História Hold On - Reencontro.

Britney Butler

Me levantei assim que ouvi o alarme do meu celular soar no criado mudo. Passei o dedo na tela pra desligar o som que o aparelho emitia e caminhei até à grande janela, abrindo as cortinas de seguida, revelando uma sexta-feira ensolarada sobre Los Angeles. Eu amava esta vista que o meu quarto possuía sobre a cidade e se não tivesse que ir trabalhar, era capaz de passar todo o meu dia aqui.

Suspirei caminhando até ao banheiro e após fazer as minhas necessidades e higiene bucal, entrei no box para tomar meu duche. Não pude demorar muito senão acabaria por me atrasar então, depois de poucos minutos, retirei toda a espuma que estava pelo meu corpo e me enxuguei depois. Coloquei em cima da cama a roupa que usaria após vestir uma lingerie de renda nude e rapidamente voltei ao banheiro para secar meus cabelos. Depois de secos, os deixei soltos e com umas pequenas ondas naturais, e comecei a me maquilhar. Não gosto de nada exagerado então apliquei apenas um pouco de base, corretivo, rímel e um pouquinho de blush para me dar um pouco de cor. Algo bem simples. Vesti a calça jeans justa de lavagem clara e a blusa branca, calçando o salto nude antes de passar um batom rosinha nos lábios. Borrifei no pescoço e nos meus pulsos um pouco do meu perfume preferido, depois de colocar alguns acessórios, e peguei na minha bolsa, colocando lá o essencial, descendo, de seguida, as escadas do apartamento duplex, caminhando para a cozinha.

– Bom dia. – Falei assim que avistei Ryan tomando seu café da manhã e caminhei na sua direção beijando sua bochecha de seguida. – Já não devia estar no trabalho? – Perguntei após verificar as horas no relógio de parede. Era precisamente 8h06 e dificilmente ele está em casa a esta hora.

– Bom dia, Britney. Hoje entro mais tarde. – Me olhou sorrindo. – Mas estou indo para casa da Caitlin. – Piscou. 

– Meu Deus, vocês não se desgrudam. – Peguei numa maçã. – Porquê que não se juntam de vez? Assim poupavam no combustível. – Mordi a maçã e logo sua gargalhada preencheu os meus ouvidos.

– Isso são ciúmes, maninha? – Ergui minha sobrancelha o encarando e novamente a sua gargalhada preencheu o local. – Não se preocupe, continua sendo a minha princesinha. – Ryan insinuou se aproximar para apertar o meu nariz, como fazia quando éramos mais novos, mas eu me esquivei, o fazendo rir. – E uma das mulheres da minha vida.

– Para de viadagens, Ryan. Tens certeza que tens ido pra casa da Caitlin? – Terminei de comer a minha maçã e me levantei pra jogar o caroço fora, enquanto tentava segurar o riso pela cara que ele tinha feito. – Estou brincando, isso que você falou foi fofo. – O abracei pelos ombros e beijei sua bochecha. – Eu amo você e espero estar no topo "das mulheres da sua vida". – Me separei dele pegando minha bolsa.

– Estava, não está mais, querida irmã. – Lhe mandei meu lindo dedo do meio e peguei no seu copo que continha suco de laranja. – Também te amo. – Piscou desencadeando um revirar os olhos meu antes de bebericar um pouco, mas meus olhos bateram no relógio e quase cuspi o suco em cima dele.

– Nossa, já estou atrasada! – Pousei o copo na mesa e rapidamente limpei minha boca com o guardanapo.

– Bom trabalho, ex topo das mulheres da minha vida. – Falou assim que passei por ele saindo da cozinha com o passo apertado e revirei os olhos.

– Idiota! – Sussurrei enquanto abria a porta de entrada.

– Eu ouvi essa, Brit! – Ryan falou lá da cozinha.

– E era pra você ouvir mesmo! – Fechei a porta mas ainda consegui ouvir a sua risada e um "eu te amo, maninha", o que desencadeou um pequeno sorriso nos meus lábios.

Apressei o passo até ao elevador e dei uma corridinha quando vi que ele ia fechar, mas seguraram pra mim. Entrei e vi que era o casal da justiça, mais propriamente o senhor Sebastian e a senhora Penélope, um dos juízes e uma das advogadas mais renomados da cidade.

– Bom dia e obrigada, senhor e senhora Bell. – Sorri fraco e o senhor Sebastian assentiu, me cumprimentando, já a senhora Penélope abriu um largo sorriso.

