História House 108 - As Baratas Também Amam - Pt. I

Charming's POV

Emma e Regina pareciam estar procurando motivos para discutir nos últimos dias, e sempre achavam um jeito de fazer com que todos da casa discutissem junto. Resolveram começar logo no primeiro dia útil da semana, justo a segunda feira que todos odeiam e em que estamos sempre atrasados.
- Isso aqui é um cereal saudável, Swan - Regina levantou uma caixa de cereal light - Nutrientes, vitaminas, não coisas que vão fazer você morrer antes dos trinta como isso aí que você come!
- Isso tem gosto de cerragem! - Emma abraçava sua caixa de cereal gorduroso protetoramente - Isso aqui tem gosto da vida, de chocolate, quero viver e não sobreviver.
- Chocolate dá espinhas e esse cereal da Emma deve estar vencido desde a última vez em que vocês duas transaram - Mérida provocou -, o que, com esse humor, deve ter sido há muito tempo.
- Antes cereal bom vencido do que folhas como cereal, folhas eu encontro no jardim - Lily comentou, depois virando para Mérida - Mas concordo com o ponto de essa abstinência sexual do casal Swan Mills estar atrapalhando os ânimos por aqui.
- Não são folhas, são ervas - Belle corrigiu ao mesmo tempo em que Emma e Regina respondiam, em uníssono, que não eram um casal (Gina desviando o olhar nervosamente e Emma ressentida).
- É pra discutir? - Killian entrou na cozinha já vestido com calças jeans mas ainda com a blusa de pijama, como fazia todas as manhãs - Porque eu prefiro Marvel a DC Comics e quem discorda que venha me atacar.
- Os vilões da DC Comics são muito melhores - Mulan revirou os olhos - a Marvel só tem herói, eca.
- Alguém quer brigar pela aspirina? Porque eu vou precisar se essa coisa - gesticulei com a mão em direção ao caos que se instalava na cozinha - continuar.
Dorothy apareceu correndo na cozinha, com um dos pés calçados com uma bota e calçando o outro com um all star sem parecer notar.
- Não temos nem tempo de outra discussão, a não ser que seja dentro do carro - olhou para nós - As aulas de todos nós começam em 15 minutos.
Daí, foi a correria geral de sempre.
Todos deixando o café pela metade na mesa e as coisas perecíveis fora da geladeira, correndo como loucos pela House 108 em busca de materiais que ninguém sabia onde estava e de canetas que catávamos uns dos outros. Eu acabei sendo um dos últimos a ficar na cozinha, demorando muito para apenas passar a alçada mochila sobre o ombro e equilibrar os livros enquanto bebia o meu Todynho, tarefa que deveria ser mais simples. Quando finalmente consegui, senti uma mão se agarrar ao meu braço com força, me obrigando a olhar para baixo e quase me fazendo derrubar tudo.
Emma.
- Onde pensa que está indo, David? - a loira não era muito de conversas sérias, então eu sabia que seu humor não estava dos melhores por ter me chamado pelo meu nome real e não de Charming.
- Para a faculdade?
- Não, não e não, resposta errada - Swan agarrou meu braço e começou a me arrastar na direção da saída dos fundos.
- ISSO É SEQUESTRO! - gritei - CHAMA O SAMU, A GUARDA COSTEIRA, O EXÉRCITO, OU A CARROCINHA PORQUE ELA TÁ COM RAIVA!
- Você tem o direito de permanecer calado - Emma parou e puxou a caixa de Todynho da minha mão, quase arrastando-a na minha cara e depois me devolvendo, indicando que eu bebesse para ficar calado - Tudo que você disser pode e será usado contra você.
- Vocês são todos tão dramáticos que ainda não sei porque sou eu quem faz artes cênicas - Zelena apareceu, nos seguindo e arrastando Killian.
- Eu sei que você quer que alguém diga que é porque você tem talento, Zel, mas são 7 da manhã e eu ainda não estou pronto para começar a alimentar seu ego - Killian rolou os olhos.
- Onde está aquela sua marmita amarela, Emma? - Zel perguntou, sendo fuzilada pelo os olhos verdes da loira em resposta.
- Ei, ei, ei, sério que ninguém vai dizer aonde a gente vai? - bufei.
- Vamos para um cabaré rebolar todos juntos ao som de Work - Zelena fez uso da revirada de olhos e do tom sarcástico característico das Mills - É óbvio que está na hora do Killian resolver suas pendências com a Barata.
Contra os nossos protestos, fomos todos enfiados dentro da lata de sardinha . Eu e Killian atrás, apavorados, Zelena na frente rindo como uma psicopata e Emma com cara de que em breve ia arrastar nossos lindos rostos no asfalto quente.
- Vocês sabem porque o carro da Emma se chama marmita? - Zelena se virou para nós dois, claramente testando os limites da paciência de Swan - Porque toda vez que Regininha entra nele, é comida.
