História How - Like a boyfriend?

Yuri acordou com um turbilhão de sentimentos rodeando sua mente. Fora hoje o dia que pedira para se encontrar com Viktor na praia como uma certa vez uns tempos antes.

Apesar de fazer bastante tempo, sendo um total de três meses, na cabeça do moreno parecia ter sido apenas uns dias desde o ocorrido. Desde o comentário que o deixara tão afoito que, de repente, os resultados do Grand Pix pareciam irrelevantes e foram. 

Mesmo que tivessem sido satisfatórios, Yuri não dera muito bola e sua mente havia se focado apenas no comentário do seu treinador.

Era exatamente por isso que estava com os nervos à flor da pele hoje. Claro, na época, dera um jeito de ignorar o comentário na hora, escondendo palavras bonitas com outras por cima, mas a fala de Viktor ainda não havia saído de sua cabeça e agora que tinha certeza de que, o que sentia pelo homem não era algo influenciado por sua idolatria desde novo, pensava ser melhor que lhe contasse logo.

Yuri suspirou depois de trocar de roupa e ver as bochechas em um tom rosado no espelho. Culpou o pouco frio que fazia mesmo que estivessem no verão. 

Pôs a mão na maçaneta da porta e tomou coragem para puxá-la. Àquele ponto, Yuri teria desistido assim que visse o corredor na frente de si, mas para sua surpresa, Viktor já estava à espera, com um sorriso escaldante no rosto. O moreno pode sentir o corpo aquecer-se só de olhar para aquele sorriso à sua frente.

"Bom dia, Yuri." Falou o treinador, a mão passando no cabelo de modo a ajeitar os fios desalinhados.

"Bom dia... Viktor." Falou baixo, os instintos lhe dizendo para que desistisse e voltasse para a cama. Yuri engoliu em seco.

"Pronto para irmos à praia hoje? Estou curioso!" Comentou animado, caminhando pelo corredor em direção à cozinha para que comessem antes de sair.

Nem tanto... Pensou para si, mas se manteve calado o resto do trajeto, do café até a praia.

Mesmo que adorasse o frio, a neve ou até mesmo a chuva, Yuri não iria mentir que adorava a época do verão para que pudesse sentir a brisa fresca no rosto ou a areia quentinha nos pés. O casaco fino o protegia perfeitamente da pouca friagem e os pés se afundavam na areia, a apertando entre os dedos.

Sentaram-se sem se importar que ficassem com as roupas sujas depois e Yuri encarou o mar, degustando da quietude, pensando em uma forma de começar a falar tudo aquilo.

"Então, Yuri. Sobre o que queria falar comigo?" Fora Viktor que quebrara o silêncio que se mantinha.

O moreno apoiou as mãos no colo, brincando com os dedos e Viktor respeitou o silêncio que se prosseguiu aguardando pacientemente que o outro se sentisse pronto.

"Você lembra do que havia dito aqui, uns meses atrás? Quando decidiu me arrastar pra cá?" Riu de leve, lembrando-se da situação.

Viktor lhe deu um sorriso suave. Conhecia aquele sorriso, era o que ele normalmente fazia quando sabia que falariam de algo sério. Já o vira algumas vezes. Ele virou o rosto para o mar antes de abrir a boca para falar.

"Yuri, como você quer que eu lhe veja?" Perguntou e Yuri percebeu que ele estava recriando a cena.

Ficou calado como antes, juntou os braços nos joelhos e encarou o mar assim como o mais velho fazia.

"Como um pai?" Continuou. Yuri negou.  "Como um irmão?" Negou novamente. O nervosismo crescendo dentro do peito. "Como um amigo?" E mais uma vez negou, acenando com a cabeça negativamente. "Como um namorado?"

Yuri ficou quieto, sentiu se arrepiar apenas com a palavra saindo dos lábios do outro e esperou um pouco antes de responder.

"Sim..." E antes que percebesse, sentiu suas bochechas esquentarem por completo.

Maldita vergonha.

Viktor virou sua atenção para o homem ao seu lado e se perdeu por um momento nas bochechas em tons nácares de Yuri. Ele também o encarava de volta na mesma intensidade. 

"Pode repetir?" Pediu, sem divertimento algum na voz, só queria ter certeza de que o garoto tinha certa confiança no que dizia. Não é como se já não esperasse algo do tipo, o jeito como Yuri agia consigo não era de uma forma comum, sempre com vergonha de uma certa aproximação, mas chegava a acreditar que seria fruto de sua “fanatice” por ele. 

Tinha sentimentos por Yuri, claro que tinha, poderia até mesmo dizer que o amava e pretendia. Passara tempo suficiente com ele para que descobrisse pouco a pouco sobre o outro e sim, gostava dele, no outro sentido de gostar. Mas Yuri é uma pessoa que precisa de tempo, do seu próprio tempo e Viktor estava disposto a esperá-lo como tinha feito. Até agora.

