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História Horns - Help


Escrita por: Yeul

Notas do Autor


Queria fazer algo fofo e bem, saiu isso ;;
Espero que tenha ficado bom, é minha queridinha poxa ~

Capítulo 1 - Help


Fanfic / Fanfiction Horns - Help

(•••)

A chuva grossa machucava sua pele, mas ele ainda assim se forçava a correr. Suas pernas gritavam de dor, e sua cabeça latejava, ouvindo os gritos atrás de si, os palavrões, as pedras que por vezes eram jogadas contra si e que por vezes atingiam seu corpo, ferindo-o.

 Ele realmente achou que fosse o seu fim quando chegou ao final da rua, e viu apenas um muro largo e alto, totalmente branca, mas manchada de algo bege que ele não quis saber o que era. Era liso de mais para tentar pular, e mesmo assim seu tamanho não colaborava para essa façanha.

 Suas mãos bateram contra a parede fria, e um arrepio passou por sua espinha ao perceber que estava perdido.

 

 Não havia escapatória.

 

 Foi quando ouviu um assobio, e virou sua cabeça para o lado, vendo alguém sobre as grades de uma cerca alta. Seus olhos se arregalaram, e o viu gesticular para si.

 O cabelo dele era branco, e sua pele era alguns tons mais escuros que os do fugitivo, o que o fez achar que era um humano comum.

 

 Como poderia confiar em um humano?

 

 Ao ouvir os gritos se tornarem comemorações, como se ele fosse a presa daqueles caçadores ridículos, ele tomou coragem, vendo o rapaz esticar a mão em sua direção, querendo ajudá-lo.

 Deu alguns passos para trás, focando em seu objetivo e ignorando os gritos.

 Forçou suas pernas a mais exercícios, e correu, bateu um pé na grade e usou seus braços para subir e conseguir apoio, até tocar na mão alheia. Por segundos ele achou que o rapaz iria brincar consigo, retirando a mão no instante em que seus dedos pálidos se tocassem, mas não ocorreu.

 A outra mão o segurou com força, e com uma força quase que sobrenatural puxou-o para cima. JiHoon se segurou na cerca, e viu o outro corpo cair perfeitamente no chão, e o imitou, dando uma olhada para trás assim que seus pés bateram ao chão.

 Os seus perseguidores riam de si, porém o baixinho ignorou, e viu o seu salvador erguer o braço, o apressando para segui-lo.

 Voltou a correr, dando breves olhadas para trás para ver que já subiam a cerca, parecendo animados com o fato de terem mais alguém para espancar, e aquilo fez outro arrepio passar por seu corpo pequeno, e ele mordeu o lábio inferior com força.

 Olhou para o rapaz de antes, analisando suas roupas caras, e perguntou-se porque um humano o estava ajudando.

 

(•••)

 

Eles correram por um bom tempo, até pularem o muro baixo de uma ponte quase ao fim da cidade, e o humano que o ajudava quase cair pela ladeira.

 JiHoon teve de segurá-lo pelo pulso, e o puxou com força, para que voltasse a se segurar na parede do muro. Os carros passavam lentamente pela ponte, e assim que conseguiram se estabilizar, o mais baixo se agachou, querendo recuperar seu fôlego.

 O humano olhou por cima do muro, e depois se sentou ao seu lado, apoiando sua cabeça em seus joelhos, visivelmente cansado. A chuva havia diminuído, e agora o baixinho podia finalmente ver seu salvador com clareza.

 Ele vestia um casaco cinzento com capuz, e uma calça jeans negra, com os joelhos completamente rasgados. O capuz caia sobre seu rosto, e ele não podia enxergá-lo claramente, além dos lábios finos dele e o começo de seu nariz.

 Tocou em seu próprio corpo, sentindo a pele fria mesmo após correr por tanto tempo, e seu moletom preto estava completamente molhado, assim como seu short curto. Levou suas mãos até seu rosto, e subiu até os seus chifres negros, alisando-os e sentindo-os extremamente gélidos, e que infelizmente continuavam ali.

 

 "A cor do seu cabelo é linda", comentou o humano, com o rosto ainda apoiado nos joelhos, mas encarando-o com um sorriso gentil nos lábios.

 

 JiHoon o olhou sem entender, franzindo o cenho, perguntando-se se ele estava brincando consigo.

 

 "Por que me ajudou?", questionou desconfiado o mais baixo, levando suas mãos até os joelhos, massageando-os devagar por senti-los latejar devido ao frio.

 

 O outro deu de ombros, antes de retirar seu capuz e sorrir ainda mais. A chuva foi diminuindo gradativamente, até tornar-se apenas uma garoa irritante naquele instante. O corpo menor se arrepiou com o vento gélido dali, e se encolheu, tentando se aquecer, de alguma forma.

 

 "Eu apenas achei errado eles te perseguirem", respondeu após um tempo, passando a mão por seu cabelo descolorido, jogando-o para trás e suspirando alto. 

 "Você iria se ferrar se eles te pegassem", retrucou JiHoon, e se levantou, balançando os braços para tirar o excesso de água de seu corpo.

 "Você também", manteve o sorriso, levantando-se e virando-se completamente de frente para o menor.

 "Eu estou acostumado com isso", deu de ombros, levando suas mãos até a barra do moletom, e o puxando para cima, querendo retirá-lo.

 

 O humano por algum motivo o ajudou, segurando a camisa branca e fina de baixo, que logo se colou ao corpo mais frágil.

 

 "Péssimo dia pra sair de branco", reclamou o meio-demônio, e balançou o moletom do avesso, antes de tentar torcê-lo.

 "Não devia falar como se fosse algo rotineiro", repreendeu o de cabelo descolorido, franzindo o cenho e retirando seu casaco também, ficando apenas de regata azul, para imitar o outro.

 "Mas é", murmurou o mais baixo, batendo o moletom e deixando a água escorrer por um tempo, antes de vestir novamente, visto que a camisa branca estava transparente demais para o seu gosto.

 "Eu odeio isso", disse o mais alto, fazendo um bico ao terminar de balançar sua roupa. Começou a torcer a barra de sua regata, enquanto o meio-demônio o encarava.

 "O que?", perguntou JiHoon, sentindo um arrepio ao terminar de vestir, estava tão frio com aquelas roupas molhadas, mesclando com a temperatura gélida de seu corpo.

 "Essas pessoas más que machucam os outros apenas por aparência", fez um bico inconformado, e bateu novamente seu casaco, deixando mais água espirrar.

 "Eu sou meio-demônio também, não é apenas aparência", falou o mais baixo, levando suas mãos aos bolsos do short, tentando se aquecer.

 "Aish, eu odeio isso também", reclamou ele, apontando para o menor. "Esse conformismo me mata!".

 

 JiHoon apenas deu de ombros, encarando o chão. Já fazia tanto tempo que aquilo acontecia, que ele nem se importava mais. Claro que tinha medo e fugia o máximo que podia, mas, ainda assim, não o machucava mais por dentro.

 Passou-se o tempo em que ficava irritado ou revoltado com aquilo. Era terrível de se pensar, porém era realmente algo rotineiro. Não havia um dia que não tivesse de se esconder, de tentar disfarçar seus chifres, de sair às pressas de algum lugar ao perceber que havia olhares estranhos em sua direção.

 Viu a sombra primeiro, e em seguida sentiu mais um casaco sobre si, e ergueu o olhar para ver o humano.

 

 "Você não pode andar mostrando isso, infelizmente", disse gentilmente, enquanto arrumava o casaco sobre o corpo menor, e em seguida puxava o capuz para cobrir sua cabeça, e seus chifres mais do que visíveis.

