História How Can I Say - Trust no bitch

                Lá estava ele, olhando para seu café da manhã com a mesma cara de tédio de todos os dias, enquanto seus pais conversavam. Seus pais conversavam sobre política, economia e de como o futuro do país seria destruído pelos homossexuais. O garoto loiro apenas ignorava os mesmos, sabia que discutir era pior e que poderiam descobrir seu maior segredo. Seu nome era Gustavo Zhang, tinha 19 anos e estava no primeiro ano da faculdade de engenharia, não era um grande orgulho para os pais, que queriam que o garoto fosse o melhor estudante e fizesse medicina. Seus pais ambos eram médicos e queriam que o filho fosse pelo mesmo caminho, mas Gustavo não se interessava por nada disso, até tinha nojo do corpo humano, por algum motivo.

                Ele nunca gostou muito de contato humano, por isso nunca teve muitos amigos, os que teve o abandonaram em menos de alguns meses. Ele aprendeu a viver sozinho e hoje apenas vai para a faculdade, estuda em casa, come e dorme, nada mais que isso. Aprendeu que se focasse sua vida poderia ser melhor e não perdia tempo fazendo amigos, até porque ele não conseguia por ter dificuldades em falar com pessoas. Gustavo já era tecnicamente um adulto, podia se virar mas ainda morava com os pais em uma casa no centro da cidade de Xangai, na China.

                Gustavo nunca gostou de falar sobre seus segredos e se abrir com as pessoas, por isso ainda vivia escondendo nas sombras que ele é apenas um garoto - na verdade já um homem – indefeso que precisa de alguém ao seu lado. Ele nunca teve coragem de contar para ninguém que ele é gay, até porque onde mora isso é abominado. Seus pais o desprezariam, os amigos de seus pais o desprezariam e os seus colegas o desprezariam, infelizmente ele ainda morava num lugar muito preconceituoso.

                Numa terça-feira qualquer Gustavo estava indo para a sua faculdade de ônibus, apesar de seus pais terem bastante dinheiro ele preferia se virar sozinho. Parou no ponto na frente de sua faculdade e avistou uma menina um pouco estranha, ela era pequena, um pouco dentuça, cabelos castanhos com uma leve com um leve rosa, e apesar de esquisita ela tinha seu charme. A menina parecia perdida e bem confusa, estava completamente sozinha com um mapa na mão até que avistou Gustavo e largou o mapa no ponto de ônibus.

                - Ei, você, me ajuda por favor. – Pediu a menina estranha, quase pulando no loiro. – Eu não sou daqui e não sei como chegar na faculdade de artes, você sabe onde fica? – A menina perguntava com a voz embolada. Gustavo apontou para um ônibus que estava vindo e depois para um lugar no mapa. – Muito obrigada, foi um prazer te conhecer, sou Soyeon. – E então a menina entrou no ônibus e foi embora.

- Gustavo... – Ele sussurrou depois que ela foi embora, percebendo que lá se foi uma possível amizade que ele poderia ter tido.

Continuou seu caminho até a faculdade que era na rua ao lado. Chegando lá Gustavo passou pela grama onde haviam vários grupos diferentes de amigos, desde os grupos com duas pessoas até grupos com mais de dez. Olhou para todos aqueles grupos e desejou que pudesse estar em algum, mas sabia que seria uma coisa difícil de acontecer. Entrando em sua sala ele jogou suas coisas no mesmo lugar de sempre e só ficou esperando enquanto mexia em seu celular, vendo algumas fotos e notícias de famosos. De repente um garoto que ele nunca tinha visto na vida entra na sala, chamando muito sua atenção, talvez pelo sorriso peculiar. Gustavo tentava entender porque o garoto sorria ao entrar na sala, até que viu que ele abanava para um grupo mais no fundo da sala, onde havia uma menina alta, de franja e com cabelos pretos que chamava atenção de qualquer um pelo sorriso. Junto com a menina tinham mais dois garotos que ele reconhecia, os gêmeos Kyle e Mark, ambos com cabelos pretos e covinhas de dar inveja.

