Britney Butler
– Britney! – Coloquei o travesseiro no meu rosto, tapando-o quando a porta do meu quarto foi aberta. – Não acredito que você já esteja se preparando pra deitar. É sábado à noite! – Sam falou indignada e se aproximou retirando as cobertas de cima de mim. Grunhi destapando minha cara.
– Sam… – Falei manhosa.
– Nem vem. Você só tem saído de casa para ir trabalhar e depois se tranca neste maldito quarto. – Bufou.
– Estou colocando minhas séries em dia. – Dei de ombros e peguei num quadradinho da barra de chocolate que estava no criado mudo, o levando à boca. Hum, delicioso.
– Claro. – Vi Sam revirar seus olhos. – E em três semanas você ainda não teve tempo de atualizar tudo isso? – Cruzou seus braços. Ia falar mas ela me interrompeu. – Bom, isso também não interessa porque hoje você vai sair comigo sem possibilidade de contestamento.
– Sam, está fazendo frio lá fora e aqui está tão quentinho. – Abracei meu travesseiro. – Além disso, eu passei mal ontem, como você viu, lá na loja e álcool não me cairia bem.
– Quem mandou ficar todo aquele tempo sem comer nada? Você não precisa fazer dieta, principalmente essas dietas malucas. – Revirei meus olhos. – Mas a intenção é nos divertirmos e não ficarmos bêbadas. E você pode beber algo que não contenha álcool ou com uma percentagem baixa. – Bufei. Ela sempre conseguia dar a volta e vencia a sua. – Vamos, levanta dessa cama ou sua bunda ainda vai ficar quadrada de tanto que você fica aí. – Soltei uma risada enquanto seguia pro closet e vi Samantha sorrir por ter alcançado o seu objetivo.
– Nossa! Esse vestido assenta maravilhosamente em você! Parece até que sua bunda e seus seios aumentaram. – Samantha falou assim que saí do closet já totalmente pronta.
Um vestido vermelho tubinho de manga longa com um decote em “V” era o que eu vestia. Maquiagem não muito escura, um batom nude em meus lábios e os cabelos soltos com as suas pequenas ondas naturais. Calçava um salto alto preto e na mão, uma pequena bolsa da mesma cor e um sobretudo pois ventava forte lá fora e de manhã tinha chuviscado. Apesar de ainda estarmos em novembro, parece que o inverno começava a dar de caras e seria rigoroso.
– Vamos antes que eu mude de ideias. – Caminhei na sua frente mas logo seu chamado me fez olhar para trás.
– Não sei onde está o meu celular. – Falou olhando em volta.
– Deixa que eu vou ligar pro seu número. – Tirei meu celular da bolsa e coloquei seu número pra chamar no viva voz. Começou a chamar mas não ouvimos nada na casa que indicasse que ele estivesse aqui. Chamou várias vezes até que atenderam.
– Alô? Britney? – Uma voz masculina soou e logo detetei de quem que tratava. Charles. Abri minha boca mas Sam se adiantou.
– Chaz, sou eu, Samantha. Você ficou com meu celular? – Foi direta mas com uma expressão confusão no rosto.
– Não. Você acabou esquecendo ele aqui no sofá. Estava vendo o jogo de basquete e do nada minha bunda começou a tremer. – Chaz riu pelo nariz e notei Sam relaxar e deixar escapar um sorrisinho em seus lábios. Segurei a risada.
– Vou passar aí agora pra pegar ele, tudo bem?
– Claro, amor. Vem logo porque eu já estou com saudades dessa sua boquinha linda. Hum. – Sam ia falar mas desta vez fui mais rápida.
– Nem começa porque aqui não é linha hot. – Ri fraco assim como ele mas não o deixei falar mais nada depois. – Tchau, Charles. – Encerrei a chamada e guardei o celular na bolsa. – Vamos, amor. – Falei em tom de brincadeira enquanto passava na sua frente e Sam gargalhou.
. . .