 

 O humano permaneceu por alguns segundos segurando a borda do capuz, encarando-o com uma expressão séria. JiHoon sustentou o olhar sem entender, antes de sentir sua mão quente contra seu rosto gelado.

 

 "Você é muito bonito para sofrer assim", comentou o humano após um tempo, e o meio-demônio sentiu suas bochechas corarem por alguns instantes.

 "Qual é o seu problema?", perguntou franzindo o cenho, vendo-o rir e se afastar, levando as mãos aos bolsos do jeans.

 

 JiHoon notou que em sua pele dos braços haviam pequenas marcas brancas, quase como cicatrizes, e indagou-se onde havia visto aquilo antes. Vestiu o casaco silenciosamente, enquanto forçava sua memória.

 

 "Você é um anjo ou algo do tipo?", perguntou cauteloso o menor, retesando os ombros.

 "Não", respondeu com um sorriso, e levou as mãos para as cicatrizes nos braços. "Sou apenas um receptáculo", completou, deslizando os dedos ali, e sua expressão tornou-se neutra.

 

 O mais baixo assentiu, comprimindo os lábios. Fazia sentido.

 Alguns anjos maiores usavam humanos comuns para breves visitas a terra, mas aquilo desgastava o corpo deles, o que fazia os receptáculos serem considerados importantes e bem vistos na sociedade.

 

 "Mas eu não me orgulho disso", disse ele, cortando os pensamentos de JiHoon. "Sabe, é uma droga quando eles vêm, sinto que meu corpo vai explodir, de dentro pra fora", gesticulou com as mãos, antes de abrir um sorriso. "Dói como o inferno, e parece que todas as minhas veias queimam, e fico com enjoo por uma semana quando se vão", completou, virando-se para o lado, gesticulando para que o outro lhe seguisse.

 

 O meio-demônio assentiu, antes de acompanhá-lo para passar por baixo da ponte. Fechou o casaco no processo, e puxou o capuz sobre o rosto, esperando que seus chifres estivessem escondidos o suficiente.

 Havia alguns mendigos embaixo da ponte, e todos olharam feio enquanto aqueles adolescentes passavam. JiHoon se encolheu conforme se aproximavam do centro da ponte, e com o canto dos olhos viu alguns se levantarem, o intimidando.

 Apertou os passos, quase esbarrando no humano, e o viu arranhar um pouco uma cicatriz. Conforme iam se aproximando da metade, os mendigos cercavam-nos, e a única opção era o esgoto, que ficava mais abaixo, em um declive sinuoso.

 JiHoon pensou em passar a frente do outro e correr, pois provavelmente os homens estavam atrás dele, e não do humano. Com sorte o mesmo sairia bem dali.

 Como se lesse os seus pensamentos, o humano o impediu de avançar, esticando o braço e parando subitamente de andar. O mais baixo viu que ele ainda arranhava sua pele, com cada vez mais de força, até que a mesma começou a sangrar e, para sua surpresa, o sangue que saiu dali não era vermelho.

 Ela brilhava como ouro, e escorreu por seu braço, fazendo os mendigos pararem onde estavam, arregalando os olhos.

 

 "Um receptáculo! Receptáculo!", gritou um deles, e eles abriram caminho para os dois passarem, em um respeito estranho.

 

 O humano se virou rapidamente para segurar na mão de JiHoon, e o puxou para fora dali. Nenhum daqueles homens tentou se aproximar, embora ainda lançassem olhares de ódio para o garoto mais baixo.

 Caminharam até a primeira rua daquela forma, com a pele quente do humano contra a pele quase morta do outro, e só o soltou quando tiveram de pular o muro que separava a via daquela grama baixa da ponte.

 

 "Bem, acho que vou indo então", começou JiHoon, deslizando o zíper do casaco para baixo, antes de sentir as mãos alheias sobre as suas, impedindo-o de continuar.

 "Não, você não pode", disse o outro levemente aflito, e olhou para os lados, antes de afastar as mãos menores e voltar a fechar o zíper. "Está ficando tarde, e é perigoso você ir sozinho para casa", continuou, vendo o meio-demônio franzir o cenho. "Eu vou te acompanhar".

 "O que? Não, eu posso me virar", reclamou ele, embora tenha levado suas mãos aos bolsos do casaco, querendo se esquentar.

 "Eu sei que pode", sorriu o maior, antes de segurar na mão alheia. "Mas as outras pessoas não podem", completou, deslizando o polegar por sua mão, tentando passar conforto.

 

 JiHoon olhou para suas mãos unidas, e percebeu que era a primeira vez que aquilo lhe acontecia. Ninguém nunca havia se importado com ele, muito menos o ajudado daquela forma, e aquele humano estava fazendo até demais.

 Eles caminharam em silêncio, e o sangue seco e brilhante do humano deveria ser extremamente eficiente, pois nenhuma pessoa ousou se aproximar, e algumas até faziam breves reverências a ele, o que o faziam torcer os lábios e apressar os passos.

 O meio-demônio percebeu que a mão dele tornava-se cada vez mais gélida conforme iam andando, e quis se separar o mais rápido possível dele, sem sucesso.

 O mais alto não o permitiu e apenas sorriu, deslizando seu polegar pelo alheio como antes, confortando-o novamente. De alguma forma funcionava, pois ele deixou de insistir após um tempo.

 Chegaram à casa de JiHoon após bons minutos de caminhada. Era um conjunto de apartamentos pequenos e decadentes, extremamente mal cuidados e de fora pareciam abandonados.

 O baixinho o guiou até o seu apartamento, e passando a mão livre no bolso do short, achou a chave após alguns toques, e a girou na maçaneta.

 A porta se abriu com um rangido, e o menor soltou a mão alheia para acender a luz.

 Era uma sala simples e praticamente vazia, onde um tapete largo e de tom musgo estava estendido, junto de um sofá velho e gasto, com tom de vinho escuro, havia uma porta lateral e outra na parede oposta da porta.

JiHoon retirou o casaco, e rumou para seu quarto, que era um dos poucos cômodos ali. Abriu a porta sem cerimônia, mostrando uma cama de solteiro perfeitamente arrumada, e uma janela quebrada na parede oposta.

 O humano notou que havia pichações na janela, e o vidro que um dia fora transparente tinha o tom rubro. As paredes tinham tons celestes desbotados, e a pequena cômoda ali parecia ser a única em ordem, tendo alguns livros empilhados e uma mochila gasta por cima.

 Aquele quarto lhe arremeteu a solidão, o que o fez comprimir os lábios e sentir uma pontada de dor em seu coração.

 

 "Tome um banho", sugeriu o baixinho enquanto ia até a cômoda e se abaixava para abrir uma das últimas gavetas. Haviam toalhas limpas ali, e ele pegou uma com a cor da neve para emprestar ao humano.

 

 O rapaz apenas encarou a toalha, e a pegou timidamente, antes de vê-lo caçar algumas roupas nas gavetas.

 

 "Não tenho roupas muito largas, mas, acho que essa vai servir", disse o baixinho, entregando uma camisa escura, e depois uma bermuda de mesmo tom.

 "Obrigado, mas acho que você deveria ir primeiro", falou ele, dando um passo para trás quando o baixinho se aproximou para dar a volta na cama. "Você está gelado", completou, enquanto o dono do apartamento abria a outra porta que havia ali, mostrando um banheiro pequeno e simples.

 "Eu sou um meio-demônio, sou gelado por natureza", respondeu, gesticulando para ele entrar. "E sou fisicamente mais resistente a resfriados do que um humano comum", continuou, arqueando uma sobrancelha ao ver que o outro não se mexeu.

