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História House of Cards - Capítulo Onze


Escrita por: MissTayHan

Notas do Autor


Boa noite gente!
Ai o site bugou aqui para mim e eu tive que postar o capítulo duas vezes, ai que saco...

Mas bem, esse é o capítulo mais importante, o "Q" que eu disse, pois ele é bem pesado por tratar de muitos sentimentos, mas vamo que vamo e boa leitura!

PS: capa nova foi presente da @Leh_Taegi de novo!

Capítulo 11 - Capítulo Onze


Isso é loucura!

As palavras de Taehyung ainda ecoavam por minha cabeça. Eu não ouvia nada de fora do carro, nenhuma buzina, ou o som da agitada cidade de Seoul em seu agitado horário de almoço, com as pessoas apressadas para lá e para cá. Estava com a mente completamente inerte em meu próprio dilema.

E se ele não quiser te ouvir?

Não tenho escolha, preciso tentar. É arriscado, posso bater de cara na porta, mas só vou desistir quando não me houver mais forças. Jungkook se tornou tão importante para mim em tão pouco tempo, mas não consigo me lembrar de como minha vida era sem ele, ou pensar em um futuro sem ele. Isso é impossível para mim, eu dependo dele.

Ele é casado, tem uma família, nem deve se importar com nada do que você disser!

Mas é minha única chance, preciso arriscar. Além do mais, se um dia ele já amou de verdade a família que ele abandonou anos atrás, ou ele ainda tiver um pingo de decência e humanidade, ele vai ajudar a salvar Jungkook, nem que eu tenha que trazê-lo a força para Seoul, mas ele terá que fazer o transplante de medula.

É arriscado demais, mas é você quem decide...

Eu farei isso! Desde aquele dia que descobri que posso perder Jungkook a qualquer momento, tomei a decisão de contratar um detetive e procurar seu pai. Jihyun me deu algumas informações, como o nome, ano de nascimento, profissão, e uma semana e meia depois, estou com o endereço dele em mãos.

Boa sorte!

Jeon Junghwa,é diretor de uma escola em Busan, onde é casado e tem uma filha da idade de Jungkook, o que me faz acreditar que ele abandou Jeon Myunghee e seus dois filhos para ficar com alguma amante na época. Repugnante, mas ele vai ter que ajudar Jungkook, afinal, ele também é seu filho e merece sair vivo dessa situação, porque ele nem teve a chance de ter uma vida direito, ele ainda tem muita coisa para ver e viver, não pode simplesmente acabar agora.

Já está decidido, vou atrás de seu pai, pedir para que ele faça o exame de compatibilidade, que com certeza dará positivo – o pai sempre costuma ser compatível com o filho, segundo os médicos – e assim ele poderá ser o doador de Jungkook. Ele não pode negar isso, ele precisar pelo menos uma vez na vida dele fazer algo de bom para essa família. Eles nunca o procuraram, o deixaram fugir covardemente sem questionar, ele deve isso a eles, a Jungkook.

Por isso amanhã de manhã bem cedo, botarei o pé na estrada e irei a Busan, mas hoje, ainda vou passar o resto do dia com Jungkook. Ele está um pouco melhor, apesar de estar fraco e perdendo peso. Sempre vou ao hospital e às vezes Taehyung e Hoseok também, mas hoje estou indo sozinho. Passei a manhã com os dois, foi quando conversei com eles sobre ir atrás do pai de Jungkook.

Agora eu estacionava em frente ao hospital. Desliguei o carro e sai ligando o alarme. Entrei no hospital e segui direto pelo caminho já conhecido por mim que ia até o quarto de Jungkook. Peguei o elevador e passei por todos os corredores até chegar lá.

Ele estava acordado e vendo televisão quando entrei. Quando me viu, sorriu docemente e retribui. Caminhei até a beira da cama, onde me sentei e segurei uma de suas mãos sobre seu colo. Como sempre, ele estava com a pele fria e pálida. Acariciei o dorso de sua mão e ele sorriu singelo.

– Tudo bem? – Perguntei apesar de saber que ele não diria se estivesse mau para não me preocupar.

– Aham, como foi seu dia até agora? – Sua respiração era pesada.

– Nada demais, você sabe que o ponto alto do meu dia é quando estou com você!

Ao terminar de dizer isso, Jungkook sorriu abertamente e eu inclinei meu corpo para frente, para beijá-lo castamente em seus lábios agora sem cor. Os suguei levemente e depois ele os umedeceu. Durante essa semana, tenho demonstrado mais do que nunca o quanto o amo. Quero que ele saiba que jamais o abandonarei, mas amanhã eu terei que ficar sem vê-lo e preciso inventar uma boa desculpa.

