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História Hope - Harry Styles (LIVRO UM) - Inferno - Parte 2


Escrita por: sunzjm

Capítulo 8 - Inferno - Parte 2


Fanfic / Fanfiction Hope - Harry Styles (LIVRO UM) - Inferno - Parte 2

O celular tocou sobre a minha cama e rapidamente eu me coloquei a atendê-lo, sem ver quem estava ligando pra mim.  

— Alô? — falei, com receio. Observei o Harry dar meia-volta e ir até a minha janela novamente, ficando de costas para mim. 

— Mel? — Era a Jade, com um ar de preocupação. — Aconteceu alguma coisa? Por que não veio trabalhar hoje? — ela quis saber, meio agitada. Olhei pro Harry e ele se virou para mim, observando todos os meus gestos.  

— Minha mãe tinha sumido e encontraram o corpo dela, estou indo ao enterro agora — respondi, apertando o celular para evitar me descontrolar novamente. 

Não era cedo e já passava da hora do almoço, porque tive um pouco de dificuldade ao negociar o funeral. E seria cômico – se não fosse trágico – o fato de eu precisar comprar um caixão para a minha mãe com um dinheiro que estávamos guardando para viver em outro lugar que não fosse aquela casa.    

— Oh...       

— Depois me responsabilizo pela falta ao trabalho — avisei, mas a verdade era que eu não estava tão preocupada com aquilo. 

— O quê? — Ela se assustou, como se eu tivesse lhe ofendido. — Ah, Melissa, não se preocupe com isso. Com certeza você tinha o direito, já que está de luto. Nós demos um jeito aqui com a sua ausência.

— Certo. 

— Em qual cemitério vão enterrá-la?                     

Informei o local e desligamos a chamada, após a Jade dizer que iria me acompanhar na cerimônia. Eu não me importei em contar a ninguém sobre a morte de mamãe porque o fato era que ninguém ligava para aquilo. Todos já sabiam da família desequilibrada que éramos, meu pai fazia questão de se mostrar alguém insensato e até meio louco. As pessoas apenas ignoravam isso por constrangimento próprio, como se fossem se contaminar com o nosso castigo. Era ridículo, mas era o que acontecia na nossa cidade.

Meus avós não eram mais vivos, já a única irmã que a minha mãe tinha morava em outro país e tinha se esquecido da gente. Eu não precisava lembrar que o Bruce tinha algum desentendimento com a minha mãe antes mesmo de eu ter nascido, portanto também era perca de tempo falar para ele sobre o funeral. Ele não a deixava trabalhar fora de casa, logo ela não tinha colegas de trabalho para prestar homenagem em seu enterro. Já os vizinhos…, bom, era até melhor esquecer quem estaria presente no funeral. 

O padre Samuel seria um dos que iriam, mas por motivos óbvios. Ele até costumava ir em casa quando mamãe estava viva, logo ele a conhecia e tinha carinho por ela, mesmo que tivesse parado com as visitas por um motivo que eu não conhecia. No fim, respirei fundo, deixei o celular sobre a cama e saí do quarto com as rosas, sem olhar para o Harry, que eu deduzi ainda estar parado no mesmo lugar. 

Fui no meu carro e segui o veículo que levava o caixão da minha mãe até o cemitério mais próximo. A viagem foi rápida e estava me dando até uma certa agonia saber que ela estava sendo levada (e morta) dentro daquele carro, dentro de um objeto que lhe serviria de lar. 

Bruce realmente não foi vê-la – como eu imaginei –, mas era óbvio que ele já soubesse daquela “novidade”. Eu o vi saindo antes de mim, vestindo uma calça jeans velha e a sua camisa branca meio suja. Eu não disse nada, porque já tinha a consciência de que ele sabia para onde eu estava indo. 

— Fique calma, Melissa — alguém pediu, de um jeito suave e bem ao meu lado. Nem percebi que o Harry estava sentado no banco do passageiro e muito menos que eu apertava demais o volante do meu carro – o nó dos meus dedos já estavam esbranquiçados. Eu estava nervosa, tensa, triste, com raiva…, tudo misturado. Harry me pedindo para ter calma era algo fora de questão. 

— Estou indo ao enterro da minha mãe — comentei, depois de bufar. Já estávamos próximos do cemitério e, assim que chegamos, senti uma parte da minha mão ficar gelada. Tirei os olhos da estrada e vi a mão dele sobre a minha. Logo parei o carro mais atrás do que estava levando o caixão e tirei a minha mão de perto dele, sem me importar com a grosseria. — O que você quer agora? — joguei, nervosa. — Já não basta estar terminando de destruir a droga da minha vida? 

— Para com isso — mandou Harry, também irritado. 

— Escuta aqui… 

— Melissa — ele me interrompeu e segurou o meu rosto rudemente, a fim de que eu o olhasse —, não seja mal-agradecida. 

— Me larga — mandei, pegando nas mãos dele e tentando me soltar, com medo de que os homens que iriam levar o caixão me vissem falando sozinha dentro do carro —, quero que você me esqueça de uma vez por todas! 

