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História House Of Wolves - Guerra e Paz


Escrita por: WantedKilljoy21

Notas do Autor


AMORES DA MINHA VIDA!!!!!

Como estão todos? Final de semana foi legal? Bem, como dá pra ver, o meu foi bem produtivo!!!

Sei que estão ansiosos por essa conversa, então não vou enrolar por aqui. A gente se vê lá embaixo!!!

BOA LEITURA!!!!

Capítulo 13 - Guerra e Paz


Fanfic / Fanfiction House Of Wolves - Guerra e Paz

De seu lugar no sofá, Gerard olha pra Frank com seus olhos inchados. A última hora foi um verdadeiro tormento para a cabeça do senador. Ter Brad invadindo sua sala daquela maneira, a briga, a bomba jogada por Frank, ainda vê-lo ir atrás do ex e ter que prestar depoimento para a segurança do Capitólio, foi demais pra ele. Tudo que Gerard queria era sair daquele lugar e encontrar logo com Frank, para esclarecer aquela revelação.

Quando finalmente chegou ao Refúgio, Gerard desabou. Todas as suas emoções o atingiram de uma vez. Milhões de pensamentos lhe passaram pela cabeça. E ele não pode mais segurar suas lágrimas. Ele estava ali, sozinho e confuso, enquanto Frank estava em algum lugar da cidade, fazendo sabe-se lá o que com Brad, que estava completamente fora de si.

A mente de Gerard rodava de uma maneira tão rápida, que ele mal focava em uma só preocupação. Frank está mesmo grávido? Há quanto tempo ele sabe? Por que não constou antes? Ele está bem? O bebê está bem? É seguro ele estar com Brad nesse momento? Brad seria capaz de fazer algo contra Frank?

Sua cabeça só parou de rodar quando ele ouviu o motor do carro de Frank se aproximando. Frank estava em casa, são e salvo. Mas isso ainda não solucionava nenhum dos problemas. Gerard permaneceu com a cabeça baixa, o rosto enterrado nas mãos. As lágrimas já não caiam, mas seus olhos continuavam a arder. Ele sentiu a presença de Frank na sala e ergue o rosto. O rapaz parecia bem fisicamente, o que era um grande alívio. Mas o breve momento de paz acabou. Estava na hora de esclarecer as coisas.

- É verdade? - sua voz saiu pequena, frágil e trêmula. Frank permaneceu no mesmo lugar, imóvel e em silêncio. Gerard pigarreou, dando mais segurança à voz dessa vez. - É verdade?

Frank estava paralisado. Ele temia que qualquer leve movimento o fizesse desabar no chão, literalmente. Suas pernas estavam moles, seu coração martelava contra o peito. Ver Gerard tão perdido e abalado, apenas dilacerava seu peito. Ao ouvi a voz do homem, Frank estremeceu. Não era assim que isso deveria acontecer. Gerard tentou uma terceira vez, seu tom de voz mais forte e incisivo.

- Frank, é verdade? - ele perguntou, seus olhos vermelhos olhando diretamente para Frank, como se pudesse ver sua alma.

- Sim. - Frank respondeu, com a respiração oscilante. Pronto. Chega de segredos. A verdade está solta.

Os dois homens permaneceram em seus lugares por mais alguns segundos. Os olhos fixos um no outro. Nenhum músculo se mexia, como se temessem que a qualquer movimento, uma avalanche aconteceria. Frank engolia o nó que se formava em sua garganta. Ele não podia chorar agora. Ele precisava ser forte. Mesmo que seu mundo desabasse nesse momento, ele precisava manter a dignidade.

De repente Gerard se levantou. O coração de Frank pulou uma batida. Chegou a hora. A passos firmes, Gerard caminhou até o amante e parou a poucos centímetros de distância. Frank já não podia mais controlar seus tremores. O olhar de Gerard esmagava seu coração. E então, quando Frank achou que seu mundo fosse ruir, Gerard ajoelhou-se. Frank paralisou. Com as mãos trêmulas e geladas, Gerard tocou na barriga de Frank. Primeiro com a ponta dos dedos, como se fosse algo frágil, que pudesse se quebrar a qualquer momento. Frank prendeu a respiração. Gerard, então, pousou a palma da mão sobre o abdômen levemente saliente do rapaz. Primeiro uma mão, depois a outra.

Gerard encara a barriga de Frank, como quem se depara com um fenômeno extraordinário. Lentamente ele se aproxima do torso do rapaz e encosta a sua testa na barriga à sua frente. Frank sente suas próprias lágrimas rolarem, ele precisa controlar o desejo de se ajoelhar e abraçar Gerard, mas não se atreve a se mexer e quebrar a conexão entre pai e filho.

- Meu bebê? - a voz de Gerard sai embargada. - Você está esperando o meu bebê?

- Sim. - diz Frank, com sua voz também oscilante.

- Meu Deus! - Gerard sorri, em meio às lágrimas. - Ah, meu Deus! Um bebê. Nosso bebê!

- Nosso bebê. - diz Frank, se movendo pela primeira vez, ao enterrar os dedos entre os cabelos de Gerard.

"Nosso bebê", Frank pensa. Ele disse "nosso bebê". Ele está feliz. Ele está chorando, mas está feliz. Frank sente o peso do mundo ser retirado de suas costas. Eles vão ter um bebê. Juntos. Eles serão uma família. A voz de Gerard se faz presente de novo.

- Quanto tempo? Quantos meses? Semanas? Eu não sei.

- Estou com 11 semanas e 3 dias. Eu completo 12 semanas, três meses, na terça feira. - ele diz, e então Gerard desvia os olhos da barriga pela primeira vez e ergue o rosto, encarando Frank.

- Três meses? - ele diz, enfim se levantando do chão. Ele dá um passo pra trás e olha para o amante com um ar confuso. - Você está grávido de três meses?

- Quase três meses.

- Há quanto tempo você sabe? - ele pergunta, e o coração de Frank se aperta novamente. - Frank, há quanto tempo você sabe?

- Eu descobri há um pouco mais de duas semanas atrás.

- Duas semanas? Você sabia que estava grávido do meu filho há duas semanas e não me disse? Por quê?

- Gerard... - Frank esfrega o rosto com as mãos. - É complicado.

- Não, não é! Você sabia e escondeu isso de mim. Por que você fez isso?

- Eu tinha decisões que precisavam ser tomadas. Questões que eu precisava resolver. Dúvidas que eu precisava sanar.

- Decisões, dúvidas? Do que você está falando? Você considerou não ter o bebê?

- Sinceramente, eu precisei de uns dois dias pra entender que eu ia ter um bebê e que eu, de fato, iria ter o bebê.

- Okay, dois dias! Você precisou de dois dias pra tomar uma decisão. E as duas semanas restantes? O que te impediu de falar a verdade?

- Verdade? Você fala como se eu tivesse mentido pra você.

- Mas você mentiu! Há duas semanas eu te pergunto o que está acontecendo, o que há de errado com você, se você está bem, e há duas semanas você me diz que não é nada! Que você está bem, que essas alterações são normais na sua condição de saúde. Você desmaiou na cozinha, Frank! Você já estava grávido. Eu perguntei o que estava acontecendo e você não disse nada. Você mentiu pra mim!

- Me desculpa. Eu devia ter contado naquela hora, mas eu...

- Meu Deus! Todo esse tempo, estava tudo na minha cara e eu não vi. Eu estou dizendo que você mentiu pra mim, mas eu também menti pra mim mesmo quando acreditei em você.

- O que?

- Agora ficou tudo tão claro e tão óbvio. Meu Deus, como eu fui cego. - diz Gerard, correndo as mãos pelos cabelos e andando pela sala com um ar pedido.

- Não faz isso. Você não tinha como saber.

- Por quê? Por que eu não te conheço como ele? Por que eu não presto atenção em você como ele?

- Não. Você não vai trazer o Brad pro meio dessa conversa.

- Por que não? Ele sabia! E ele jogou isso na minha cara. Duas vezes! E mesmo assim eu continuei cego.

- Gerard, o Brad estava fora de si. Ele achou que eu estava doente.

- Mas pelo menos ele achou alguma coisa, não é? Mesmo você escondendo seus sintomas, ele percebeu. Ou será que você não escondeu dele?

- Você não pode estar me perguntando isso.

- Claro que eu posso! Eu tenho o direito de te perguntar o que eu quiser. Você mentiu pra mim por duas semanas! - Gerard levanta a voz, fazendo Frank recuar, assustado.

- Você fala como se eu tivesse te traído. - diz Frank, com certa mágoa na voz.

- Mas de certo modo você traiu. Nós prometemos ser honestos um com o outro, nós prometemos estar ao lado um do outro. E daí você prefere omitir todo o seu mal estar de mim por duas semanas, e a troco do quê? Eu sei que eu não sou médico, nem nada, mas eu podia ter cuidado de você. Eu podia ter te confortado. Ter feito de tudo pra amenizar o seu desconforto. Qualquer coisa. Eu não entendo por quê você não me disse.