 

 O humano sorriu, e se aproximou, tocando no cabelo róseo alheio, arrumando sua franja que estava bagunçada pelos dois chifres negros que saiam dali.

 

 "Eu não disse o meu nome ainda", disse ele, assim que afastou sua mão do menor. "Sou SoonYoung", estendeu a mão para ele, e JiHoon segurou a dele.

"Woozi", respondeu, vendo-o assentir, antes de soltar sua mão e adentrar no banheiro.

 

 O nome do humano ficou gravado em sua mente, enquanto separou suas próprias roupas, deixando-as sobre a cama, antes de ir pendurar o casaco de SoonYoung na sala. Pegou o pequeno fio que estava enrolado cuidadosamente na parede, e o estendeu até o outro lado. Jogou o casaco por cima deste, e retirou seu moletom, para fazer o mesmo.

 Enquanto ouvia o som do chuveiro, resolveu fazer um café instantâneo para si, e resolveu fazer um para o seu visitante, visto que ele deveria se esquentar por dentro também. Voltou para o quarto a tempo de vê-lo abrindo a porta timidamente, e o viu sorrir ao ver o copo quente ser estendido para si.

 

 "Obrigado", disse feliz o humano, já levando o mesmo aos lábios, e fazendo careta ao terminar de tomar.  "Argh, amargo", piscou algumas vezes, balançando a cabeça.

 

 JiHoon assentiu, terminando de beber o próprio antes de adentrar no banheiro.

 

 "Pode estender suas roupas e a toalha na sala", disse antes de fechar a porta, ignorando a expressão de confusão do mais alto.

 

 Mas SoonYoung o obedeceu, pendurando suas roupas com cuidado, e perguntando-se se não havia uma varanda para isso ou algo do tipo. Resolveu ser útil ao baixinho, voltando para o quarto e pegando o copo que ele deixou sobre a cômoda, junto do seu.

 Ouviu a voz melodiosa do meio-demônio soar, levemente abafada devido ao fato dele estar no banheiro, e sorriu. Tinha uma voz graciosa, e não desafinou em momento algum, embora não fosse exatamente uma música que ele cantava.

 Mas seu sorriso murchou ao lembrar-se de como foram parar ali, e sua expressão se tornou fria. 

 

 Como os humanos podiam ser tão ruins com alguém como ele

 

 Woozi parecia tão frágil e indefeso, ao mesmo tempo em que era forte e corajoso, sem perceber. Não podia se conformar com aquele mundo, onde aparência valia mais do que atos.

 

Como podiam louvar alguém por ser usado e desprezar alguém por nascer assim?

 

 Fora até onde supôs ser a cozinha, encontrando um cômodo pequeno, que mal tinha espaço para se locomover. Lavou os copos junto da caneca que Woozi deveria ter usado, e deixou para secar ao lado da pia.

 Encarou o cômodo, percebendo que havia uma micro lavanderia mais ao fundo, e que não teria como pendurar as roupas ali, de qualquer forma.

 Escutou os passos do baixinho, e abriu um sorriso, indo até a porta da sala, vendo-o pendurar suas próprias vestes ali, esticando-se na ponta de seus pés para alcançar o varal improvisado.

 Ele vestia um moletom largo e branco, com alguns números brilhantes bordados aleatoriamente ali, com tamanhos variados e fontes diferentes. E usava um short amarelo, que mostrava suas pernas extremamente brancas e de pele sedosa.

 JiHoon o encarou assim que se percebeu observado, e o rapaz apenas alargou mais o sorriso.

 

 "Eu acho que você tem de ir agora", disse o meio-demônio, olhando pela janela da sala, que só então SoonYoung a percebeu, e era pichada também como a do quarto.

 "Ugh, já me expulsando?", perguntou em um tom triste, fingindo estar inconformado, e o viu juntar as sobrancelhas.

 "Desculpe, não quis ser rude", se consertou o mais novo, gesticulando para ele com suas mãos branquinhas, levemente desesperado. “Apenas que, está escurecendo, e você deve se apressar ou vai ficar perigoso", falou após pigarrear, levando as mãos para trás do corpo, tentando manter-se sério.

 "Eu estava brincando", sorriu, se aproximando e passando a mão pelo cabelo molhado do mais baixo, arrumando-o novamente. "E obrigado por me deixar tomar banho e pelas roupas", completou se afastando novamente.

 

 JiHoon assentiu, e pensou se deveria ou não agradecer pela ajuda. Não estava acostumado a agradecer ninguém, e aquilo soava estranho saindo por seus lábios.

 

 "Ah, e posso vir devolver suas roupas amanhã? Juro que trago lavado!", disse animado enquanto se encaminhava para a porta.

 

 O baixinho assentiu, e o viu alargar novamente seu sorriso bonito e destrancar a porta. Ele a abriu, causando aquele barulho horrível, e riu, antes de sair.   JiHoon segurou a maçaneta, pronto para fechar a porta.

 

 "Até amanhã Woozi-ah", falou ele, levando as mãos ao bolso.

 "Até", murmurou tímido, e o viu dar as costas. Sentiu que precisava dizer a palavra, e forçou-se a falar. "E obrigado!", disse um pouco mais alto, e o outro se virou rapidamente, sorrindo, antes de acenar para ele.

 

 Foi o seu primeiro obrigado, e soou doce.

 

(•••)

 

Naquela sociedade, havia algumas classes. Haviam os anjos, seres divinos a mandato de Deus, que por vezes desciam a terra por seus receptáculos, para proferir a vontade divina e manter 'a ordem' do mundo. Em seguida tinha os ricos e os receptáculos, que estavam em mesmo nível.    Depois os humanos normais, tanto de classe média quanto baixa, assalariados, qualquer um com uma casa e um trabalho. Ainda vinham os mendigos, sem tetos, os rebeldes que gostavam de jogar suas vidas foras, e por fim, eles, os meio-demônios.

 Não tinham poderes, mas eram capazes de usar magia – embora a maioria nunca chegasse a aprender –, mas viviam mais que os humanos. E tinham chifres, o que amedrontava e causava nojo nos humanos. Geralmente dois, mas havia alguns casos de alguns que nascem com apenas um ou três. Todos igualmente odiados pela sociedade.

 O pai de JiHoon era um homem comum, mas cheio de ambições em sua vida. Ele não se importou de vender alguns anos de vida por sucesso absoluto, para a demônia que viria a ser mãe de JiHoon.

O menino não sabia da história por inteiro, apenas do pouco que pode concluir durante os anos e das fofocas das empregadas. Seu pai não o quis, visto a vergonha que poderia causar, e desde pequeno ele cresceu naquele apartamento, sempre recluso e sozinho.

 Claro, fora criado por empregadas, que nunca sabiam de nada, apenas sentiam pena e o cuidavam, porém com certa cautela, pois o baixinho nunca fora uma pessoa comum.

 Até ele começar a mudar.

 A partir se seus oito anos, o seu cabelo extremamente escuro foi perdendo a cor, até que aos seus dez anos fosse completamente branco. Nesse mesmo ano, seus chifres começaram a nascer.  Como pequenos caroços na testa, que foram aumentando conforme o tempo e lhe davam enxaquecas por dias, e aos poucos as empregadas iam embora, ao descobrirem o que ele era de verdade. 

 A última lhe deixou próximo ao seu aniversário de doze anos, com um bolinho sobre a bancada da cozinha, para que ao menos pudesse comemorar seu aniversário.