— Você tem sorte — jogou o Harry, com um ar de insatisfação. Ele estava apertando demais o meu rosto e parecia que iria parti-lo entre os dedos. — Está tendo a oportunidade de ver pelo menos o enterro da sua mãe — continuou, para depois me soltar sem a menor delicadeza. Olhei para ele, muito perplexa, mas o Harry tinha apenas a expressão rígida. 

— Mas que tipo de pessoa você é, aliás?! 

— É melhor não me irritar, Melissa, eu sei que você não quer que tudo fique bem pior do que já está... — ele me ameaçou, bem devagar, e pareceu tentar se controlar. 

— Eu não sei se você percebeu, mas eu não tenho sorte nenhuma em estar aqui — falei, os dentes cerrados. Harry me fitou secamente e, então, quando pronunciou as seguintes palavras, entendi o porquê dele estar falando aquelas coisas ruins. 

— Não sei se você se recorda, mas a minha mãe também está morta — Harry parou de me olhar e fitou o nada, como se voltasse no seu passado. — Sequer me deixaram ir vê-la pela última vez. Eu não pude ver a minha mãe, mas você pode ver a sua agora.  

— Você a matou, por isso não deixaram.

Harry me lançou um olhar ameaçador, algo que me deixou com medo, mas ele não falou nada, só continuou me olhando. A atmosfera dentro do carro ficou completamente lastimosa, porque juntou a minha tristeza com a dele – porque sim, eu vi que, além de irritado, ele também estava triste. 

E aquilo era novo, já que eu pensei que nele havia apenas o ódio, a raiva e a inveja. Mas ele me deixou ver mais do que aquilo: vi a melancolia refletindo em sua expressão. E foi tão desconfortante, que não consegui continuar ali perto. Peguei as rosas no banco de trás e saí do carro, atordoada. 

O caixão da minha mãe já estava sendo levado e passando pelo portão do cemitério. Me coloquei a segui-lo e, antes que eu entrasse no local, senti alguém me parando. 

Era o padre Samuel. 

— Meus pêsames, filha — ele disse, com aquele tom de conforto. Para a minha surpresa, senti mesmo uma pequena calma ao ouvir a sua voz.  

— Não estou muito bem — falei, enquanto tocava as suas mãos. — Parece até que eu perdi uma metade do meu corpo. 

— Entendo — o padre Samuel assentiu com a cabeça e andamos para dentro do cemitério, eu tocando em suas mãos o tempo todo e me segurando para não chorar. 

Ele conversava comigo, falávamos sobre mim e ele tentava me confortar com algumas palavras. De alguma forma, me senti melhor ao ouvir o que ele dizia, contudo ainda tinha o mesmo desconforto ao lembrar que o Harry não tinha ido ao enterro da Anne. O irmão dele não deixou que ele fosse, mas imaginei que deveria ter permitido isso. Dentro do carro, minutos antes, deu para perceber o sofrimento do Harry, e senti que talvez isso tivesse a ver com a Anne. Ele estava arrependido pelo que fez?

Eu fui à cerimônia da mãe dele e estava presenciando toda a tristeza que o Henry sentiu, da mesma forma como eu estava naquele momento. Harry ficou sedado no hospital e seu irmão chorou durante o enterro inteiro.

Eu sabia que Harry usava o meu corpo para matar pessoas a fim de ter mais forças e continuar no meu mundo, e eu também tinha consciência de que ele estava pouco se importando com os meus sentimentos e a minha dor. Contudo, mesmo tendo o conhecimento de todas aquelas merdas, eu não entendia exatamente o que estava me preenchendo naquela tarde escura, além da dor de perder a minha mãe. 

Observei fazerem o túmulo na terra coberta pela grama. Eu estava num cemitério novamente, mas, daquela vez, quem perdeu alguém fui eu mesma, não um outro inocente. E eu também não fui a responsável por aquilo, como estava sendo com a morte de pessoas da nossa cidade. 

As rosas continuavam nas minhas mãos e o padre se encontrava um pouco mais a frente, parecendo rezar pela alma da minha mãe. Os coveiros faziam o seu trabalho e, em algum momento, jurei que havia visto uma pessoa escondida entre as árvores. 

— Melissa — ouvi uma voz que me tirou do devaneio. Henry ficou de frente para mim e a vontade imensa de chorar voltou novamente. Logo o abracei e me deixei chorar em seus braços, por um longo momento. Senti mais mãos me tocarem na cabeça e a voz doce da Jade invadiu os meus ouvidos. — Eu sinto muito... — Henry usou as palavras que o seu irmão geralmente usava comigo, algo que seria impossível de não perceber, e acariciou os meus ombros. — Tudo vai ficar bem. 

— Sim, Melissa, pode chorar, porque isso lava a nossa alma — falou Jade, igualmente triste. Saí dos braços do Henry e ele limpou o meu rosto, carinhosamente. Assim, a voz do padre se instalou por ali e passamos a ouvir o que ele tinha a dizer.

