História Hold On - Distância.

Britney Butler

Sentia minhas mãos tremerem e as pernas bambas. Era muita informação para um único dia. As lágrimas que eu insistia em prender se acumulavam cada vez mais em meus olhos. Eu estava desesperada.

–  Babe, onde estás? –  Sua voz foi quase que como uma ordem e fez com que minhas lágrimas fossem começando a ser libertadas. – Minha mãe ligou e disse que passaria aqui ainda hoje. Você não se incomoda com isso, não é? – A sua voz ia aumentando à medida em que se aproximava.  Não consegui segurar e um soluço escapou na minha boca.  – Britney, estás a ouvir? – Parou na porta do closet. – Hey, está tudo bem? – Se aproximou assim que me viu com as mãos no rosto. – O que aconteceu? – Vi de canto de olho que iria me tocar então logo me afastei.

– Não toca em mim! – Peguei na calça a vestindo rapidamente e coloquei uma blusa qualquer.

– O que está acontecendo, Britney? Você está tremendo. – Perguntou se fingindo de preocupado e ri da cara dele.

– Para de fingir! Para! Chega de mentiras. – Falei alto. – Eu descobri tudo, Justin. Não precisas mais fingir. Vai lá para a empresa comer a sua secretária e me deixa. – A esta altura eu já não conseguia segurar as lágrimas.

Vesti a blusa rapidamente e tentei sair só que ele não deixou, segurando em meus braços.

– Britney… – Falou manso. – Não é nada do que você está pensando...

– Oh, sério? – Perguntei ironicamente. – Então todos aqueles documentos e fotos ali também não são nada do que eu estou pensando? Não queira me fazer de idiota mais uma vez, Justin! – Suspirei. – Eu não acredito que você fez isso. – Neguei. Vi ele desviar o olhar para onde eu apontei e foi aí que eu aproveitei pra sair correndo.

Desci as escadas rapidamente e antes de sair peguei minha bolsa que eu tinha deixado no sofá no dia anterior. Quando abri a porta principal ouvi Justin chamar meu nome o que me fez apressar o passo e apertar a bolsa contra mim.

Eu estava lavada em lágrimas e me sentia atordoada. Meu coração doia tanto que se pudesse, eu o arrancaria para que esta dor que se estava tornando insuportável parasse. Eu fui tão idiota por me entregar novamente a alguém.

Passei pelos portões e os seguranças presentes me olhavam com uma expressão de interrogação mas eu somente apressei ainda mais o passo e não olhei para trás. Os chamados de Justin ecoavam dentro da minha cabeça a fazendo latejar. Eu não quero mais ouvir sua voz.

Comecei a correr quando vi um ônibus ao final da rua. Entrei rapidamente e as portas logo se fecharam. Me acomodei em um lugar junto da janela soltando os soluços que prendia. Olhei para trás e vi Justin chutar o ar e logo depois puxar seus fios de cabelo quando o ônibus se começou a movimentar. Eu não acredito que ele apenas me usou para seu benefício. Apertei os meus olhos e as lágrimas desciam em abundância. Eu só queria chegar em casa o mais rápido possível.

Procurei meu celular na minha bolsa mas logo me praguejei lembrando que o deixei no criado mudo. A minha vida é uma desgraça.

Depois de um bom tempo naquele ônibus, sai na paragem a três quarteirões de minha casa. Algumas pessoas que passavam por mim me olhavam torto, talvez pela minha vestimenta mas eu nem estava ligando. Uma BMW parou junto a mim me fazendo apertar ainda mais meu corpo e apressar o passo. Mas parei assim que reconheci a voz de quem chamava meu nome.

Quando viu meu estado, me deixei ser abraçada e mais lágrimas desciam pelo meu rosto. Christian não percebia nada do que estava acontecendo mas também não questionou pois notou que eu precisava de um tempo pra me acalmar primeiro, então somente me colocou no banco do carona e saiu catando pneu.

Percebi ele ir pro lado contrário de onde eu morava mas não falei nada e continuei observando a paisagem. Eu precisava mesmo me afastar de todos e tenho certeza que Justin me procurará na minha casa. Encostei minha cabeça no vidro e fechei meus olhos. Só voltei a abrir quando senti o carro parar. Estávamos no estacionamento subterrâneo de um prédio. Dei impulso para o meu corpo se locomover quando Chris me abriu a porta e logo me conduziu até ao elevador. Saímos no vigésimo andar e entramos no apartamento número quarenta. O cheio masculino entranhou nas minhas narinas, quando entrei, e a decoração em tons neutros e escuros me fez afirmar de que aquilo seria seu. Ele me levou até a um quarto e disse pra eu tomar um banho enquanto ele iria preparar alguma coisa para almoçarmos. Retirei as minhas roupas quando entrei no banheiro e depois de temperar a água entrei no box. Fiz de tudo para não soltar soluços mas foi impossível. Eu sentia uma dor tão grande que, à medida que as lágrimas desciam, a sonoridade dos soluços aumentavam, me fazendo tapar a boca pra tentar abafar-los e Chris não ouvir. Eu nunca me senti tão destruída assim.  