- Porque eu não estava pronto.

- Pronto pra quê?

- Eu não estava pronto pra ser rejeitado. Eu não estava pronto pra descobrir que você não ia querer saber do bebê. Eu não estava pronto pra planejar a minha vida e a vida do meu filho, sem você do nosso lado. - confessa Frank, para completo horror de Gerard.

O senador arregala os olhos e dá alguns passos pra trás, como se tivesse recebido outro tiro no peito.

- O que... - Gerard balança a cabeça. - O que foi que você disse? Você achou que eu não assumiria o meu filho? Que eu abandonaria você?

- Não, não é isso. Eu não sabia se você ia querer ou poder fazer parte da vida do bebê.

- Que tipo de homem você pensa que eu sou? - o rosto de Gerard se transmuta em revolta e mágoa.

- Não tem nada a ver com o tipo de homem que eu penso que você é. As coisas são muito mais complicadas do que isso.

- Sério? Então me explica, porque eu não tô conseguindo entender!

- Você não é uma pessoa livre, Gerard! Eu não tenho dúvidas do tipo de homem que você é, mas você precisa entender que existem outras implicações. Você tem outros compromissos, compromissos que são prioridade na sua vida.

- Não, você está errado! Minha prioridade agora é o meu filho. Não existe mais nada mais importante que isso.

- Quem está errado é você. Você não pode pensar assim.

- Você tá dizendo que eu não posso colocar o meu filho em primeiro lugar? Você tá louco?

- Não, eu estou dizendo que você precisa pensar que não é só a sua vida que vai mudar. Existe uma legião de pessoas ao seu redor que tem um destino já traçado pra você e que esperam que você o cumpra.

- Eu não me importo!

- Pois deveria! Pelo amor de Deus, Gerard, entende que eu não estou te forçando a rejeitar esse bebê. Não há nada no mundo que eu queira mais do que você ao meu lado e ao lado do nosso filho. Eu só preciso que você pense nas consequências disso.

- Meu Deus, lá vem você e as suas malditas consequências de novo! Você é obcecado com isso. Que merda!

- Alguém tem que raciocinar direito aqui. Alguém tem que pensar no quadro todo.

- Tem um bebê agora, Frank. E isso muda tudo!

- Sim, eu sei! E é disso que eu estou falando. Tudo muda agora. Não somos mais nós dois. Tem um bebê inocente no meio disso. E nós precisamos pensar nele.

- "Nós"? Você tem certeza? Porque me parece que você passou as últimas duas semanas tomando todas as decisões por mim. Até decidir que eu não assumiria o meu filho, você decidiu.

- Não coloque palavras na minha boca.

- Foi você que colocou palavras na minha boca primeiro! Que tomou decisões por mim!

- Eu não fiz nada disso, Gerard. Eu analisei as nossas opções. É isso que eu faço, esse é o meu trabalho.

- Eu não acredito que você está tratando isso como trabalho. Que você está tratando o nosso filho como uma crise que precisa ser gerenciada.

- Agora você está falando besteira. Você não tem noção do inferno que eu passei nas últimas duas semanas.

- Você tá certo, eu não tenho. Eu não tenho porque eu não sabia. Porque você não me contou! - grita Gerard, com o dedo em riste.

- Okay, eu errei! Eu errei por não ter te contado antes. Errei por ter esperado o "momento certo". Mas você não pode me condenar desse jeito. Você não pode só pensar no seu lado e não entender que eu fiz o que fiz porque tive os meus motivos.

- E quais são os seus motivos, Frank? O que é tão grave assim que te fez esconder isso tanto tempo? Que te fez presumir que eu não ia assumir o meu próprio filho?

- Você é casado! - é a vez de Frank ergue a voz, e fazer Gerard recuar. - E você não vai deixar de ser casado. Você é um senador da república, e você não vai deixar de ser um senador da república. Todos esperam que você seja o Presidente dos Estados Unidos um dia, e sinceramente, eu acredito que você será! Agora me diz, que papel o filho do seu amante vai ter nesse contexto? - ele diz, e Gerard se cala. - Vai, por favor, me diz! Porque é isso que vem me atormentando nas últimas duas semanas. Então se você tem uma resposta pra isso, por favor, me fala!

- Eu não sei, Frank. - diz Gerard, exasperado. - A gente dá um jeito.

- Um jeito? Você tá falando sério?

- Nós demos um jeito de ficarmos juntos, não demos?

- Mas não somos mais só nós dois, Gerard. Tem um bebê. Uma criança inocente que vai cair de paraquedas no meio dessa confusão.

- E você acha que eu não faria de tudo pra proteger o meu filho?

- Como? Como você vai proteger o seu filho, se você não vai estar com ele 24 horas por dia? E do que exatamente você vai proteger o seu filho? Da sua esposa? Do seu pai? Dos seus inimigos políticos? Da imprensa sensacionalista? Quem você acha que vai atingir a gente primeiro? Da onde você acha que vai vir o primeiro golpe?

- Você sempre disse que enquanto nós dois estivéssemos juntos, nós íamos nos proteger.

- Sim, é verdade. Mas com um bebê tudo muda, Gerard. Não é justo com ele.

- Então você está determinando que eu tenho que abrir mão do meu filho. É isso?

- Não, muito pelo contrário. Eu já disse que tudo que eu mais quero é que a gente seja uma família. Mas você precisa colocar o coração de lado um minuto e pensar só com a cabeça. Você precisa avaliar os riscos e ver se vale a pena.

- Vale a pena? Eu não acredito no que eu estou ouvindo. Você quer que eu avalie se meu filho "vale a pena"?

- Falando da pior maneira possível, sim. Você tem que ver se vale a pena. Você não tem noção dos sacrifícios que você vai ter que fazer.

- Tirando o fato de que não sou eu quem vai dar à luz, os meus sacrifícios serão iguais aos seus.

- É mesmo? Então pensa comigo num cenário. Nosso bebê tem uma febre alta no meio da madrugada e eu preciso correr com ele pro hospital, mas é a sua noite com a Bethany, o que você vai fazer? Ou se ele cair de algum lugar e precisar de pontos, mas você não poderá estar por perto pra ajudar? Ou se ele ficar gravemente doente e eu precisar de você e nem o telefone você puder atender, porque estará em algum evento oficial, ao lado da sua esposa? O que você faze, hein? Eu sei o que você vai fazer. Você vai morrer por dentro, porque o nosso filho precisou de você e você não pôde estar com ele.

- Eu já disse, eu dou um jeito!

- É, e que jeito você vai dar quando prometer levá-lo ao zoológico, por exemplo, mas surgir um compromisso inadiável com o seu pai, como da última vez? Pra qual dos dois você vai dar a desculpa, pro nosso filho ou pro seu pai? Isso se você puder levá-lo ao zoológico, pois ainda tem o risco de alguém te ver com uma criança desconhecida e isso virar notícia. E a certidão de nascimento dele, você pensou nisso? Certidões de nascimento são documentos públicos. Todo mundo tem acesso. E quando você estiver em campanha presidencial, sua vida será esmiuçada. Nosso filho vai parar em todas as capas de jornais e revistas como sendo o filho bastardo do candidato à presidência. 

- Não fale assim do nosso filho.

- Mas é assim que vão chamá-lo! E outra, como você pretende explicar que o seu filho ilegítimo tem um pai e não uma mãe? Você vai estar disposto a sair do armário de uma vez por todas?

- Isso foi golpe baixo, Frank. - diz Gerard, com os olhos marejados.

- Isso foi golpe baixo? Você passou as últimas três ou quatro horas me chamando de mentiroso, traidor, manipulador e mais um monte de coisa. Eu te pergunto se você está disposto a assumir o risco de ser exposto pro mundo, e eu dei um golpe baixo? - rebate Frank, com os olhos igualmente lacrimejantes.

- O que você quer de mim, Frank? Já chega de jogos! Me diz de uma vez por todas, o que você quer de mim!

- Eu quero que você decida!

- Eu já decidi. Não momento em que eu descobri que você está esperando um filho meu, minha decisão já estava tomada. Esse é o meu bebê!

- Não é essa decisão que eu quero que você tome! Esse bebê é seu e sempre será seu, nada vai mudar isso.

- Então o que você quer? Pelo amor de Deus, o que você quer?

- Eu quero que você decida se vai fazer parte da vida dele. Eu quero que você avalie os riscos de tomar uma decisão e não voltar atrás. Porque eu posso criar esse bebê sozinho, se for preciso. Mas eu não posso te ter do meu lado e depois te perder no meio do caminho, porque você chegou a conclusão que de que você tem muito a perder e nós dois não valemos o sacrifício. Ou ter você ressentido com a gente, porque percebeu que jogou a sua vida fora e não tem como voltar atrás. Porque não tem como voltar atrás, Gerard! E você tem muito a perder. É isso que você precisa entender.

