História Hope - Lembranças de um passado não tão distante

“Eu realmente podia sentir aqueles olhares sobre mim. Cada um tinha um pensamento distinto, disso eu também estava ciente, mas eram meus irmãos, da mesma maneira, cuidaram de mim, me salvaram de um caminho sombrio. Agora eu era um deles, eu era uma Uchiha.

Meus lábios se fecharam, secos. O suor escorria pelo vale nas minhas costas, o cabelo grudava sobre a testa, realmente o dia estava quente. Por algum motivo vinha me sentindo sufocada, não pela baixa umidade, mas sim sentimentalmente, eles começaram a me cercar e disputar algo que eu nem sabia se era certo.

Fora nesse dia em que decidi dar uma escapada do acampamento, minhas pernas me guiavam para qualquer lugar, mas meu cérebro dizia já conhecer o caminho. Em meio aos galhos, folhas e pedras sobre o solo seco, encontrei uma estrada. Minha curiosidade, sempre se sobrepondo à inteligência, me fez guiar em direção ao final dali.

-É a cidade... -Fiz como meus irmãos ensinaram, fiquei escondida, tomando cuidado para que ninguém notasse a minha presença.

Havia ido ali, pela última vez, alguns anos atrás. Meus olhos se encantaram com todo o colorido de um tecido que se erguia do chão ao topo de uma haste de metal, formando algo parecido com uma pirâmide. Ao lado de fora, um enorme letreiro pintado à mão, tinta desbotada, onde dizia ‘Circo’. Cheguei a dar um passo adiante, mas me vi obrigada a parar quando ouvi o som dos cascos de um cavalo. Rapidamente subi em uma árvore próxima.

-Como deseja que montemos a esquadra, meu príncipe? -Observei, curiosa. Havia um pequeno grupo ali, todos montados em enormes cavalos.

-Deixe para que resolvamos isso no reino. -Eu reconhecia aquele garoto loiro de algum lugar, mas me vi encantada da mesma maneira, como se nunca o houvesse visto antes. Algo soou em minha mente, um nome, ‘Naruto’.

Como se por mágica, ou leitura de pensamentos, aqueles olhos azuis cor de água recaíram sobre onde eu estava, mas ele pareceu tranquilo, como se realmente esperasse por me ver ali, naquele mesmo dia. Por um instante, jurei que ele desceria do cavalo e viria até mim, mas ele simplesmente mandou que seus acompanhantes seguissem rumo ao castelo, pois logo estaria por lá.

-Menina Sakura. -Deu algumas voltas ao redor da árvore, olhando para mim, pendurada em um dos galhos.

-Príncipe. -Reverenciei, mesmo estando em uma posição muito desconfortável para isso. -Achei que nunca mais o veria.

-Eu iria dizer o mesmo, embora eu a tenha procurado por todos os reinos. -Descera do cavalo, uma postura impecável.

-Andou a me procurar? -Respirei fundo. Aquilo fora uma bela de uma surpresa para o meu coração. -Não sabia que ainda tinha algum interesse por mim. -Deslizei meu pé um pouco para baixo, enfim, descendo da árvore.

-Como não ter? Não pude tirar esses belos olhos esmeraldinos da minha cabeça. -Ousou aproximar-se de mim, mas não parecia muito seguro do que fazia.

-Oras, eu não mordo. -Ri baixinho, dando alguns passos em sua direção. -Confesso que o achei interessante. Seria feio mentir, não é?

-Com toda a certeza, até porque não temos motivos para isso. -Dera um sorriso de lado. Agora Naruto já era um garoto crescido, olhos maiores, cabelo bagunçado, vestes reais. Um verdadeiro nobre conversando com uma nômade.

-Não me recordo o motivo pelo qual consegui chegar até aqui, mas... O destino quis desta maneira, não é? -Abaixei um tanto a cabeça, envergonhada.

-Prefiro quando está olhando para mim, assim posso admirar seus olhos. -Tocara-me no queixo, levantando gentilmente meu rosto. Suas mãos eram macias e suaves, me lembravam as penas de pavões que usávamos para fazer travesseiros.

-Muita coisa mudou de tempos para cá. -Desviei o olhar, mas ele já devia ter percebido o quanto minha face estava vermelha. -Senti a necessidade de sair um pouco, meus irmãos estavam me sufocando, sem contar com a dúvida que aflige meu peito.

