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História Hope (HIATUS) - 1


Escrita por: caploom

Capítulo 1 - 1


Fanfic / Fanfiction Hope (HIATUS) - 1

           Seul, Coréia do Sul

Um silêncio enorme ecoava na mente da garota naquele momento. A sensação de calafrios passava por seu corpo sem parar, causando em si uma sensação de febre e frio. Ela queria se aquecer, mas sentia que era impossível conseguir completar tal ato após várias tentativas falhas de possuir calor, abraçando o próprio corpo com força e maestria.

Sua pele continuava gélida. Sensações desconexas, como se agulhas fizessem perfurações em cada centímetro de seu corpo. Sentia batuques na cabeça, como se usassem palhetas de bateria para obter som. Sua audição logo foi preenchida por um estranho zumbido agonizante, levou as mãos até as orelhas, apertou o crânio enquanto jogava o corpo para trás, o "zum zum zum" ficava cada vez mais intenso e fino. Lágrimas caíam dos olhos puxados da jovem de cabelos longos, sussurrava para que parassem, implorava para que acabassem com aquilo.

Virou para o lado e fechou os olhos com extrema força, levava a cabeça para um lado e para o outro, batendo-a na cabeceira da cama de madeira herdada de sua avó. Começou a ouvir um barulho além do zumbido, era o barulho da cama se chocando contra a parede. Mas ainda assim não conseguia ouvir sua própria voz chorosa, pedindo para que a tortura fosse encerrada. 

Seu corpo antes tão gélido, foi possuído por um calor constante, sentia como se chamas estivessem ao redor de si, como se estivesse tão quente a ponto de explodir a qualquer momento. Deu um grito alto disfarçado de gemido e se jogou na cama, a ponto de notar a madeira abaixo do colchão bater contra suas costas. Se contorceu desconexamente, seu peito subia e descia rapidamente, seus braços ficavam dobrados, revezando entre a cabeça e o tronco, o suor escorria de sua testa, já sentia seu cabelo molhado e aos poucos grudar-se na testa. 

Semicerrava os dentes com força, gritando com vontade à procura de uma saída para a dor que estava lhe torturando. Levantou de uma vez só sem ter espaço, caindo no chão do quarto bem iluminado ao qual se encontrava. Continuou caída pelo carpete, tendo a visão do chão embaixo da cama após abrir os olhos. Gemia alto, rolava de modo torturante, debatia-se no carpete, mordia os lábios e a língua com força, puxava os próprios cabelos com força sabendo que estava descabelada. Morgou-se para o lado e manteve os olhos abertos olhando para baixo da cama. Não piscava, apenas respirava ainda sentindo as dores e o mesmo zumbido. Era doloroso, mas sabia que se debater pioraria, então decidira tentar se conter.

Viu então, pés do outro lado do quarto ainda por debaixo da cama, e sua respiração, por mais que fosse quase impossível, se acelerou ainda mais. A pessoa parecia se aproximar dela, ela por si tentou se levantar, tentou se mexer, mas quando achou que conseguiria, sentiu uma forte pontada no peito fazendo-a soltar um grito tão alto a ponto de poder acabar com qualquer garganta. Chorava muito, seus pedidos saíam roucos demais e as lágrimas não paravam de escorrer um só segundo. Ela viu, as pernas se aproximavam; a pessoa parou, parecia analisar a menina que logo fechou os olhos por dor e medo.

Ela sentiu um vento frio em seu rosto, podia dizer que era bem gélido, sentiu sua respiração se normalizar, o zumbido ficou baixo, tão baixo a ponto de desaparecer, então, abriu os olhos com cuidado e viu que estava sozinha. Entendeu que talvez fosse o medo que a fizera criar imagens inexistentes na cabeça. Se apoiou e colocou força para se levantar, mas assim que ficou em pé, jogou-se na cama. Se sentou encostando-se na cabeceira e ficou parada olhando para a tintura creme do quarto. Não movia um músculo sequer. A sensação de vazio lhe incomodava, mesmo que por dentro ainda gritasse com vontade e dolorosamente.

Sua garganta seca lhe dava vontade de tossir, mas nem para isso ela tinha forças. Posicionou o tronco para frente com muito cuidado para não piorar a dor que sentia em todo o abdômen, respirou fundo lentamente, ouvindo o barulho de rouquidão ocupar suas entranhas, sugou todo o ar que fosse possível para seus pulmões e forçou-o para fora, em seguida, tossindo duas vezes com vontade. Sentiu suas cordas vocais doerem como se tivessem sido arrancadas, e a sensação de ardência logo ocupou a garota, levou as mãos até a boca e começou a respirar com rapidez desta vez. Arregalou as órbitas esverdeadas ao ver a pele branca da palma de sua mão dar espaço ao líquido avermelhado. Sabia que era sangue.