O caixão da mamãe já tinha sido colocado dentro daquele buraco escuro e solitário, e eu estava com o coração destroçado. Percebi as rosas ainda nas minhas mãos e me coloquei a jogá-las dentro do túmulo.

Pessoas boas se iam muito cedo e de formas trágicas, após muita luta e talvez sofrimento. Eu não falava apenas da minha mãe, porque era óbvio o que os vários seres humanos haviam feito de bom pro mundo, desde o começo dos tempos. Contudo, essas mesmas pessoas boas já haviam seguido o seu caminho, porque o fim de todo o mundo era sempre o mesmo: a morte. E, mesmo sendo capaz de imaginar um paraíso, era difícil ficar bem e longe de quem eu amava, porque no fim eu nem tinha tanta certeza assim.

Mamãe se suicidou, porque não aguentava mais viver com toda a dor que tinha. As pessoas ruins estavam vivas por aí, fazendo o mal, trazendo o mal e merecendo morrer, mas sem sofrer ferimento algum. E o que acontecia com elas? Era como se o mal sempre prevalecesse. 

— Eu não conheci a sua mãe, mas sei o que você deve estar sentindo agora — ouvi o Henry sussurrando em meu ouvido, enquanto me abraçava de lado. E ele deveria saber mesmo. Eu, quando presenciei a sua tristeza com a morte da Anne, não tive a consciência de que doía tanto como aquilo. 

Jade segurava a minha mão e pensei mesmo que ela choraria junto comigo. O clima estava tenso, todos pareciam estar mortos de pena por mim e eu estava começando a me sentir desconfortável. Eu queria que todos saíssem e me deixassem sozinha com a minha mãe. Ninguém a conhecia como eu a conhecia, nem sabiam de verdade o que tínhamos passado juntas naquele lugar. Logo, eu só queria ficar sozinha com ela.

Depois que tudo acabou e eles foram embora, consegui o que desejava. Me sentei sobre os joelhos e observei o seu túmulo. O vento batia bruscamente no meu cabelo e secava os vestígios que ainda existiam das lágrimas. Eu não fazia ideia de que horas eram e a minha mente estava parada. Estava tudo preto dentro da minha cabeça e eu realmente não conseguia pensar em mais nada. 

— O dia em que você esteve no hospital fez com que eu me sentisse assim. E eu sei, eu tinha apenas dez anos, mas pensei que perderia você — eu disse, tendo a certeza de que em algum lugar ela deveria estar ouvindo o que eu estava dizendo. — Eu tive muito medo, mãe, e eu não sabia o que fazer — continuei, enquanto lembrava daquele dia horrível quando ela tinha apanhado muito do Bruce. — Olha só onde eu estou, no seu túmulo, sendo assombrada por um espírito que até agora não me disse o que quer, morando com um pai que nos causou tudo aquilo e... claro, continuando sem saber o que fazer… Eu devo desistir também? 

Abracei o meu próprio corpo, como fazia quando era mais nova. O problema era que, daquela vez, não havia os braços da minha mãe para me darem conforto. Naquele tempo era bom, porque mamãe me protegia quando podia e eu me sentia satisfeita por tê-la ali pra mim. Ela foi a minha base, porém eu começava a desmoronar aos poucos, com o Harry me ajudando a cair.

E ele tinha até razão: eu era uma tola. 

— Ah, Melissa... — ouvi um sussurro próximo de mim e duas mãos em cada ombro meu, bem firmes. Era o Henry. 

— Pensei que já tivesse ido — murmurei, limpando os meus olhos. Ele se agachou e ficou da minha altura, me fitando e tirando algumas mechas que cobriam um pouco do meu rosto. 

— Eu apenas chamei um táxi pra Jade, sabia que você ficaria aqui — respondeu ele, parecendo entender o meu caso. Respirei fundo e voltei a olhar para a pedra com o nome da minha mãe, juntamente com a sua data de nascimento e morte. 

— Me dá um aperto no coração saber que ela vai ficar sozinha aqui, neste lugar — confessei, a voz meio trêmula. — Aqui é enorme, e é tão deserto… — Senti as mãos do Henry envolverem o meu rosto e aquilo me faz ter que fitá-lo. 

— Tudo ficará bem, Melissa — sussurrou ele, muito gentil. E os meus sentidos logo se atiçaram, porque consegui perceber o quanto estávamos próximos um do outro. 

“O cretino do meu irmão está apaixonado por você”, lembrei das palavras do Harry e senti uma pequena tontura. Antes que os lábios do Henry tocassem os meus lábios, virei o rosto um pouco atordoada, sendo beijada na bochecha. 

Eu simplesmente não queria acreditar que era verdade, já que aquela situação estava fora de questão e o Henry provavelmente estava enganado sobre mim – caso fosse verdade. 

— Obrigada por estar aqui comigo — agradeci, depois de um longo suspiro. Ele sorriu e se levantou, estendendo a mão logo depois, a fim de me ajudar a levantar. Eu a peguei com confiança e ele acariciou o meu ombro quando fiquei de pé. 

— Vem, você precisa respirar um pouco. — Henry me puxou com cuidado e seguimos para uma parte do cemitério que eu não conhecia.



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