- E você precisa entender que você não tem o direito de tirar conclusões precipitada em meu nome, eu sou capaz de tomar as minhas próprias decisões.

- Não, você é que precisa entender que essa é uma decisão pra vida toda. Não tem ponto de retorno. Isso... - diz Frank, levando as duas mãos à barriga. - É pra sempre. Uma vez dentro, você não pode sair.

- Pois parece que tudo que você faz é me empurrar pra fora. 

- Quer saber? Eu errei sim em não ter te contado antes, mas eu tive meus motivos. Eu estava pensando no nosso bebê e, principalmente, eu estava pensando em você. Eu entendo que você esteja com raiva, magoado e o que for, eu também estaria se estivesse no seu lugar. Mas o problema é que você estão tão preso nessa auto piedade, que não parou um minuto pra se colocar no meu lugar. No que eu passei, no que eu pensei, no medo que eu senti. Então, Gerard, eu posso ser mentiroso, traidor, manipulador e o que mais você queira me xingar, mas a única coisa que você não vai poder dizer é que eu sou egoísta. Porque tudo que eu fiz essas duas semanas foi pensar em você! No que você pode perder. Nos sacrifícios que você vai ter que fazer. Em como vai ser doloroso pra você não estar perto do seu filho 24 horas por dia. E em como a sua vida pode ser estraçalhada, caso você deixe o seu coração falar mais alto, então você... - o raciocínio de Frank é interrompido por uma forte vertigem, que faz sua cabeça girar e latejar ao mesmo tempo.

Vendo o rapaz tampar os olhos com as mãos e se desestabilizar do eixo, Gerard entra em pânico. Correndo, ele envolve Frank em seus braços e o guia até o sofá. Colocando o rapaz sentado, Gerard se ajoelha na sua frente e coloca uma das mãos no rosto de Frank.

- Ei, ei. O que houve? O que você tá sentindo?

- Eu só estou um pouco tonto. Minha cabeça está latejando.

- Deve ser sua pressão. Onde estão os seus remédios? - Gerard ameaça se levantar, mas Frank o impede.

- Eu não posso mais tomar esses remédios. Não é bom pro bebê. Meus médicos mudaram a dosagem da minha medicação. Eu vou buscar os novos remédios na segunda.

- Entendi.

- Viu? Eu não menti sobre tudo. - ele diz, com o olhar triste. Gerard sente o coração apertado.

- Certo, então você precisa descansar.

- Não, eu estou bem. Só me dá uns minutos.

- Não, Frank, você realmente precisa descansar. Isso tudo já foi demais pra você, especialmente sem os seus remédios.

- Nós não terminamos de conversar.

- Nós podemos continuar amanhã.

- A gente ainda...

- Frank, para! Não foi você mesmo que disse que não se trata mais só de nós dois? Você tem que pensar no bebê. Por favor, você precisa descansar. - diz Gerard, e Frank sabe que ele tem razão. Seu corpo chegou ao limite.

- Okay.

- Vem, eu vou te levar pro quarto. - diz Gerard, ajudando o rapaz a se levantar.

- Espera. - Frank para e olha pra Gerard. - Você não vai ficar lá comigo?

- Frank, eu... eu não posso... não agora.

- Não pode o quê? Ficar perto de mim?

- Você tem que entender tudo que eu estou sentindo agora. Tem um furacão dentro do meu peito agora. Eu não vou te fazer bem, você precisa de descanso. - diz Gerard, e Frank sente que levou um soco no coração.

- Bem... - ele diz, sentindo novas lágrimas queimarem seus olhos. - Já que você não quer ficar perto de mim agora, acho melhor eu ir pra casa. - ele diz, seguindo para a porta. Nervoso, Gerard corre e o intercepta.

- Não! Por favor, não vá!

- Por quê? A única coisa que nós fizemos nessa noite foi nos ofendermos e nos magoarmos, nós não conseguimos chegar a um consenso e você acabou de dizer que não quer ficar perto de mim. Então o que eu vou fazer aqui?

- Não, Frank, não é isso. Não é que eu não queira ficar perto de você. Eu só não consigo agora. Minha cabeça tá pegando fogo com tudo que nós discutimos nas últimas horas. Eu tenho muito o que pensar, você mesmo disse. Mas nossa conversa está longe de terminar. Por favor, não vai embora. Só vá para o nosso quarto, se deite, descanse, e amanhã a gente volta a conversar e tentar chegar num acordo.

- "Nosso quarto"? Eu não consigo mais pensar naquele quarto como sendo o "nosso quarto". Não agora, com você me odiando.

- Frank, eu... eu... - as palavras entalam na garganta de Gerard, e isso faz o coração de Frank doer ainda mais. Respirando fundo, ele dá meia volta e segue para as escadas. - Eu te acompanho. - diz Gerard.

- Eu posso ir sozinho. - diz Frank, subindo as escadas, sem olhar pra trás.

Apesar de ter se oferecido para acompanhar o rapaz, Gerard sente que não consegue sair do lugar. Seus pés estão presos no chão. Conforme Frank some de vista, as pernas de Gerard amolecem e ele desliza até o chão. Encostando as costas na parede atrás dele, Gerard trás os joelhos até o peito e os abraça, enterrando o rosto no vácuo entre as pernas. A sensação é de que o mundo desabou sobre sua cabeça.

São milhões de sentimentos por segundo. Sentimentos conflitantes. Alegria, tristeza, realização, mágoa, compreensão, revolta, confiança, medo. A maioria de suas certezas foram estraçalhadas, e as únicas que lhe restam são de que ele será pai e seus sentimentos por Frank.

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Com passos instáveis, Frank finalmente chega à suíte do casal. De fato, o cômodo parece ter outra atmosfera agora. O amor que residia lá, não está mais. Ou tirou férias ou foi embora de vez. Frank caminha até a cama e se deita de roupa e tudo. Ele está cansado demais. Física e emocionalmente. Ele sabe que deveria ter contado antes. Não era pra ter sido assim.

Ele leva uma mão ao ventre e a outra à boca. O choro que sei é alto, sofrido e incontrolável. Ele sabe que estragou tudo, e isso é o que mais dói. Ele pode ter perdido Gerard pra sempre hoje. Ele não irá se perdoar por isso. E talvez seu filho também não o perdoe. O futuro é nebuloso. Então Frank se vira para o lado e se encolhe como um casulo. O choro continua por mais um tempo, e só cessa quando a exaustão vence e Frank é engolido pela escuridão.

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O quarto estava totalmente escuro e em absoluto silêncio, quando Gerard abriu a porta. A luz do corredor criou uma fresta luminosa até o meio do cômodo e da entrada, Gerard pôde ver Frank encolhido na cama. O rapaz ainda estava com a mesma roupa, os sapatos ainda estavam nos pés, os cabelos bagunçados. Seu peito pesou.

Acendendo a luz de uma das arandelas, Gerard iluminou um pouco o quarto, mas não o suficiente para incomodar o sono de Frank. Lentamente ele se aproximou da cama. Pensou em sentar-se, mas teve mede de despertar o rapaz. A noite foi brutal e ele precisava de descanso. Especialmente agora, no estado em que estava. Observando melhor, Gerard viu que Frank permanecia com uma das mãos sobre a barriga. A outra mão estava escondida embaixo da cabeça.

Havia um rastro de lágrimas secas que iam do canto do olho até a ponta do nariz do rapaz, sinal de que Frank chorou até dormir. O coração de Gerard se partiu. Com cuidado, o senador retirou os sapatos do rapaz e colocou mais dois travesseiros apoiando suas costas, numa tentativa de passar algum conforta para o jovem. Pegando uma colcha grossa dentro do armário, Gerard cobriu o amante. Apagando a luz da arandela, Gerard se sentou no chão do quarto, no canto da porta. O feixe de luz que vinha do corredor permitia que ele visse Frank na cama. E foi assim que Gerard passou a noite toda, mantendo vigília, guardando e protegendo seus dois bens mais valiosos.

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Quando Frank acordou o sol já raiava no horizonte. Ele estava coberto, cercado de travesseiros e apenas de meias. Nada que ele tenha lembrado de ter feito na noite anterior. Ainda ligeiramente desnorteado, Frank olhos parar os lados, na esperança de encontrar Gerard, mas o quarto estava vazio. Ele respirou fundo, sentindo-se derrotado. Uma tristeza sem tamanho tomou conta de seu peito.

