Capítulo 6 – Nas mãos do inimigo parte 1
16 de Agosto de 1943
Frio. A primeira sensação que sentiu quando abriu os olhos. Olhou ao redor assustado tentando reconhecer o lugar onde estava, mais não enxergava nada além da escuridão densa daquele lugar. Tentou se mexer, mais estava atado por cordas grossas nos pulsos e nos tornozelos.
Fechou os olhos e logo imagens do acidente bombardearam sua mente, lembrava-se da conversa que tivera com Sebastian, das turbulências, os pedidos de socorro de Juan pelo rádio e de repente o vazio.
*Flashback ON*
Após a aeronave colidir no oceano, percebeu a água invadir rapidamente o lugar, tinha que pensar rápido falava para si mesmo prendendo a respiração e destravando os cintos de segurança, fazendo o mesmo com Jonathan que estava inconsciente.
Olhou em envolta à procura de uma saída e achou uma escotilha no teto do veículo que provavelmente estaria danificada por conta do impacto sofrido, tentou empurrar e com muito esforço escancarou a mesma e nadou até o amigo o agarrando pela gola da camisa, puxando-o porta a fora nadando desesperadamente em direção a superfície. Seus pulmões gritavam por oxigênio e a cada braçada que conseguia dar com o membro livre se tornava um esforço sobre-humano, “falta pouco, você consegue” pensou sentindo a superfície cada vez mais próxima “Vamos lá, mostre que as aulas de natação valeram a pena” dizia para si mesmo, e com um último esforço submergiu com o amigo.Tossia compulsivamente em busca de ar, os olhos ardendo pela água salgada e os ouvidos zumbindo pelo excesso de pressão que sofreram minutos antes. Quando sentiu que conseguia respirar normalmente, olhou em volta em busca de destroços que pudessem servir de apoio e avistou uma das asas do avião a poucos metros de si e nadou até o objeto arrastando o amigo.
Com grande esforço, colocou o ruivo deitado na asa e subiu em cima da mesma ficando por cima de Johnny, tentando se lembrar das aulas de primeiro socorros que a mãe havia lhe ensinado quando era mais novo. Apoiou uma palma sobre a outra no peito do amigo e comprimiu certa força em uma massagem cardíaca ritmada; vendo que não surtira o efeito esperado, abriu a boca de Jonathan e levou seus lábios nos do amigo que estavam roxos e frios e passou todo o oxigênio que conseguia para o ruivo, virando-o de lado para que a água escoasse sem o risco do amigo se engasgar e esperou. Nada. Tentou mais uma vez, e não obteve resposta.
- Vamos lá seu ruivo pervertido, eu sei que você esta apenas se aproveitando de mim.- Falava em voz alta entrando em desespero enquanto alternava a massagem cardíaca e a respiração boca a boca.
-Reage seu imbecil, você prometeu que não me deixaria sozinho nessa roubada - Continuava em seu monólogo – Você prometeu... não me deixe Johnny, você é única família que eu tenho aqui, não é justo... – Disse com a voz embargada sentindo os olhos arderem anunciando as lágrimas que começavam a brotar de seus olhos.
– O que eu vou fazer agora hein? Estamos no meio do nada, perdidos em um oceano, sem comida, sem água e a milhares de quilômetros da América. E você me resolve morrer justo agora...belo amigo eu fui arrumar. Idiora, imbecil, inútil, me deixou aqui pra morrer sozinho nesse fim de mundo, babaca imprestável, seu bosta... – Xingou esmurrando o peito do amigo com demasiada força, não reparando que o ruivo expelia toda a água que engolira minutos antes, começando a tossir em busca de oxigênio.
Matthew estava tão absordo em ofender o amigo que não reparou que Jonathan o observava com uma expressão brincalhona no rosto cansado.
- Se continuar a me xingar desse jeito, eu venho puxar o seu pé todas aa noites quando estiver dormindo gatinho – Disse rindo baixinho
- Não se passaram nem 24 horas que você morreu e já estou tendo alucinações. Um louco a mar aberto, um belo nome para um livro, se eu sobrevivesse para escrever um é claro. – Sua situação seria cômica, senão fosse trágica devida as circunstâncias.
- E quem disse que eu morri? To mais vivo que muita gente por ai – Continuou conversando com o amigo vendo quanto tempo levaria para o castanho lhe olhar.
- Como não?! Se você não morreu com quem estou convers... - Matthew que estava sentado de costas parou o que estava dizendo e olhou para trás dando de cara com um Jonathan vermelho de tanto rir às suas custas. Não sabia se o acompanhava no riso, se chorava de emoção ou se espancava até a morte (de verdade dessa vez) o amigo palhaço. Preferiu a primeira opção e riu abraçando o ruivo, feliz de conseguir salvar o mesmo.
=\\=
Passaram-se dias após o acidente e até aquele momento não havia nenhum sinal de aviões de buscas para resgatá-los. Estavam famintos, os poucos cantis com água potável que haviam achado boiando na superfície tinham acabado a dois dias atrás e sentia a desidratação latente em seu organismo. Agora deitados no único destroço que sobrara do avião, conversavam banalidades com o intuito de ocupar a mente, quando escutaram o som de um avião se aproximando.