JiHoon não precisou que lhe contassem para saber o que era, aprendeu na escola a aberração que era. Tentou esconder de todas as formas seus chifres, além do cabelo branco que já chamava atenção de todos. Sofreu muito bullying apenas pelo tom do cabelo, e quando descobriram sobre seus chifres então, tudo desandou.

 Perdeu a conta de quantas vezes lhe olharam feio na rua e, desde que eles se tornaram visíveis, e nem seu cabelo escondia mais, começou a ser perseguido. Também esqueceu-se de quantas vezes fora agredido na volta ou na ida a escola.

 Era um grupo que se chamavam de 'limpadores' e achavam que, ao espancar um meio-demônio, iriam fazê-lo pagar por seus pecados - seja lá quais fossem - e seria purificados, o que significava: ficarem presos em casa.

 Aos quinze ele desistiu de tentar sair de casa, e só o fazia quando estritamente necessário, ao ver sua geladeira sem nada e era obrigado a ir até o mercado, onde comprava apenas o básico para se manter, passando o cartão de seu pai – a única coisa que tinha dele – e voltava correndo, fugindo dos humanos.

 Eram os piores dias, e mesmo agora com quase dezoito anos, nada era fácil. Mas havia entrado naquele estado de conformismo que SoonYoung havia dito.


 Aos seus doze anos ele se perguntou o que havia de errado com ele.

 Aos seus treze ele se perguntou o que havia de errado com os outros.

 Aos catorze ele sentiu raiva de tudo e de todos.

 E aos quinze ele apenas desistiu e se conformou.

 

(•••)

 

SoonYoung acordou cedo, como sempre. A cama extremamente macia se remexeu com seu peso, se ajustando perfeitamente ao seu corpo. Assim que abriu os olhos, ele pensou no meio-demônio, como havia feito a noite inteira.

 Imaginou que, enquanto vivia no luxo apenas por ter aquele sangue dourado no corpo, Woozi vivia no nada apenas por sua aparência. E aquilo era terrível de se pensar.

 Perguntou-se se ao menos ele dormia confortavelmente naquela cama. Ela parecia tão dura e fraca.

 Balançou sua cabeça, levantando-se de uma vez só e já indo direto para o banheiro. Queria ir a casa dele o mais rápido possível. Tomou um dos banhos mais rápidos de sua vida, e vestiu as roupas escuras costumeiras, antes de se dirigir para o seu guarda roupa.

 Abriu a porta central, e pegou a única caixa dali, que tinha um tom prata. A destrancou com cuidado, e retirou a faca que havia ali. Não era uma qualquer, e o Kwon nem fazia questão de saber do que era, só sabia que, era a única coisa que afastava aqueles seres alados de perto dele.

Puxou a barra de sua calça até o joelho, e cortou-se ali. Tinha de fazer o símbolo o mais perfeito possível, e se errasse, teria o risco de ser usado novamente.

 Assim que terminou e viu o sangue dourado escorrer, soltou um suspiro, tocando com a mão livre ali, e sentindo a eletricidade passar por seu corpo. A marca queimou, e ele sufocou o gemido em sua garganta, sentindo algumas lágrimas se formarem no canto de seus olhos.

 Ao sentir que estava bem para andar, se levantou com cuidado, não querendo forçar muito a perna, e guardou a faca ali, dentro da caixa. Fechou as portas longas e brancas, e seguiu para fora daquele quarto odiosamente azul, com pinturas de nuvem, e disfarçou sua dor da melhor forma possível. No processo pegou as roupas de Woozi, que estavam sobre a cômoda, e as enrolou, colocando abaixo do braço.

 Sua mãe estava na sala, lendo o jornal, e sorriu para ele, que não retribuiu o sorriso.
Pegou suas chaves do chaveiro, e girou em suas mãos, antes de seguir para fora, ignorando o olhar que ela lhe deu. Saiu de seu quintal gigantesco, e seguiu para a casa do meio-demônio sem pensar muito.

 Colocou seu capuz assim que atravessou a primeira rua, odiando os olhares que eram lançados para si. Era tanta inveja, admiração ou curiosidade que chegava a ser sufocante e ele sentia que nunca iria se acostumar com isso.

Se eles soubessem o quão ruim era ser um receptáculo, nenhum deles gostaria de se tornar um ou agiriam daquela forma com ele. Por sorte tinha uma memória incrível que conseguiu reproduzir o caminho da casa dele sem problema algum, chegando em poucos minutos e já sentindo-se animar por dentro.

 Assim que subiu as pequenas escadarias para o primeiro andar, sorriu, parando em frente à porta, e vendo que não havia campainha ali. Bateu três vezes e aguardou, balançando seu corpo, e após alguns segundos, ouviu a movimentação dentro da casa.

 A porta se abriu devagar, com aquele rangido terrível, e apenas os olhos curiosos de JiHoon podiam ser vistos pela pequena fresta. Era uma visão extremamente fofa que o fez alargar o sorriso, e assim que o baixinho percebeu que era ele, abriu completamente a porta, deixando que ele adentrasse.

 

 "Bom dia Woozi-ah", disse o mais alto, levando as mãos às costas enquanto adentrava, analisando o traje daquele dia.

 

 JiHoon usava uma camisa branca e uma camisa de botões preta com bolinhas brancas por cima, deixando-o adorável. Seu cabelo róseo estava devidamente penteado, com seus chifres desarrumado a harmonia dos fios ali, mas de alguma forma ele permanecia adorável aos seus olhos.

 

 "Eu não pude passar, desculpe", falou o baixinho indo até seu quarto, onde havia uma pilha de roupas sobre a cômoda.


 "Não tem problema", sorriu novamente, pegando as roupas de sua mão e entregando as dele, seus dedos se tocaram suavemente, e o loiro sentiu seu estômago gelar momentaneamente.

 

 O menor assentiu, e eles se entreolharam por um tempo, sem saber o que dizer. O meio-demônio ficou pensando no que o humano desejava, quando o viu analisar o seu quarto, curioso e com os olhos estreitos.

 

 "Suponho que você não saia muito", disse SoonYoung após alguns minutos, tentando puxar assunto.

 "Não", respondeu simples, vendo-o lhe encarar, e perguntou-se o que estava fazendo de errado. “Eu deveria continuar? Não sei como funcionam conversas", murmurou levemente constrangido, retesando seus ombros, e o maior riu, sentando-se na cama dele e balançando seus pés.

 "Bem, podemos começar desde o começo, certo?", perguntou o Kwon, deixando sua roupa de lado na cama e o baixinho lhe encarou, incerto do que fazer. "Sente-se", pediu, batendo sua mão no colchão ao seu lado.

 

 O menor assentiu, e se sentou tímido ao seu lado, unindo as mãos em seu colo.

 

 "Quantos anos você tem Woozi-ah?", perguntou curioso, balançando mais suas pernas como uma criança.

 "Dezoito", respondeu simples como sempre, e SoonYoung assentiu.

 "Eu tenho dezoito também, nasceu em que mês?", questionou suavemente, sentindo-se mais próximo dele a cada palavra proferida.

 "Novembro", respondeu, olhando para as pernas alheias que não paravam de balançar e que o incomodavam.

 

 SoonYoung sorriu para ele, e voltou a encarar a parede azulada, refletindo um pouco.

 

 "Há quanto tempo você não vai a escola?", questionou após alguns segundos pensando, e o mais novo franziu o cenho, pensativo.

"Talvez três anos ou mais, mas antes disso eu também faltava bastante, por isso eu não sei", respondeu, encarando as mãos sobre o seu colo, brincando com seus próprios dedos sobre sua roupa.