Esticando o corpo, Frank se aproximou da beira da cama, no intuito de levantar-se, mas algo chamou sua atenção. Sobre a mesa de cabeceira havia uma tigela com frutas e cereais, um pote de iogurte natural e um copo de suco de laranja. Um sorriso involuntário surgiu no rosto do rapaz. Ao lado da tigela havia um bilhete. Rapidamente Frank pegou o bilhete, com as mãos trêmulas e ansiosas, e o leu:

 

"Bom dia.

Eu soube que frutas, cereais, iogurte e laranja são bons pra sua saúde e pro desenvolvimento do bebê, por conta das vitaminas, cálcio, proteínas e mais um monte de coisa. Então, se puder, e se sentir disposto, coma seu café da manhã. Vai fazer bem pra você e pro bebê.

GW."

Apesar do tom relativamente seco, o que Frank já esperava, saber que Gerard se deu ao trabalho de pesquisar algo que fosse bom, não só para o bebê, mas para o próprio Frank, trouxe um fio de esperança à alma dilacerada do rapaz. Rapidamente Frank pegou sua tigela de frutas e começou a devorar seu café da manhã. Em menos de 15 minutos, todos os recipientes estavam vazios e tanto Frank, quando o bebê, estavam satisfeitos.

Alimentado, o próximo passo era tomar um banho, para tentar lavar não só o corpo, quanto a alma. Hoje era um novo dia, e a conversa de ontem ainda não tinha chegado ao fim. Então Frank precisava renovar suas energias e se preparar para o novo dia.

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Já de banho tomado e roupa trocada, Frank desce as escadas da casa em direção à cozinha. Olhando ao redor, não há sinal de Gerard na casa. Um primeiro pânico inicial se instaura. Gerard teria ido embora? Olhando pela janela, Frank vê os dois carros parados na entrada, o que acalma seu coração. Gerard está em algum lugar da casa. Talvez ele só não esteja pronto ainda para encará-lo. Frank, então, continuou seu caminho até à cozinha.

Chegando lá, ele notou a cafeteira ligada, com a jarra de café quase no fim e ainda quente. Gerard já estava acordado. Tentando conter a ansiedade de buscar o rapaz pela casa, Frank se concentrou na tarefa de lavar a louça de seu café da manhã. Com tudo lavado e guardado, Frank pegou uma garrafa de água na geladeira. As vozes de seus médicos ecoam o tempo todo na sua cabeça "mantenha-se hidratado".

Vagando pela casa, com sua garrafa de água nas mãos, Frank dá pequenos goles, intercalados com uma respiração ritma e calculada. A última coisa que ele precisa agora é engatilhar uma crise de enjoo matinal e perder o delicioso café da manhã que Gerard lhe preparou. Andando pelo primeiro andar da casa, Frank pensa no que mais pode dizer a Gerard para fazer o senador entender seu ponto de vista, e principalmente perdoá-lo por ter demorado tanto para contar sobre o bebê.

Passando pelo corredor de divide a sala de TV da sala de estar, Frank paralisa. Olhando através das portas francesas de vidro, Frank avista Gerard sentado no píer, na beira do lago. Ele está de costas pra porta, mas mesmo assim Frank nota que Gerard continua com a mesma roupa de ontem, e a caneca de café ao seu lado indica que é bem provável que ele não tenha pregado os olhos a noite toda. Frank não pensa duas vezes, abrindo uma das portas, ele segue pelo píer de madeira até parar a menos de dois metros de onde Gerard está sentado.

Mesmo de costas, Gerard sente a presença de Frank, pois sua postura muda. Ele, que antes estava inclinado pra trás, encarando o horizonte, agora encolhe os ombros e abaixa a cabeça, observando o lago abaixo de seus pés. Os dois ficam parados em seus lugares por algum tempo, incapazes de se mexer, incapazes de respirar mais alto. A situação entre os dois é tão delicada, que qualquer movimento em falso, qualquer palavra mal colocada, pode quebrar a fina base que ainda sustenta esse relacionamento.

Frank segura a garrafa de água nas mãos, como quem se segura a um salva-vidas em alto mar. Seu coração não sabe se acelera ou pula batidas. O silêncio de Gerard o está matando aos poucos. Ele não sabe mais o que fazer. Talvez ainda não seja a hora para retomar a conversa. Frank dá meia volta e quando ameaça dar o primeiro passo em direção à casa, a voz de Gerard se faz presente.

- Eu não te odeio. - ele diz, e Frank sente que pode voltar a respirar novamente.

- Talvez você deva. - diz Frank, resignado.

- Não, não devo. - diz Gerard, e ele pode sentir o homem respirando fundo. - Porque eu te amo.

- Você ainda me ama?

- Eu nunca deixei de te amar. Nem por um segundo. E acho que eu nunca serei capaz de deixar de te amar. - ele diz, e Frank sente uma lágrima escorrendo por seu rosto. - Você sentaria aqui, do meu lado? - pede Gerard.

Com um leve sorriso em seu rosto, Frank caminha até a beira do píer e se senta ao lado de Gerard. Os dois homens não se encaram, apenas observam o horizonte, se sentindo gratos pelo momento de paz, que ontem parecia algo impossível.

- Eu ainda acho que você deveria ter me contado antes. Eu tinha o direito de saber.

- Eu sei, e eu concordo. Na verdade, eu estava planejando te contar hoje.

- O tal jantar especial? - Gerard pergunta, e Frank sente um certo humor na voz do senador. Frank sorri.

- Pois é. - diz Frank, e mais um momento de silêncio permeia por alguns instantes, até Gerard se manifestar novamente.

- Mas eu entendo a sua preocupação. - ele diz, pegando Frank de surpresa.

- Entende?

- Sim. Eu tive a noite toda pra pensar, pra me acalmar. E eu acho que você tem razão em ter medo do que pode acontecer. - ele começa, mas quando Frank ameaça falar, ele ergue a mão e o interrompe. - Deixa eu continuar. Você tem razão em ter medo do que pode acontecer, mas isso não significa que vai acontecer. Eu sei que seu trabalho é gerenciar crises, mas nós não estamos vivendo uma crise agora. Sim, o potencial para que alguma coisa aconteça é muito grande, mas ainda assim é só um potencial. Nós não podemos viver, ou deixar de viver, pensando em tudo que pode dar errado daqui pra frente. Nós temos que viver um dia atrás do outro e sermos eternamente gratos pelo que aconteceu com a gente. Frank, nós vamos ter um bebê.

- Eu sei, mas...

- Não. Sem "mas". Nós não podemos viver com "mas" ou "e se" ou "talvez". Nós temos um bebê a caminho e nós temos que viver 100% em função disso. Você precisa acreditar em mim quando eu digo que sempre vou colocar você e o bebê em primeiro lugar. O resto não importa mais. Você não é mais o gerente de crises dessa relação. Eu sou. Esse é o meu papel agora. Se alguma coisa acontecer, eu vou dar um jeito. Ninguém vai colocar você e o nosso bebê em risco. Por favor, acredita em mim. - ele pede, e mesmo sentindo que não deveria, Frank abaixa toda sua guarda.

- Eu acredito.

- Por favor, vamos apenas focar no nosso filho. Vamos esquecer os problemas e focar apenas no fato de que nós vamos ser pais.

- Okay. - diz Frank, pegando uma das mãos de Gerard e colocando em sua barriga. - Nós vamos ser pais.

Gerard sorri com o contato e, finalmente,  vira o rosto em direção a Frank. O sorriso no rosto do RP se desfaz na hora. À luz do dia é possível ver claramente os hematomas causados por Brad durante a briga no dia anterior. Frank solta a mão de Gerard e toma o rosto do senador.

- Meu Deus, Gerard. Seu rosto. - ele diz assustado.

- É, eu me olhei no espelho. Eu não acho que ganharia um concurso de beleza hoje. - ele diz, dando de ombros.

- Você tem um olho roxo e um hematoma na maçã do rosto. - diz Frank, analisando o rosto do senador. - Você pode ter uma fratura aqui.

- Por favor, aquele garoto não é capaz de fazer um estrago tão grande. - Gerard debocha, e Frank revira os olhos.

- Vem, eu vou cuidar disso. Colocar uma bolsa de gelo, passar uma pomada, sei lá. Vem, vamos entrar. - ele diz, levantando-se do píer e oferecendo a mão a Gerard. Mesmo contrariado, Gerard dá a mão para Frank.

- O que aconteceu com a gente só focar no nosso filho?

- A gente pode focar no nosso filho, enquanto o pai dele se recupera de uma briga de bar. - diz Frank, guiando Gerard pra dentro da casa.

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Gerard está sentado no sofá, enquanto Frank está na cozinha, preparando uma bolsa de gelo para colocar no rosto do homem. De seu lugar no sofá, Gerard consegue ver todos os movimentos de Frank na cozinha de conceito aberto. Quando o rapaz se estica na ponta dos pés, para alcançar uma tigela no armário, a barra de sua camiseta levanta e Gerard consegue ver a leve curva que já se forma no abdômen do rapaz. É quase imperceptível, talvez seja até a imaginação de Gerard voando alto, mas o senador consegue enxergar a prova de que seu filho está crescendo no ventre do homem que ele ama. Um sorriso surge nos lábios de Gerard.

