História Hold On - Jantar.

Britney Butler

– Você não vai comer mais? – Samantha perguntou quando me viu descansar os talheres no prato.

– Não, eu estou sem apetite. – Relaxei na cadeira pegando na minha taça de vinho.

– Você deveria ir no médico, Brit. O que você vem sentindo não é normal. – Beberiquei minha bebida antes de falar.

– Eu sei. – Suspirei – Eu já marquei e irei amanhã à consulta.

– Você tem estado pálida, com pressão baixa e por vezes dor de cabeça. Será que é alguma virose?

– Eu não sei, Sam. Só espero que não seja nada demais. – Beberiquei mais um pouco.

– Você é forte. Não vai ser nada demais mesmo. – Ela se levantou e me abraçou de lado. – E, independentemente do que seja, eu sempre estarei aqui para você.

– Obrigada, Sam.

Estacionei meu carro numa das vagas disponíveis e descansei minha cabeça no volante. Tinha saído do salão um pouco mais cedo do que o normal para vir à consulta. Durante todo o dia senti meu estômago revirar, possivelmente pelo nervosismo que eu estava sentindo. Eu estava com medo do que possa ser.

Despertei dos meus pensamentos quando meu celular tocou indicando a chegada de uma nova mensagem. O peguei e vi de quem era. Justin.

“Será que nos podemos encontrar mais tarde?”

Bloquei a tela mas logo chegou outra.

“Por favor. Quero resolver tudo.”

Realmente, ja era a hora de colocar todos os pontos nos "i's". Suspirei conformada antes de digitar.

“Mais tarde passo na sua casa.”

“Janta comigo?”

Fiquei olhando a mensagem por um bom tempo me questionando se seria uma boa ideia aceitar.

“Tudo bem.”

Rapidamente bloqueei a tela e tirei o som. Deixei o carro e me dirigi para a entrada do hospital. Após ir na recepção falar meu nome, para que a minha ficha de entrada fosse criada, me sentei durante um tempinho na sala de espera até que meu nome foi chamado.

– Boa tarde, senhorita Butler. Veio pegar receita médica para a pílula? – Neguei.

– Não, doutora Amélie. Desta vez eu vim por outro motivo.

– Me conte o que se passa com você então, querida.

– Bom, eu tenho sentido muito cansaço e dores de cabeça. Cheguei a passar mal umas duas vezes também e minha amiga diz que parece que a cada dia que passa estou mais pálida. – Suspirei.

– Você tem se alimentado bem? – Torci a boca.

– Não tão bem assim. De uns tempos pra cá, tenho perdido o apetite também. – Ela se levantou e se aproximou de mim.

– Posso? – Assenti e ela aproximou uma luzinha do meu olho. Observou durante uns segundos e logo se voltou a sentar. – Levante a manga da blusa e estique seu braço esquerdo, por favor. – Ela me colocou um revestimento no braço, colocou o estetoscópio e ligou o mostrador quando eu senti a braçadeira inflar. Terminado o procedimento ela escreveu suas anotações. – Você deve ter mais cuidado com a sua alimentação. Tente sempre fazer, no mínimo cinco refeições diárias, com uma alimentação saudável e variada. Beber bastante água também é essencial. Eu suspeito que seja anemia. – Assenti. – Então, eu vou lhe receitar umas vitaminas que você terá que tomar sempre antes das principais refeições, ou seja, três vezes por dia. Mas me diga, como anda seu ciclo menstrual? Notou alguma diferença de uns tempos para cá?

– Não, está tudo normal. – Balançou a cabeça.

– Eu vou pedir também que faça um exame de sangue e urina para descobrirmos de onde vem todos esses sintomas. Ele ficará pronto em dois dias e aí conversaremos novamente. – Assenti. – Queira me acompanhar, por favor.

Depois de feitas as colheitas, marquei a consulta pra daqui a dois dias e segui para o carro. Peguei meu celular pra ver as horas e vi que tinha uma mensagem do Bieber.

“20h passo em sua casa.”

