História House 108 - Consequências Estranhas e Atitudes Desesperadas Pt. I

Lily's POV

Eu tentava colocar metalmente a ordem dos acontecimentos em sequência enquanto andava pelo campus, procurando por cunhadinha querida, a.k.a Regina Mills.

- Em- suspirei, posicionando o telefone entre o ombro e a orelha - repete porque eu não estou acreditando. Onde você está?

Mesmo que eu não a estivesse vendo, conseguia imaginar sua revirada de olhos.

- Na cadeia, dragãozinho, na cadeia.

Minha irmã parecia desesperada, mas não consegui segurar a risada.

A ligação de Emma tinha conseguido tornar aquela manhã ainda mais estranha. Outros três da House 108 tinham sumido junto com ela, antes mesmo que chegássemos no campus. Tinker tinha seguido o exemplo, me dando um bolo no almoço que ela mesma tinha marcado e sem responder minhas mensagens ou atender minhas ligações há duas horas. Quando atendi a loira, que supostamente era a irmã certinha, esperava que ela tivesse respostas lógicas para os desaparecimentos, não que gritasse por Regina, xingasse até a décima geração de uma barata, e dissesse estar presa.

- Okay, o que foi que você fez? Cometeu atentado ao pudor?

- Lilith, sua draga do demônio, será que você pode parar com a palhaçada e me ajud... - Zelena interrompeu as pragas de Emma, puxando o telefone de sua mão.

- LILY? - graças a Cher tive o reflexo de afastar o celular do ouvido antes que a ruiva começasse a gritar - LILITH PAAGEE? CADÊ A GINA? CHAMA A GINA! EU VEJO UNICÓRNIOS, LILY, E ELES ME DIZEM QUE EU ESTAVA CERTA EM ME VINGAR DA BARATA.

Houve um ruido de tapas e um baque que me pareceu o telefone caindo no chão, seguido de um "Cala a boca, Zelena" coletivo.

- Ela está bêbada? - franzi as sobrancelhas.

- Muito mais bêbada do que a minha paciência consegue aturar - recebi um grunhido como resposta.

Eu já estava dentro do prédio onde ficavam as aulas de direito, e começava a varrer os corredores com os olhos a procura de Regina.

- Okay, okay, estamos enrolando demais - resmunguei - Não vou te ajudar se você não me disser o que foi que fez. Vai que está me pedindo pra ser cúmplice de um assassinato.

Atravessei o corredor das salas principais, espiando pelo vidro das portas a procura de Regina enquanto ouvia Emma me xingar. Preciso dizer que ela encontrou uma variedade surpreendente de palavras muito feias que eu nunca pensei que caberiam em uma conversa sobre responsabilidade, ajudar a irmã e falta de senso. Esperei-a terminar, calma como o anjo que sou, e quando ela o fez eu já estava do lado de fora do anfiteatro da faculdade, onde a Mills morena pisava em alguém - graças a deus no sentido figurativo - em uma simulação de julgamento.

- Tudo bem, tudo bem - Emma cedeu, com um ar derrotado. O suspiro pesado da loira e a briga no fundo da ligação pelo direito de contar a história me diziam que isso podia ser tudo, menos uma coisa boa - Se lembra do que eu te contei sobre a vingança? Quando Sr. Gold fez uma merda imperdoável com Belle e Zel, eu e Regina nos vingamos por ela?

- Sim, lembro.

Regina desfilava em cima dos saltos, exalando poder e impondo medo. O figurino preto de hoje - vestido apertado realçando cada uma das suas curvas - não deixava nada a desejar no quesito perfeição, juntando-se a maquiagem escura para fazê-la parecer com um anjo da morte. A mulher tinha sangue nos olhos, e pelo meu estoque de M&M na terceira gaveta da cômoda, se ela era a defesa, a acusação estava fodida.

- Lembra do acordo que o IDIOTA do Killian fez com o Gold? - Emma rosnou.

- Poxa Emminha, eu ouvi - Jones fungou, choramingando mais falso que as bolsas de camelô da Tinker - Assim você fere meus sentimentos mesmo, sabia?

E agora eu podia imaginar minha irmã afastando o telefone do ouvido, se virando para trás, inclinando-se na direção de Killian e apontando um dedo para a cara dele antes de gritar:

- Era pra ouvir mesmo, desgraça! Tem burrice maior do que fazer um acordo como crocodilo?

- Mas vocês não chamavam o Gold de barata? - Charming entrou na discussão, com um ar confuso.