"Sim, quero que me veja como namorado..." Repetiu, baixo, quase inaudível, como se a frase se afogasse ao som das ondas do mar. 

Viktor fez questão de se aproximar antes de continuar.

"Eu vou tentar o meu melhor." Terminou e Yuri continuou a olhá-lo naquela troca de olhares que já haviam tendo.

A mão de Viktor foi de encontro a sua e elas se entrelaçaram rapidamente antes que ela subisse por seus braços, passando por seu pescoço a fim de terminar segurando de leve seu queixo, fazendo com que ambos continuassem a se olhar sem desvios. Yuri se arrepiou com o toque do qual já devia estar acostumado, mas, definitivamente, não estava.

Viktor se aproximou um pouco mais, os narizes se roçaram de leve e Yuri alternava seu olhar entre sua boca e os orbes azuis pouco acima de si. Sentiu o seu polegar lhe acariciar o lábio de leve e isso apenas o fez ficar ainda mais vermelho.

O outro riu.

"Você quer?" Ele perguntou com receio, como se temesse que talvez fosse cedo demais, invasivo demais. Não queria apressar as coisas. A paciência sempre foi uma de suas virtudes.

Mas Yuri assentiu, sem desviar os olhos dos lábios do outro. 

"Você quer?" Perguntou novamente, esperando uma resposta confiante do rapaz à sua frente.

"Eu quero..." Sussurrou, tão baixo que se não estivesse próximo o suficiente não teria escutado.

E Viktor se aproximou devagar, sem a menor pressa. 

Os lábios se encontraram de forma lenta, sutil e suavemente, como se tivesse todo tempo do mundo e tinham.  Com a língua Viktor fez com que Yuri abrisse um pouco mais a boca e conduziu aquele beijo com leveza e calma, como quando patinavam. As línguas pareciam se acariciar.

Yuri levou suas mãos trêmulas até o fino casaco do outro, pousando-as ali. Sentiu a mão de Viktor descer do seu queixo ao seu pescoço e a outra acariciar-lhe a bochecha.

Se separaram tão lentamente quando como começaram. As respirações se encontrando devido à proximidade.

Talvez Yuri estivesse sonhando. Talvez aquilo fosse fruto da sua mente de fã maluco e tudo isso fosse apenas um sonho como qualquer outro. Talvez fosse. Mas parecia tão real que se fosse realmente, gostaria de nunca mais poder acordar.

Não é todo dia que você tem a chance de beijar seu ídolo e a pessoa que você ama como naquelas histórias clichês que se lê por aí. Afinal, qual a porcentagem de chances de você sequer se encontrar pessoalmente com ele? Sinceramente, Katsuki não queria saber de contas naquele momento.

Yuri aproveitou a proximidade para lhe alcançar os lábios de novo, dessa vez, de forma mais afoita, como se soubesse exatamente o que estava fazendo. O beijo foi eufórico, as bocas se moviam mais rapidamente, mas ainda assim, com a sutileza de antes. As mãos de Yuri foram parar no pescoço de Viktor assim como as suas que já se encontravam lá. Finalizaram o beijo com um selinho antes de se separarem por completo para se encararem de volta. 

Como sempre, Yuri estava corado, o tom rosado se estendia até pouco mais de sua orelha lhe deixando com um aspecto adorável.

Viktor riu. Não, ele gargalhou alto, parando apenas um tempo depois, secando as lágrimas que brotaram em seus olhos.

"Eu estava me perguntando quando tempo mais você iria demorar." Falou finalmente, entrelaçando sua mão na do mais novo. Sorriu para o moreno por fim.

Yuri quase pulou com o toque repentino.

"Como sabia?" Perguntou encarando as mãos juntas, as bochechas quentes.

"Eu não sei... Talvez eu esperasse que fosse recíproco. Talvez você fosse muito óbvio." Ele riu de leve, vendo Yuri desviar o olhar. "Mas de uma coisa eu tive certeza depois de um tempo com você..." Sussurrou rouco, aproveitando a orelha exposta.

O moreno sentiu os pelos de sua nuca se eriçarem. 

"E o que era?" Perguntou, ainda com a cabeça baixa, o rosto meio virado para o lado.

"Que eu te amo." E depositou um beijo no canto de seu rosto, se afastando um pouco.

Não conseguiu esconder a surpresa, os olhos se arregalando, as sobrancelhas se erguendo, as bochechas voltando ao mesmo tom vermelho anterior.

Ele apertou a mão de Viktor por um momento.

Talvez realmente estivesse sonhando com isso tudo. 

Que sua mãe não o acordasse agora então.

"Eu amo você"¹ Respondeu por fim, lhe dirigindo o seu melhor sorriso.