História Hope Next Door - Stranger

Capítulo I- Stranger

Minha vida já estava tão irreconhecível que se algum morador de rua chegasse ao meu lado e confirmasse que Hogwarts realmente existe, eu provavelmente acreditaria -o que, por sinal, não seria algo tão ruim. Nada mais me parecia chocante.

Em um momento estava na minha modesta casa em Los Angeles, me entupindo com pipoca de microondas e assistindo Gossip Girl na companhia de Scarlett e no minuto seguinte lá estava eu, alojada em um quarto sem cor ou vida e absolutamente mesquinho em uma das ruas residenciais mais caras do Canadá.

Estava mais perdida, confusa e sozinha do que nunca. Meu pai me largara por conta própria na imensa mansão de minha nova madrasta, sem sequer se importar com o meu bem estar. Agora toda a sua atenção estava direcionada à mulher dos longos cabelos louros, extremamente bem sucedida.

Lembro-me de meu pai após a morte de minha mãe; cabisbaixo, calado, andando com passos curtos e lentos pela casa. Até um dia chegar correndo na sala de estar, com um sorriso enorme estampado em seu velho rosto enrugado, anunciando que iríamos nos mudar. 

Dei um pulo no sofá e corri para lhe abraçar enquanto o mesmo acariciava os meus cabelos. Já havia muito tempo desde que pude ver meu pai tão feliz daquele jeito, e não tinha como negar que a ideia da mudança era maravilhosa. Até ele me explicar na véspera da viagem o que realmente estava para acontecer.

Tentou fazer com que me sentisse melhor, falando que eu entraria para a melhor escola privada local e que faria novos amigos facilmente, além de ter a companhia do meu novo irmão postiço naquela mansão. Mas eu não conseguia ver quaisquer vantagem na nova vida que eu estava sendo obrigada a levar. Seria realmente possível com que algo bom acontecesse comigo? Ainda posso ter esperança?

(...)

A melodia aguda que vinha do relógio de cuco ressoava um eco irritante pela casa inteira, anunciando que já era meia noite. Faltavam exatamente sete horas para o meu primeiro dia no colégio Silver Valley começar e eu ainda não conseguira dormir, mas aparentemente eu não era a única.

Conseguia escutar cochichos e risadas baixinhas vindas do andar de baixo, na sala de cinema particular. E à cada som provindo do local eu sentia o meu coração apertar, pois sabia que aquela que receberia os chamegos de meu pai não seria mais a minha mãe. Nunca mais.

Bloqueei tais pensamentos e subi as escadas em direção ao meu quarto, enquanto observava os vários porta-retratos pendurados simetricamente pela enorme parede bege do corredor. Todos eles juntos formavam um tipo de linha do tempo da vida de Adrien, meu irmão postiço.

Das fotos de um bebê despido na pequena banheira com um penteado rebelde que imitava um cantor de rock, cheguei às fotos mais atuais de Adrien, que por minha surpresa eram poucas.

Um garoto de cabelo quase branco -de tão louro que era- com cerca de um metro e oitenta fazia uma pose de durão em meio à vários outros rapazes e líderes de torcida. Vestia um casaco vinho com um brasão de tigre estampado no peito e pela aparência, parecia ser o integrante mais novo do time. Adrien com certeza era popular, e digo isso não somente por conta de participar do time de basquete, mas também pela sua beleza.

Eu sempre fora o tipo de garota tachada como anti-social, então nunca pertenci à ala dos populares da escola e nunca tive uma boa impressão deles. Mas sentia que talvez as coisas poderiam ser diferentes com o meu irmão.

Como haviam me dito, ele tinha saído para uma excursão por Nova Iorque com alguns de seus amigos, mas voltaria logo no segundo dia de aula, o que infelizmente me dava mais um tempo sozinha naquela mansão.

Chegando no meu quarto, fechei a porta e senti meu mundo se limitar naquele enorme cômodo do segundo andar.

Colocara meus fones de ouvido e estava me preparando para dormir, até que um clarão vindo da janela subitamente iluminou a escuridão do meu quarto.

Avancei com cuidado até o parapeito da janela e olhei para fora, percebendo que a luz emanava do quarto da casa ao lado.

Pisquei algumas vezes seguidas e, quando consegui clarear a minha visão, me deparei com um rapaz bonito de cabelo chocolate, dedilhando o seu violão. Ele dedicava toda a sua atenção para cada corda e nota que tocava.

Parecia que o tempo havia parado só para apreciar comigo aquela cena. Era encantador.

Instintivamente levantei-me aos poucos e pude ter uma perspectiva melhor do garoto que estava somente à poucos metros de distância de mim.

Por mais estranho que fosse o ato de eu estar admirando o meu vizinho desconhecido, ao mesmo tempo parecia que eu já o tinha visto antes. Era como se já tivéssemos um laço nos interligando. Simplesmente inexplicável.

De repente o rapaz inclina a sua cabeça em minha direção, como se soubesse que havia alguém lhe espionando.

Então, ele riu e acenou.

Subitamente me agachei e depositei a minha mão em meu seio. Os meus batimentos cardíacos estavam tão acelerados que era possível escutá-los no meio do silêncio da noite.

Como eu pude ser tão idiota para nem ter acenado de volta? E se ele tiver agora uma má impressão sobre mim?

Passei os dedos entre os fios do meu cabelo para ajeitá-lo e levantei-me a fim de retribuir o aceno. Porém dessa vez havia surgido um outro garoto na cena, um pouco mais baixo do que o rapaz do violão e com cabelo louro. Senti-me novamente culpada por estar invadindo a privacidade dos meus vizinhos logo depois que os dois começaram a discutir ferozmente.

O de cabelo mais claro parecia cuspir as palavras em cima do moreno que tentava ao máximo manter baixo o seu tom de voz, até que o mesmo perdeu a paciência e segurou com raiva os braços do louro, empurrando-o para fora do seu quarto.

Bateu a porta com força e logo em seguida apagou as luzes.

Recuperando-me do choque inicial, saí de meu atordoamento e avaliei a situação. Tudo havia ocorrido rápido demais, mas já tinha certeza de que seria melhor manter certa distância daquela casa. Já estava com problemas demais.

Entretanto, o moreno não saía da minha cabeça.

Seu sorriso magnético, seu olhar brincalhão e seu violão.

Eu quero conhecê-lo.

Suspirei e convenci a mim mesma de que eu estava louca de carência e que aquela sensação toda de sentir meu corpo carbonizando fazia parte da terrível –porém emocionante- puberdade.

Deitei-me na cama e tentei eliminar o rosto daquele garoto que estava constantemente sendo esculpido em minha consciência.

Me xinguei mentalmente e, antes de cair no sono, abri a caixa de mensagens e cliquei no nome da minha melhor amiga.

Scarlett: (23:42) Amiga, sua sumida! Me conta sobre a mansão da Tia Patinhas. Ah, e o seu irmão? Já o conheceu? É um bom pretendente?

Scarlett: (23:42) Estou com saudades da minha fadinha :(.

Eu: (00:15) A saudade é recíproca! E, Deus, são muitas as coisas que você necessita saber, mas antes escute a música Treacherous da Taylor Swift.

Eu: (00:16) Acho que posso entrar em uma encrenca.