– Hoje vou passar o resto do dia com você, mas amanhã eu não poderei vir. – Quando disse, ele logo fez uma carinha triste.

– Por quê? – Perguntou com um bico fofo.

– Bom eu... tenho umas coisas para fazer com o Taehyung e o Hoseok. – Disse a primeira coisa que me veio a cabeça.

– Por que eu não estou acreditando?! – Ele disse desconfiado e engoli em seco.

Não gosto de mentir para ele, mas dessa vez é preciso. Mas não sei se vou conseguir. Eu hesitei, agora ele está desconfiando de alguma coisa, e tudo o que não quero é que ele tire conclusões erradas.

– É verdade, tenho umas coisas da escola para fazer com eles, alguns trabalhos, é só isso. – Dei de ombros tentando parecer normal e tranquilo, e não nervoso.

– Jimin, por favor, não me esconda nada, sei quando está mentindo e você está! – Sua voz foi firme.

Bufei. Claro que eu não ia conseguir esconder nada dele. Teria que contar a verdade sobre meu plano de encontrar seu pai. Só esperava que ele reagisse bem, que ele não surtasse como fizeram Taehyung e Hoseok, afinal, era uma saída para sua doença, nossa chance de ficarmos juntos, ter nossa vida e nosso “Felizes Para Sempre”. 

– Eu fiz uma coisa, escondido de todo mundo. – Respirei fundo.

Ele me olhava atento e com um olhar preocupado. Acho que é bom eu contar para ele, é o pai dele, ele pode querer saber sobre o homem que o abandonou, saber quem ele é, o que faz, ou seus motivos para ter ido embora. Sem dúvida contar a verdade é o melhor para ele, eu também iria querer saber do meu pai se tivesse a oportunidade, iria querer ouvir uma explicação dele de porque ele abandonou sua esposa e filho.

– Procurei pelo seu pai e o encontrei... Ele mora em Busan e amanhã eu vou até lá, conversar com ele e pedir para ele fazer o teste de compatibilidade com você.

Jungkook ficou em silêncio. Seus olhos se encheram de lágrimas e ele desviou o olhar. Com certeza ele não esperava que eu fizesse isso, muito menos que eu conseguisse encontrar seu pai e o choque de realidade pode ter sido muito grande para ele. Eu entendo, ele nunca teve noticia alguma de seu pai e de repente digo que sei onde ele mora e que irei vê-lo.

– Po-por que fez isso? – Uma lágrima escorria por sua bochecha.

– Porque eu não posso perder você e essa era a única solução. – Disse. – Não importa onde eu tenha que ir ou o que eu tenha que fazer, não vou deixar você morrer, Jeon Jungkook.

Ele deixou-se entrar em pranto e eu o abracei fortemente. Enterrando o rosto em meu peito, ele retribuiu ao abraço e eu beijei o topo de sua cabeça. Meu doce e inocente menino, eu morreria por ele, iria ao inferno se fosse preciso para salvá-lo, eu o amo e não há força maior que esse sentimento. Ele é puro, mas repleto de desejo. É bonito, mas avassalador. Calmo, mais intenso. Não há nada melhor do que a sensação de um amor recíproco.

– Obrigado Jiminie, eu te amo!

– Eu também te amo, meu amor! – Dei vários beijos em sua cabeça.

– Jimin... – Ele se afastou um pouco. – Eu quero ir com você, também quero ir até Busan e... conhecer o meu pai.

Fiquei em silêncio no mesmo instante. Olhei para ele sério. Ele queria mesmo ir comigo? Tudo bem que ele tem o direito de conhecer o pai dele e lhe fazer muitas perguntas, mas e se ele disser não para o transplante? E se Jungkook ficar ressentido? Nem sei se ele pode ir, é uma viagem muito longa, ele pode não aguentar e ficar cansado, passar mal. Mas não posso dizer não para ele. O que eu faço agora?

– Tem certeza que você quer ir? – O segurei pelos ombros e o fiz me olhar nos olhos.

– Tenho, eu quero fazer isso! – Disse com a voz firme. – Por favor, me deixa ir com você?

Ele fez uma carinha fofa, sabendo que aquilo me convenceria. A verdade é que mesmo que ele fizesse uma careta eu não conseguiria dizer não para ele. Jungkook é o que eu tenho de mais valioso, ele merece ser mimado de todas as formas existentes, merece tudo que ele quiser e eu farei tudo que ele me pedir.

– Tudo bem, passo para te pegar às seis da manhã, esteja pronto, pegue todos os remédios que você vai precisar durante o dia, está bem? – Segurei seu rosto e ele assentiu sorrindo. Sorri também e lhe dei um beijo rápido nos lábios. – O que eu não faço por você...

Jungkook sorriu e me deu outro beijo.

