História HOT PINK - Eu não disse quais lábios

3 dias.

    Se passaram 3 dias desde o cinema, e tanta coisa aconteceu  que só consigo me dar conta enquanto estou sentada pensando no que fazer primeiro. Cabelo? Roupa? Será que preciso de um pó na cara? Cabelo é um bom jeito de se começar a se arrumar para um encontro, pelo menos pesquisas minhas afirmam isso. Corro para o banheiro em busca de um pente em alguma gaveta velha daquele banheiro.

    Enquanto penteio o cabelo e me olho no espelho só consigo pensar que tudo estava indo bem naquela semana, apesar de tudo que aconteceu em apenas dois dias comigo e com a LE eu ainda consigo respirar normalmente. Eu sei que trai alguém de um jeito horrível e comecei a rezar a noite pedindo que Deus me perdoe por fazer coisas que eu mesmo consigo me lembrar. Mas hoje é um dia novo, e aqueles dias ficaram para alguma ocasião onde perguntarão se eu beijei alguma garota e estaremos bêbados e eu direi “Sim, e foi muito bom, mas agora estou casada com um homem, sabe? Tenho dois filhos e estou feliz. A vida é dessas.”.

    Meu tornozelo quase não aparentar estar roxo, e isso me enche de determinação para usar um salto pequeno da minha mãe, se ela deixar claro. Não consigo olhar a mim mesma sem lembrar daquela filmadora estranha da LE, sinto que tiraremos uma nota baixa ou alguma nota quase baixa. Gravar vídeos de si mesmo e dizer que isso expressa sexualidade é do tipo “O que você tem na cabeça?”, mas eu não sei o que fazer LE não tem ideias melhores, então faremos isso ate que uma ideia melhor preencha nossas mentes com sabedoria de como não tirar uma nota “Vou dar uma nota quase baixa porque tenho dó dessas crianças perdidas em suas sexualidade-juvenil-artística-não-descoberta”.

   LE praticamente fugiu de mim esses dias, nos víamos nas aulas que temos em comum, nos intervalos eu sentava na estufa e ela ao menos apareceu, na saída estava sempre com seus rebeldes e ela só me ligou uma vez para perguntar se tinha algum dever de casa. Então peguei todo o meu tempo que usaria para pensar em LE, para pensar em Kook, liguei para eles todos os dias e falamos sobre nadas e tudo, assuntos sem fim e sem começo, ele me falava da amiga Wendy que era da escola e como eles se conheceram o que é uma historia que merecia reconhecimento mundial, e eu o contava sobre o trabalho tosco de artes e ele só comentou algo do tipo “Aquela garota é estranha”, mas eu não dei ouvidos, acho que ele só esta com ciúmes ou não gosta dela.

    Finalmente coloco o vestido. Vestido no qual eu tive que comprar com meu pai um dia depois de marcamos o encontro, era branco e simples, chegava ate os meus joelhos e era o suficiente para o meu pai, já que bem ele é meu pai.  Os saltos azuis baixinhos, mesmo pequenos eu demorei um pouco pra pegar o jeito para andar com esses troços. Passo um batom rosa tão claro que se você tocar meus lábios não pode perceber sua textura, coloco um tipo de arco no cabelo marrom, arrumo a franja e me sinto pronta para o meu primeiro encontro com meu namorado.

   Meu pai me deixou no restaurante com sua picape antiga azul e Kook esta lá nos esperado na entrada, ele me surpreende dando um aperto do tipo “irmãos” no meu pai que dá sua deixa de:

-Cuide dela... Kook? – dou um sinal de joia para ele saber que esta se saindo bem como pai protetor.

-Sim, estaremos em casa antes de anoitecer. – e Kook se saindo bem como namorado protetor.

   Sorrio e esperamos que ele vá embora para entrar no restaurante. Nem sequer o toco ate que sentamos na nossa mesa, era um restaurante de massas, pelo menos foi o que Kook disse. Nos olhamos ao sentar então ele sorri observando o cardápio.

-Macarrão com molho branco – eu digo sem ter certeza que isso tenha no cardápio.

-É acertou! A promoção do dia. – rimos e ele continua lendo. – Por que não pedimos uma pizza? Esse é o restaurante do meu tio, ele me disse que os casais quase sempre pendem uma boa pizza tradicional.