Emma olhou para o céu - para o teto do fusca, melhor dizendo - e suspirou pesadamente.
- É sério, o que eu fiz pra merecer isso, Deus? Foi aquela vez que eu colei na quarta série?
Killian tinha um ataque de riso do meu lado e eu só encarei Zel:
- Não tente essa piada com Regina, por que ao contrário de Emma ela não vai falar com Deus, vai falar é com o diabo pra ver se consegue te mandar mais rápido pro inferno.
A ruiva me deu uma piscadela antes de se virar para frente e recostar no banco:
- Querido, se eu estou aqui é pra causar a discórdia.
- Dá pra notar - disse Killian, tentando parar de rir.
-  Se eu fosse você ficava na sua, Jones - Emma retrucou acidamente . A convivência com Regina devia estar afetando seu temperamento - Não é um bom momento pra você rir.
O decreto da loira fez com que todos calassemos a boca por boa parte da viajem - com exceção de Zelena, que é claro, tinha que ligar o rádio e ficar cantando junto com todas as músicas e desafinando -. Eu evitei dizer muita coisa e apenas beberiquei meu Todynho fazendo o mínimo de barulho possível. Eu não sabia o que diabos Emma Swan queria comigo ali, mas pela sua cara e seus planos anteriores, não era coisa boa.
A única vez em que vi Emma sorrir naquela manhã foi quando estacionamos, e foi um sorriso diabólico. Tenho medo de ir na cozinha a noite e encontrar alguma coisa parecida.
- Zel, o vestido do Jones? - Emma virou para Zelena, que apresentava uma expressão quase tão medonha quanto a da loira.
- Confere.
- Cera para depilar?
- Confere.
- Amendoim?
- Confere.
- Camarão?
- Confere.
- M&M?
- Confere.
- Hey, hey, hey, o que diabos é isso tudo? - espiei do banco de trás as milhares de sacolas que as garotas tinham trazido - Vamos abrir uma rede nacional de mercados?
- Não, não querido - Zelena seu palmadinhas amigáveis no meu ombro antes de empurrar a porta do fusca e deslizar para fora, abrindo o grande guarda-chuva verde para fugir da chuva - Isso, se correr como o esperado, vai causar um estrago e tanto. E eu comprei um Todynho extra para que você aguente bem a barra enquanto vem comigo.
Killian já tinha saído e a porta estava aberta, esperando por mim, mas eu congelei assim que ouvi essas palavras.
- Com você? Não vou com você a lugar nenhum!
Parecia ser exatamente a resposta que ela aguardava ansiosamente.
- Ah, Charming - apertou meu colarinho e o puxou, com um sorriso medonho se esticando pelo seu rosto  - Você vai sim.
E foi dessa maneira que minha vida conseguiu descer ladeira abaixo de um jeito meio desesperador - se é que já não estava fazendo isso desde que eu me juntei aquela república cheia de gente anormal -.

Killian's POV

Nós quatro entramos num pub com aspecto decadente, e aí tive certeza de que o Crocodilo era péssimo até mesmo em encontrar lugares para marcar um encontro. Zelena arrastava David para a pista de dança, animada com o jogo de luz e a música eletrônica. Provavelmente tinha esquecido por alguns momentos o nosso real objetivo ali.
- Bem, já que eles foram para lá nós vamos nos separar em duplas - Emma puxou a manga do meu casaco e foi me guiando ao redor da pista de dança - Primeiro vamos achar um banheiro, onde você vai ficar vestido pra matar...Ou eu deveria dizer vestida?
- Você não está em um bom momento pra fazer piadas, Swan. Eu tenho várias piadinhas sobre Swan Mills, e agora que a Diaba Mills não está presente posso dizer todas elas.
Emma parou de repente, na metade do caminho para os sanitários, e apontou o dedo para mim.
- Que direito você tem de shippar eu e Regina?
Soltei uma risada sarcástica baixa.
- Sou um cidadão livre, tenho direito de shippar o que eu quiser.
- Eu e Regina não estamos mais juntas - Emma cruzou os braços e seus lábios formaram um bico.
- Então você admite que antes tinham alguma coisa séria ? - eu disse, levando uma encarada mortal como resposta - Eu sabia que o OTP era real!
Ergui a mão para bagunçar o cabelo da loira - coisa que ela odiava que eu fizesse, aliás - e ela a afastou com um tapa.
- Cale a boca, Jones.
- Essa violência toda você aprendeu com a Regina praticando sadomasoquismo? - eu sabia que estava assinando meu atestado de óbito e oferecendo a caneta para que ela tentasse me assassinar com ela, mas naquele momento, não me importei. Emma estava louca  para me provocar pelo resto da vida pelo encontro com Gold e eu não via porque não responder a provocação, principalmente quando tudo que eu estava dizendo era verdade.
Terminamos nossa caminhada até uma porta azul e Swan bufou, me puxando e em seguida empurrando para dentro.