 

 O mais velho assentiu, e mudou o assunto, não querendo entrar em um tema pessoal demais, deixando a conversa se estender por um bom tempo, mesmo que era ele quem mais falava e o outro apenas ouvia atentamente. De alguma forma ele acabou deitando na cama, e o baixinho após um tempo cedeu a tentação e continuaram conversando daquela forma, encarando o teto que um dia fora branco.

 SoonYoung passou o dia ali, e vários outros que se seguiram. Sem perceberem aquilo se tornou uma rotina, e após as aulas ele ia visitar o meio-demônio, e tentava lhe passar seu conhecimento a ele, que JiHoon absorvia com prazer, visto que adorava conhecimento – só não gostava do local que lhe fornecia. 

 Mesmo que quisesse passar a noite ali aos finais de semana, ele não podia, devido as suas marcas que não passou despercebido pelo menor. Não podia passar um dia sem fazê-las.

 

(•••)

 

O humano retirava sua camisa para um novo banho, agora sem mais pudor, visto o quão acostumados um ao outro eles estavam, e ciente de que o mais novo não via nada demais naquele ato.

 JiHoon estava sentado na cama, com o celular do rapaz em mãos, o qual ele havia aprendido a mexer o suficiente para poder assistir séries e fazer ligações. Pausou a série que estava assistindo e pousou seu olhar sobre o corpo alvo do outro, vendo aquelas cicatrizes brancas espalhadas pelo corpo, e uma em específico que parecia recente, onde as bordas estavam avermelhadas em seu braço.

 

 "SoonYoung", chamou o mais baixo, vendo-o se aproximar da cômoda para pegar uma toalha.

 "Sim?", respondeu simples, abrindo a gaveta rapidamente e pegando uma toalha de tom de limão, antes de fechar a mesma com o pé sem muito cuidado.

 "O que são essas cicatrizes?", apontou curioso, vendo-o acompanhar o olhar e sorrir forçadamente.

 "Ah, isso? Apenas marcas de proteção", disse como se fosse algo simples, e o mais novo se ajoelhou na cama, deixando o celular de lado para ver melhor as marcas. 

 "Eu já tinha visto um receptáculo antes, e ele tinha essas mesmas marcas", murmurou, levando o dedo para uma no braço dele, contornando-o suavemente, sentindo a marca levemente funda em sua pele. "Mas, do que vocês tanto se protegem? Tem muitas aqui", comentou, olhando a quantidade que havia apenas em seu braço.

 "Dos anjos", deu de ombros, afastando-se dele e indo em direção ao banheiro.

 

 JiHoon piscou algumas vezes, antes de perceber que ele pretendia fugir da conversa ao se esconder no banheiro.

 

 "Por que vocês se escondem deles?", questionou ele curioso, e o Kwon parou na porta do banheiro, segurando na maçaneta. "Achei que fosse uma honra, ou coisa assim", completou, e o outro se virou, mantendo um sorriso.

 "Assim que eu tomar banho eu te respondo, tá?", pediu, vendo-o assentir e voltar a se sentar, e ele adentrou no banheiro.

 

 O baixinho voltou para sua série, entretendo-se o suficiente para mal perceber o outro sair do banho. Só percebeu quando a cama dura se remexeu, e ergueu o olhar para vê-lo, pausando novamente a série e deixando o aparelho de lado.

 

 "Então", começou SoonYoung, passando a mão pelo cabelo ainda úmido, tentando ajeitá-lo da melhor forma possível. "Lembra quando eu falei que dói muito quando acontece?", perguntou, e o baixinho assentiu, comprimindo os lábios. "Não é apenas dor, eles literalmente nos desgastam", continuou, mordendo o lábio inferior ao confessar. "Em tese, um humano só está pronto para ser um receptáculo aos vinte e um, com seu corpo totalmente formado, e ainda assim ele se desgasta", gesticulou para ele com suas mãos.

 "Você é um receptáculo desde quando?", perguntou JiHoon com o cenho franzido, vendo-o sorrir novamente, mas não era um sorriso de felicidade como estava acostumado.

 "Desde os doze", respondeu, e o baixinho arregalou os olhos em surpresa. "Sabe, nós não vivemos muito…", deixou no ar, e o mais novo mordeu o lábio inferior também, sentindo-se nervoso por ele. "A maioria não chega aos trinta, mas agora, com eles escolhendo receptáculos cada vez mais novos, não estamos chegando aos dezoito".

 

 O meio-demônio arregalou ainda mais os olhos, e SoonYoung sorriu, esticando sua mão para segurar a alheia. O baixinho olhou para suas mãos, a mão quente do maior esquentando a sua que sempre estava gélida, sentindo o polegar alheio acariciar as costas de sua mão suavemente.

 Mas por que era ele quem estava sendo confortado?

 

 "Na verdade, no começo, eu me orgulhava de ser um receptáculo, sabe? Era bem ignorante mesmo", começou o mais velho após um tempo refletindo, desviando o olhar do menor para a parede a sua frente. "Foi bom para a minha família, nós subimos de classe social rapidinho, e só tive que participar de algumas campanhas", suspirou, passando a mão livre pelo cabelo, bagunçando-o devagar, acabando com o quase penteado que havia feito antes e deixando seus ombros caírem. "E mesmo quando estava extremamente fraco e magro, eu não enxerguei o que aquilo estava fazendo comigo", comprimiu os lábios, desviando o olhar para o chão, sentindo um arrepio ao se lembrar de seu corpo antes.

 

JiHoon sentiu que precisava confortá-lo, mas não era bom com aquelas coisas humanas como o afeto. Levou sua outra mão sobre a alheia, e o Kwon virou o rosto para vê-lo, e sorriu. Suas mãos pequeninhas alisaram a alheia, que aos poucos ia perdendo calor. O baixinho tentou imitar seu sorriso, sem muito sucesso, o que fez o humano rir, e levar sua mão livre até o rosto alheio, pressionando sua bochecha com o indicador algumas vezes, e o outro corou levemente.

 

 "Isso é assustadoramente fofo", comentou o maior, pressionando mais algumas vezes e o menor riu, uma das poucas vezes em que fizera de fato em toda sua vida, e aquilo animou o mais velho, que passou a mão por seu rosto, admirando-o e acariciando-o ao mesmo tempo.

 

 Eles se encararam por um tempo, e o mais velho curvou seu tronco para frente, aproximando-se mais do outro. JiHoon estava estático, sem entender o que estava acontecendo, e ao mesmo tempo se sentindo nervoso pela aproximação repentina, com seu coração acelerando a cada centímetro a menos entre eles. Então fez a única coisa que lhe veio a mente.

 

 "E quando percebeu que não podia mais ser um receptáculo?", perguntou em um sussurro, quando o rosto dele já estava bem próximo do seu e suas respirações quase se mesclavam.

 

 SoonYoung se aproximou mais, ignorando a pergunta e levando seus lábios até a sua bochecha gelada, deixando um selar suave e quente ali. E se afastou, sorrindo satisfeito por não ter sido rejeitado.

 

 "Quando vi um receptáculo pela primeira vez”, disse, fazendo uma pequena pausa. “Na verdade faz apenas um ano e meio que o vi", sorriu amarelo, levando sua mão à nuca, alisando-a rapidamente envergonhado por sua ignorância. "Foi depois de uma possessão, eu acordei no meio do nada, com outro receptáculo na minha frente. Acho que os anjos deveriam estar conversando antes de partirem", explicou, usando suas mãos para gesticular, e o baixinho assentiu, para que ele continuasse, embora seu coração ainda estava acelerado pelo ato anterior do mais velho. "Na verdade, acho que foram embora apenas porque o outro cara estava morrendo, literalmente", desviou os olhos para a cama, lembrando-se da cena terrível. "Ele disse algo como: não se deixe levar por eles", murmurou, apertando as mãos em seu colo, fincando suas unhas ali. "E por fim disse: socorro", um gosto amargo subiu por sua garganta, e ele se forçou a continuar. "A pele dele começou a abrir, e o sangue dele era dourado", arranhou sua própria pele, sentindo a agonia se repetir.