 

 

[...]

 

 

Espero estar fazendo a coisa certa. Espero que dê tudo certo. Seria horrível se o pai de Jungkook não aceitasse fazer o transplante e dissesse “não” bem na frente dele. Não sei se ele suportaria isso, já é arriscado ele ir e isso me deixa muito preocupado. Por isso estou torcendo para que ele aceite ser o doador de Jungkook, pelo menos se ele passar mau, quando voltarmos teremos a cura para ele.

Mas se algo der errado, se seu pai não quiser doar a medula, tudo estará perdido. Aí eu não sei se eu irei aguentar. Não posso nem pensar em perder Jungkook, ele é tudo para mim, se ele morrer, eu morrerei depois, aos poucos, de infelicidade, por não ter aquele que foi o único capaz de fazer eu me sentir vivo.

Deus queira que dê tudo certo!

Estacionei o carro. O dia ainda clareava. A neblina deixava o clima ainda mais frio nessa época do ano. Eu havia pegado com Jihyun alguns casacos, tocas, luvas, cachecóis e lençóis para Jungkook na viagem. Ela quase me matou quando disse que ele iria comigo, mas disse que não tive escolha, ele me implorou muito para ir. Pedi a ela que segurasse as pontas por aqui quando descobrissem que ele tinha sumido de seu quarto.

Entrei no hospital pouco movimentado para o horário, pelo menos na área de oncologia, só a emergência do outro lado que de manhã fica cheia. Seria fácil passar despercebido com Jungkook. Se alguém nos pegasse estaríamos fritos, principalmente eu. Sua mãe me jogaria vivo para os leões.

Dei uma leve batida na porta e a abri. Jungkook já estava arrumado, ele tinha umas poucas roupas aqui, mas eu o faria colocar um casaco e toda a tralha que Jihyun me deu.

– Aqui, coloca isso! – Lhe dei um casaco. – E isso também. – Lhe passei uma touca e um cachecol.

– Para que tudo isso? – Ele perguntou com um bico.

– Está frio lá fora, não quero que você fique resfriado! – Beijei seu bico. – Está pronto?

– Uhum. – Ele assentiu e eu respirei fundo.

– Ok, vamos!

De mãos dadas, saímos de seu quarto tentando parecer o mais casual possível. Certamente, Jungkook desejava estar de luvas, só para que eu não sentisse suas mãos soando frio de nervosismo, ansiedade e medo. Eu a apertei tentando passar um pouco de tranquilidade a ele e seu polegar afagou o dorso de minha mão.

Fomos nos aproximando da porta, mas parecia que ela ficava cada vez mais longe a cada passo que dávamos. Então pude ver saindo de uma sala a nossa direita uma das enfermeiras que cuidava de Jungkook, por isso o puxei rápido para a saída e logo sentimos a brisa gélida chicoteando nossos rostos, então pude respirar aliviado, embora nossa jornada só estivesse começando e eu não fizesse ideia do que nos esperava.

– Vem, meu carro está aqui! – O puxei pela calçada e depois abri a porta do passageiro para ele.

– Obrigado! – Disse e depois entrou. Dei a volta e entrei do meu lado batendo a porta em seguida.

– Antes de mais nada, quero saber se você tem certeza de que quer ir comigo.

– Claro que eu tenho! – Ele disse convicto. – Essa pode ser minha única chance de conhecer meu pai.

Sorri por sua atitude. Mesmo tendo a chance de ele dizer não ao transplante, Jungkook queria apenas poder conhecer o rosto do homem que tem o seu sangue, se ele salvaria sua vida ou não, talvez não importasse tanto para ele, o que só me fazia acreditar o quão nobre era o coração de Jungkook. Ele não tinha tanto interesse quanto eu em pedir ajuda ao seu pai, acho que ele queria pelo menos dizer que olhou em seus olhos uma vez na sua vida.

– Então vamos! – Sorri para ele e dei partida com o carro.

Seriam mais ou menos umas quatro horas até Busan, mas como estou com Jungkook, não vou correr muito com o carro, então até a hora do almoço nós chegaríamos lá, mas claro que teríamos que parar e comer algo, não quero que Jungkook passe mau e se sinta fraco. Ele está sob minha responsabilidade agora, embora o que estejamos fazendo demonstre a falta dela.

Logo no inicio do caminho Jungkook pegou no sono, ainda era muito cedo. Fechei as janelas, coloquei um cobertor por cima dele e o deixei dormir. O frio dessa época do ano era tenebroso, ele não podia ficar resfriado, sua saúde debilitada faria uma gripe virar uma pneumonia e seu organismo fraco não aguentaria.