Gustavo continuou a olhar para o garoto mesmo quando ele já tinha sentado com seus amigos, mas o garoto não olhava para ele de volta. E então enquanto continuava encarando o garoto novo a menina o viu e sorriu para ele, fazendo com que Gustavo rapidamente olhasse para a frente. Depois de algumas aulas ele foi para o seu intervalo, passar um tempo na grama sozinho, como de costume. Ele avistou novamente o garoto do sorriso peculiar de sua turma, ficou o encarando e o sorridente percebeu, logo começando a encará-lo de volta. Gustavo ficou completamente envergonhado e por algum motivo mexeu em seus cabelos compridos e logo olhou baixo.

Ficou observando o garoto por um tempo enquanto ele estava com seu grupo, eles riam e conversavam bastante pareciam ser muito amigos e se divertir bastante.  Ao tocar o sinal Gustavo se levantou e foi na direção de sua sala novamente, foi quando alguém esbarrou nele, era a menina alta. Ela se desculpou com o sorriso e seguiu correndo para a sua sala, Gustavo ainda tonto continuou parado.

- Desculpe pela Aria, ela não é muito de cuidar por onde anda. – O garoto do sorriso peculiar apareceu, fazendo Gustavo se espantar. – Sou Freddie, se quiser alguém para te ajudar a entender essa garota é só falar comigo. – Gustavo desanimou no mesmo momento, o garoto do sorriso peculiar, Freddie, achava que estava boquiaberto pela garota, mas estava enganado na verdade.

Ele se recuperou e foi até a sala onde estavam apenas os gêmeos, sem o resto de seu grupinho, ele os olhou e viu como eram bonitos. Depois de algumas aulas mais ele saiu da sala e finalmente poderia ir para casa foi quando uma mão segurou seu braço.

- Não vai fugir de mim não, falei que ia ajudar e vou mesmo. – Freddie estava sorrindo e arrastou Gustavo até a grama da faculdade, sem deixar o loiro opinar.

Freddie sentou ao lado de Gustavo e começaram a se olhar, o silencio era absoluto.

- Então, há quanto tempo que você olha para ela? – Freddie perguntou deixando Gustavo um pouco confuso.

- Eu não olho, eu não tenho interesse na sua amiga. – Gustavo falou pela primeira vez no dia.

- Então qual é o propósito dessa ajuda? – Perguntou rindo.

- Eu não sei... – Gustavo respondeu um pouco tonto.

- Eu não te vejo com ninguém, você não tem amigos? – Mudou de assunto de repente.

- Na verdade não. Eu não tenho ninguém para me abrir nem para conversar. – Por algum motivo Gustavo começou a contar para Freddie.

- Me siga. – Freddie levantou e o loiro apenas o seguia, depois de andar um pouco foram parar no terraço do prédio da faculdade. – Me conte então, você diz que não tem ninguém mas agora pode me contar. – Freddie falava com um certo interesse.

- Eu não consigo falar com as pessoas, tenho muito bloqueio. Não sou o filho que meus pais queriam, os dois são médicos e queriam que eu fosse o mesmo, mas eu escolhi engenharia, ainda escondo deles um segredo que se descobrirem me tiram de casa. – Soltou um longo suspiro. – Eu sou gay. – Disse fechando os olhos.

Gustavo mantinha seu olhar no chão, não tinha coragem de olhar para o garoto na sua frente. Freddie pegou o queixo de Gustavo e o beijou, fazendo o mesmo se assustar, mas aos poucos apenas aceitou a ideia e seguiu o de cabelos castanhos. Depois de um longo beijo os dois se separaram e ficaram se olhando até Freddie olhar as horas no relógio e dizer que precisava ir, e assim o fez, deixando Gustavo sozinho no terraço, ainda chocado. Gustavo pegou suas coisas e foi para sua casa sem demorar para chegar, logo indo comer algo por ter passado o dia sem comer nada. A tarde passou e as 5 horas da tarde ele começou a fazer algumas coisas no celular, logo indo estudar. Não conseguia tirar aquele beijo da cabeça, foi lindo, os lábios do garoto se encaixavam tão bem com os seus, fazia Gustavo delirar, após pensar por alguns minutos no garoto Gustavo adormeceu.