 "A sua também é…", sussurrou o mais novo ao se lembrar, e o Kwon o olhou, abrindo um sorriso suave, e o baixinho sentiu outro arrepio passar por seu corpo.

 "É, na época não era, mas me assustou da mesma forma", ele se levantou, aproximando-se da janela, e apoiando seu braço ali, vendo o lado de fora em tons rubros. "Ele caiu duro no chão, e de seus olhos saiu sangue também", murmurou, mordendo o lábio inferior e sentindo seus músculos se contraírem em desgosto. "Nenhum anjo o ajudou, nem ele nem a mim, nem ninguém", completou, após olhar a vista, e virou-se novamente para o dono do apartamento.

 "Isso parece muito injusto", disse JiHoon de cenho franzido, indignado com a situação em que o outro estava, e o humano se aproximou, agachando-se a sua frente, e apoiando seus braços nas coxas alheias, vendo-o lhe encarar agora curioso.

 

 Por que era ele que se indignava com seu mundo?

 

 "Para eles, somos apenas um objeto, somos usados e quando atingimos o limite, somos descartados", sorriu novamente, deslizando o dedo pela pele gélida do outro, e o baixinho começou a não gostar daqueles sorrisos.

 "Você sorri demais para quem está contando algo triste", murmurou, levando suas mãos até seu rosto, segurando-o ternamente entre seus dedos frios, sentindo o calor humano novamente.

 

 SoonYoung abriu um sorriso genuíno desta vez, parando o que fazia, e riu da expressão confusa do mais novo. Eles se encararam por um tempo, antes do baixinho resolver imitar o ato anterior do mais velho, aproximando seu rosto do dele devagar.

 O outro arregalou os olhos por alguns instantes, prendendo a respiração, antes de sentir os lábios macios e frios sobre sua testa. Era levemente confortante, ao mesmo tempo em que era frustrante, porque ele não queria um beijo seu ali.

 Porém devia se contentar com o ato dele, pois com alguém tão recluso e afastado dos sentimentos humanos como JiHoon, aquele mero ato de carinho já era algo grandioso, que o fez alargar cada vez mais o sorriso, fazendo o baixinho se envergonhar.

 

 "Eu não sei como funciona esse afeto humano", disse após se afastar, com as bochechas ganhando alguma coloração rósea. 

 "Você fez certo", riu ele, se levantando subitamente. "Me sinto melhor agora, obrigado", passou sua mão pelo cabelo alheio, bagunçando-o e sentindo-o tão sedoso contra sua pele, que tinha vontade de passar a mão ali para sempre, tentando confortá-lo.

 "Mas você ainda não contou como começou essas marcas", disse ele com um leve bico – algo que havia aprendido com SoonYoung, e havia começado a usar por conta própria quando queria alguma coisa.

 "Ah, sim", puxou-o pela mão, fazendo-o se levantar e seus corpos se chocaram rapidamente. "Eu fiquei desesperado naquele dia, e comecei a procurar freneticamente por uma solução, escondido, claro", soltou sua mão e se encaminhou para a porta. "Meus pais não podiam saber que eu queria me rebelar", completou, vendo-o assentir e o seguir.

 

 Foram até a cozinha, onde o mais alto abriu a geladeira, desejando comer algo antes de ir embora.

 

 "Tive de caçar uma solução por meio ano, até achar uma faca especial no mercado negro", explicou, retirando uma maçã dali, e em seguida outra. "Até então já havia sido possuído algumas vezes, e estava acabado e desesperado", completou, jogando a maçã para o outro. "O vendedor me ensinou a usar, e desde então tenho feito isso todos os dias".

 

 O baixinho pegou a maçã, e levou à boca em segundos, ainda encarando o mais velho, que se apoiou no balcão. Repassava toda a história mentalmente, sentindo pena do mesmo.

 Deveria ser horrível ser usado daquela forma.

 

 "Por isso eu não posso ficar por mais muito tempo aqui", murmurou SoonYoung após um tempo, e JiHoon o encarou, sem entender.

 "Por que?", perguntou o mais novo após alguns segundos, e o humano encarou sua maçã, rodando-a em sua mão, admirando o tom rubro desta.

 "É proibido usar essa marca para afastar os anjos", respondeu, puxando levemente a manga de sua camisa, vendo uma das inúmeras que havia em seu corpo talhada ali, e passou o dedo por ela, sentindo-a arder levemente mesmo após dias feita. "Meus pais não sabem que parei de ser possuído, mas desconfiam, e se algum daqueles mendigos daquele dia se lembrarem de mim e me denunciarem, vou preso", concluiu, dando sua primeira mordida.

 "Você vai preso por não querer morrer?", questionou o menor sem entender, franzindo o cenho e o olhando em descrença. "Esse mundo é muito errado", completou, bufando revoltado e voltando a comer.

 "Eles falam que é uma tarefa divina e que não se pode recusar", disse ironicamente, balançando a fruta com desdém. "E a mídia ainda pinta isso como algo bom", suspirou, dando mais uma mordida. "A maioria dos receptáculos morre sem saber porque", a última frase saiu como um sussurro, e JiHoon sentir-se arrepiar.

 "SoonYoung", chamou após um tempo, e o mais velho ergueu o olhar para encará-lo. "Você disse que quase não chegam até os dezoito, e o seu sangue já está dourado, então…", murmurou cada vez mais baixo, deixando a frase no ar.

 

 O mais velho terminou de comer a fruta, sentindo que o ar daquele cômodo tornava-se cada vez mais pesado. Deixou os restos no lixo, e se aproximou de JiHoon, envolvendo-o em um abraço gentil pela cintura.

O meio-demônio o encarou sem entender, e deixando a fruta de lado, o abraçou também, sentindo-se mais quente no processo, e o maior estremeceu com aqueles braços frio em torno de si. Seu coração estava aquecido, mas ainda havia uma sombra de preocupação, porque o outro não havia respondido a sua pergunta.

 Não precisou responder para que ele entendesse, e o Kwon achou melhor daquela forma. Iria aproveitar o máximo possível a companhia dele, antes de partir.

 

(•••)

 

Mais alguns dias de passaram, e SoonYoung agia cada vez mais estranho com JiHoon. Era como se ele estivesse cada vez mais manhoso e grudento, sempre querendo estar o mais perto possível, e com o maior contato possível, o que sempre terminava em abraços duradouros.
Já era para ele ter partido, mas, de alguma forma, ainda estava ali, enrolando como sempre. Sempre dizia a si mesmo que aquele dia seria o último, porém ao acordar no dia seguinte, se via novamente indo a casa dele, sem pensar muito, apenas agindo.

 Seu tempo estava correndo, e ele tinha de se apressar, mas sua vontade era nula.

 

 "SoonYoung eu tenho fome", reclamou o baixinho, afastando-se do abraço do mais velho na cama, vendo-o fazer um bico.

 "Mas você já comeu", reclamou, mantendo seus braços em torno dele e bufando indignado.

 "Há quatro horas atrás, já estamos há quatro horas deitados aqui SoonYoung", retrucou o baixinho, soltando o celular que ele ainda segurava, pausando a série que assistia. "E eu tenho fome", completou, tonalizando na última palavra, e usando seus braços para se sentar, soltando-se definitivamente dele.