- AAAAAA BARATA DIZ QUE TEM, DUAS SAIAS DE BALÃO, É MENTIRA NÃO TEM NÃO, NEM DINHEIRO PRA SABÃO, HAHAHA, HOHOHO...- Zel começou a cantar, o que gerou uma comoção geral entre os guardas. Uma comoção para fazê-la parar.

E de novo, um belo "Cala a boca, Zelena".

- Sim, sim, me lembro, o que que tem?

Enquanto isso, Regina apontava para o acusador com uma fúria que me amedrontava - e o coitado devia ser só um ator, mas estava sem cor -. O juri inteiro balançava a cabeça, concordando com os prováveis argumentos inegáveis de Regina.

- Eu tinha um plano, Lily, pra fazer o QI de planta de plástico do Killian finalmente entender que fez merda - a frase saiu quase como um choramingo - E ele envolvia colocar o Kill em um encontro as cegas com o Rumplestiltskin.

Não segurei a risada. Pouco me importava que eu estivesse do lado de fora de um "julgamento" e que alguns dos "advogados" tenham olhado feio para mim - mesmo que Regina continuasse lá, muito concentrada em praticamente torturar alguém em tribunal -. Emma era boa de ideias, mas aquela tinha sido de longe a melhor que eu já tinha ouvido.

- Você não sabe o quanto eu queria ter pensado nisso antes de você!

- Oh, eu sei - e eu apostaria meu próprio rim (se fosse ganhar mais de mil dólares ou muita comida, claro) que ela estava dando aquele sorriso convencido irritante - Eu sou alguma espécie de gênio. Mas eu, sem dúvida, deveria ter mandado esses três pra se ferrarem no pub SOZINHOS!

E novamente, ouve ruído de tapas, empurrões, xingamentos e os guardas, ao longe, reclamando do tempo da ligação. Sob os protestos e gritos dos outros - especialmente de Emma -, o próximo a ter a posse do telefone acabou sendo Killian. 

- Lily? Lily? - chamou. Assim como minha irmã, estava sóbrio e desesperado. E isso significava que aquele era o estado perfeito para uma brincadeirinha. Não consegui resistir.

Engrossei a voz, falando com o que eu achava que parecia uma mistura de Darth Vader com Lord Voldemort lançando o avada:

- Atenção, Killian Jones, você está automaticamente no paredão do BBB16...

E claro, houve outra discussão. Kill me xingou e me chamou de irresponsável e fria, como aparentemente manda o roteiro. Emma bateu nele e disse que só ela pode me xingar. Daí acho que Charming deu um beliscão nela porque só ele pode bater no Killian. 

Meu foco não estava realmente ali, e sim através do vidro, onde Regina ganhava o caso falso. Eu me perguntava se quando eu fosse oficialmente cunhada dela ela poderia ser minha advogada de graça. Me sentiria quase importante terminando todas as minhas discussões com "Vou relatar isso para a minha advogada, e nos vemos no tribunal".

- Lilith? Lilith, você está aí? - agora era Charming. Havia calma em seu tom de voz, mas o desespero estava lá.

Podia ter sido pior. Podia ter sido a Zelena bêbada.

- Se vocês não contarem essa merda logo eu vou desligar - ameacei. Não alcançava Regina, mas podia assustar tanto quanto Emma na TPM - E vocês vão mofar na cadeia, vão ver os fogos do Ano Novo pela janelinha da prisão.

-AZelenabebeuumabatidaetrêsshotsdetequilaaíaEmma... - David disparou, sem respirar.

Eu estava me divertindo tanto com tudo aquilo que nem prestei real atenção a todos no corredor que estavam ouvindo aquela conversa bizarra, pelo celular estar no viva voz, ou ao fim do julgamento falso. Não vi quando Regina saiu pela porta com cara de poucos amigos e arrancou o celular da minha mão violentamente. Só notei quando ela o tirou do viva voz, e com o um ar sério, encostou-o no ouvido e disse:

- Nolan, por tudo que há de mais sagrado, fale com coerência.

Eu não era especialista em linguagem corporal, mas podia jurar que a dela dizia "Srta. Swan-Page, vou te matar por sua irmã estar fazendo merda e você não ter vindo contar diretamente para mim".

Me aproximei um passo cautelosamente, para ouvir o que David dizia.

- Entramos no pub. Zel me arrastou para pista e nos perdemos de Emma e Killian....

- Zelena, Santa Cher, que merda ela fez dessa vez? - Regina apertou a ponte do nariz.

David, como sempre, tinha que colaborar com o humor já não muito agradável da Gina:

- Para começar, nós estamos todos presos - sua sinceridade rendeu um olhar ameaçador caindo sobre mim, como se eu mesma os tivesse mandado para a cadeia - Em segundo lugar, teve aquela batida bizarra, muita tequila, e quando os guardas deram voz de prisão Zelena vomitou todo o álcool em cima de um deles. Não sei se isso conta como descato a autoridade.