Os Bell são bons vizinhos, os conheço praticamente desde que me mudei pra cá, há exatamente oito anos. Se demonstram bastante prestativos ao fazerem questão de nos ajudarem com as mudanças e desde então, criamos um laço entre vizinhos e várias vezes eles faziam questão de que fossemos jantar em sua casa. A senhora Bell sempre demonstrou o seu carinho por mim e já reforçou várias vezes a ideia de que me adoraria ter como nora ao me ver junto do seu filho mais velho. Isso tornou-se mais evidente quando os jantares se tornaram frequentes e apenas um dos irmãos estava lá. Eu comecei a sentir-me um pouco incomodada com tudo aquilo então recusar gentilmente os seus convites foi necessário antes que as coisas fossem mais longe, tal como ela queria.

– Bom dia, querida. Já não a via há algum tempo. Tem que ir um dia lá a casa pra pormos a conversa em dia. Marcar um outro jantar. – Falou animada e eu assenti.

– Pois é, tenho estado muito ocupada por causa da loja ultimamente. Mal tenho tempo livre pra outras coisas, mas quem sabe um dia destes... – Deixei a frase, não terminada, pairando no ar e logo as portas do elevador se abriram. Respirei aliviada e lhes desejei um bom dia trabalho me retirando apressadamente antes que eu fosse alvo de encontros novamente, mas não sem antes dar os bons dias ao porteiro. 

Apressei o passo até ao meu carro, o destravando rapidamente e em poucos segundos já estava fora do prédio, conduzindo em direção à loja, que, por sorte, não era assim tão longe. Após conseguir uma vaga, peguei minha bolsa e caminhei até à "Bridal Dreams". Assim que entrei, meus olhos captaram Samantha por detrás do balcão e esta verificava a agenda.

– Bom dia. – Parei junto dela e beijei sua bochecha. – Desculpe pelo atraso mas deu-se um milagre e meu irmão estava em casa hoje. – Gargalhei fraco antes de guardar minha bolsa no local reservado para esta.

– Tudo bem, não tem problema, até porque não estás assim tão atrasada e nem tens alguém que exija explicações já que a loja é tua.

– Não começa, Sam. A loja é nossa! – Enfatizei o "nossa". – Posso ter entrado com a maioria do capital mas a loja também é sua!

– Certo, nossa loja. – Sam sorriu e eu assenti.

– Isso mesmo, gatinha. Até porque se eu não tivesse você aqui comigo, nunca na vida conseguiria ter todo o sucesso que nós estamos tendo. Seus desenhos são maravilhosos! – A abracei de lado.

– Como se os seus também não o fossem. – Revirou os olhos. – Não é por acaso que as clientes escolhem seus modelos de vestidos.

– Nem vem. – Me separei dela sorrindo ao observar sua expressão. – Não tem como comparar uma recém formada a uma quase veterana no ramo. – Falei como se fosse óbvio e Sam gargalhou fraco.

– E você é recém formada por acaso? – Ergueu uma sobrancelha. – Que saber? Não está mais aqui quem falou. – Levantou seus braços em sinal de rendição enquanto ria. – Até porque, não quero ser taxada de veterana novamente pois me faz relembrar a minha idade. – Gargalhei negando com a cabeça.

Samantha é daquelas pessoas que não quer morrer sem viver e experimentar tudo aquilo que o mundo nos oferece e, segundo ela, estar quase a entrar na casa dos trinta, é sinônimo de fuga de momentos inesquecíveis.

– Mas então, o que temos para hoje? – Perguntei e ela pegou na agenda novamente.

– Bom, o dia hoje vai estar calmo. Temos apenas duas marcações agora de manhã: uma daqui a cerca de meia hora e outra às 10h30. E da parte da tarde, temos mais três, a não ser que venha mais alguém sem ter marcação, como costume. Temos que rever o sistema de atendimento e marcações senão ficamos sempre cheias de trabalho.

– Sim, temos que rever melhor esse assunto. – Concordei e ela assentiu.

– Hoje precisarei sair um pouquinho mais cedo do que a hora habitual de almoço. Tenho que pegar minha sobrinha na escola pois minha irmã está doente. Tudo bem pra você?

– Claro! Se tivermos alguém nessa hora eu dou um jeito pra que você possa sair.

– Obrigada. – Sorri e ela me abraçou. – Agora mãos à obra! Temos que arrumar as salas de provas e tudo mais pra deixar tudo pronto pra receber as noivas. – Assenti e começamos a preparar tudo.

– Bom dia! – Saudei alegremente quando vi um grupo de seis pessoas adentrarem na loja e caminharem na minha direção, até porque Sam atendia uma outra noiva.