Seu pai precisa aceitar fazer o transplante, porque tenho absoluta certeza de que ele é compatível, tenho que ter esperanças disso, ou desmorono. A única coisa que está me mantendo vivo e de pé é essa pequena e remota chance de haver uma cura para Jungkook. Sei que ultimamente tenho pedido muito a Deus pela vida dele, mas se ele me atender essa única vez, prometo deixá-lo em paz.

Nunca dependi tanto de algo. Nunca tinha percebido como a vida humana é tão frágil, mas preciosa. Mas infelizmente para muitos vale tão pouco que eles mesmos se destroem, mas para outros, cada dia alcançado e terminado com vida é uma vitória, como para Jungkook. Vou fazer de tudo para convencer seu pai a nos ajudar, ele deve isso a todos os Jeons.

Já estávamos na estrada a um pouco mais de 3 horas, então decidi que era hora de fazer uma parada e acordar Jungkook. Estacionei no primeiro posto e fui acordá-lo.

– Kookie... Amor, acorda! – Afaguei sua bochecha.

– Huuummm... – Ele se remexeu e foi abrindo os olhos lentamente, se espreguiçando com um lindo bico os lábios. – Onde estamos? – Perguntou sonolento.

– Em algum lugar a mais ou menos duas horas de Busan. – Disse. – Vem, vamos comer alguma coisa.

Ele saiu de baixo da coberta e a jogou no banco de trás. Fomos de mãos dadas até a lanchonete, onde pedimos misto quente e suco de laranja. Era o mais saudável que ele poderia comer ali. Depois de comer fomos à loja de conveniência e compramos uma garrafa de água e Jungkook foi ao banheiro.

Voltamos para a estrada e dessa vez Jungkook ficou acordado. Liguei o rádio e juntos nós cantávamos e desafinávamos, mas era bom vê-lo se divertindo um pouco. Fazia tempo que eu não via um sorriso tão espontâneo nele, mesmo que ele tentasse parecer estar bem, eu podia ver quando ele estava disfarçando para que ninguém percebesse toda a sua dor e angustia.

Depois de mais duas horas, finalmente chegamos em Busan e Jungkook ficou meio inquieto. Eu também estava nervoso, senti meu estômago embrulhar como se eu estivesse em uma montanha russa. Mas eu tinha que ser forte, por Jungkook, porque se ele desabasse, eu precisaria ampará-lo.

Entrei na rua onde ficava a casa de Jeon Junghwa. Fui devagar para poder encontrar o número de sua casa e quando a encontrei, estacionei na calçada de frente para a casa. Jungkook ficou parado encarando suas mãos entrelaçadas em seu colo. Lentamente peguei suas mãos e o fiz olhar para mim.

– Eu sei que já perguntei isso para você hoje cedo, mas vou perguntar de novo: tem certeza que você quer ir?

Ele engoliu em seco e soltou o ar que nem sequer reparei que ele tinha prendido. Eu entendia o que ele estava sentindo. Estava prestes a conhecer o homem que abandonou sua mãe, sua irmã e a ele por outra família. E se ele o rejeitasse como fez anos atrás? E se batesse a porta na sua cara e se negasse a lhe ajudar?

As possibilidades eram duas, mas claro que uma seria mais dolorosa em diversos sentidos. Dolorosa para ele por ser renegado, dolorosa por ele ter que se contentar que não teria mais uma cura, logo eu também sofreria por ele, além de sua mãe e sua irmã. Mas tínhamos que tentar, era tudo ou nada.

– Hein?! – Sacudi suas mãos de leve.

– Eu vou... – Disse com a voz embarganhada.

– Ok, vamos. – Ele assentiu em resposta.

Saímos do carro e demos as mãos. Ele estava soando frio. Caminhamos lentamente até a porta e depois de respirar fundo e apertar sua mão, toquei a campainha. Eu podia ouvir os batimentos acelerados de Jungkook e não estou brincando. Parecia que ele teria um infarto a qualquer momento.

Depois de mais alguns segundos, ouvimos um chaveiro tilintar e a chave girar na porta. Quando ela se abriu, surgiu um homem da altura de Jungkook e com a mesma cor de cabelo, com uns brancos já bem aparentes.

– Pois não, no que posso ajudar?

Jungkook abriu a boca para falar, mas nenhum som saiu. Pigarreei e tomei a frente estendendo a mão para o homem.

– Eu sou Park Jimin, muito prazer! – Ele aceitou minha mão. – E este é Jeon Jungkook.

Ao ouvir o nome, ele paralisou, assim como Jungkook. Os dois trocaram olhares surpresos, mas Junghwa além de surpreso estava espantado. Não é todo dia que o filho que você abandonou quando era um bebê aparece já como um homem a sua porta.