– Chaz não serve pra nada mesmo. – Sam falou quando a porta do elevador privativo se abriu e não estava lá ninguém para nos receber. – Nem pra vir receber as visitas na porta. – Gargalhei fraco e logo depois ouvimos voz de criança junto com a de Chaz. Sam franziu o cenho confusa mas caminhou seguindo o barulho.
O som do nosso salto batendo chamou à atenção e Chaz, que estava acompanhado na sala de duas crianças, um menino e uma menina, rapidamente sorriu em nossa direção. Melhor, sorriu para Samantha.
– Toma o controle, Jazzy. Não deixa seu irmão te ganhar, hein. – Chaz falou brincalhão enquanto passava o controle pra menina mas antes de se levantar, colocou a mão no controle do menino tentando com que o mesmo fosse mal no joguinho de carros.
– Ei! Você está trapaceando, isso não é justo. Eu ia na frente. – O garotinho choramingou mas logo voltou a se concentrar. – Chaz gargalhou e logo se levantou se aproximando de nós.
– Oi, gatinha. Estava com saudades. – Se aproximou ainda mais de Sam e a beijou. Rapidamente fingi uma tosse e estes se separaram.
– Oi, Chazito. Tudo bem com você? Também estou ótima, obrigada! – Falei num tom meio irônico e ele riu.
– Você está mais que ótima, hein! – Falou me observando de cima a baixo mas logo recebeu um tapa no braço. – Caralho, Samantha. – Gargalhei pela falsa cara de dor que ele fez e Sam revirou os olhos. – Você sabe que eu estava brincando e, além do mais, eu tenho você, né. Já me chega.
– Acho bom que chegue mesmo, hein. Estou de olho. – Chaz riu e logo beijou o seu pescoço.
– TIO CHAZ EU GANHEI AO JAX! – A menina gritou atraindo nossa atenção. – EU GANHEI. EU GANHEI. – Repetia enquanto pulava no sofá e Chaz, como criança que era, foi festejar com ela só pra irritar o menino.
– Só ganhou porque ele trapaceou. – Falou o menino emburrado.
– Eu não fiz nada, moleque. Sua irmã que é uma boa jogadora. – A garotinha assentiu sorrindo e logo os dois fizeram um hi-five.
– Quem são elas, tio Chaz? Suas namoradas? – Ela perguntou e logo a atenção dos três estavam voltadas para mim e Sam. Resolvemos nos aproximar e nos sentamos no sofá junto deles.
– Então, esta é a Samantha. – Chaz falou abraçando-a de lado. – E aquela ali é a Britney. – Apontou para mim. – Esta garotinha linda aqui é a Jazmyn. – Ela sorriu envergonhada, balançando o vestidinho rodado que vestia. Muito fofa.
– Oin, que lindinha vem aqui me dar um abraço. – Jazmyn abraçou Sam que logo depois lhe deu um beijo na testa.
– E este garoto mau perdedor aqui é o Jaxon. – Ele já estava com o rostinho um pouquinho vermelho e ouvindo Chaz falando aquilo, começou a chorar. Meu coração apertou vendo aquilo.
– Chaz para de falar assim pra ele. – Sam lhe deu outro tapa no braço fazendo com que Jazzy, que estava sentada suas pernas, gargalhasse.
– Não precisa de chorar, Jaxon. Tio Chaz é um idiota. Você é maravilhoso e jogou muito bem também que eu vi. – Passei a mão por seus cabelos loirinhos. Ele fungou e se jogou nos meus braços me abraçando forte.
– Ele me distraiu por isso que perdi. Você também viu? – Jaxon me encarou e eu assenti sorrindo. Estranhamente ele me fazia lembrar alguém.
– Está tudo bem agora? – Um "uhum" junto de um abanar positivo de cabeça foi a sua resposta enquanto limpava os olhos. Depositei um beijo em sua bochecha o fazendo rir. – Quantos anos você tem?
– Eu tenho seis mas vou fazer sete.