- Do que você tá rindo? - pergunta Frank, voltando com a bolsa de gelo.

- Nada. Só uma coisa que me passou pela cabeça. Ai! - ele salta, ao sentir o gelo entrando em contato com seu rosto ferido.

- Eu sei que incomoda, mas tem que ficar com o gelo aí. Como você pretende ir trabalhar na segunda com a cara de quem perdeu uma luta de UFC? - diz Frank, ajoelhado no sofá, segurando a bolsa de gelo sobre o rosto de Gerard.

- Quem disse que eu perdi? Eu revidei cada soco que aquele maluco me deu. Aposto que a cara dele está bem pior que a minha.

- É, eu sei que você revidou. Foi quase impossível separar vocês. - diz Frank, fazendo Gerard ter um breve momento de pânico.

- Frank, você se meteu no meio de nós dois! Eu lembro que ele te empurrou pra longe. Você está bem? Está machucado? O bebê está bem?

- Ei, ei, calma! Eu tô bem. Eu caí sentado no sofá. Tá tudo bem comigo.

- Você tem certeza?

- Absoluta.

- Foi inconsequência. Você não devia ter se metido na briga.

- E ter deixado vocês dois se engalfinhando? Nem pensar.

- Você precisa ter mais cuidado a partir de agora.

- Eu vou ter, eu prometo. É só vocês dois não brigarem na minha frente de novo.

- Como se eu fosse permitir que aquele doente fique perto de você novamente. Nem pensar! Eu vou...

- Ei, o que você disse sobre apenas focarmos no bebê agora? Isso tudo pode ficar pra depois. - ele diz, de forma suave.

- Você tem razão. - diz Gerard, respirando fundo. - Mas nós ainda precisamos conversar sobre ontem.

- Gerard, por favor. Eu já me desculpei. Eu não quero voltar àquela discussão de novo.

- Eu sei que você se desculpou, e eu agradeço por isso. Mas eu não me desculpei. - ele diz, e Frank fica em silêncio. - Eu sei que eu estava com raiva e em choque, mas nada disso justifica o meu comportamento. Eu não deveria ter dito as coisas que eu disse.

- Tá tudo bem. - diz Frank, numa voz baixa.

- Não, não está. Eu te magoei, te feri, e quando eu penso nisso, meu peito dói. Eu não pude dormir pensando no jeito que você me olhou quando achou que eu estava te odiando.

- Isso é passado. Ficou tudo no passado. Nós dois erramos, e agora vamos consertar. Nós temos uma motivação imensa pra acertar tudo e não deixar mais isso acontecer. - ele diz, e Gerard se vira na direção da barriga de Frank.

- Eu ainda não consigo acreditar totalmente que nosso bebê está crescendo aí dentro. - ele diz, colocando a mão sobre a barriga de Frank.

- Pois ele está. E está crescendo perfeitamente. Ele tem braços e pernas, unhas nos dedos. Ele já consegue até bocejar.

- Como você sabe disso tudo?

- Meu médico me disse na última consulta. Ele me deu uns folhetos sobre o desenvolvimento do bebê. Esses são os marcos de desenvolvimento para um bebê de 11 semanas.

- Você já foi na consulta com o obstetra? - a voz de Gerard abaixa um tom.

- Eu fui à duas consultas. Meu médico é amigo da JJ, Dr. Jason Martin. Ele é especialista em gravidez masculina. A primeira consulta foi no dia seguinte que eu descobri que estava grávido. E a segunda foi semana passada, com 10 semanas e 3 dias, quando eu comecei o pré-natal.

- E você viu o bebê? - pergunta Gerard, ansioso.

- Vi! - rosto de Frank se ilumina.

Ele deixa Gerard segurando a bolsa de gelo e vai até a mesinha perto da porta, onde deixou suas chaves, celular e carteira no dia anterior. Abrindo a carteira, ele retira um papel, que Gerard não consegue identificar, e volta apressado para o sofá. Sentando-se ao lado de Gerard, ele entrega o papel, e só então o homem vê que se trata de uma foto de ultrassonografia.

- Esse é o nosso bebê. - diz Frank, dando a foto na mão de Gerard. - Eu planejava te entregar hoje, no jantar, mas... - ele dá de ombros.

- Nosso bebê? - Gerard deixa a bolsa de gelo de lado e foca completamente na foto em suas mãos. - Esse é o nosso bebê?

- Sim! Nessa foto ele ainda tinha 10 semanas, então está um pouco diferente do que eu falei. Mas se você olhar aqui... - ele diz, apontando alguns pontos da imagem. - Dá pra ver os bracinhos e as perninhas. Ele estava com três centímetros nessa foto, quase 3,5g. Agora ele já deve estar perto dos quatro centímetros. - ele diz, mas Gerard parece hipnotizado pela foto. Ele ouve o homem fungando e percebe que Gerard está emocionado.

- Ele está saudável? O médico disse que ele está saudável?

- Sim! O Dr. Martin disse que ele perfeitamente saudável e está se desenvolvendo exatamente como deveria.

- Ele é lindo. Ele é o bebê mais lindo que eu já vi na vida. - diz Gerard e Frank ri.

- Eu achei que estivesse ficando doido e tal, mas eu também acho que ele é lindo. Talvez seja uma coisa de pai, achar o seu bebê o mais lindo do mundo, mesmo num ultrassom de dez semanas.

- Pai... - diz Gerard, ainda hipnotizado pela imagem. - Eu vou ser pai.

- Sim, você vai. - diz, Frank, sorrindo.

Gerard coloca a foto de lado e olha para o companheiro, e pela primeira vez, desde a briga de ontem, Frank consegue ver o homem que ama dentro daquele olhos verdes marejados. Tomando o rosto de Frank entre as mãos, Gerard o beija de forma doce e apaixonada. Faz apenas um dia, mas parece que já tem uma eternidade desde a última vez que eles se beijaram. Frank laça os braços ao redor do pescoço de Gerard e retribui o beijo com paixão e urgência. O pesadelo acabou. O amor está de volta finalmente.

- Eu te amo tanto! Tanto, tanto, tanto. - diz Gerard.

- Meu Deus, eu também te amo. Eu não sei o que eu faria se você... - Frank é silenciado por outro beijo doce.

- Shhh, não pense nisso. Não vai acontecer. Eu vou estar ao seu lado a cada segundo, cada minuto. Eu nunca mais vou te perder de vista. Nós estamos nisso juntos, em cada etapa, em cada passo, até nosso bebê chegar ao mundo. E então, nós seremos uma família. - ele diz, sorrido. Frank sorri também, mas ainda há uma ponta de preocupação em seu coração.

- Não vai ser tão simples.

- Eu não me importo. Eu não sei como, mas nós vamos ser uma família. Isso eu te prometo. Por favor, acredita em mim.

- Eu acredito.

- Então diz "nós seremos uma família".

- Nós seremos uma família.

- Você, eu e o nosso bebê. - ele diz, colocando a mão na barriga de Frank.

- Você, eu e o nosso bebê. - Frank coloca a mão por cima da mão de Gerard. Suas testas se tocam e eles passam algum tempo assim, apenas sendo uma pequena família.

O pequeno momento dos dois é interrompido pelo celular de Frank, que toca a música especialmente escolhida para quando JJ ligar. Sorrindo e revirando os olhos, Frank deixa o sofá, para atender o telefone, enquanto Gerard pega a bolsa de gelo parcialmente descongelada e segue pra cozinha.

- Alô! - ele atende o telefone.

- Alô? Alô? É assim que você atende? - pergunta JJ, claramente alterada.

- Ué, resolveram mudar o jeito que se atende o telefone? - ele brinca, mas a jovem do outro lado da linha não parece estar aberta a humor.

- Frank, onde diabos você está? E o que merda tá acontecendo? Você está bem?

- Whoa! Whoa! Calma! Eu tô bem, JJ. - diz Frank, na defensiva, chamando a atenção de Gerard, que passa a prestar atenção na conversa. - O que houve?

- O que houve é que seu ex psicopata apareceu aqui em casa ainda agora, com a cara toda arrebentada, procurando por você, completamente fora de si, dizendo que era tudo culpa do Gerard, que o Gerard estava te matando, que você estava fazendo uma besteira, e mais um monte de coisa.

- O Brad esteve aí? - pergunta Frank, alarmado, fazendo Gerard largar tudo e se juntar ao rapaz. - Ele entrou em casa? Você tá bem?

- Ele tentou entrar, mas desistiu depois da joelhada que eu dei no saco dele. É capaz dele ter desistido de ter filhos depois disso também.