–Muito prazer. – Ele pigarreou. – Sou Jeon Junghwa.

– Sim, por isso viemos. – Eu disse. Jungkook ainda estava um pouco atordoado.

– No que posso ajudar? – Ele alternava seu olhar entre nós dois, o que deixou Jungkook desconfortável.

– Queremos conversar com o senhor, podemos entrar?

O homem pareceu pensar se era certo ou não nos deixar entrar, estava inseguro, como se não quisesse que sua nova família tivesse contato com Jungkook. Mas o mais impressionante, é que ele não demonstrou nenhum sentimento ao ver Jungkook, estava indiferente. Isso me fez ter uma certa raiva do homem, além de me fazer pensar se ele aceitaria fazer o transplante.

– Tudo bem, entrem. – Ele disse e nos deu caminho.

Tive que puxar Jungkook para que ele saísse do lugar e então pudéssemos entrar. Ele fechou a porta atrás de nós e nos apontou o sofá. Uma menina mais ou menos da idade de Jungkook, eu diria, e bem parecida com ele e Jihyun, principalmente os olhos, estava assistindo televisão quando nos viu entrar. Ela nos olhou confusa e depois se levantou para nos receber, ao mesmo tempo em que uma mulher saiu do que devia ser a cozinha e nos olhou surpresa, assim como a filha.

– Não sabia que tínhamos visita. – Ela disse nos olhando com um sorriso singelo.

– Estes são Jimin e Jungkook. – Junghwa apontou para nós.

– Jungkook? – A mulher arregalou os olhos.

Ela ficou espantada. Ela sabia da existência de Jungkook, então sabia que aquele homem com quem hoje ela dorme, tinha uma família e a abandonou por sua causa. Confesso que não sei de qual dos dois eu tenho mais nojo, mas infelizmente, ainda precisarei da ajuda de Junghwa.

– Olá, é um prazer conhecê-la, senhora... – Disse estendendo minha mão.

– MinAh, Jeon MinAh. – Ela apertou minha mão e eu sorri torto.

– MinAh, porque não vai ver se o almoço está pronto e por a mesa? – Junghwa sugeriu.

– Claro, e os rapazinhos serão nossos convidados! Você me ajuda querida? – Ela chamou a filha e as duas saíram dali.

Ficamos os três em pé sem dizer uma só palavra, transformando aquele silêncio em um terrível martírio para cada um de nós. Eram inúmeras perguntas jogadas no ar, sentenças que jamais foram ditas, que estavam entaladas na garganta de Jungkook doidas para serem proferidas, mas ninguém ousava dar a primeira palavra.

Depois de alguns minutos, MinAh voltou e disse que o almoço estava na mesa. Fomos todos para lá e começamos a comer ainda em silêncio. Às vezes MinAh tentava puxar assunto, mas só eu respondia. Jungkook ainda estava em estado de choque, pelo menos ele não passou mal. Mas eu sabia que ele estava sofrendo internamente e isso também me preocupava.

Quando estávamos quase terminando a sobremesa, MinAh enfim fez a pergunta de um milhão de dólares.

– O que os trouxe até aqui? – Perguntou curiosa, sem saber que nosso motivo era algo tão sério.

Talvez ela até achasse que era uma típica aventura de um adolescente, ir a procura do pai que aparentemente estava “perdido” em algum lugar do mundo. Mas a verdade é que se pudéssemos escolher, não estaríamos ali. Ou até poderíamos sim vir em uma situação normal, mas só para eu dar um soco na cara desse homem, que na minha opinião, não merece ser chamado assim. Um homem de verdade arca com suas responsabilidades e não trai sua família.

Jungkook e eu nos entre olhamos e eu respirei fundo. Segurei sua mão por baixo da mesa, ele estava soando frio e tremendo. Acho que nunca o vi tão apavorado, e nosso histórico para um namoro recente é bem assustador. Acariciei sua mão tentando lhe dar conforto, mas acho que nada o acalmaria agora. Estávamos prestes a saber qual seria o seu destino.

– Viemos para conversar com o senhor Jeon. – Eu disse por fim. – É um assunto delicado e... Gostaria que fosse em particular.

MinAh e Junghwa se fitaram e o homem assentiu para a mulher. Ela levantou de seu lugar e levou a filha consigo, que não estava entendendo o que se passava ali, acho que nem sabia o que Jungkook era dela e de seu pai, muito menos que ainda havia outra irmã a quilômetros dali.

– Então, por que estão aqui? – Junghwa perguntou. Eu ia começar a falar, mas Jungkook foi mais rápido.

– Por que você nos deixou? Não amava a gente? Você nunca mandou noticias... Eu tinha dois anos, eu nem sequer te conheci! – Ele começou a chorar e eu sentia toda a mágoa guardada em sua voz.