 

 O Kwon bufou novamente, não querendo se separar do outro. Nos últimos dias estava extremamente carente de afeto, e qualquer separação já lhe deixava de coração partido.

 Talvez o meio-demônio tenha se tornado tão importante para ele em tão pouco tempo, que não estava conseguindo aceitar o mínimo de rejeição possível.

 Se sentou após um tempo, quando o baixinho já estava indo para a porta.

 Olhou para suas próprias mãos e se perguntou se aquilo que estava sentindo era real e válido. Ou se era apenas uma desculpa de seu cérebro para não fugir.

 

 Talvez no fundo ele quisesse ser pego, ser possuído mais uma vez e morrer.

 

 Comprimiu os lábios com aqueles pensamentos. Tinha de se decidir logo. Se não fugisse logo, poderia colocar a vida do meio-demônio em risco, já que qualquer ato que um meio-demônio fizesse poderia acarretar em morte. Um mundo extremamente preconceituoso, concluiu.

JiHoon voltou antes que pudesse continuar os seus pensamentos, carregando um pacote de batatas, e SoonYoung sorriu involuntariamente. Fora ele quem o apresentou a aquilo e o fez se viciar.

 

 Em tese, era ele quem estava mostrando o mundo a ele aos poucos.

 

 Como JiHoon não saia de casa, apenas para ir ao mercado onde ele ia estritamente apenas pegar arroz, verduras e tinta para cabelo, ele não conhecia muito do mundo. Também por sempre estar com medo, não via nada ao seu redor do lado de fora, o que o tornou alheio a tudo, até a simples salgadinhos como aquele, que tinham em todos os lugares.

 O Kwon se aproveitou disso para apresentar seus doces favoritos, junto dos salgadinhos, e o meio-demônio se apegou as batatas em especial por acha-las deliciosas e por fazerem um barulho ‘estranho’, e SoonYoung riu quando ele confessou aquilo.

 Também lhe ensinou a usar o próprio celular, e o introduziu as séries, aos filmes, o que o ocupavam o dia todo e lhe mostravam mais sobre a humanidade que pouco conhecia. O meio-demônio tinha apreço principalmente pelos filmes de drama, e estranhou os de ação, sempre questionando como aquilo poderia acontecer, causando mais risos no mais velho.

 JiHoon voltou a se deitar na cama com cuidado, tomando um cuidado extra para não amassar o pacote, e estendeu para o outro quando se deitou confortavelmente ao seu lado naquele espaço tão pequeno, e o Kwon sorriu, abrindo o pacote e já comendo a primeira batata. O baixinho tinha de tomar um cuidado especial por causa de seus chifres, e se acomodou da melhor forma possível no braço do mais velho.

 Pegou o celular novamente, destravando-o facilmente para voltar a assistir, e logo sentindo uma batata roçar em seus lábios. Aceitou prontamente, abrindo a boca e puxando com os dentes, antes de mastigar devagar.

 SoonYoung se acomodou melhor, encarando o mais novo com curiosidade e talvez um pouco a mais de afeto que o normal. Ainda não sabia dizer ao certo, só sabia que tinha que tê-lo em seus braços para se sentir confortável. Era estranho como estavam tão próximos em questão de dias, e perguntou-se se era certo, se não estava abusando da inocência do mais novo. Mas precisava tanto tê-lo por perto.

 

 Realmente queria saber o porquê.

 

 JiHoon abriu a boca novamente, e rindo, o mais velho o alimentou daquela forma, o mimando enquanto apreciava o seu rosto de queixo quadrado e olhos pequenos, com os mesmos atentos a tela de seu celular.

 Geralmente ele não assistia as séries, ele apenas apreciava a companhia – silenciosa – do meio-demônio e usava aquele tempo para pensar e dormir tranquilo, algo que não podia fazer em sua casa. Sentia que se dormisse em seu quarto, poderia ser traído a qualquer instante, e aquilo o impedia de dormir decentemente.

 Pelo mais novo nunca ter tido amigos antes, ele não se importava daquela aproximação toda, na verdade a amava, pois era o único carinho que recebia em tantos anos. Sentia-se importante, de alguma forma.

 De fato era o único que lhe dera afeto, por isso SoonYoung se tornou especial para ele.

 

(•••)

 

Houve um dia que estavam dormindo na cama, com SoonYoung deitado de barriga para cima,  e o mais novo sobre este, com a cabeça sobre seu peito, em um sono agradável.
O de cabelo descolorido fora o primeiro a acordar, com o som de seu celular, que estava na mão de JiHoon, tocando a música do alarme. Retirou o aparelho com algum esforço, e desligou, deixando o eletrônico de lado.

 O baixinho se remexeu preguiçoso, e sem querer moveu a cabeça para cima. Rápido demais para pensar, e um de seus chifres raspou no queixo do maior.

 Ele se afastou na hora quando sentiu, vendo o sangue dourado escorrer. Levou suas mãos até os lábios, e se desculpou várias vezes, antes do outro se sentar, abrindo um sorriso confortante para ele.

 

 "Está tudo bem Woozi-ah, foi só de raspão", disse o maior, passando a mão pelo ferimento, sentindo o seu sangue sujar sua mão, e pressionou um pouco, até que parasse de sangrar.

 

 JiHoon mordeu o lábio inferior, e logo sentiu seu pulso ser puxado, e um abraço desajeitado aconteceu. Prendeu a respiração, não querendo se mexer de forma alguma, ou o machucaria novamente, como o monstro que era. Ele se encolheu involuntariamente, temendo feri-lo.

 

 "Ei, ei", chamou o mais velho, passando a mão por seu cabelo com delicadeza. "Não fique com isso na cabeça, foi só um acidente", murmurou, afastando-o pelos ombros para ver a sua expressão.

 

 O menor estava mordendo o lábio inferior, receoso, sentindo-se como um monstro, que de fato deveria ser.

 SoonYoung segurou seu rosto, passou seus polegares por sua bochecha, e se aproximou, até que seus lábios encostassem no cabelo claro e róseo. O baixinho foi se acalmando aos pouquinhos, e deixou-se levar pela sensação boa daquela boca quentinha sobre seu cabelo, passando um afeto estranho.

 Afinal, o Kwon gosta de alguém como ele. Um meio-demônio, com chifres, a pele pálida e fria.

 

 "Obrigado SoonYoung", murmurou o mais novo, de olhos fechados, abrindo um sorriso doce.

 "Pelo que?", perguntou o outro sem entender, afastando-se novamente.

 "Por ser meu amigo, quando ninguém mais me quis", disse espontaneamente, e sentiu-se corar sem motivos.

 

 O mais velho sorriu, beijando o alto da maçã do rosto alheio, antes de se afastar e voltar a se deitar. Bateu no colchão ao seu lado, convidando-o a se juntar a ele novamente. JiHoon estava receoso, e se deitou devagar, tomando mais cuidado que o necessário e fazendo o outro rir.

 Não quis se apoiar em seu braço, como sempre fazia, o que fez o maior bufar, antes se abraçá-lo novamente, fazendo um bico e querendo que ele parasse com aquela frescura. Iria gostar dele, mesmo que se machucasse a todo instante com seus chifres.

 

(•••)

 

"Woozi-ah, por que rosa?", perguntou curioso em um dos dias que o baixinho coloria seu cabelo, apoiado na parede do banheiro ao seu lado.

 "Eu gosto dessa cor", respondeu simples, dando de ombros enquanto se lavava como podia naquela pia.

 "Ela fica ótima em você", comentou SoonYoung, se aproximando e segurando a toalha que estava sobres os ombros dele.