Quando cheguei em casa já eram 19h02 e eu corri para o banheiro. Precisava me apressar. Como estava frio e eu continuava um pouquinho indisposta, decidi optar pelo confortável. Uma calça jeans junto de uma blusa bordô e meus vans pretos. Deixei meus cabelos soltos e fiz uma maquilhagem simples. Espirrei um pouco de perfume e vesti meu sobretudo quando ouvi meu celular apitar. Peguei minha bolsa e desci para cozinha na intenção de tomar as vitaminas.

Dei boa noite ao porteiro e, como chuviscava, segui com o passo apressado para o Audi já bem conhecido por mim.

– Oi, Justin. – Falei assim que entrei e ele logo se aproximou para depositar um beijo no meu rosto.

– Oi, bebê. – Meu coração começou a bater forte contra o meu peito me fazendo soltar um suspiro.

O meu corpo sempre reagiria a ele de alguma forma.

Todo o trajeto teria sido feito em total silêncio se não fosse pelo rádio que tocava baixinho preenchendo o ambiente. Hoje seria o dia em que tudo iria ficar às claras. Hoje seria o dia em que eu decidia se voltaríamos ao que já fomos ou se seguiria em frente e esqueceria tudo o que tivéramos. Ambas as possibilidades faziam meu corpo tremer.

Justin entrou com o carro na garagem de sua casa para que não nos molhassemos e correu para me abrir a porta. Sua mão repousou na base da minha coluna e, diferente do que fiz no aniversário de Jaxon, eu não me afastei. Decidi que hoje aproveitaria cada sensação que o mesmo me tivesse disposto a disponibilizar. Até porque hoje poderia ser a última vez que eu as sentisse. Engoli a seco devido ao pensamento e, quando dei conta, já estávamos chegando na sala.

A iluminação da mesma estava sendo feita por velas, colocadas em lugares estratégicos da sala e da mesa, que largavam um cheirinho bom. Juntamente com a música calma que tocava baixinho, deixava um ambiente requintado e acolhedor.

Justin puxou a cadeira e indicou que me sentasse. Mesmo maravilhada com tudo aquilo, eu estava extremamente confusa. Jamais imaginei que ele fosse fazer algo assim e para mim. Tudo dentro de mim revirava, comprovando, mais uma vez, que, independente do que ele fizesse, meu corpo sempre desencadearia alguma resposta.

Mas o que ele quereria com tudo isto?  

Esta questão se repetia em minha mente me deixando com um pé atrás.

– Jantaremos primeiro, tudo bem? – Falou quando se sentou na minha frente e eu somente assenti.

O jantar decorreu normalmente, para minha felicidade. Nada de ambiente pesado no qual eu me sufocasse. Mesmo impaciente, fiz os possíveis para deixar a conversa fluir e contribuir para um ambiente considerado agradável.    

Peguei no garfo e, após levar um pedaço da carne até à boca, me forcei a engolir aquilo. Mesmo sem apetite eu tinha que comer algo. Dei conta que Justin notou aquele meu esforço e logo senti seus olhos questionadores sobre mim.

– Não está gostando? Posso mandar entregar outra coisa se quiser. – Neguei para que ele parasse.

– Não é isso. Está delicioso. Eu só… Tenho andado indisposta ultimamente. Sem apetite. – Notei um brilho em seus olhos, o que me deixou confusa, mas prossegui. –  Mas fui no hospital e foram me receitadas umas vitaminas. Em poucos dias meu organismo voltará a funcionar normalmente. Não é nada demais. – Peguei minha taça e beberiquei minha água.

Notei ele engolir a seco enquanto descansava os talheres no seu prato.

– Será que agora podemos conversar? – Falei um tempo depois. – Eu estou cansada e queria ir logo para casa… – Respirei fundo sentindo, um pouco, meu corpo mole. Ainda bem que não bebi vinho.

– Britney… – O interrompi.

– Por favor, sem enrolação. Eu estou te dando uma chance. A chance que você tanto pediu. Eu cedi então faça proveito dela. Esta é sua única oportunidade.