Nenhum de nós dois esperava por isso. Jungkook não expressou nenhuma reação desde que chegamos e de repente ele fez uma pergunta nada discreta. Não que eu me importasse com Junghwa, mas foi como um baque para todo mundo. Nunca o vi tão determinado.

– Por favor, fala, porque eu quero muito entender... – Ele apertou os olhos.

– Fomos para Seoul assim que você nasceu, minha vida lá não era o que eu queria para mim. Eu era um homem comum, com uma vida comum, então conheci MinAh. Depois que ela engravidou, não teria como esconder nossa relação de seus pais. Eu teria que assumi-la e também a minha filha.

– E nós...? – Sua voz estava embarganhada.

 – Eu não queria abandonar vocês, mas a família de MinAh é muito influente aqui em Busan, eles me arranjaram um emprego como diretor de uma escola e eu não seria mais um mero professor de escola primária, era a minha chance. – Ele dizia sem um pingo de remorso. – E eu amava MinAh... Então eu voltei para cá com ela.

Meu ódio por ele apenas aumentou. Ele abandonou sua família por puro egoísmo, só queria um cargo melhor, uma vida melhor. Jungkook e Jihyun não mereciam ser filhos de um ser humano como ele. Se antes eu achava Myunghee  um monstro, por todo o tempo que ela super protegeu Jungkook da maneira errada, esse cara eu nem sei do que posso chamá-lo.

Eu podia ver toda a dor nos olhos de Jungkook. Ele tinha perdido completamente seu brilho, sua essência. Estava mais do que machucado, estava destruído. Nunca gostei de vê-lo assim, me dói saber que alguém ainda é capaz de o fazer chorar, ele que é uma pessoa tão pura, não merecia passar por isso.

– Você fez tudo isso, sem nem pensar na gente?

– No começo foi difícil, eu amava vocês, mas logo percebi que essa foi a melhor coisa que eu fiz por vocês, eu era um peso para Myunghee, ela sempre se virou melhor sozinha, então aos poucos eu encontrei minha paz interior e... Me convenci que foi melhor assim para todo mundo.

Jungkook abaixou a cabeça e se deixou chorar como nunca. Saber que seu pai não pensou duas vezes antes de ir embora estava sendo doloroso. Eu sei por que meu pai também me deixou, só que se nos víssemos cara a cara, eu não teria toda a paciência de Jungkook e socaria o canalha que abandonou minha mãe.

– Bom, agora que algumas coisas já foram esclarecidas, vamos ao assunto que nos trouxe aqui! – Disse cortando um pouco o clima pesado.

– Então não foi por isso? – Junghwa perguntou.

– Não, viemos por que você é o único que pode salvar a vida de Jungkook. – Ele franziu o cenho.

– Como assim? – Ele olhou para Jungkook.

– Ele tem leucemia... Ele precisa de um transplante de medula e você é o único que pode ser o doador.

Junghwa não disse nada, apenas fitou Jungkook surpreso e espantado. Ele não esperava por isso, ninguém espera. De repente seu filho abandonado aparece, lhe pede explicações, você fica sabendo que ele está entre a vida e a morte e que é o único que pode salvá-lo, mas se tratando de um pai tão “exemplar” como ele, pode-se considerar que o futuro de Jungkook ainda é uma incógnita.

– E se eu não for compatível? – Ele estava inquieto.

– As chances são de quase cem por cento, se não nós não teríamos vindo! – Respondi.

 – Mesmo assim eu... Não posso ajudar. – Disse e o fitei incrédulo. Ele estava negando ajuda ao seu filho, estava negando salvar a vida de seu filho. – Se os pais de MinAh ao menos desconfiarem, eu perco minha família.

Eu não podia estar ouvindo direito! Esse homem é o cúmulo do ridículo e da hipocrisia. Como ele podia inventar uma desculpa como essa depois de tudo que ele fez para Myunghee e seus filhos? A cada segundo ao lado dele eu sentia mais nojo e repulsa, eu tinha que vomitar para tirar de mim toda a antipatia por ele, porque nem isso valia a pena sentir por esse homem.

– Eu não estou ouvindo isso! – Levantei de meu lugar rapidamente, eu não ficaria ali nem mais um segundo. – Vamos embora Jungkook!

– Por favor, me entendam!

– Desculpe, mas você é o ser humano mais hipócrita do mundo! – Disse um pouco alterado. – Como ousa falar em família depois de ter abandonado a sua?

Ele não respondeu, ficou calado e abaixou a cabeça. Ao menos ele sabia reconhecer que eu estava certo e deu sorte por eu não ter deixado seu olho roxo, ou quebrado seu nariz, eu não faria isso na frente de Jungkook. Querendo ou não, eles tinham o mesmo sangue, mesmo que o de Jungkook fosse muito mais nobre.

