistorias periódicas feitas no alojamento. Destacou uma folha e se pôs a escrever, explicando de forma breve sua adaptação lenta e dolorosa no ambiente militar, da progressiva evolução nas atividades físicas propostas pelo Tenente Johnson, inclusive uma pouca, porém notável presença de músculos em todo seu corpo acrescentou orgulhoso. Comentou sobre as aulas de estratégia e táticas especiais com o chef Grimes e de seu crescente interesse sobre o assunto, lhe dando um lugar ao lado dos chamados “soldados coringa” que ficavam por conta da decodificação de dados e transcrição de códigos morse.
Finalizou a carta dizendo sentir saudades e se desculpou pela demora a lhe escrever e disse que em breve teria novamente notícias suas.
Depois de reler a carta, dobrou a folha com carinho e guardou em seu bolso, seguindo para o serviço de correspondência disponível e entregando ao soldado  com o endereço de destino, que logo em seguida selou a carta e guardou na caixa junto de outras correspondências que seriam enviadas na manhã do dia seguinte.
Quando estava seguindo de volta ao alojamento notou que Tenente Johnson vinha em sua direção com uma expressão séria, os lábios finos unidos em uma linha reta e as sobranselhas grossas feito duas taturanas estavam franzidas de forma quase assustadora.  Bateu continência em sinal de respeito e seguiu seu caminho, porém, foi bruscamente interrompido quando ouviu a voz de trovão do homem a sua frente lhe dirigir a palavra.
- Soldado, quero que venha comigo até a minha sala, agora. – Disse em tom  autoritário sem ao menos esperar uma resposta do garoto e continuou seu caminho – Temos assuntos a tratar.
Intrigado com o que poderia ser, Matt seguiu o comandante sem pestanejar, pensando o que havia feito de errado.

                            =//=  
Assim que chegou a sala, Johnson lhe mandou sentar na poltrona a frente da mesa de carvalho luxuosa e reparou que não estava sozinho. Jonathan, que até aquele momento estava retirando alguma sujeira embaixo das unhas com o canivete, percebeu a presença do amigo e sorriu de maneira carinhosa tentando passar alguma tranquilidade, mais Matt reparou em seus olhos que ele estava tão curioso quanto a si sobre a tal conversa.
- Rapazes, os chamei aqui por que tenho uma missão de extrema importância que será fundamental para nossa vitória contra os ratos alemães. – Disse Johnson acendendo um charuto.
- E que missão seria essa? – Perguntou Matt, atraindo a atenção do ruivo ao seu lado – Porque tem que ser justamente a nós quando se tem disponível tantos combatentes com maior experiência? – Continuou arqueando a sobranselha bem feita.
Johnson se assustou com a perspicácia do jovem a sua frente e pensou que não seria tão fácil quanto imaginava. Porém continuou com a postura altiva e rebateu as perguntas com firmeza.
- Ora meu rapaz, você acha que ficaria até quando vivendo sob as proteções do exército? Você não  está aqui  pra brincar de casinha ou algo do tipo – Preencheu o ambiente com a fumaça fedida. – A partir do momento em que coloca os pés nesse lugar você não é mais um civil, e sim um soldado, que será responsável por proteger a nação e de limpar a  merda que o malditos chucrutes estão espalhando pelo mundo afora – Disse apoiando o charuto no cinzeiro de cristal – E lembre-se meu jovem , você não manda aqui, então se estou dizendo que vocês irão é porque eu estou mandando  e fim de papo. – Falou em tom de aviso – E se vier falar comigo nesse tom de voz novamente,  as coisas não ficarão nada boas pra você. – Terminou fechando as mãos em punho.
O silêncio caiu de forma tensa, tornando o oxigênio quase inexistente naquele ambiente amplo e elegante. Vendo que calara a boca do espertinho a sua frente, resolveu pegar um copo de whisky no bar disponível no canto esquerdo da sala, enchendo o copo até a metade e sorvendo o líquido com prazer para então oferecer aos ilustres convidados, que negaram de forma silenciosa.
-Como havia dito, designei vocês a uma missão de extrema importância -Percebendo que não haveria mais interrupções, prosseguiu novamente – Vocês irão se infiltrar na base militar de Kyoto no centro sul do Japão e colher o máximo de informações possíveis sobre qual será o próximo passo das tropas inimigas no continente asiático e europeu, vocês terão o papel de nos passar todo e qualquer avanço dos alemães. -Johnson ditou de forma tranquila, vendo que seus soldados empalideceram de ante o fato apresentado a eles. - Mais podem ficar tranquilos, que vocês não estarão sozinhos nessa. -Disse Johnson tragando o charuto – Por favor podem entrar rapazes.
Assim que o comandante falou, a porta se abriu revelando três homens que adentraram o cômodo de forma silenciosa e se posicionaram ao lado da mesa onde estavam.
- Quero lhes apresentar o soldado Luigi Zampieri do Alabama – Apontou para o homem de cabelos negros bem cortados e olhos castanhos trajado em uma jaqueta de aviador.  – Juan Pablo Hernández do Novo México  – Apontou para o outro homem de pelo bronzeada e cavanhaque.  – E Sebastian Wessel do Alaska – E por fim apontou para o loiro de cabelos curtos arrumado em um topete.
Matt e Johnny se entreolharam mais nada disseram, observando os recém – chegados.
- Como eu ia dizendo, vocês irão sobrevoar uma área sem  vigilância das tropas japonesas, um “ponto cego” sendo mais específico, vocês irão pousar em uma base aérea abandonada e montar acampamento, lembrando – se sempre de estar em alerta a qualquer movimentação fora do normal. – Disse Tenente Johnson de maneira séria. – Alguma pergunta senhores? – Questionou.
- Quando partimos tenente? – Jonathan perguntou, uma chama de empolgação nascendo em seu peito.
- Ao anoitecer senhores, as provisões para a missão já estão sendo devidamente organizadas e o avião abastecido, vocês partem o quanto antes soldados  - Disse satisfeito – Senão tiverem mais perguntas, estão dispensados – Finalizou tomando o restante da bebida.
Assim que se viu sozinho em sua sala, Johnson pegou o telefone ao lado da mesa e discou o número conhecido.
- Senhor, já está tudo pronto... sim – Suspirou cansado – O garoto é esperto, desconfiado, mais consegui contornar a situação... tudo bem pode ficar tranquilo, assim que partirem darei notícias, boa tarde. – Desligou sorrindo triunfante

“Agora é apenas uma questão de tempo” – Pensou pegando um disco e encaixando no gramofone.