– Olá, bom dia. – Uma mulher loira de estatura média falou sorrindo pra mim. – Temos marcação para as 10h30 para escolha de vestido apesar de já estarmos um pouquinho atrasados. – Deu uma risadinha nervosa.

– Não tem problema pois não estão tão atrasadas assim. – Ela assentiu enquanto sorria. – Você que é a noiva? – Assentiu novamente. – E qual é o seu nome?

– Stephanie.

– Então Stephanie, meus parabéns pelo noivado. – Sorri e ela assentiu simpática. – Quem veio com você?

– Meus pais, minha tia, minha irmã e minha melhor amiga. – Falou apontando para cada um deles.

– É um prazer conhecê-los e recebê-los na minha loja, agradeço imenso pela vossa preferência. O meu nome é Britney Butler e hoje irei vos ajudar neste momento especial para a nossa querida noiva. – Sorri. – Mas, sem mais demoras, vamos ao que interessa. Então, Stephanie, já tem algo em mente?

– Sim, eu quero algo mais pro tradicional e simples mas que tenha aquele toque especial, sabe? – Assenti pegando no tablet e fazendo umas pesquisas no estoque – O casamento irá se realizar na igreja da nossa cidade e será daqui a 6 meses.

– E qual será o orçamento?

– 2500$.

– Muito bem, vamos todos até à sala das peças. Quero que se sintam totalmente à vontade pra escolherem qual quer que seja o vestido. É claro que o pai também pode vir. Sua opinião será importante para a Stephanie, não é? – A encarei.

– Oh, sim sim! Papai, sua opinião é muito importante pra mim! Você sabe, temos os gostos parecidos e isso irá me ajudar bastante a decidir. – A noiva segurou as mãos do pai e o mesmo beijou sua testa.

Stephanie já tinha experimentado os seis vestidos que lhe tinham sido propostos pela sua família e uns outros por sua própria escolha, mas ainda não sentia que era o vestido.

– Bom, eu lhe trouxe este vestido. – Falei assim que entrei no provador com um vestido de manga comprida de renda branca trabalhada, decote discreto mas com uma abertura em U na parte das costas também com borda trabalhada. – É um pouquinho acima do orçamento mas eu acho que é a sua cara. Vamos experimentar e ver o que você acha? – Ela assentiu e a ajudei a vesti-lo.

– Meu Deus! – Levou suas mãos até sua face enquanto se encarava no espelho. – Este é perfeito! É exatamente como imaginava! – Passou seus dedos levemente por cima do tecido rendado branco e o admirava com os olhos marejados. – Eu amei!

– Vamos ver o que sua família acha? – Ela assentiu e caminhamos até à sala de provas onde a sua família a esperava ansiosamente.

– Você está linda, minha filha! – A sua mãe falou já visivelmente emocionada.

– Fica perfeito em você, Steph! – Sua irmã referiu.

– E que tal tornar a noiva numa verdadeira noiva? – Ajeitei o seu cabelo pra prender o véu e lhe entreguei um ramo de flores artificiais. – Que tal está a nossa noiva, papai? – O senhor estava parecendo imparcial a tudo mas vi sua muralha se desfazer assim que seus olhos caiam nela já aperaltada.

– A minha menininha está parecendo uma verdadeira princesa. Eu ainda não acredito que se vai casar. – Fungou tentando prender as lágrimas.

– Ah, papai. – A noiva caminhou com cuidado até ele e o abraçou. – Não chora senão vou começar a chorar também. – Ambos sorriram e eu os encarava sorrindo emocionada também, ao ver aquele momento carinhoso entre eles, que já não é algo novo para mim, mas que sempre me sensibiliza.

Estes é um dos momentos em que eu mais sonho na minha vida: Minha família reunida e me ajudando nos preparativos pro meu casamento. Mas é algo que ainda está muito longe de se concretizar, se é que se vai concretizar. Até porque para isto me acontecer, é preciso eu amar verdadeiramente alguém e, desde que ele me deixou, os muros estão erguidos em volta do meu coração pra não deixar mais ninguém entrar e quebrar tudo de novo.

Suspirei ao ouvir que aquele era sem dúvidas o vestido que Stephanie escolheria e, de seguida, agendámos as próximas provas do vestido. Seriam três provas e a última delas seria na antevéspera do casamento para que tudo estivesse perfeito.  

– Brit. – Sam chamou por mim assim que os clientes se retiraram da loja. – Preciso ir. – Assenti vendo logo depois ela pegar sua bolsa.

– Dê as melhoras pra sua irmã. – Sorri antes de receber o seu abraço.