– Sete? Meu Deus que crescido. Está ficando um homenzinho. – Jax gargalhou assentindo.
– Você vai no meu aniversário?
– E quando é seu aniversário?
– Sábado. – Falou prolongando a palavra me fazendo rir.
– Você quer que eu vá?
– Eu quero! – Começou a pular.
– Ta bom, ta bom. Eu vou. – Jaxon me abraçou gritando "eba". Sorrindo, olhei em volta e vi a menina nos encarando.
– Ei, Jazmyn vem cá. Eu quero abraço seu também. – Ela sorriu e num piscar de olhos já estava me abraçando. – Que abraço gostoso esse. – Logo depois, Jaxon desceu pra pegar o controle de novo e Jazmyn começou a mexer nos meus cabelos.
– Você é bonita. – Ela falou sorrindo fraco.
– Sério? Obrigada. E você é muito linda, sabia? – Fiz uma cosquinha nela que soltou uma gargalhada gostosa.
– Estou me sentindo trocado. Ninguém deu abraço em mim hoje. Vou chorar. – Chaz falou em tom triste e logo os meninos pularam nele arrancando gargalhadas de todos.
– Vamos, Britney? Já peguei meu celular. – Balançou o celular em sua mão, se levantando depois e eu fiz o mesmo.
– Não vai. Fica aqui com Jax. – Jaxon agarrou minha mão e eu sorri.
– Eu preciso de ir mas eu prometo que vou no seu aniversário, okay? – Ele assentiu e eu ergui meu olhar quando uma voz diferente soou.
– Porque não avisou que tinha chegado visita, meu filho? – A senhora se dirigiu a Chaz mas eu petrifiquei quando meus olhos pousaram na senhora morena ao seu lado. Minha respiração começou a ficar acelerada, as mãos começaram a temer. Não podia ser... Eu estava vendo coisas? Não, não. Eu jamais esqueceria o seu rosto.
– Britney, estás um pouquinho pálida. Sentes-te bem? – Samantha perguntou mas a única coisa que eu fiz foi me sentar ainda um pouco atordoada e com a respiração acelerada. – Oh céus eu vou buscar um copo de água. Chaz não deixes com que ela feche os olhos. – Sam falou num tom preocupada e logo ouvi seus passos apressados se distanciarem.
– Vamos pra cozinha meninos, acabei de fazer bolo de chocolate. – Uma das senhoras falou com a voz já distanciada e a outra se aproximou de mim.
– Céus, o que você está sentido, minha filha? – Devido ao meu estado não soube qual delas foi somente me agarrei ao braço de Charles .
– Chaz, eu estou ficando tonta... – Choraminguei quando tudo começou a rodar mais.
– Tem calma. Foca em mim e respira devagar que você irá ficar bem. – Comecei a fazer o quer ele falou.
– Bebe isso aqui, Britney. – Com ajuda da Sam, levei o copo até à boca e lentamente bebi toda aquela água doce.
Aos poucos minha visão começava a voltar ao normal e minha respiração a estabilizar. – Melhorou? – Assenti.
– Acho que a pressão caiu, só isso. Já estou bem.
– Precisas ir no médico. Já é a segunda vez que passas mal esta semana!
– Sua amiga tem razão. – Ergui meu olhar e encarei seus olhos azuis como o mar tão bem conhecidos por mim. – Você deveria ir no médico, querida. Com a saúde não se brinca. – Sorriu fraco e eu a acompanhei. – Nós nem nos apresentamos devido a este pequeno incidente.
Sam sorriu e se chegou na frente.
– Sou Samantha e esta é Britney.
– Muito prazer, sou Patricia mas podem me chamar de Pattie. – Se cumprimentaram e logo a morena de olhos azuis se voltou para mim para repetir o processo mas a fiz parar devido às minhas palavras.
– Será que eu a poderia abraçar? – Ela pareceu pensar mas rapidamente sorriu abrindo os braços.