Ele levantou e ao meu encalço, fomos andando para a saída. Ele estava cabisbaixo. Ele ouviu de todas as maneiras possíveis que seu pai não se importava consigo. Não se importava a ponta de abandoná-lo. Não se importava a ponto de se recusar a salvar sua vida. Foi uma viagem em vão. Ele só ouviu coisas que o machucaram e não farão diferença alguma no pouco de vida que lhe resta.

Me sentia tão impotente. Não havia mais nada que eu pudesse fazer, aquele era o fim. Sentíamos nossa única esperança escorregando por nossos dedos lentamente. Viemos sem nada, e voltaríamos nos sentindo um nada. Acabou.

– Jimin! – Junghwa me chamou enquanto eu abria a porta.

MinAh e a filha estavam atrás dele, com os olhos molhados. Tenho certeza que elas ouviram toda a conversa. A menina agora sabe de toda a verdade, pelo menos isso. Mas aquela mulher... Ela tem uma filha, sabe o quanto os filhos são importantes para alguém e deixou que tudo isso acontecesse. É outra hipócrita.

– Você pode achar que sou um monstro, mas eu não sou, eu me importo com Jungkook, acredite. – Ele dizia, mas eu só sentia nojo. – Você parece ser um ótimo amigo para o Jungkook... Cuide dele!

– Acho que sua definição de se importar com alguém é bem diferente da minha, mas não se preocupe, eu sempre cuidarei dele! – Disse apertando a mão de Jungkook. – Mas sou namorado dele.

Junghwa pareceu surpreso, mas depois sorriu. Mas o que ele pensa ou não sobre nós, não fará a menor diferença. Ele não tem direito sobre Jungkook, se não gostasse ou não aprovasse, eu riria bem alto na cara dele, diria que ele não tem direito a nada e que eu fiz e faço mais por Jungkook do que ele faria em uma vida inteira.

– Que bom que ele tem você. – Se ele realmente se importava com isso, eu não sei, mas não ficaria ali nem mais um minuto para saber.

– Vamos Kookie. – Íamos saindo, mas ele parou e olhou para Junghwa.

Jungkook soltou minha mão e caminhou até ele. Todo mundo ficou surpreso pela atitude dele. Ele parou em frente ao homem e sorriu, doce e gentil como sempre. Não sei o que ele faria, mas não seria surpresa se ele perdoasse o pai por tudo. Jungkook tem o coração puro, ele jamais guardaria rancor de alguém.

– Bem ou mal, você me ajudou a vir ao mundo, e eu te agradeço por isso, porque eu tive a chance de ter uma mãe maravilhosa, uma ótima irmã, e um namorado incrível. – Disse com a voz chorosa. – Te agradeço por ter me dado a chance de ter uma vida, mesmo que ela seja curta...

Junghwa abriu a boca para falar, mas não proferiu uma palavra. Aquele era o mais puro ato de bondade e gratidão que uma pessoa poderia demonstrar, mesmo ela tendo sido renegada duas vezes pela mesma pessoa. E como se ainda não fosse o suficiente, ele abraçou Junghwa, que só depois de alguns segundos retribui o carinho.

Eu estava com um nó na garganta. Jungkook é o tipo de pessoa que todos deviam se espelhar. Ele tem um bom coração e um bom espírito. Não sei por que ainda me surpreendo com ele, talvez por que eu ainda tenha muito que aprender, mas agora não faz diferença, a sentença está dada: ele não tem muito tempo.

– Obrigado! – Disse se afastado e sorrindo para seu “pai”.

Junghwa apenas sorriu e Jungkook voltou para o meu lado. Passamos pela porta e a bati. Abracei Jungkook pelos ombros e beijei sua cabeça. Ele abraçou minha cintura e escutei um choramingo. Se eu pudesse, pegava toda sua dor para mim, sua angustia, apagava todas as lembranças ruins e deixaria apenas as boas. Ele merecia ter paz no tempo que lhe restava.

– Vai ficar tudo bem, eu prometo, nunca vou sair do seu lado! – O abracei fortemente e ele enterrou o rosto em meu peito.

Estávamos parados em frente ao carro. O frio não importava mais. Nada importava. Só queríamos sentir um ao outro para sabermos que sempre estaríamos um ao lado do outro, não importa o que acontecesse.

– Jungkook! – Ouvimos uma voz bem conhecida gritar seu nome e nos assustamos. – O que vocês pensam que estão fazendo?

Myunghee e Jihyun saiam do carro e vinham em nossa direção. A mais nova me lançou um olhar de suplica para que eu a perdoasse, mas no fundo eu sabia que ela não conseguiria segurar sua mãe por muito tempo. Pelo menos ela chegou depois e não tornou tudo um caos na casa de Junghwa.