Havia uma loira sentada em cima da pia, a quem Zelena beijava como se tentasse engolir. Por mais que só a tivéssemos perdido de vista há 15 ou 20 minutos, eu não duvidava de que ela já tivesse arrumado bebida e estava "alta".
Três garotas passavam gloss ao lado das duas como se não tivesse dois seres humanos quase a comendo logo ali, do lado do sabonete.
- Emms, isso é o banheiro feminino - dei uma cotovelada em suas costelas, já que ela encarava vidrada a cena de Zelena beijando a garota. Imagino que o motivo seja ela ser muito mais familiarizado com o drama de Belle e Zelly do que eu.
- Eu sei disso.
Uma das garotas tirou os olhos do espelho e pousou em mim, soltando um gritinho.
- Você é um cara - continuou, histérica - no banheiro feminino.
- É aquele ditado, nem tudo é o que parece -  Emma tirou o vestido vermelho e os sapatos da bolsa casualmente, atirando-os em mim - Sabe como é, de dia é Maria de noite é João. Anda logo, entra nessa droga de cabine e saia igual uma deusa, Killian.
Zelena desgrudou os lábios dos da garota e riu de uma maneira que provava que estava bêbada.
- COMO UMA DEEEEEUUUSAAA - cantou - VOCÊ ME MANTEEEEM.
- Ande logo - Emma me deu um empurrão encorajador na direção do banheiro - Não sei se consigo aguentar isso por muito tempo.
Pouco disposto a lidar com a louca da Zelena além de Emma Swan, entrei no banheiro e troquei a calça jeans e a blusa de pijama com que tinha saído de casa pelo vestido vermelho e saltos. Saí camabaleando e me apoiando nas paredes para não acabar dando um beijo de língua no chão e fui recebido de volta por aplausos bêbados.
- FICOU GOSSSSTOSA, KILLIAN - Zelena, é claro.
- Acredita que ela consegue ter uma linha de raciocínio mais incoerente bêbada? - Emma me analisou de cima a baixo - Eu achava que não dava para piorar.
- Emma.
- Oi.
- O que você pretende fazer em relação a isso aqui? - perguntei, apontando para a barba.
- Bom, nada - ela deu de ombros - Vamos?
- Rumplestiltskin pode ser um babaca, o demônio encarnado, mas tenho que admitir que ele não é burro,  Swan. E nem cego. Até onde eu sei, Cora não tem barba.
- Como eu já disse, Jones, vai ser um encontro ás cegas, no sentido mais literal o possível  - ela batia os saltos dos coturnos no chão com impaciência - Podemos ir agora?
Ela mal esperou a minha resposta e já se dirigiu até a porta, lançando um olhar para Zelena antes de sair:
- Ache o Charming, não entre em coma alcoólico, não mate pessoas durante a sua vingança.
A segui, um pouco atordoado, andando o mais rápido que aquelas armadilhas mortais nos meus pés permitiam.
- Então...você está querendo dizer que ele não vai me ver?
- A não ser que tenha óculos de visão noturna, não.
- Então, por que diabos você me obrigou a vestir essa coisa e me torturou me depilando com cera quente?
Emma parou e me olhou de novo, com um sorriso que provava que Regina tinha ensinado a ela coisas muito além de o que fazer com os dedos.
-  Pelo prazer de ver você tentar andar de salto, e porque aqui se faz aqui se paga, monamour.
Ela voltou a andar, rindo, e notei que estávamos indo na direção e algumas mesas privadas.
- Isso só prova que você é o que você come, Emma.
- Como é que é?
- Você e Regina - expliquei - Vocês se comeram mutuamente muitas vezes, e agora você tá igualzinha a ela.
- Calado, Jones.
- Viu? - vi que minha provocação  estava sorrindo efeito e me aproximei mais - Idêntica. A Emma que eu conheço me mandaria ir pra puta que pariu, e não ficar calado.
Chegamos até as mesas e ela empurrou a cadeira com raiva, seu olhar me fuzilando, e indicou com sinais que eu sentasse nela.
-  Em homenagem a isso - continuei, sentando - Agora eu vou te chamar de Dark Swan, a gótica suave que você respeita.
Swan revirou os olhos verdes.
- É o seguinte, Jones. Rumple está chegando. Você não vai fazer nada, só vamos usar algumas frases que eu pedi para a Cora gravar - puxou um gravador da bolsa e colocou em cima da mesa - nos momentos certos.
- Aqui está claro.
- Eu e Zelena vamos mexer no sistema de iluminação da sala - ela começou a se afastar - Fiquei aqui, não faça merda e não compre nada que custe mais de 2,50 porque estamos sem dinheiro de novo.
Enrigeci o corpo na cadeira, vendo Emma se afastar. A Dark Swan com certeza ia fazer com que essa pequena confusão se tornasse um caos, e eu com certeza estaria  no meio.