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História How To Live Forever - Seven Months and Have Faith


Escrita por: MaBelleLuna

Notas do Autor


OI, COOKIES!

CALMA GENTE QUE EU SÓ ATRASEI UM DIA, MEU POVO! JÁ VOLTEI COM A ATUALIZAÇÃO, ABAIXEM ESSAS FACAS!

Sério, gente! Nunca estipulei prazo exato para as minhas atualizações, só coincide de eu conseguir terminar cada capítulo no sábado, mas isso não significa que sábado é meu dia de postagem. Eu tenho uma vida, sabe? Trabalho e essas porcarias todas de responsabilidades adultas. Então, peço que entendam e não me cobrem quando a att atrasa porque, infelizmente, não é sempre que tenho tempo livre para escrever e voltar rápido assim.

Eeeenfim, chega de falar e vamos ao que interessa!

AAAAAh, e eu não consegui revisar porque tô com uma leve enxaqueca aqui. Então, já sabem né? Se virem um erro comentem "ERRO AQUI ME NOTA" que eu vou lá e conserto tudo :)

BOA LEITURA NENÉNS!

Capítulo 35 - Seven Months and Have Faith


Fanfic / Fanfiction How To Live Forever - Seven Months and Have Faith

“Respire fundo. Não desista de sua fé, pois, se você não acreditar que tudo ficará bem, ninguém irá acreditar por você”.

 

Theresa Land Children’s Hospital Emergency, NY – February 6, 2:16 PM.

 

Em momentos de desespero deve-se sempre tentar manter a calma.

Isso foi o que Lucy aprendeu com o passar dos anos, tendo de manter esse pensamento tantas e tantas vezes por causa de sua mãe. Mas, agora... Agora era diferente.

Dolorosamente diferente.

Ela ainda podia ouvir os gritos desesperados de sua irmã, a palidez no rosto de sua cunhada quando encontrou a comoção da sala do apartamento, o choro da pequena Louise e a dor presente nos rostos de todos naquele lugar.

Foram os piores minutos da vida de sua irmã, Lucy sabia disso. Quando Lauren correu e pegou Alicia em seus braços, gritando para que chamassem por ajuda. Quando Camila parecia segurar-se para não desmaiar, entrando em estado de choque diante a situação. Quando Lucy correu para amparar sua irmã e acompanhá-la até o hospital... Foram momentos extremamente desesperadores, que pareciam ter acontecido horas atrás quando na verdade elas estavam ali na emergência do hospital infantil há menos de uma hora apenas.

Alessia ficou com Camila no apartamento, e Dinah também estava lá agora segundo Normani, que estava no hospital também com Lucy. Camila não podia vir para cá agora, não em seu estado. Ela teve de tomar calmantes para que nada acontecesse, e Dinah garantiu que não a deixaria sair de lá agora. Não antes de saberem o que estava acontecendo com Alicia de verdade, porque, até agora, a menina tinha dado entrado na emergência do hospital e os familiares não haviam recebido nenhuma notícia de seu estado ainda.

E isso estava sendo torturante para Lauren.

A irmã de Lucy estava há algum tempo olhando pela janela da sala de espera onde se encontravam no momento, em silêncio. Ela não queria a aproximação de ninguém, não queria falar nem mesmo com a amiga. Lucy sabia o que era aquilo, sabia como Lauren estava se sentindo naquele momento, porque ela passou por isso tantas e tantas vezes antes.

As primeiras vezes que você teme a morte, é desesperador. Mas, depois de passar por esse sentimento sufocante diversas vezes, Lucy sabia que, com o tempo, você apenas vive tudo no automático. Foram anos sentindo isso, passando por isso, e Lucy sabia o quão sufocante poderia ser.

─ Não deveríamos tentar falar com ela? – Normani perguntou parando ao seu lado, braços cruzados e expressão preocupada. – Ela está assim desde que levaram Alicia para a emergência.

─ Ela está acumulando.

─ Como assim? – a Hamilton arqueou uma sobrancelha, fitando a irmã de sua melhor amiga.

─ Lauren está acumulando sentimentos, acumulando medos. Uma hora ela vai explodir, e eu temo por isso. – suspirou. – Temo, porque sei o que ela está sentindo e é angustiante.

Normani voltou a fitar a melhor amiga, dessa vez mais tristemente. Ela suspirou e descansou a cabeça no ombro da irmã de Lauren, como se fossem velhas amigas. Por mais que Lucy tivesse estranhado o ato, não falaria nada. Normani também estava sofrendo, assim como ela. Talvez até mais, levando em conta que Normani conhece Alicia desde o momento em que a menina nasceu.

─ Eu pedi para as meninas não virem para cá agora. – informou. – Não até sabermos o que está acontecendo. Laur não está com cabeça para lidar com toda a confusão que elas fariam aqui, porque eu sei que fariam.

─ Você fez bem. Será bom para ela pensar um pouco, eu acho.

─ Alessia teve de ir embora, Louise estava bastante agitada e Hailee achou melhor elas irem. Ally está no apartamento também, e Dinah disse que a Mila está mais calma agora, mas ainda insiste em querer vir...

─ Não podemos prendê-la lá. Se ela quiser vir, não podemos fazer nada. – Lucy olhou com pesar para a irmã mais ao longe. – É sua namorada, afinal de contas.

Ao longe, afastada de todos, Lauren se encontrava com o olhar preso na janela ao que acontecia fora do hospital. Ela estava ali, mas apenas de corpo, porque sua mente estava distante naquele momento. Estava longe demais, exausta demais, e sua batalha havia apenas começado novamente.