- Mas você está bem?

- Eu tô, ele é quem deve estar sentindo o gosto das bolas até agora. Mas e você? O que houve?

- O Brad surtou. Invadiu o gabinete do Gerard falando essas maluquices aí, os dois brigaram feio e eu tirei ele de lá, antes que os seguranças do Capitólio prendessem ele, ou coisa pior.

- Esse garoto precisa de um psiquiatra urgente. Mas você está bem, não é? Ele não te machucou, nem nada? Porque se ele fez alguma...

- Eu tô bem, JJ! O bebê está bem. Eu estou com o Gerard, aqui no Refúgio.

- Então quer dizer que o Gerard já sabe do bebê? Você finalmente contou.

- Não foi bem como eu estava planejando contar, mas sim, ele já sabe do bebê.

- E aí? Ele ficou feliz? Ele vai te apoiar? Ou eu vou ter que colocar o meu joelho em ação de novo?

- Pode aposentar o seu joelho. - diz Frank, rindo, pra confusão de Gerard. - Ele tá bem. Ele tá feliz com o bebê. No final das contas, acabou dando tudo certo.

- Ah, graças a Deus! Ufa! Finalmente Elvis deixou o recinto.

- Hã?

- Nada! Piada interna. Coisa minha e do Vô Jack. Depois te explico. - ela diz, e Frank ri.

- Tá certo. Bem, não se preocupe, estamos todos bem.

- Maravilha. Mas não foi só por isso que eu liguei. Na verdade, eu já ia ligar, antes do Charles Manson tentar invadir a casa. O Jason ligou. Ele recebeu o parecer dos seus médicos.

- Oh. E ele disse alguma coisa? Ele pareceu preocupado? - ele diz, deixando Gerard ainda mais atento.

- Ele não disse nada, só pediu pra confirmar sua consulta na terça. Ah, e a farmácia ligou, avisando que seus remédios ficaram prontos. Você já pode ir buscar na segunda.

- Okay, maravilha. Eu passo pra buscar antes do trabalho.

- Tá certo. Está tudo bem mesmo, não é?

- Sim, JJ, está tudo bem. Obrigado por ligar. Obrigada por tudo.

- É pra isso que família serve, não é?

- Você está certa, como sempre. Segunda nós conversamos melhor.

- Okay! Me ligue se precisar de alguma coisa.

- Pode deixar. Te amo.

- Também te amo. Tchau. - ela diz, encerrando a ligação. Frank guarda seu celular e encontra um Gerard ansioso, à espera de notícias.

- Então, o que aconteceu?

- O Brad esteve lá em casa atrás de mim. Tentou entrar, mas a JJ não deixou.

- Eu juro por Deus, eu vou abrir uma ordem de restrição contra esse cara. - ele diz, correndo as mãos pelos cabelos.

- Gerard, calma. Eu sei que vai parecer que eu estou defendendo ele, mas eu não estou. É que o Brad realmente não é assim. Ele está em choque. Primeiro ele acha que eu estou doente, agora ele descobre que eu estou grávido. Nós passamos 10 anos ouvindo que eu não poderia engravidar e agora isso. Ele só precisa de um tempo pra se acalmar e assimilar tudo que está acontecendo.

- Frank, esse cara é um perigo! Um perigo pra mim, pra você e pro nosso bebê. Ele é um perigo até pra ele mesmo! Eu preciso te proteger.

- Por favor, não faça nada agora. Vamos dar uma semana pra ele. Ele está suspenso do Capitólio mesmo, não vai se aproximar da gente nesse período. Se depois dessa semana, ele continuar alterado, você pode tomar as providências que quiser.

- Okay! Uma semana.

- Obrigado. - ele diz, dando um leve beijo nos lábios de Gerard.

- O que mais a JJ disse? Você pareceu tenso de repente.

- Meu obstetra ligou. Ele recebeu o parecer dos meus médicos.

- Ele disse alguma coisa?

- Não, ele só confirmou minha próxima consulta.

- Que será...

- Terça feira. Quando eu completo 12 semanas.

- Eu vou com você.

- Você não pode.

- Frank...

- Me escuta. Você disse que entendeu o meu lado, então quer dizer que você entendeu que eu preciso te proteger da mesma maneira que você precisa me proteger. E a minha forma de te proteger é não te expor. Você não pode ir nas consultas comigo. Não pode. É arriscado demais. Uma coisa é você ir na minha casa ou na casa dos meus pais, outra coisa é você me acompanhar às consultas no obstetra. Vai levantar suspeitas.

- Então você vai sozinho? Vai fazer o pré-natal todo sozinho?

- Não. A JJ está indo comigo. Eu sei que não é o ideal, tudo que eu mais queria era você do meu lado, vendo o nosso bebê junto comigo. Mas pra isso dar certo, nós vamos precisar abrir mão de certas coisas. Vamos precisar ceder.

- Eu não acredito nisso. - diz Gerard, frustrado.

- Eu odeio também. Mas é preciso. Nós precisamos nos preservar e preservar o nosso filho. Essa é a nossa prioridade.

- Tá certo. Você tem razão. Mas eu vou querer saber de tudo. Todos os detalhes. E vídeo, e fotos. Tudo! Eu quero sentir como se estivesse lá com você.

- Eu prometo! Tudo, tudo, tudo. Eu vou dividir tudo com você. Se a JJ precisar fazer um Facetime durante alguma consulta importante, a gente faz.

- Okay, okay. Eu só não quero perder mais nada.

- Você não vai. Eu prometo. - ele diz, abraçando Gerard e deitando a cabeça no peito do homem. A abraço é retribuído de forma urgente. Gerard já perdeu quase três semanas da vida de seu filho, ele não está disposto a perder nem mais um dia.

- Mas e você? - ele pergunta, ainda abraçado a Frank.

- O que tem eu?

- Você disse que foi aos seus médicos durante a semana, que eles trocaram sua medicação. Eles disseram se a gravidez pode prejudicar a sua saúde? - pergunta Gerard. Prevendo mais uma longa conversa, Frank respira fundo.

- Nós vamos conversar sobre isso, mas será que a gente pode comer alguma coisa antes? Eu tô morrendo de fome, e o bebê parece disposto a me deixar manter as refeições. - ele diz, e apesar da preocupação, Gerard sorri.

- Tá bom! Vamos alimentar vocês dois. - ele diz, seguindo abraçado a Frank, em direção à cozinha.

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Após uma sopa de batata baroa com alho poró, com um suco reforçado de laranja, beterraba e cenoura, Frank e Gerard já estão alimentados e prontos para a segunda fase desse processo de colocar tudo em pratos limpos. Aninhado no peito de Gerard, Frank aproveita a massagem que o companheiro faz em seu couro cabeludo. Gerard correr os dedos por dentro dos cabelos de Frank, acariciando e massageando ao mesmo tempo.

Parando o carinho de repente, Gerard deposita um beijo no topo da cabeça do rapaz e se ajeita no sofá, forçando Frank e mudar de posição também, ficando um de frente pro outro.

- Então, você está pronto pra me contar o que os seus médicos disseram?

- Você tá pronto pra me ouvir até o final, sem se desesperar antes do tempo?

- Depende do que você me disser.

- Gerard...

- Não, Frank. Eu disse que a partir de agora você e o bebê vêm em primeiro lugar. Você dois, não só o bebê. O significa que a sua saúde é tão importante quanto a dele. Eu não sou médico, nem nada, mas eu acho que se você não estiver saudável, o bebê não estará saudável. Certo? - ele diz, e Frank sorri.

- Você repetiu exatamente o que os meus médicos disseram. Bem, vamos lá! Desde a minha primeira consulta, o Jason, meu obstetra, declarou que a minha gravidez é de risco, por conta do meu histórico médico.

- Como assim "de risco"? O que pode acontecer? O que vai acontecer?

- Como eu já sou hipertenso e vou continuar hipertenso durante a gestação, não vai ter jeito, eu vou ter pré-eclampsia.

- O quê? - Gerard leva uma das mãos à boca.

- Gerard, me escuta. Eu vou ter a pré-eclampsia, ela vai me acompanhar durante toda a gravidez, mas isso não significa que eu vou necessariamente manifestar alguma complicação da pré-eclampsia. 

- Como assim?

- Uma pessoa gestante é diagnosticada com pré-eclampsia quando ela atinge a 20ª semana de gestação com a pressão de 14x09, o que é basicamente a minha pressão normal. Então de um jeito ou de outro, a condição estará comigo até o final.

- E não tem nada que a gente possa fazer? O que seus médicos disseram?

- Existe um monte de coisas que nós podemos fazer para que eu não agrave o quadro de pré-eclampsia ou evolua para um quadro de eclampsia, que aí sim, colocaria tanto a vida do bebê, quanto a minha em risco. Se eu seguir todas as recomendações, e fizer tudo direitinho, eles vão tratar a pré-eclampsia como sendo leve. Caso haja algum tipo de complicação, eles já vão tratar como pré-eclampsia grave.