Logo seu corpo lhe forçou a tossir contínuamente, de forma desesperada, logo percebeu que os lençóis de sua cama estavam completamente sujos pela cor de rubi que viera de dentro de si. Sentiu sua cabeça cambaleando e toda a sua visão se tornou terrivelmente embaçada. 

Saki perdera a consciência pela quarta vez aquela madrugada.

A menina levantou as pálpebras com tanta lentidão que suspeitou nunca ter sido tão devagar em toda sua vida resumida em dezessete anos. A voz masculina mas não grossa lhe chamava a atenção por poder ser ouvida tão perto, mas tão distante ao mesmo tempo, como se ecoasse vagarosamente em sua mente.

Abriu totalmente os olhos e suspirou ao ver cabelos escuros bem conhecidos, desceu a visão até o rosto pálido totalmente preocupado. Seu irmão Jimin a olhava intensamente, aparentemente se encontrava extremamente tenso ao ver que sua pequena irmã mais nova estava desacordada e sozinha em seu próprio quarto.

— Haneul, Saki! — abraçou a garota com tanta força que por um momento a mesma desconheceu o próprio irmão mais velho. — Você quase me deixou doido! Pensei que não acordaria! — aquietou a voz por alguns instantes fitando os olhos claros da menina a sua frente. Tão inocente. Jimin sabia dos problemas que a pobre passava e tentava se por ao seu lado sempre que podia ajudá-la de alguma forma. — Pensei que... Pensei que teria que chamar nosso Appa.

Saki suspirou. Sabia do medo que ambos tinham em relação ao próprio pai. Sabia que seu pai era um completo ranzinza que não sabia lidar com as crises as quais tinha que enfrentar graças à única filha mulher a qual era responsável. De qualquer forma, se sentia calma ao saber que o homem mais velho não estava em seu quarto a repreendendo pelo "pequeno" mais novo ataque. Agradecia por estar apenas na presença de Jiminie, como carinhosamente costumava chamar seu melhor amigo, seu irmão.

Jiog! Diga algo. Por que está tão calada?! — ele se desesperou mais uma vez, estava pior que a menina, estava ansioso por alguma palavra, precisava saber como ela se sentia depois da agonia a qual passou.

— Eu estou bem, Jimin! — ela não aguentava. Não aguentava mais a forma como todos a tratavam, como se ela fosse alguém que realmente precisasse de uma ajuda oposta. Sabia que ele estaria ali por ela sempre que a mesma precisasse, mas não era capaz de entender o porquê de não conseguir ver tudo como pena.

— Eu me preocupo com você! Acha mesmo que é normal cuspir sangue e em seguida perder a consciência como acontece com você todos os dias?!

— Não cuspi. Eu tossi sangue! — a doce jovem murmurou sem ter a intenção de ser ouvida, mas logo o mais velho a olhou com repreensão. Suspirou. — Não acontece todas as noites, pare de ser tão dramático!

Jiog!

— Pare de ser assim. Pare de dizer isso, é uma palavra horrível! — o garoto de cabelos lisos e escuros bufou enquanto revirava os olhos com cuidado.

— Pare você de ser assim. Não é como se estivesse tudo bem!

— Eu sei... — a garota ajeitou a coluna sobre a cabeceira da cama, tombou a cabeça para trás e engoliu uma boa dose de saliva juntada. Sentiu uma mão passar suavemente em seus cabelos compostos por fios finos, mas não tão escuros quanto os do resto dos integrantes de sua família paterna.

— Posso te ajudar agora te dizendo que vai ficar tudo bem. — Saki abriu os olhos fitando o garoto.

— Como pode dizer que vai ficar tudo bem? E por que vai ficar tudo bem? — questionou totalmente confusa, era a primeira vez que ele dizia algo assim, por mais incrível que parecesse.

— Porque estou aqui por você. — sorriu após responder a menina que mais amava. A jovem esticou os braços e se aqueceu em um abraço demorado e aconchegante, suspeitavam ser um abraço até mais intenso que um com sentimento materno, embora Saki não tivesse ideia de como era receber o abraço de uma mãe carinhosa, já que Luna, sua mãe, havia abandonado a família quando Jimin tinha quatro anos e Saki não passava de um pequeno bebê de um ano de vida. 