Quando acordou já era hora de ir, havia dormido por muito tempo então pegou logo suas coisas, se arrumou e foi para a faculdade novamente. Chegando lá as pessoas pareciam olhar para ele, algumas riam, algumas olhavam com uma cara de desprezo. Apenas os ignorou e foi entrando no prédio, logo vendo a televisão de notícias da escola com uma foto dele e Freddie se beijando. Os alunos que estavam ali logo começaram a apontar para Gustavo e sussurrar coisas uns para os outros enquanto Gustavo apenas correu para a sua sala que tinha apenas uma pessoa de costas no fundo da sala. A pessoa virou e Gustavo pôde ver claramente seu rosto, e lá no fundo da sala estava Aria, passando as mãos em seus cabelos pretos.

- Olha só quem está aqui, o patinho feio. – Aria ainda sentada em uma mesa olhou para os olhos de Gustavo rindo. – É realmente um patinho por acreditar que alguém realmente poderia querer te beijar. – Ela soltou uma gargalhada. - Freddie? Porque um garoto bonito como Freddie ia querer um fracassado como você? – Ela se levantou e foi em direção ao menino loiro assustado. – Freddie nem faz engenharia, ele faz faculdade de artes, quer ser um ator. – Disse a menina um pouco longe de Gustavo. – Um velho amigo que me devia um favor. – Continuou.

- Porque faria isso? – Gustavo perguntou com a voz tremula, estava apavorado.

- Para você aprender onde é o seu lugar. – Ela chegou perto e apontou para o rosto do menino. – Você não merece estar aqui, você é um viadinho que nem merecia estar vivo, todos te desprezam. – Ela cuspiu as palavras na cara de Gustavo. – Ninguém te ama e nunca amará, porque não some? – Perguntou tirando uma mecha da franja que caía em seu rosto por não cortar o cabelo há muito tempo. – Aquela foto se espalhou pela escola, mas esse não é o melhor. – Riu. – A foto foi enviada para os seus pais, acho que acabou para você, seu verme. – A garota então cuspiu na cara do garoto que logo saiu correndo para o terraço do prédio que estava totalmente vazio.

Ele então seguiu até a beirada, onde o terraço acabava e olhou para baixo, vendo o quão alto era o prédio. Foi um pouco para trás e decidiu checar seu celular uma última vez antes de se jogar daquele prédio. Olhou para a tela, onde uma de suas redes sociais estava aberta e continha uma notícia. “Garoto é preso após roubar um banco e sua parceira que fugiu para os Estados Unidos está sendo procurada.” Resolveu abrir a notícia e viu a foto dos dois jovens ingleses que assaltaram o banco, depois de olhar um pouco as fotos Gustavo pensou se fugir poderia ser uma boa opção para ele também. Gustavo então saiu correndo e deixou o terreno da faculdade.

                Sabia que seus pais não estariam em casa naquele horário então fez as malas, comprou uma passagem de última hora para Las Vegas, deixou um bilhete para os pais pedindo desculpas e foi para o aeroporto. Chegando lá esperou um bom tempo até seu voo ser chamado. Entrou no avião e pensou que as últimas 24 horas foram as mais movimentadas de sua vida, e em 5 minutos o avião decolou, fazendo Gustavo acordar de seus pensamentos e pensar no que faria daquele momento em diante.

                - Vai ser um bom recomeço em um lugar melhor. – Sussurrou e fechou os olhos, pegando no sono pelo resto da viagem.