– Claro que sim, querida. – E assim suspirei feliz por estar nos braços de quem um dia me acolheu tão bem.
►►►
– Marcarei então para dia 7 do próximo mês, pode ser?
– 7 de dezembro? Maravilhoso! Nem pensei que conseguisse vaga tão próximo. – A minha mais recente noiva fala empolgada me fazendo sorrir.
– Prontinho. Anotei aqui.
– Obrigada, até breve.
– Até. – Acenei e voltei para ajudar Sam a guardar todos os vestidos utilizados anteriormente pela noiva atendida por ela.
– Vamos terminar aqui e vamos logo almoçar porque estou morrendo de fome hoje. – Gargalhei enquanto arrumava os dois vestidos em minhas mãos nos lugares certos mas logo parei ao ouvir barulho que avisava que alguém tinha entrado na loja. – Estamos fechados para almoço! – Sam falou um pouco mais alto para que quem seja que fosse me conseguisse ouvir mas eu a repreendi com o olhar.
Por mais que estivéssemos na nossa hora de almoço não deveríamos tratar assim ninguém principalmente um futuro cliente. Passei as mãos pelas calças jeans claras instintivamente e caminhei em direção à recepção.
– Bom dia. Me desculpe mas... – Parei no momento em que meus olhos detectaram que era Justin.
Ele estava impecável com o terno negro. Uma das suas mãos descansava dentro do bolso da calça social e a outra segurava um buquê que alternava entre o branco e o vermelho das rosas.
Suspirei fundo cruzando meus braços abaixo dos seios.
– Oi. – Sorriu fraco.
– O que você quer, Justin? – Fui rude e direta ao ponto fazendo seu sorriso murchar mas ele logo se recompôs e mostrou seu belo sorriso de novo.
– Vim convidar você para almoçar comigo. – Deu uns passos na minha direção me fazendo recuar para manter uma certa distância de segurança.
– Então só veio perder seu tempo porque eu não vou a mais lado nenhum com você.
– Por favor, aceite este meu convite. Eu quero poder esclarecer tudo, fazer você entender. – Suspirei.
– Eu entendi tudo Justin e pensei que naquele dia tivesse deixado claro que nunca mais me procurasse.
– Britney, aceita, por favor. Eu estou disposto a abrir o jogo, a te contar tudo, só pra não te ter mais um minuto longe de mim. É algo tão agonizante te ver mas não poder te tocar. Por favor, aceita. Me dê uma chance de me redimir. – Deu uns passos e estendeu o buquê na minha direção. Engoli o choro.
– Foi isso que você falou para sua secretária? Lhe deu um buquê e ela abriu as pernas pra você em troca? Ou então à gerente do banco? Lhe deu um e ela te abriu o cofre? Me poupe, Justin eu não quero saber de nada! Você é tão hipócrita e eu fui tão idiota em ter caído na sua lábia. Se quer saber, você é um filho da puta e deveria apodrecer na cadeia! Me deixa, vai embora, eu não quero mais saber de você! – Seu maxilar estava travado e eu temia pelo que aconteceria de seguida mas ele somente deu as costas saindo da loja e jogou o buquê no lixo antes de entrar no seu carro e saindo catando pneu.
Me abracei a mim própria fazendo os possíveis e impossíveis para não derramar nenhuma lágrima. A dor era imensa mas ele não merecia mais nada que viesse de mim. Nem mesmo uma única lágrima.
– Você fez o certo, Britney. – Sam me abraçou de lado e eu apenas suspirei.
Mandar embora quem só recebe e nada devolve é necessário. Quem mente, quem simplesmente joga o foda-se e só olha para si mesmo. O sofrimento é doloroso mas tornar-se-á libertador. Negar mais uma vez a chance que Justin tanto pedia foi o certo pois é preferível uma saudade que aos poucos sumirá do que um sofrer diário. É melhor ter uma dor dentro do peito que aos poucos vai acalmando do que uma vida cheia de decepções.
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