Quando consegui me acalmar um pouco, tomei meu banho normalmente e tentando pensar no que eu faria. Qual ação eu tomaria em relação ao que eu vi. Eu me sentia perdida.

Voltei para o quarto e vi uma cueca boxer ainda com a etiqueta e uma blusa grande em cima da cama. Depois de vestida, sai do quarto e caminhei pelo corredor indo de volta para a sala de estar vendo Christian relaxado no sofá. Me sentei ao seu lado e descansei minha cabeça no seu ombro, sentido logo depois seus braços me rodearem. Não falamos nada mas depois de desfazermos do abraço Chris pediu para que lhe contasse o que tivera acontecido. Respirei fundo e contei somente que estava me envolvendo com Justin e o mesmo havia me traído com a secretaria, omitindo a outra parte. Ele ficou surpreso de início e logo depois com raiva mas pedi para que se acalmasse e trocássemos de assunto. Ele concordou e iniciou um assunto qualquer para tentar me distrair. O que deu certo pois no final de um tempo eu já estava gargalhando e ele orgulhoso por conseguir me arrancar um sorriso sincero.

– Obrigada, Chris. De verdade. – Falei o encarando. – Obrigada por ser o meu alicerce neste momento. Sinceramente, eu não sei o que faria se você não tivesse aparecido. Eu me sinto sem chão, no meio do escuro sem saber o que fazer, pra onde ir e estar aqui com você meio que ameniza a dor. Obrigada por ser você, Christian. Por continuar do meu lado.

– Eu sempre estarei aqui pra você, Britney. – Colocou uma mexa do meu cabelo atrás da orelha. – Sempre. – Vi seu rosto de aproximar do meu e eu suspirei.

Sua mão acariciou o meu rosto me fazendo fechar os meus olhos e logo nossa respiração se misturou. Seus lábios tocaram de leve nos meus mas logo os braços de Chris rodearam o meu corpo e me puxaram para si, juntando mais nossos corpos antes de aprofundar o beijo. Mas quando nos apercebemos o que estávamos fazendo rapidamente nos separamos. Ambos estávamos confusos tentando entender o porquê de aquilo ter acontecido.

– Britney… – Ele tentou argumentar mas eu o interrompi.

– Não precisa se desculpar, ambos erramos, Chris. – Ele suspirou. – Foi coisa do momento. Não o deveríamos ter feito mas agora já não há nada a fazer.

– Tem sim. Podemos fazer de novo. – Chris me olhou com um sorriso de canto e eu lhe dei um tapa no braço antes de rir.

– Você não presta, Christian Jacob!

– Ei, eu estava brincando! – Retorquiu enquanto passava a mão no local em que eu lhe acertei. – Até porque foi estranho. – Completou. – Foi quase como se eu estivesse beijando minha irmã, bleh. – Ri da careta que ele fez mas assenti concordando.

– Vamos só esquecer. Como se não tivesse acontecido.

– Claro! E vamos deixar para relembrar quando estivemos bêbados. – Ele piscou e eu gargalhei antes de lhe dar outro tapa no braço. – Caralho Britney, que mão pesada. Eu estava brincando.

– Se você não falasse essas idiotices, estaria intacto. – Dei a língua e na hora a campainha tocou o fazendo levantar.

– Você nunca ouviu dizer que quem faz isso quer beijo? Está se contradizendo. – Ele gargalhou seguindo pra porta e eu revirei os olhos.

Antes de chegar na porta, Chris pediu para que fosse pegar nossa bebida na cozinha pois nossa pizza tinha chegado. Segui as suas orientações e peguei a Coca-Cola e dois corpos. Mas logo meu corpo petrificou quando ouvi aquela voz.

– Cadê ela, Chris? Caralho, eu sei que ela está com você. Me deixa entrar eu preciso falar com Britney, porra! – A sua voz demonstra mais nervosismo e medo do que raiva. Fechei meus olhos com força e desejei que me tivesse teletransportado quando abrisse os olhos, o que obviamente e infelizmente não aconteceu.

– Cara, vai embora. Não tem aqui ninguém. – Chris falou e eu me aproximei para os observar. Chris fazia barreira tentando tapar a passagem e Justin parecia que o iria abater a qualquer momento.

– Ela está aí sim, eu sei que está. Senão porque você estaria barrando minha passagem? É óbvio que ela está aqui. Pra onde mais ela iria se não está em casa nem com Samantha? – Rangeu os dentes. – Sai da frente, caralho. – Justin empurrou Chris e o mesmo se desequilibrou dando oportunidade para ele entrar.  