-E que dúvida seria essa, moça bonita? -Naruto me encarou, sério, como se o que eu dissesse fosse a coisa mais importante do mundo para si.

-Nada demais. Pelo menos não gostaria de incomodá-lo com isto. -Respirei fundo, os olhos se voltando aos dele, encarando o que mais parecia ser o Paraíso azul.

-E... Por falar em irmãos, onde eles estão? -Erguera uma sobrancelha. A vez em que me vira com os garotos não deve ter sido lá tão agradável.

-Estamos bem aqui, mas acho que você não ia gostar de nos ver agora. -Itachi se pronunciou e eu pude sentir a minha pele arrepiar.

-Sakura... O que deu em sua cabeça para sair sem seus irmãos? -Indra caminhou em minha direção, os olhos vermelhos como sangue encarando Naruto.

-Precisava de um pouco de espaço. -Resmunguei, cruzando os braços.

-Você tem todo o espaço em nosso acampamento. -Sasuke encarava o garoto loiro com um ar mortal, ninguém ali parecia confortável com o encontro.

-Vamos levá-la de volta. -Madara dera a palavra final, mas não era o que eu queria, ir embora.

-Não vou voltar agora, quero ir até a cidade. Quero conhecer o tal de ‘circo’ que vi na placa. -Cerrei os punhos eu já não era uma criança para ter a vida comandada por meus irmãos.

-Eu posso levá-la até lá, se desejar. -Naruto abriu um pequeno sorriso em meio aos ombros tensos. Definitivamente aquilo não fora uma boa ideia.

-Você não vai sequer chegar perto da nossa garota. -Sasuke avançou nele, mas foi segurado por Shura.

-Sasuke, pare com isso. Não queremos usar violência. -Sussurrou em seu ouvido, mas, naquela distância em que estava, eu pude ouvir.

-Não queremos? Você não quer! Então, não fale por mim. -Os olhos de todos ali estavam brilhando em escarlate, exceto os de Shura.

-Tudo bem, rapazes, eu peço rendição. -Naruto retirou uma de suas luvas em sinal de paz.

-Oras... -Itachi estalou a língua, parecia decepcionado. -Pensei que ia acontecer algo mais empolgante.

-Parem de enrolação. Quero ir logo para casa. -Obito resmungou no canto em que estava, embora mais quieto, seus olhos não deixavam de expressar certo ódio e precaução.

-Eu realmente não quero ir, está bem? Acho que já tenho idade suficiente para fazer escolhas sobre o que quero e o que não quero. -Me afastei dos garotos, meus pés me levavam para trás e cada vez mais perto de Naruto. Ali era onde gostaria de ficar.

-Pare com isso, Sakura. Volte logo conosco. Aqui é perigoso. -As palavras de Indra pareciam ter se perdido no ar quando ele mesmo se restringiu a falar algo que me soava como importante, mas um segredo.

-E por que aqui seria perigoso? Eu tenho o príncipe ao meu lado. -Olhei para Naruto, o mesmo esboçava um sorriso diante de minha coragem.

-É exatamente por isso que é perigoso. -Itachi dera dois passos a frente, quase estendendo um braço para me puxar para perto.

-Eu quero ficar aqui! Será que não me escutam? Me sinto um pássaro preso perto de vocês. Parem de me pressionar e achar que sabem o que é melhor pra mim. -Gritei, todos ali pararam para me olhar, alguns boquiabertos.

-É esse o problema, Sakura. Nós sabemos. -Indra falou com toda a sua paciência costumeira. -Aqui não é lugar para você e não vamos permitir que a machuquem. Nós sabemos muitas coisas...

-E por que não me contam? Acham que não sou capaz de entender? Deveriam parar de me subestimar tanto. -Rangi os dentes, a mandíbula rígida como uma rocha.

-Você não precisa saber sobre isso agora. -Shura rebateu, os olhos zelosos recaindo sobre mim. -Sabe que nós a amamos, então, entenda o nosso lado.

-Como posso entender algo que eu sequer sei? -Deixei meus ombros cederem, estava decepcionada com todos aqueles segredos.

-Vamos embora. -Madara segurou firme em meu pulso, me puxando contra o grupo.

-Deixem-na em paz! -Naruto, de uma maneira inconsciente, talvez, segurou meu outro pulso. No momento exato do toque, pude sentir meus sentidos explodindo em cores e sensações. Logo, eu já não podia ver mais nada, apenas escuro.”