 

 JiHoon sentiu seu coração se acelerar, mas ignorou enquanto passava a mão no cabelo, com a cabeça em baixo da torneira. O Kwon gentilmente lhe ajudou no final, pegando outra toalha e envolvendo sua cabeça sem pedir, secando-o devagar.

Ele mantinha um sorriso travesso nos lábios enquanto o ajudava a se secar, e o meio-demônio ficou encarando-o pensativo.

Já estava na hora de lhe contar seu verdadeiro nome.

 

 "E se um dia você tentar roxo, Woozi-ah? Acho que também ficaria incrível em você", comentou ao se afastar, vendo a coloração renovada no cabelo alheio.

 "JiHoon", disse o menor timidamente, mordendo a parte interna de sua bochecha e encarando seus pés.

 "O que?", o outro franziu o cenho sem entender, e o baixinho pegou a toalha de sua mão, passando em seu rosto e em seguida enrolando em seu cabelo novamente.

 "Meu nome é JiHoon", respondeu simples, se encaminhando para a sala com certa pressa.

 

 Os olhos do Kwon se arregalaram em surpresa, e sua boca abriu em descrença, demorando alguns segundos para raciocinar, antes de segui-lo.

 

 "O seu nome é JiHoon? Não Woozi? Por que você me disse que era Woozi então?", questionou ele sentindo-se traído por dentro, indignado em não saber antes, sentindo seu coração falhar uma batida e um sentimento ruim surgir ali, subindo para sua garganta.

 "Desculpe, é algo entre nós, demônios", respondeu o outro baixo, estendendo a toalha no varal da sala. "Se alguém souber seu nome verdadeiro, ele tem poder sobre você", explicou, virando-se para ver o rapaz que ainda estava de cenho franzido.

 

 O outro cruzou os braços, arqueando uma sobrancelha e JiHoon ficou sem entender o motivo. Era algo tão ruim assim não dizer seu nome?

 

 "Tem mais alguma coisa que eu não saiba e deveria saber?", questionou o outro ironicamente, estreitando os olhos. O baixinho sentiu seu coração se apertar, sem saber o porquê. Balançou a cabeça negativamente, e o outro suavizou sua postura.

 

 SoonYoung desviou o olhar para o chão, pensativo, comprimindo seus lábios e pensando que, também tinha coisas a contar para ele.

 

 "JiHoon", chamou depois de algum tempo, testando como o nome dele saia de seus lábios. "Isso vai ser estranho de me acostumar", sorriu, vendo-o pender a cabeça para o lado, levemente confuso e fofo.

 

 Como gostaria de agarrá-lo naquele instante.

 

 "Eu então tenho que confessar uma coisa", disse após algum tempo, e o menor assentiu. Respirou fundo, antes de contar o que vinha lhe ocupando a mente nos últimos dias. "Eu não posso mais ficar, meus pais já descobriram que não estou mais cumprindo o meu papel, e é questão de horas até que alguém venha atrás de mim", soltou de uma vez, sentindo seus ombros se relaxarem após dizer.

"Hm, eu sabia que tinha algo errado quando você trouxe a sua faca especial", falou o baixinho, dando alguns passos para se aproximar dele.

 "Ah, você viu? Minha intenção não era ser percebido", sorriu sem graça, passando a mão por sua nuca, massageando-a e o menor franziu o cenho, indignado.

 "Você pretendia não me contar?", perguntou JiHoon, sentindo-se ofendido e levando as mãos à cintura, como vira em algum filme.

 "Não, desculpa, não sou bom com despedidas", respondeu o maior, sentindo um gosto amargo subir por sua garganta. "E achei que, se fosse contar, iria acabar desistindo e ficando, porque eu não quero ficar sem você", completou, vendo-o bufar, antes de segurar sua mão.

 "Eu vou com você", anunciou o mais novo, e os olhos do maior se arregalaram.

 

 Abriu a boca pra protestar, e seus olhos se arregalaram ainda mais, com sua atitude. Nunca esperou nada assim dele, visto o quão inocente era, mas, estava sendo beijado.

 Os lábios finos e frios dele se pressionavam contra os seus, e ele tinha de ficar na ponta dos pés para poder alcançar. SoonYoung sorriu, abraçando sua cintura e sentindo seu coração disparar de alegria.

 Foi apenas um selar, mas significou muito para o outro, que assim que se separaram, o apertou com força, ouvindo-o gemer de dor, porém sendo retribuido.

 

 "Onde aprendeu isso?", perguntou curioso o Kwon, após alguns segundos, vendo o baixinho corar.

 "Naquela série que estava vendo", murmurou envergonhado, antes de sentir os lábios dele sobre os seus novamente.

 

 JiHoon sorriu, e o sentiu se afastar.

 SoonYoung olhou para as mãos do mais novo que estavam segurando sua camisa escura. O meio-demônio deslizou as mãos até achar as alheias, entrelaçando-as como havia feito inúmeras vezes, tentando passar conforto para o maior.

 

 "Mas você não pode ir JiHoonie, não é seguro", disse o maior após um tempo, afastando-se devagar. "E eu não vou poder te proteger enquanto estiver fugindo pela minha vida", completou cuidadoso, vendo-o bufar e fazer bico.

 "Eu não preciso de proteção", protestou ele, batendo o pé, e o Kwon o analisou enigmático. "E qual o sentido de eu ficar aqui?", questionou inconformado, gesticulando com os braços como havia aprendido nos filmes.

 

 SoonYoung sorriu, lembrando-se do quão sem expressão era no começo, sem sentimentos, sem entender nada. Ele havia mudado tanto em tão pouco tempo. Sentia que estava descobrindo um novo JiHoon.

 

 "Por que está sorrindo?", perguntou franzindo o cenho, levando as mãos à cintura, tentando parecer irritado.

 "Você é uma gracinha", disse o maior rindo, e se aproximou dele, envolvendo-o em seus braços suavemente, sentindo-o retribuir sem contestar, porém ainda bufou por alguns segundos.

 

 Ficaram daquela forma por um tempo, antes do loiro voltar a falar.

 

 "Mas, se você vier comigo, vai ter de me obedecer", alertou, afastando-se para ver seu rosto, arrumando sua franja rósea. O baixinho assentiu, tentando parecer confiante. "E se eu te mandar correr, você vai correr, sem olhar pra trás, entendeu?"

 

 JiHoon assentiu novamente, sentindo um beijo doce em sua cabeça, e depois outro em um de seus chifres, o que o fez estremecer e seu coração disparar.

 

 "Então vá fazer sua mala", pediu o maior, afastando-se por fim e levando as mãos aos bolsos, tentando conter seu nervosismo.

 

 O de cabelos rosados sorriu largamente, e se dirigiu para seu quarto, sem pensar muito em suas ações.

 Ele não tinha nada a perder, visto que sua vida não havia sentido, não tinha objetivos em sua vida nem nada. Agora que tinha um, não poderia deixá-lo escapar.

 Iria protegê-lo.

 Parar de fugir.

 Viver.

 

(•••)


Notas Finais


Esta fic é um spin-off nada a ver de uma JeongCheol que estou fazendo shuahueha Muito engraçado eu fazer isso quando nem terminei ela~ A de amanhã também será, e são diferentes ;;
Misturei todos os meus conhecimentos do sobrenatural — Inclui-se aqui, Sobrenatural, A Invocação do Mal, e muito Constantine — por isso me desculpem se ficou estranho ou sem muito sentido, foi da minha mente ;;

Posso dizer que estou adorando essa HoziWeek? Por mais HoZis JiSoo, amém~
Obrigada a todos que leram~


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