– Certo. Eu irei lhe contar tudo. – Sua mão serpenteou a mesa e repousou em cima da mim. Eu hesitei por alguns segundos, me questionando se afastaria a minha. – Só, por favor, não se afaste de mim. Independentemente da sua decisão, eu ainda quero você por perto. Eu já não consigo ficar sem você. Minha vida já não é a mesma. – Engoli a seco. – Minha intenção nunca foi magoá-la, Britney. Eu me importo muito com você.

– Mas você mentiu, Justin. Sobre tudo. – Sussurrei com a voz embargada. – Você me usou para que eu não desconfiasse. Para que eu não te entregasse e não estragasse os seus planos nem sua vida. Você me fez criar, na minha cabeça, uma pessoa que não existe. Você fingiu o tempo todo. Fingiu ser uma pessoa da qual eu me apaixonei mas, na realidade, nada era verdade. Tudo o que tivemos foi um nada.

– Não, baby. – Sua mão apertou a minha. Ele estava ficando agitado e, por isso, procurava tocar-me. – Não é bem assim. – Se levantou colocando-se ao meu lado e segurou meus braços. – Eu somente omiti algumas coisas, eu nunca te menti nem te usei. – Seu olhar penetrou no meu e era possível ver a dor refletida no seu olhar. – O que nós tivemos foi verdadeiro.

– Como você pode dizer isso se, enquanto estava comigo, ficava com outras? Foi você que estragou tudo, Justin! – Apertei os olhos e baixei o rosto. Aquilo era demais para mim.

– Amor… – Sua mão ergueu meu rosto, me fazendo o encarar de novo, desta vez de olhos marejados. – Eu só preciso que você escute tudo o que eu tenho para te falar. Eu vou contar tudo, eu juro. É algo bastante complicado e eu só não queria te envolver neste conflito. Já basta todas as pessoas inocentes envolvidas sem terem culpa alguma. – Suas mão seguraram o meu rosto. – Eu só estava tentando te proteger e não te afastar. Você precisa acreditar em mim.

– Eu não sei, Justin… Eu não sei se consigo confiar em você de novo. – Ele se levantou, dando uns passos para longe de mim e logo levou seus dedos até seus fios de cabelo, antes de esfregar o rosto com as palmas das mãos.

Seus olhos voltaram até mim e, eu suspirei, após analisar o seu rosto. Ele parecia arrasado com minha confissão.