Enquanto havia silêncio do outro lado da linha, meu coração errou algumas batidas. Regina parecia que ia me matar e eu não sabia ainda não sabia o quão ruim era o que aquela gente tinha feito para ser presa. Por fim, a Mills só agarrou meu braço e seguiu pelo corredor enquanto continuava falando com David.

- Todos? Quantos estão aí?

- Eu, Zel, Killian e Emma.

- Emma! - Regina arregalou os olhos, perdendo um pouco de sua pose durona. Algo nela desmontou quando ouviu o nome de minha irmã e me aproveitei desse momento para pegar meu celular de volta, o que me rendeu um tapa.

- O que aconteceu depois da bebida? -  perguntei.

- Eu perdi a Zel de vista e em seguida achei Emma. Ela me contou que parte do plano já estava completo. Vestiu o Killian de "Cora" e o mandou para o encontro com Rumple.  Pedimos para que a original gravasse algumas frases, como "Gata, me chama de toalha molhada e me joga na cama" e "Se sua perna direita fosse o Natal e a esquerda fosse a páscoa, você me chamaria para jantar entre os feriados?", e as colocamos para tocar enquanto Killian dublava.

E essa foi a minha vez de me distrair, tendo um ataque de riso até quase ficar sem ar e dando a Regina a oportunidade de pegar o celular de volta.

A essa altura, já estávamos no estacionamento da faculdade.

- Zel foi presa por descato a autoridade - Gina começou a repassar - Killian passou cantadas baratas e aparentemente o resto de vocês se prestou o papel de ridículo, mas qual é o motivo de estarem na cadeia?

- Rumple não podia ver Killian, então a sala tinha que estar escura - Charming explicou - Emma não conseguiu achar o interruptor e quebrou a lâmpada com um taco de beisebol.

Regina afastou o celular da boca, colocando-o contra o peito, e soltou um suspiro pesado:

- Swan, uma coisa dessas tinha que vir de você... - e depois, de novo falando com Charming - E você e Killian? Imagino que não tenham sido presos para fazer companhia para os outros.

- Aparentemente, Killian fingir que é a Cora como falsidade ideológica. E eu, bem, Emma me pediu para convencer o barman a fazer uma batida louca com coisas que Rumple é alérgico e bebidas fortes. O estado dele ficou deplorável. Inchou igual um balão de ar e pelo visto não aguenta muita bebida. Só um copo e já estava abraçando toda e qualquer pessoa. Mas a alergia quase fechou a garganta dele e agora a barata está no hospital.

Regina parou, resmungando e tirando a atenção de Charming por alguns minutos. Estávamos paradas na frente do carro de Gina, e ela apenas destrancou e me deu um empurrão, indicando que eu entrasse.

- Whoa - protestei, me acomodando no banco do carona - Você sabe mesmo como fazer uma garota se sentir especial. Por isso que a minha irmã te largou.

A batida de porta violenta e seu olhar me diziam que aquele era um assunto no qual ela não queria tocar.

- Regina? Lilith?  - ouvi Charming chamar com desespero assim que a Mills colocou o celular no viva a voz novamente - O tempo de ligação acabou. SOCORRO. SOS.  SALVEM NOSSAS ALMAS.

E essa foi a última frase que ouvimos antes do silêncio completo.

A primeira a quebrá-lo foi Regina, que certamente não estava no melhor dos humores:

- Puta merda, será que não dá para deixar essa gente sozinha dois minutos que eles fogem e fazem isso?

Abri a boca para responder, mas fui interrompida pelo som da porta de trás sendo aberta e por uma Belle de olhos arregalados entrando no carro.

- Belle? - French parecia estar tendo uma ataque de ansiedade, mexendo as pernas sem parar, e eu Regina olhávamos para ela com preocupação - Aconteceu alguma coisa?

- Eu segui vocês  - respondeu - Zel está com problemas, e eu quero ajudar.

Segundos de tensão. Olhei para Gina com um olhar questionador, e ela, depois de retribuir o olhar, voltou os olhos para Belle. Todos nós sabíamos que quanto mais de nós saíssem juntos, mais perigoso era.

Mas por fim, Regina só resmungou um "Tudo bem" e deu partida no carro.

Antes de sairmos, verifiquei meu celular, que não parava de gritar avisando que havia mensagens. Destravei e olhei. Eram todas de Tinker. 22. Não li. E me arrependeria disso mais tarde.