- Certo, o que nós temos que fazer? Eu faço com você. Qualquer coisa!

- Eu vou continuar tomando os meus remédios, pra controlar a pressão. Minha dieta é zero sal a partir de agora. Eu preciso me manter hidratado o tempo todo. Eu preciso evitar stress e fazer repouso sempre que possível.

- Você precisa evitar stress e tudo que eu fiz ontem foi te causar mais e mais stress. Você podia...

- Ei, não faz isso. Você não sabia.

- É, mas foi preciso você quase desmaiar de novo pra eu calar a minha maldita boca.

- Gerard, isso ficou no passado. Acabou! Se nós ficarmos voltando pra ontem o tempo todo, não vamos sair do lugar. Nada aconteceu. Eu tô bem agora, o bebê está bem agora, tá bom? Por favor, deixa isso pra lá! - ele pede, e Gerard bufa, esfregando o rosto com as duas mãos.

- O que mais a gente vai enfrentar? O que de pior pode acontecer? Eu sei que você quer me poupar, mas eu preciso estar preparado pra te socorrer, caso alguma coisa aconteça. Então, quais os riscos que a gente corre se o seu quadro de agravar?

- O meu quadro se agrava se a minha pressão passar de 16x11. Nesse caso, eu já vou apresentar um quadro de pré-eclampsia grave. Alguns sintomas são dor de cabeça muito forte, vista embaçada, falta de ar, basicamente o que aconteceu comigo naquele dia, no Capitólio. Caso algum desses sintomas apareça, eu preciso correr pro hospital. Eles vão me internar e trabalhar para baixar a minha pressão o mais rápido possível.

- E se eles não conseguirem? E se você não receber socorro rápido o suficiente?

- Eu posso ter uma convulsão. Eu já tive algumas, mas nesse caso é diferente. Dependendo do tempo da convulsão e do pico que a minha pressão atingir, eu posso entrar em coma, ou ter um AVC, eu posso causar danos ao meu fígado e mais danos aos meus rins. Eu posso sofrer um infarto ou ter um edema pulmonar.

- Meu Deus!

- Se eu convulsionar pode significar que o meu quadro já evoluiu para eclampsia. Aí a vida do bebê estaria em risco. Uma convulsão muito longa pode cortar o fluxo de sangue e oxigênio para a placenta e o bebê pode sufocar. Eu posso ter uma hemorragia, posso entrar em trabalho de parto prematuro. E, na pior das hipóteses, o bebê pode nascer morto. - ele diz, e observa o completo horror estampado no rosto de Gerard.

- Você pode morrer. Vocês dois podem morrer.

- Essas são as piores hipóteses, Gerard. Algo que aconteceria se eu não seguisse meu tratamento. As chances disso acontecer são mínimas. Acredite em mim, eu passei exatamente pelo que você está passando agora e eu não vou nem começar a fingir que não fiquei apavorado com essas possibilidades. Meu nefrologista disse que eu tenho 50 % de chance de ter um parto prematuro, que eu posso agravar os danos aos meus rins nas últimas semanas de gestação. Meu obstetra disse que eu posso sofrer um descolamento de placenta ou até uma ruptura de útero. Eu ouvi todas as piores probabilidades que alguém pode ouvir. Eu precisava saber que ia enfrentar. Mas eu também ouvi de três grandes médicos, que eles farão de tudo para que nada disso aconteça. E eu acredito neles.

- Mas Frank... - Gerard parece devastado.

- Sabe o que mais eu ouvi?

- O que?

- O coração do nosso filho batendo. - ele diz, suave, e como num passe de mágica, todo pânico e temor se dissolvem do rosto de Gerard. Ele abre a boca, mas nenhum som sai. Frank entende a sensação. Pegando a mão de Gerard, Frank a leva até sua barriga novamente. - O coração do nosso filho está batendo bem aqui, dentro de mim.

Ainda em silêncio, Gerard se deita no sofá, pousando a cabeça no colo de Frank e encostando o ouvido na barriga do amante. Um de seus braços envolvem a cintura do rapaz, enquanto a outra mão repousa sobre o ventre que guarda seu filho. Frank reclina no sofá e deixa Gerard ter seu momento. Um momento íntimo entre pai e filho.

Todos os medos e preocupações de Gerard não se evaporaram no ar, muito pelo contrário. Eles vão ameaçar assombrá-lo pelos próximos seis meses. Mas por enquanto, Gerard só precisa disso. Deitar a cabeça no colo do homem que ele ama e pensar no coração de seu filho batendo dentro de Frank. Se Frank tem dois corações dentro dele, Gerard tem três. E ele sabe que fará de tudo para manter todos os três corações batendo forte. Pois sua vida depende disso.

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Frank e Gerard conversaram por mais algum tempo sobre a saúde de Frank e do bebê. Frank, inclusive, ligou para seus três médicos, apresentou Gerard como sendo o pai de seu filho, explicou a situação delicada do casal (sabendo que poderia confiar na discrição dos três) e pediu que eles explicassem a Gerard tudo que já havia sido dito a ele.

Gerard ouviu, pacientemente, de cada médico, os prognósticos, os riscos, as chances e os planos de cada um deles para que Frank mantenha sua gestação o mais saudável possível. Gerard fez uma tonelada de perguntas, e cada uma foi respondida de forma paciente e didática, na tentativa de dar um pouco mais de confiança aos futuros pais.

Ao final de cada ligação, Frank agradeceu imensamente a atenção e se desculpou pelo incômodo de uma ligação em pleno sábado. E ao final de cada ligação, ele ouviu a mesma coisa "Nós estamos aqui pra vocês, à disposição de vocês, na hora e no dia que precisarem. Liguem sempre que quiserem." Com um sorriso reconfortante no rosto, Frank pôde, enfim, deixar o celular de lado.

O fim de tarde já estava chegando, e com ele, a normalidade e a paz. A vida estava, enfim, voltando aos eixos.

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Ao abrir os olhos no domingo de manhã, Frank sentiu algo estranho ao tentar se mexer. Como faz todas as manhãs, Frank acorda, se senta na cama e estica o corpo. Mas nessa manhã algo o impedia. Ao olhar pra baixo, ele encontrou o braço de Gerard ao redor de sua cintura. A mão do senador estava firmemente espalmada sobre seu abdômen.

Conversar com os médicos de Frank no dia anterior, amenizou um pouco os medos de Gerard, mas assim mesmo o homem continuou extremamente preocupado, e, de fato, não deixou Frank longe de suas vistas um só minuto durante a noite de sábado. Quando o sono bateu e o casal se recolheu para o quarto, juntos dessa vez, Gerard sentiu uma dificuldade absurda em pegar no sono. Cada vez que ele ameaçava adormecer, era arrancado do seu estado de sonolência como quem desperta de um pesadelo. Frank se preocupou com o homem, afinal Gerard já não havia dormido na noite passada, então os dois se abraçaram ainda mais, se aconchegando um no corpo do outro.

Apenas quando Gerard encontrou uma posição em que pudesse estar o tempo todo com a mão sobre a barriga de Frank, como se pudesse proteger seu bebê, foi que o senador finalmente se rendeu ao cansaço e dormiu. Mesmo exausto, Frank demorou um pouco para conseguir dormir também. Ele ficou velando o sono de Gerard, observando-o cair em sono profundo, e só quando teve certeza absoluta de que Gerard não acordaria assustado novamente, que Frank abraçou o sono dos justos.

Frank pousa sua mão sobre a mão de Gerard e contempla aquele momento de tranquilidade e carinho. O bebê ainda é tão pequeno, quase do tamanho de um figo, mas já é capaz de captar tanto amor de seus pais. Mas, infelizmente, não é só amor que o pequeno bebê provoca. Sentindo a reconhecida sensação de náusea surgir, Frank tenta se livrar dos braços de Gerard. No entanto, o senador não parece disposto a abrir mão da segurança de seu amor, e reage à agitação de Frank, fechando ainda mais os braços ao redor do corpo do rapaz.

Já sentindo a bile subir pela garganta e prevendo o desastre que está por vir, Frank se desespera.

- Gerard, acorda! - ele pede, se agitando ainda mais. - Me solta, Gerard, por favor! Me solta! Gerard!

Sendo arrancado de seu sono na base do susto, Gerard se senta na cama, totalmente desnorteado. A única coisa que seu cérebro capta é Frank saltando da cama e correndo em direção ao banheiro.

- Frank? O que houve? - ele pergunta, ainda meio grogue. Só quando o inconfundível som de alguém vomitando invade o quarto, é que Gerard compreende o que está acontecendo. - Merda! - ele exclama, saltando da cama e correndo para amparar Frank.