– Obrigada, lhe direi! Até depois.

– Até, beijos. – Ela deixou um beijo no ar e logo se retirou, me deixando com um sorriso nos lábios.

Peguei no vestido de Stephanie pra guardá-lo na sala das reservas e logo comecei a guardar todos os outros vestidos que foram utilizados durante a prova, nos seus respetivos locais.

Caminhava de um lado pro outro com vestidos pendurados em mim e, assim que guardava os últimos, ouvi barulhos vindos da porta principal o que indicava a entrada de alguém.

Saí apressadamente da sala, caminhando pra receção mas logo parei assim que os meus olhos pousaram num homem de respiração ofegante e de mochila masculina nas costas, que olhou ao seu redor antes de se encostar na parede e deslizar por ela abaixo cabisbaixo. Era alto, possuía cabelos loiros e apesar de seu corpo estar coberto por roupas, era possível verificar que este apresentava um bom porte físico. Algo dentro de mim tremeu quando decidi dar um passo em frente mas logo respirei fundo e caminhei na sua direção. Quando cheguei junto dele me ajoelhei na sua frente e falei:

– Está tudo bem com você? Posso lhe ajudar em algo? – Meus olhos percorreram todo o seu corpo procurando por algo de errado mas tudo me parecia bem.

Este, ao ouvir minha voz, ergueu lentamente a sua cabeça e passou a me encarar profundamente com os seus olhos cor de mel, fazendo um friozinho surgir na minha barriga. Mas não fui capaz de sustentar por muito tempo o nosso olhar e logo meus olhos passaram a analisá-lo. Seus lábios, que estavam entreabertos enquanto tentava estabilizar a respiração, me parecem ser macios e seus cabelos loiros estavam bagunçados de uma maneira um tanto que sexy, o deixando mais atraente.

– Me desculpe ter entrado deste modo na sua loja mas não tive outra opção senão entrar aqui. – Seu tom de voz rouco me despertou e senti minhas bochechas esquentarem um pouco devido a tais pensamentos.

– Não tem problema, afinal pode entrar aqui qualquer pessoa. – Dei uma risadinha tentando aliviar o ambiente em que estávamos inseridos. – Mas você está bem? Lhe aconteceu algo? – Murmurei ao voltar a ver a linha de suor formada em sua testa.

– Estou bem, obrigado. Estavam me seguindo pra tentar me assaltar e minha única solução foi entrar aqui pra despistar. – Minha boca se abriu em espanto.

– Meu Deus! Pelo menos não conseguiram fazer nada com você. – Ele assentiu. – Los Angeles está cada vez mais perigosa, infelizmente. – Desabafei suspirando. – Você quer que eu ligue pra polícia pra você ir fazer queixa? – Ia me levantar decidida a ir pegar meu celular mas ele segurou meu braço me impedindo.

Uma sensação estranha me percorreu quando senti seu toque e ele pareceu sentir o mesmo pois logo tratou de me soltar.

– Não precisa, não aconteceu nada comigo e eu nem vi o rosto de quem quer que fosse. Não ia adiantar de nada, apenas iria fazer os policiais perderem o seu tempo. – Ele se levantou e estendeu a sua mão pra me ajudar a levantar também e assim o fiz, arrumando minhas roupas depois. – Bem, preciso ir... – Ajeitou a mochila nas suas costas.

– Mas não é perigoso você sair daqui sozinho? Eles ainda podem estar à sua procura e... – Me interrompeu antes de soltar um sorriso pela minha preocupação. 

– Eu liguei a um amigo e ele já deve estar aí fora me esperando, não se preocupe. – Sorriu novamente me fazendo sorrir também mas logo senti minhas bochechas esquentarem mais uma vez, quando notei que ele me secava. – Assim sendo, até mais! – Deu as costas e eu suspirei, vendo ele caminhar até à saída. Ele é bem bonito!

– Hey, espera um pouco! – As palavras me escaparam da boca assim que ele está prestes a passar pela porta. Este girou os calcanhares e me encara enquanto me aproximo dele. – Posso saber qual é o seu nome? – Ele continua me encarando por uns segundos mas logo dá um sorrisinho e caminha na minha direção. Sem dar conta, já estou mordendo de leve meu lábio e o seu sorriso aumenta, me fazendo desviar o olhar ao sentir minhas bochechas esquentarem.

– Justin e o seu? – Com o coração acelerado, volto meu olhar novamente para o seu, logo após ouvir sua voz, e são precisos poucos segundos para me perder nos seus olhos.

– Britney.