- Está escutando o mesmo que eu? – Perguntou Jonathan interrompendo a explicação do amigo sobre cães serem mais espertos do que os felinos.
Matthew que no momento estava entretido em sua tese, parou de falar e concordou com Johnny e uma chama de esperança se acendeu em seu peito.
- Alto e claro meu amigo. – Assim que terminou de falar, se colocaram de pé e começaram a gritar por socorro, tentando chamar atenção do veículo que começou a se aproximar.
Felizes por conseguirem ajuda, subiram a escada aérea que fora jogada, e quando conseguiram entrar no avião, a única coisa que pensaram era que seria melhor que eles tivessem ficado no mar para morrem do que estar em um avião da tropa inimiga.
- Sejam bem vindos senhores, chegaram na hora certa. – Disse o piloto japonês em um inglês carregado.
**Flashback OFF**
Aquela era a última lembrança que vinha a sua mente, pois logo lembrou-se de sentir uma forte dor na parte de trás de sua cabeça e a inconsciência o dominar por completo.
Tentou gritar pelo amigo, mais estava amordaçado, observou que a única luminosidade que penetrava naquele breu provinha de uma porta à sua esquerda que em um rompante se abriu em um estrondo ruidoso assustando o castanho.
- Vamos dar um passeio florzinha, o comandante quer conversar com você – Disse um soldado alto de cabelos escuros e olhos puxados, pegando-o pelo braço o arrastando para fora.
A claridade queimava seus olhos como brasa e seu corpo doía como nunca, tentava acompanhar os passos do soldado, porém, se sentia fraco demais para tal. Olhou envolta e percebeu que estavam em uma floresta fechada, e de repente surgiram tendas e soldados, e presumiu ser um pelotão em plena selva. “Merda” pensou quando percebeu o quanto estava ferrado. Pararam em frente a uma das tenda onde foi obrigado a ajoelhar-se na relva úmida, e viu Johnny na mesma posição ao seu lado de cabeça baixa, mais sua atenção foi desviada quando ouviu o som de passos perto de si.
- Ora, ora o que temos aqui – Perguntou o homem trajando um uniforme impecável do exército – Se não são nossos inimigos americanos, a que devo a honra da presença de vocês em nosso humilde território? - Perguntou com ironia. Roçando o chicote negro que tinha em sua mão direita no rosto de Matthew. – Meus homens me informaram que a aeronave de vocês caiu em uma região isolada, próximo a ilha de Okinawa, é verdade? – Perguntou, porém, vendo que nenhum dos dois iria lhe responder, continuou a falar. – Fico me perguntando, o que um avião cheio de americanos estaria fazendo sobrevoando nossas terras... – Andou vagarosamente em volta dos dois. – Boa coisa não deve ser, isso eu tenho certeza – Disse golpeando com força as costas de Matt, que urrou de dor. – Agora comecem a falar, porque não tenho o dia inteiro – Falou, porém, não obteve resposta novamente. – Então ninguém vai abrir a boca? Hum...não é uma decisão sábia da parte de vocês, pois isso me obriga a tomar medidas drásticas se não colaborarem comigo... – Disse golpeando as costas de Johnny em um estalo seco, arrancando um grito do ruivo.
Matt que ainda se recuperava do golpe, sentiu novamente o chicote entrar em contato com a sua pele em um ardor quase insuportável, sentindo o sangue escorrer lentamente por suas costas.
- Olha que falta de decoro da minha parte, não me apresentei a vocês – Continuou parando em frente de Matt e Johnny segurando o chicote com ambas as mãos. – Meu nome é Hideo Miyazaki, sou o tenente coronel do batalhão de Kyoto – Disse olhando para cada um de maneira superior – E a partir de hoje vocês serão nossos prisioneiros e enquanto estiverem aqui eu serei seu comandante. Iremos nos dar muito bem... claro, se vocês abrirem o jogo - Disse rindo de forma cruel.
Matt e Johnny se entreolharam em uma pergunta muda sobre o que fariam e chegaram a conclusão de não dizerem uma só palavra sobre a missão que tinham. Seria questão de tempo até o exército americano vir ao resgate dos dois e não poderiam colocar tudo a perder naquelas alturas do campeonato.
Hideo percebendo que não conseguiria nenhuma informação de seus prisioneiros, chamou dois de seus homens.
- Soldados, quero que dêem as boas vindas à altura de nossos visitante americanos, depois leve-os de volta a cela, para que pensem direito sobre o assunto. – Disse aos dois soldados em sua língua nativa se retirando.
Assim que o Tenente partiu, começou uma sessão longa e tortuosa de chutes e socos, deixando-os quase irreconhecíveis. Depois da surra, foram jogados cada um em sua cela e Matt pensou que preferiria ter sido deixado para morrer à mar aberto, do que passar por aquela humilhação.
Continua...
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