– Me respondam, que vocês pensaram que estavam fazendo? – Parou em nossa frente enfurecida.

– Viemos falar com o Junghwa, pedir para ele ser o doador de Jungkook. – Eu expliquei.

– Mas ele não pode ajudar... – Jungkook disse e Myunghee o segurou pelos ombros.

Pude ver a agonia em seus olhos. Acho que ela nunca contou com isso, mas talvez, só talvez ela tenha tido esperanças quando soube de nossa rápida escapada. Me odeio por ter que tirar a esperança de todo mundo assim.

– Isso foi muito perigoso, você pode ficar doente nessa friagem... – Ela abraçou o filho. – Vamos para casa.

– Tudo bem, mas quero voltar com o Jimin. – Ele disse.

– Como quiser... – Ela sorriu para o filho. Depois se aproximou de mim. – Obrigada, por tentar!

– Faço qualquer coisa pelo seu filho! – Disse e olhei para ele. – Eu o amo mais que tudo, eu não desistiria fácil.

Ela sorriu e com lágrimas nos olhos me abraçou. Jihyun e Jungkook sorriam ao nosso lado. Mesmo tudo acabando da pior maneira, ainda estávamos felizes, por que nós quatro sabíamos que podíamos contar uns com os outros. Era só disso que precisávamos agora, apoio, um ombro amigo, até que o fim chegasse.

– Jungkook! Jimin!

Outra voz surgiu, mas dessa vez veio da direção da casa de Junghwa. Nos viramos para ver e Minah e Junghwa vinham em nossa direção. Myunghee ficou surpresa e eu mais ainda. O que eles ainda queriam?

– Eu sei o quanto um filho é importante para uma mãe, por isso, nós conversamos rapidamente e... – Ela deu uma pausa e ia continuar, mas Junghwa tomou a palavra.

– Irei para Seoul amanhã, faremos o teste de compatibilidade e depois o transplante, é quase certo que dará certo não é?

Não sei qual foi o suspiro de alivio mais alto, o meu ou o de Jihyun. Jungkook e Myunghee estavam surpresos e com os olhos cheios de lágrimas, mas mesmo assim, Jungkook sorria, o sorriso mais lindo que já havia visto. Estava repleto de carinho, gratidão, ternura. Me fez sorrir também, ainda mais depois que ele se aproximou de Junghwa e o abraçou.

– Obrigado! – Ele disse.

– De nada! – Junghwa dessa vez respondeu.

Todos sorriram felizes e aliviados. Um peso enorme parecia sair de nossos corações. Jihyun e eu nos abraçamos, ela quase saltitava. Olhei para MinAh um instante e ela piscou para mim. Acho que ela convenceu Junghwa a fazer o transplante. Eu estava enganado sobre ela, afinal, ela é mãe e não gostaria de ver sua filha em uma situação como a de Jungkook. Preciso agradecer muito a ela!

 

 

 


Notas Finais


Todo mundo enxugando as lágrimas agora! Rsrsrsrs... Eu confesso que SEMPRE que eu leio esse capítulo eu choro feito um bebê... T_T

Bom, eu dei uma trolada basiquinha em vocês né? Rsrsrsrs... Deixei vocês acreditarem que o pai do Kook não ia ajudar, mas depois acabou concordando. Confesso que eu não seria eu se eu não trolasse todo mundo! Rsrsrsrs...

Mas bem, aqui vocês puderam ver muita coisa, como bondade, inocência, carinho, assim como ganância, raiva (por parte do Jimin), mágoas... Ele pode balançar muito a gente... MAS, eu espero que tenham gostado, afinal, falta um passo para o nosso Baby Kookie se curar! *w*

Quanto as pessoas que estavam chutando o que aconteceria, o que acharam? Na verdade teve tanto o "Não" quanto o "Sim" do pai dele né, o que ajudou no final foi a madrasta. Mas e aí, alguém ganhou na loteria? Rsrsrsrs...

Agora o que mais vai me pesar na alma galerinha, é dizer que o próximo será o último capítulo! T_T Infelizmente tudo que é bom dura pouco, mas ainda terão duas fics das que eu prometi de ano novo! AEEEEEE! E bem, um passarinho me contou, que talvez, TALVEZ, se tudo der certo, depois dessas duas terá outra LongFic, mas tipo, bem Long mesmo... (Joga a bomba e sai correndo) Rsrsrsrs...

Foi isso galerinha linda do meu Kororo! Beijoooooo!

COMENTÁRIOS SÃO SEMPRE BEM VINDOS E MOTIVADORES! XD


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