Jimin mal se lembrava de como a mulher era, sabia que a mesma era viva e vivia em um país bem distante da Coréia do Sul com seu ex-amante e provavelmente atual marido, mas simplesmente não fazia questão de saber o nome do local onde a traidora residia. Não deve ter sido um problema para ela viver longe, já que a mesma não era Coreana, nem mesmo oriental. Era italiana de descendência portuguesa e dinamarquesa. O que sabia da aparência da mesma, era que era uma bela mulher de estatura mediana, corpo magro, cabelos castanhos claros e olhos extremamente azuis. O que fez com que a pequena Saki nascesse com olhos verdes, um cor bonita, mas tão diferenciada em questão às íris das pessoas do país ao qual pertencia.

— Estar fora da cama a este horário é a afronta número um à mim. — os irmãos se soltaram olhando diretamente para a entrada do quarto. Senhor Park Kwan olhava para seus únicos filhos de forma fria e dura. Ainda revestido por suas roupas casuais e escuras, sua idade, cinquenta e dois anos, era substituída por sessenta e dois, pois sua face carrancuda fazia parecer isso.

Abeoji! — Jimin logo se levantou, fazendo uma grande reverência com a cabeça em direção a seu pai. — Vim dar boa noite para minha irmã, já estava indo deitar-me.

— Já passa das duas horas da madrugada, Park Jimin! — o garoto engoliu seco. Engoliu seco pois sabia que quando seu tão temido pai pronunciava seu nome inteiro, era por já estar impaciente ou com extrema vontade de colocar alguém contra a parede. — Ela teve outra crise relacionada à aquelas maluquices sem fundamento, não é mesmo?

— Não, appa! Eu estou bem! — Saki falou alto. Seu pai a olhou imediatamente. Ela se encolheu.

— Quando essas suas baboseiras acabarão, Park Saki? — era a vez da garota ser chamada pelo nome todo. Se tremeu e logo agarrou o braço de Jimin, se escondendo atrás do mesmo.

— Não perca seu tempo com isso, appa. Ela já está indo dormir. — o menino de vinte e um anos defendeu a irmã, vendo que ela apertava o corpo contra suas costas. — Temos negócios importantes para tratarmos mais tarde, o senhor deveria estar em sua cama, descansando.

— Não me diga o que eu devo ou não fazer, sonyeon! — Jimin abaixou a cabeça. — E você Saki — apontou para sua filha mais nova. —, ficará no quarto até que eu a deixe sair.

Os irmãos Park arregalaram os olhos puxados no mesmo instante. A menina se desesperou ao lembrar que seu appa não costumava brincar com as palavras. Suas mãos apertaram ainda mais o braço do menino a sua frente, e ainda sem perceber, escondeu o rosto em suas costas largas, sentindo que o mesmo tinha a respiração acelerada e seu coração podia ser sentido, estava batendo bem rápido, ele estava tão desesperado quanto ela, mas sabia que daquela vez nada poderia fazer para ajudá-la.

— Mas, appa... — ele tentou intervir, mas seu pai o interrompeu bruscamente mandando-o se calar e sair do quarto consigo. Olhou para sua irmã mais nova e retirou suas mãos pequenas e delicadas de seu braço, seu olhar de pena doía sobre a visão da menina, a mesma engoliu seco olhando para baixo entristecida.

Jimin se distanciou alguns passos, mas para Saki era como se ele já tivesse andado quilômetros de distância. Ele parou ao lado do homem alto com o rosto composto por rugas e marcas de expressões e suspirou olhando para os próprios pés.

— Durma. Faça pelo menos algo de normal por hoje. — foram as últimas palavras do Senhor Park antes que saísse do quarto arrastando seu filho mais velho consigo, fazendo com que o mesmo nem conseguisse dar uma última olhada para a irmã que tanto era apaixonado.

Saki sentou-se na cama cautelosamente segurando as lágrimas que brotavam em seus olhos os enchendo de líquido. Ouviu a porta ser trancada e fechou as pálpebras com força. A água salgada escorreu pelo seu rosto cor de papel nunca usado.

A única coisa que se passava em sua cabeça naquele momento era Jimin.

Ele havia dito que estaria lá por ela. Por um momento ela pensou que isso realmente fosse acontecer.


Notas Finais


Palavras em Coreano citadas:

Appa = Papai
Haneul = Céus
Jiog = Inferno
Abeoji = Pai
Sonyeon = Garoto


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