Chegando ao banheiro, Gerard encontra Frank ajoelhado na frente do vaso, colocando pra fora tudo que comeu nas últimas 24 horas. Na mesma hora, Gerard se ajoelha ao lado do rapaz e esfrega círculos em suas costas, confortando-o.

- Shhh, eu tô aqui. Eu tô bem aqui com você.

- Eu sabia... - diz Frank, ofegante. - Eu sabia que isso ia acontecer hoje. - ele diz, antes de sentir outro espasmo estomacal.

- Fica calmo. Respira fundo. Já vai passar.

- Eu não tive nenhum enjoo ontem. Nenhum... - ele continua. - Eu achei que tivesse acabado. Mas algo me dizia que hoje ele ia voltar pra valer. - ele diz, e volta a vomitar.

- Seus enjoos estão muito fortes? Não seria melhor ir ao hospital?

- O Jason disse que meus enjoos são normais... mas eu sinto que vou morrer.

- Ei, não diga isso. Eu prometi que não ia deixar nada acontecer com vocês, não prometi?

- Eu não acho que não há nada que você possa fazer em relação a isso. - ele diz, antes de cuspir pela última vez, e reclinar pra trás, deixando o corpo repousar apoiado no de Gerard.

- Só confie em mim, okay?

- Okay.

- Você acha que consegue se levantar um minuto? Só para enxaguar a boca.

- Acho que sim.

- Vem, eu te ajudo. - diz Gerard, praticamente levantando Frank do chão sozinho.

Ele sustenta o rapaz de pé, enquanto ele escova os dentes e lava a boca com enxaguante bucal. Sentindo-se 1/3 de ser humano novamente, Frank se deixa guiar de volta pra cama, onde Gerard o acomoda sob as cobertas.

- Tenta dormir mais um pouco. Você acha que pode ficar sozinho por alguns minutos?

- Por quê? Onde você vai?

- Vou dar um pulinho na rua, coisa rápida.

- Fazer o quê?

- Nada de mais. Eu quero que você me prometa que não vai levantar, okay? Eu vou deixar a lata de lixo aqui do lado da cama, caso você se sinta enjoado de novo, e vou buscar uma garrafa de água pra você, antes de sair.

- Eu ainda não sei o que você vai fazer na rua. - diz Frank, manhoso, mas quase se entregando ao sono novamente.

- Não se preocupe com isso. Apenas descanse. Eu já volto. - diz Gerard, dando um beijo na testa do rapaz.

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Frank deve ter pego no sono imediatamente, pois quando ele abre os olhos novamente, há uma garrafa de água do seu lado e Gerard não está por perto. Com cuidado, para não provocar uma nova onde de enjoos, o rapaz se levanta devagar e dá pequenos goles na água. Colocando os pés no chão e se levantando lentamente, ele testa sua estabilidade. Tudo parece bem.

Ele cata seu celular e vê que já são quase meio dia. Seguindo para o banheiro, ele toma uma chuveirada rápida, troca de roupa e desce à procura de algum sinal de Gerard.

Não é preciso procurar muito. Assim que chega aos últimos degraus da escada, Frank ouve uma certa movimentação na cozinha. Assim que se aproxima, ele encontra Gerard cercado de sacolas de mercado e entretido, no que parece ser uma renovação da despensa da casa.

- Oi. - ele diz, fazendo o senador levantar a cabeça.

- Ei! O que você está fazendo aqui embaixo? Achei que ainda estivesse descansando.

- Eu acordei, o enjoo já tinha passado, eu estava estável, então resolvi tomar um banho e vir te procurar, já que você não estava no quarto. - ele diz, e olha ao redor. - Aonde você estava, afinal de contas?

- Eu estava no mercado. Mercados, para ser mais exato. Eu liguei pro seu obstetra e falei com ele sobre os seus enjoos. Perguntei se tinha alguma coisa que eu poderia fazer pra ajudar, se tinha alguma coisa que você pudesse comer sem se preocupar com suas restrições. Ele me deu uma lista de alimentos que podem ajudar com os enjoos e mais alguns suplementos vitamínicos que vão te ajudar a manter as vitaminas e os sais minerais, mesmo se o enjoo durar mais de 12 semanas.

- Você ligou pro Jason, num domingo de manhã, pra perguntar sobre os meus enjoos? - pergunta Frank, surpreso, mas com um sorriso no rosto.

- Claro que liguei. E ele disse que eu posso ligar a hora que for, pra tirar qualquer tipo de dúvida.

- Deus, ele não sabe no que se enfiou. - Frank ri. - Mas enfim, o que você comprou?

- Eu comprei pão e torrada integrais, ovos e ricota sem sal. Renovei o estoque de aveia, granola, iogurte natural e frutas. Também comprei bastante legumes e verduras, especialmente as com folhas escuras, que são uma excelente fonte de ácido fólico. Comprei chás de menta, camomila e folha de framboesa. Ah, e eu comprei esses shakes aqui. - ele diz, mostrando as três latas de suplemento alimentar. - O Jason disse que você deveria tomar um copo de shake de proteína por dia, então eu comprei de três sabores, pra não enjoar. Ainda tem água com gás, água tônica, ele disse que um copo d'água com lascas de gengibre ou rodelas de limão ajudam muito... - Gerard é interrompido por um beijo de Frank.

- Eu te amo. - ele diz, e então coloca a mão de Gerard sobre sua barriga. - Nós te amamos.

- E eu amo vocês também. Demais. - Gerard sorri, e então se ajoelha e ergue a camisa de Frank. - Oi, filho. Sou eu, seu pai. Eu só quero dizer o quanto eu te amo. Você e o seu papai são a melhor coisa que já me aconteceu, e eu não poderia estar mais feliz em saber que você está aí, dentro da barriga do seu papai, crescendo e ficando forte. Se preparando pra vir ao mundo. Deus, eu mal posso esperar pra te conhecer. Pra te ter nos meus braços. E pra te mostrar o quanto você é amado. Você é o meu sonho se tornando realidade. Eu te amo, meu filho. Eu te amo com todo o meu coração, com toda a minha vida. - ele diz, e beija a barriga de Frank.

- Aposto que ele mal pode esperar pra te conhecer também, e saber como ele é sortudo por te ter como pai.

- Não, eu sou o sortudo. Eu sou o cara mais sortudo da terra. Eu tenho os dois maiores tesouros do mundo aqui, comigo. - ele diz, erguendo o rosto e sorrindo para Frank. E então volta sua atenção pra barriga. - Então, meu filho, o que você acha de deixar o seu papai tomar o café da manhã, hein? Ele precisa ficar saudável, pra que você continue a crescer saudável. O que você acha de uma torrada integral com ricota e um suco de abacaxi com gengibre, hein? - ele pergunta, e encosta o ouvido na barriga de Frank, que ri.

- Eu não tenho o direito de opinar nesse cardápio, não?

- Claro que tem! Mas você sabe que, no final das contas, quem decide o que vai ficar e o que vai sair é ele, não é? - pergunta Gerard, rindo e fazendo Frank rir.

- Tá certo. Se ele topar, eu aceito as torradas e o copo de suco.

- Então, filho, qual vai ser? - ele pergunta, fingindo uma cara de concentração, enquanto mantém o ouvido pressionado contra a barriga. - Okay! O cliente é quem manda. Duas torradas integrais com ricota, e um copo de suco de abacaxi com gengibre saindo no capricho. - diz Gerard, batendo as mãos e ficando de pé.

- Quer ajuda?

- Não. O senhor vai ficar sentadinho na mesa, enquanto eu preparo tudo.

- Deixa eu pelo menos te ajuda a guardar as compras.

- Frank.

- Só guardar as compras. Você não pode fazer tudo ao mesmo tempo. Se eu te ajudar, a gente termina mais rápido, toma o café da manhã mais rápido e tem o resto do dia todo só pra curtir. O que me diz? - pergunta Frank, fazendo cara de travesso. Gerard abre um imenso sorriso.

- Tá bom, mas eu pego e você guarda. Nada de levantar peso.

- Combinado. Mas vamos rápido, porque o seu menu abriu o apetite do seu filho. - ele diz, rindo, enquanto ajuda Gerard a guardar as compras.

E o resto do domingo foi assim. Apenas, amor, paparicos e fortes ligações sendo criadas. É o início de uma nova família. 


Notas Finais


Gente, todos vivos por aí??? Que montanha russa esse final de semana do nosso casal favorito, hein? Mas o que importa é que entre mortos e feridos, salvaram-se todos!!!

"Elvis has left the building"! Agora eles podem curtir a gravidez em paz... ou não???

Me digam o que acharam!

MEGA BEIJO PARA TODOS!!!!

Ah, para quem está com saudades da nossa bitch mor, teremos Bethany no próximo capítulo! (Ih, será que foi spoiler isso??? Ops, foi mal)


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