Rapidamente me tentei esconder mas como sou bem desastrada deixei cair um dos copos o que me fez praguejar. Felizmente nenhum dos estilhaços me atingiu.

– Britney? – Ergui meu olhar e este foi de encontro com o seu. Eu neguei com a cabeça quando o vi se aproximar de mim e no instante ele parou me olhando apreensivo. – Britney, por favor, vamos conversar. Me deixe explicar o que realmente aconteceu. Me deixe tocar em você. – Neguei novamente quando ele avançou. Só que desta vez ele não parou o que me fez dar passos para trás. – Cuidado! – Justin praticamente gritou me chamando à atenção, o que me fez olhar para trás e baixar o olhar, vendo alguns dos estilhaços perto do meu pé.

Neste meio instante ele aproveitou-se para se aproximar e quando dei conta, Justin já tinha me colocado sentada em cima da mesa e encontrava-se entre as minhas pernas. Abracei a mim própria e me encolhi, engolindo o choro.

– Justin, vai embora. Ela não está bem. Lhe dá um tempo. – Chris falou encostado no batente da porta, chamando à atenção de nós dois.

– Ir embora? Pra que? Pra você se aproveitar e dar em cima dela, seu filho da puta? Pensa que eu não sei suas intenções? – Justin falou raivoso e ameaçou ir ao seu encontro mas eu o agarrei, tentando o impedir.

– Eu não sabia que vocês estavam juntos, soube há pouco tempo. Pra mim, mulher de irmão meu é homem. Eu nunca teria tentado nada se soubesse. – Ouvi um rosnado do meu lado.  

– Justin… – Falei tentando o fazer olhar pra mim mas não obtive resultado. Então levei minha mão até o seu rosto e logo tive direcionados pra mim seus olhos. Suspirei tentando conter as lágrimas. – Tudo bem, vamos conversar. Mas não quero brigas entre vocês dois por minha causa.

– Eu não quero brigar, só quero proteger você, Britney. – Christian falou me fazendo o olhar. – Eu descobri o que sinto por você e não quero te ver sofrer. Eu te amo e farei os impossíveis para que você esteja esteja bem. Pra que você seja feliz. – Sorri fraco para ele entendendo suas palavras pois eu também sentia o mesmo. Eu o amava da mesma forma e intensidade que amava Ryan, e ele me amava igualmente como amava Caitlin. Era um amor puro. Um amor de irmãos. Notei a respiração de Justin acelerar.

– E você tem coragem de dizer isso na minha frente, seu filho da puta? Não tem medo de morrer? – Falou raivoso e logo travou o maxilar.

Decidi intervir antes que Justin fizesse algo que não devesse. Tentei descer da mesa mas no instante que me mexi uma das mãos de Justin vieram de encontro do meu quadril não deixando levar o meu objetivo avante.

– Justin, para com isso. Vai embora, por favor. – Falei chorosa e ele me olhou. – Eu sei que tinha dito que iríamos conversar mas na verdade já está tudo esclarecido, não é mesmo? – Funguei. – Você não precisa se explicar. Eu não irei te cobrar nada pois nós não tínhamos nada sério. Eu sei disso. – Limpei rapidamente a lágrima que percorreu o meu rosto. – Caso tenha vindo por causa do outro assunto, não se preocupe. Eu… – Suspirei. –  Eu não irei falar pra ninguém o que vi. Mas em contrapartida eu não quero te ver nunca mais. Quero distância de você. Eu estava tão cega com o que nós estávamos tendo que não via o que estava à minha volta e você se aproveitou disso desde o começo. Sinceramente você foi uma desilusão. Eu nunca pensei que você descesse tão baixo. Eu nunca pensei isso de você. Vindo de você. – Ele abriu a boca várias vezes mas não falou uma palavra que fosse. – Então, por favor, vai embora. Já não precisa fingir nada. Vai embora e nunca mais me procura. – Ele engoliu a seco.

– É isso mesmo que você quer? – Justin me encarou e eu pude ver em seus olhos um pouquinho de esperança de que a minha resposta fosse negativa.

– Sim. – Pisquei fazendo com que lágrimas começassem a descer e rapidamente saí dali, entrando num quarto qualquer.

Tranquei a porta e me joguei na cama. As lágrimas começaram a descer cada vez mais e os soluços a escapar da minha boca, me fazendo agarrar o travesseiro e apertar os olhos com força.

Não, não era aquilo que eu queria mas era o certo a se fazer. Eu não aguentaria. Eu não tinha forças pra suportar tudo. Eu não tenho forças para cultivar um amor vindo somente da minha parte nem para esquecer tudo o que vi naquelas fotos e documentos. Eu fui tão idiota por não associar aquilo que eu suspeitava a ele. Por não ter prestado mais atenção e descobrir mais cedo que Justin fora um dos que assaltou o banco central de LA meses atrás.