-Casais, certo? Vou querer. – digo determinada apesar de odiar pizza quero agrada-lo nesse primeiro encontro, é o restaurante do seu tio e se ele esta dizendo o que devemos pedir, seguirei o conselho.

-Tio Monster – ele grita e um homem de uns 40 anos e cabelos platinados vem nos atender.

    Ele se abaixa para Kook que o sussurra algo.

-Ah, claro – ele me olha e nos cumprimentamos com um abraço pequeno. – Esta saindo – ele pisca pra mim que rio discretamente.

    Apesar de conversarmos nesses últimos dias o assunto enquanto esperamos a pizza não flui como imaginei, ele comenta sobre o tio e histórias sobre a pizzaria não deixando que eu abra a boca, quer dizer eu me envergonho de falar alguma coisa já que ele se empolga com o assunto, é legal conversamos, só é diferente. Kook é a pessoa que adora falar, mas tem um disco tocando em si, sempre falando sobre as mesmas coisas e repetindo-as como se aquilo fosse ficar ainda melhor do que antes, mas o que me deixa mais nervosa é quando ele volta a falar da Wendy.

-A Wendy uma vez derrubou uma pizza aqui, ela foi ao banheiro e quando voltou deu de cara com um garçom sabe faz anos e eu ainda me lembramos da sua cara de susto e sua roupa suja de queijo e molho e depois meu tio decepcionado e então os pais delas voltaram aqui sabe... - Não consigo acompanhar suas frases sem pausas sem uma vírgula, sem pensar antes de falar.

   Finalmente depois de varias palavras entrando e saindo do meu cérebro após serem engolidas gravemente pelas minhas orelhas e mastigadas por neurônios do “Cala boca”. A pizza parece estar boa, mas o cheiro não me agrada ver aquele queijo derretido e o tomate me dava enjoo, peço um pedaço e então me preparo para uma batalha onde a faca, o garfo e a pizza disputaram entre si e após o vencedor a batalha decisiva será na minha boca a caminho do meu estomago onde lá dentro decidirão se vão ou ficam.  

   As batalhas começam e dois pedaços de pizzas estão dentro de mim, no momento eu só consigo observar Kook comendo tão rápido enquanto fala. Sua pizza esta quase no fim, então tento me apressar e guerrear um pouco mais rápido.

-Você quer uma água? Parece meio desconfortável – Kook diz isso no meio de várias frases sobre alguma coisa na qual estou perdida.

-Aceito.

   Ele pede a um dos garçons sem chamar pelo nome, e rapidamente se encontra um copo de água em cima da mesa esperando para ser esvaziado. O copo parece me encarar, na verdade tudo parece me encarar, a pizza, Kook, os garçons e acho que é meu espírito perdedor, porque sinto que a batalha foi perdida.

-Kook onde fica o banheiro? – levanto-me rapidamente.

-Ali – ele aponta uma porta ao lado do bar.

   Acho que ele estava falando alguma coisa, mas parei de prestar atenção há muito tempo, corro para lá e antes que eu posso fechar a porta estou ajoelhada diante de uma privada estranha colocando todo o queijo para fora, não consigo pensar em nada além de jorrar o queijo de dentro de mim naquela privada.

   Sinto uma sombra atrás de mim, Kook?

-Você ta bem?

-Sai – digo ao meio uma gorfada.

-Ei – ele segura meu cabelo que esta na minha cara.

-Que vergonha...- digo quando acho que o queijo finalmente parou de querer sair.

-Tudo bem vem – ele me levanta.

     Lavo meu rosto e algumas mechas do meu cabelo, estraguei meu primeiro encontro por um estúpido queijo.

-Vamos.

    Ele me leva ate seu carro que eu ao menos sabia que ele tinha, ele volta para o restaurante para falar com o tio e eu me ajeito no banco da frente pensando na burrada que eu fiz. Será que ele vai me levar para casa? Apesar de me sentir mal, não quero ir para casa.

    Ele volta para o carro e começa a dirigir dando alguns sorrisos para mim durante a viagem, que não parecer ser até minha casa. Vamos por ruas que não cheguei a ver ainda, o que não é nenhuma novidade, em uma semana morando nesse bairro e eu ao menos sei como ir ao mercado sozinha, é da escola pra casa e da casa pra escola, e, no tempo livre vou ao shopping trair meu namorado com uma garota que eu nem sei o verdadeiro nome, mas assim super natural do meu cotidiano.