– Eu vou lhe contar mas você tem que me prometer que não irá falar para ninguém. – Assenti quando ele se aproximou de mim novamente e segurou minha mão. – Há uns anos atrás, o meu pai era o presidente da “Bieber Media Business Inc”. A empresa estava no topo, era uma das melhores no ramo e as melhores marcas sempre nos procuravam. Todo esse poder subiu à cabeça dele. Jeremy esbanjava riqueza e luxo, dizia que tinha que fazer jus ao seu estatuto e, com isso, começou começou a frequentar os casinos dos seus amigos magnatas. No início, ele se deu bem e assim sua fortuna aumentara rapidamente. Abriu filiais pelo país e decidiu ingressar também no mundo noturno, acabando por investir em casas noturnas. A “3volution”, boate a qual nos voltamos a encontrar naquele mesmo dia, é uma delas e é minha. Meu pai me ofereceu quando consegui fechar um contrato importantíssimo. – Seus dedos começaram a brincar com os meus. – Mas seus dias de glória começaram a dar por terminado. Jeremy começou a perder no jogo e decidiu apostar os seus bens para quitar as suas dívidas. Perdemos todos os nossos bens. As filiais, nossas propriedades em Itália e França, jóias que estavam na família há séculos e até mesmo as boates, menos a minha que, por sorte, já estava em meu nome na época, tal como a sede da empresa. Ele encheu nossa família de dívidas e quase levou a Bieber Media à falência. E foi desde aí que eu me tornei o presidente. A primeira coisa que fiz foi pagar o resto das dívidas dele e fazer os possíveis e impossíveis para reerguer a empresa. Eu pensei que ele tinha deixado o seu vício pelo jogo mas, uns tempos mais tarde descobri que ele andava, novamente, desviando dinheiro da empresa mas, desta vez, também para consumo de substâncias ilícitas. Esse foi o momento em que decidi que daria um fim naquilo. Eu o retirei da empresa. Jeremy ficou revoltado quando descobriu e quase me matou. – Arregalei meus olhos. – Quando caiu em si, ele me pediu perdão e sumiu de nossas vidas. Foi então que minha mãe descobriu tudo. Não deu para esconder mais as coisas dela. Ela ficou destroçada. Nunca a tinha visto chorar tanto assim. Doeu tanto em mim a ver assim mas eu não pude fazer nada. – Baixou o rosto durante uns segundos. – Nós não tivemos notícias dele até uns meses atrás, quando ele apareceu na porta de casa jurando que estava limpo e longe dos jogos faz tempo. Jeremy parecia realmente bem e minha mãe, mesmo magoada com tudo o que ele fez, o aceitou sem hesitar quando viu meus irmãos abraçados a ele, chorando e pedindo para que ele não os abandonasse nunca mais. Só que, um mês depois, a casa dos meus pais fora invadida. Inicialmente pensamos que tivesse sido um assalto mas rapidamente descartamos essa possibilidade pois a casa estava toda revirada e nada tivera sido roubado. Um dia, quando estava saindo da empresa, três homens me abordaram e me ameaçaram, dizendo que eu morreria se não fosse com eles. – Engoli a seco. – Eles procuravam por Jeremy. Falavam de uma dívida que ele tinha e que já estavam fartos de todas as desculpas que ele dava. Eles ameaçaram matar a minha família. – Justin apertou os olhos por alguns momentos. – E disseram que ele tinha duas opções: ou ele pagaria a dívida até ao dia seguinte ou teria que fazer um serviço para eles. Sem pensar duas vezes, eu disse que pagaria a dívida por ele. Não queria que acontecesse nada com minha família. Mas, na hora, eles riram da minha cara. Jeremy tinha uma dívida tão grande que, mesmo se eu vendesse tudo o que tinha, não chegaria. – Falou raivoso. – Então perguntei sobre o serviço. Eles falaram que tinham um acordo com uns da máfia russa e conseguiram a planta do banco central de LA e que, se colaborassemos no assalto e tudo desse certo, a dívida ficaria quitada. – Fez uma pausa. – Eu não tive escolha, Britney. –  Suas mãos subiram para o meu rosto. – Você entende agora? Eu não tive escolha. – Falou nervoso e eu assenti sentindo, logo depois, seus braços em redor do meu corpo.  

– Me desculpe por ter dito todas aquelas palavras maldosas quando você foi lá no salão. – Falei com a voz embargada. – E-eu não sabia, eu pensei que… – Soltei um soluço e ele me apertou mais em seus braços.

– Shhh. – Fez carinho no meu braço. – Está tudo bem. – Funguei, erguendo o olhar fazendo nossos olhos se encontraram. – Em relação a Mallory… – Eu balancei a cabeça negativamente.

– Nós não tínhamos nada sério. Eu sei que fui idiota em te ficar cobrando por isso. Eu não tinha esse direito. – Tentei afastar seu corpo do meu mas ele não deixou.

– Não, Britney! Eu que sou um merda por não te respeitar. Mas eu juro, foi só inicialmente. Eu dei conta da pessoa maravilhosa que tinha ao meu lado e dei um fim em tudo. – Funguei sentindo meus olhos marejarem novamente. – Ela ficou com raiva de eu lhe ter dado um pé na bunda para ficar com você e resolveu fazer algo para me atingir. Mallory sabe que se eu não vou para empresa aos sábados é porque estou com você, ela só mandou aquela mensagem com uma única intenção: que você a visse e se afastasse de mim para que ela pudesse voltar a ficar comigo, mesmo sabendo que só seria alguém que eu usaria para me satisfazer. Nada mais. – Aproximou nossos rostos e roçou seu nariz na minha bochecha, fazendo um carinho gostoso. – Por favor, acredite em mim. 

– Justin... – Suspirei quando senti seus lábios esbarrarem nos meus. 

– Volte para mim.   

– Eu preciso de um tempo para assimilar tudo isto e... – Ele me interrompeu.

– Casa comigo, Britney. – Falou me olhando esperançosamente. 

– O quê? – Falei tremula pensando não ter entendido direito sua fala

– Casa comigo?