    Depois de voltas e voltas naquele carro frio só trocando olhares com Kook, ele vai diminuindo a velocidade ate pararmos em frente a uma casa em uma rua similar a minha, só que é mais ampla e suas casas são maiores que as da minha rua, por pouco mais são.

     Ele estaciona o carro naquele jardim imenso verde. Saio do carro junto dele, piso na grama  com um pouco de dó de amassar aqueles pequenos brotos surgindo ali e aqui. O sigo para a porta de casa, tento pensar em algo para falar, a única coisa que formulo é um pedido de desculpas.

-Entre – ele diz antes que eu possa colocar em prática minhas desculpas.

    Com a cabeça abaixada eu entro e já começo a vagar meus olhos por todos os lugares, o piso branco onde consigo ver o meu reflexo quase que como um espelho. Então vou levantando meu olhar conforme vou andando devagar na frente de Kook, primeiro avisto um vaso enorme com uma flor ainda mais enorme, um vaso totalmente quebrável o que da medo de chegar  perto parecia ser mais caro que toda minha sala. Depois meus olhos encontram uma TV de umas 70 polegadas desligada, a TV esta grudada na parede verde marinho calmante, antes que posso apreciar o sofá bege por cada detalhe Kook fala:

-Vai subindo eu vou pegar uma água para você. – ele esta me encarando quando viro para ele.

-Onde? – pergunto confusa, nem sei se me refiro para onde é que eu vou lá em cima ou onde eu subo.

    Ele segura minha mão e me conduz ate uma escada enorme, cinco pessoas podem subir ai tranquilamente ao mesmo tempo.

-Pode ficar a vontade no meu quarto é a porta no final do corredor. – ele me deixa ali com a escada enorme.

   Dou uma última olhada na sua sala, todas as cores parecem estar em harmonia era como se tudo combinasse com tudo e mesmo assim de um jeito natural, o sofá parecia fofo e a poltrona parecia ser um par perfeito para ele, ambos eram beges e faziam um contraste com o tapete verde do chão assim como os quadros pareciam se encaixar perfeitamente em cada lugarzinho dali.

   Começo a subir a escada devagar e me segurando pelos gelados corrimões brancos que faziam todo trajeto da subida. No ultimo degrau já é possível ter uma boa visão do andar de cima, mas nem paro para olhar só sigo uma trajetória de três portas pelo corredor ate chegar a última delas, enorme e marrom, parecia brilhar. Quando já estou lá dentro me sinto no pequeno universo de Kook, há pôsters de filmes desconhecidos por mim, há um enorme quadro com várias fotos dele com a família e seus amigos do futebol, lembro-me que não temos fotos juntos como casal, na verdade não temos nada como casal ate mesmo a conexão de um.

    Ainda estou observando suas fotos quando escuto seus passos chegando de momento penso em fingir estar fazendo outra coisa, mas Kook é mais rápido que meus pensamentos.

-O que esta vendo ai? – ele diz chegando por trás e me abraçando pela cintura.

-Queria ter mais fotos com você – digo.

-Devemos tirar uma agora?

-Não! – digo rindo e assustada. –Vamos ter várias fotos, mas hoje é um dia que não rola, eu acabei de vomitar e não me sinto bem sabe... - Penso na cena e faço cara de nojo.

-Tudo bem Hani – ele me vira para ele e me assusto quando meus olhos se encontram com o seus.

   Apenas o abraço e sinto seus braços em minhas costas, ele me afasta e coloca o copo de água em sua escrivaninha. Seu olhar se torna ainda mais profundo e começo a desviar olhando para a sua parede azul escura e depois sua cama, meu corpo vibra quando percebo que estou no quarto do meu namorado, como demorei para me dar conta de algo tão simbólico? Minha mãe sempre me disse para me segurar ate o casamento, eu nunca entendia e quando comecei a entender eu não via razão para preocupação, quem faria tal coisa comigo? Era fora de cogitação.

-Deixe-me beijar seus lábios? – Kook diz me fazendo o olhar novamente.

-Ah? Não, eu vomitei sabe e...  – meus lábios deviam estar nojentos e mesmo beijar alguém fosse uma ‘prova de amor’ eu não queria isso.

-Eu não disse quais lábios – ele diz e da um sorriso malicioso e eu fico sem entender.