Ela foi tão... Estúpida em pensar que tudo continuaria bem, mesmo depois de dezembro. Pensar que as coisas se ajeitariam, que ela seria realmente feliz agora. Que sua menininha estava caminhando para a cura, quando na verdade era o contrário. Lauren fechou seus olhos por todos aqueles meses, não enfrentando realmente o que a doença de Alicia significava. Mesmo que a Dra. Anne tenha a explicado diversas vezes, mesmo que todos tenham falado sempre a mesma coisa, até mesmo a enfermeira particular de Alicia... Mesmo assim, ela havia optado por ficar cega diante a realidade.

Mas, agora... Agora era tarde demais. Ela sentia que era tarde demais, sentia que sua filha... Que a batalha de sua menininha tinha chegado ao ápice, e isso a assustava. A assustava como um inferno.

Só que Lauren não poderia surtar, não agora quando sua filha mais precisava dela. Ela precisava continuar sendo forte, continuar acreditando que tudo ficaria bem e que....

─ Lauren?

A morena interrompeu seus pensamentos, virando-se rapidamente ao sentir uma mão em seu ombro. Era a Dra. Hathaway. A expressão da médica era cansada, mas havia uma tristeza em seu rosto que Lauren não pode deixar de perceber. Seu estômago revirou-se ao imaginar os vários motivos para isso.

─ Nós precisamos conversar em particular. – a médica a informou, dando-lhe um sorriso sem mostrar os dentes. Péssimo sinal. – É questão de urgência, se puder...

─ Claro. – foi a primeira palavra que Lauren falou desde que teve a filha tirada de seus braços e levada à emergência, sua voz saiu um pouco falha e mais rouca que o normal.

─ Vamos ao meu consultório.

Lauren assentiu, mas antes de seguir a médica trocou um rápido olhar com sua irmã e amiga. Elas não precisavam exigir mais que aquilo para entender que Lauren precisava da companhia das duas naquele momento, então ambas as seguiram.

A Dra. Anne não falou nada sobre a presença das outras duas mulheres em sua sala, naquele momento Lauren iria precisar mais do que nunca de apoio. Porque, infelizmente, não tinha boas notícias para dar.

Assim que entraram na sala, Anne foi prontamente pegar uma prancheta com papéis e termos para Lauren assinar, mas não entregou para a mãe de sua paciente ainda. Ela precisava explicar a situação antes, precisava acalmar uma mãe que estava nitidamente gritando por ajuda em silêncio.

A médica recostou-se na mesa e olhou para o trio a sua frente, as amigas de Lauren tinham uma mão em cada ombro da morena e seus olhares eram tão preocupados quanto.

─ Eu vou direto ao ponto, porque tenho que correr para a sala de cirurgia o quanto antes.

─ Cirurgia? – os olhos de Lauren arregalaram-se e ela deu um passo para frente. – Co-omo assim cirurgia? O que está acontecendo com a minha filha, Anne?

─ Fique calma, Lauren. Eu preciso de você calma para ouvir o que tenho a dizer...

─ Como quer que eu fique calma agora? Você está aí dizendo que precisar ir para a sala de cirurgia e não me diz que porra está acontecendo com a minha filha!

─ Laur... – Normani segurou o ombro da melhor amiga e o apertou de leve, trocando um olhar com a morena pedindo silenciosamente para que ela se acalmasse.

Lauren respirou fundo, fechando os olhos. Ela tinha de manter-se controlada, precisava saber o que estava acontecendo com sua filha e exaltar-se não levaria a nada.

─ Desculpe, eu só...

─ Eu entendo, não se preocupe. – a médica suspirou e fitou Lauren com seriedade. – Durante esses meses em que venho cuidando do caso de sua filha, sempre mantive minha palavra em falar a verdade sobre o que estava acontecendo com Alicia e seu corpo. Haviam riscos sobre a doença se espalhar, e eu sempre deixei isso claro. Mesmo com todos os exames feitos semanalmente, uma falha degenerativa é algo que não podemos controlar e que pode se espalhar silenciosamente... – Anne segurou a prancheta com mais força e fitou os papéis em suas mãos, para então voltar-se para Lauren novamente. – Infelizmente, foi o que aconteceu com sua filha.

─ Está dizendo que... – mas Lauren não conseguiu terminar aquela frase, sua mente começando a entrar em colapso. Ela sentou-se na cadeira e sentia seus olhos arderem, sua garganta apertar e seu corpo tremer um pouco.

─ Fizemos exames mais intensos em Alicia, controlamos a perda de sangue e detectamos falhas no sistema digestivo dela que não estavam ali antes. O intestino de Alicia foi prejudicado, há pequenas corrosões presentes nele e que podem causar problemas piores, o que não queremos. Por isso, tentaremos remover uma parte já muito prejudicada para que não piore ainda mais o estado de sua filha. – Anne entregou a prancheta para Lauren, que a pegou quase que em estado automático e sem falar nada. – Preciso que autorize a cirurgia o quanto antes. Precisamos agir rapidamente, antes que seja tarde demais.

Foi exatamente naquele momento que o mundo sumiu para Lauren. Os sons, as cores, tudo. Havia apenas o nada, o silêncio das palavras ditas pela médica informando-a que a vida de sua filha estava por um fio. Que tudo poderia desmoronar a qualquer momento para ela.

O peito de Lauren subia e descia em uma rapidez preocupante, seus olhos levemente arregalados estavam fixos nos papéis em suas mãos, mas ela não estava os lendo realmente. Ela simplesmente estava... Estava em branco. Sua mente, sua alma, estava tudo em um estado ilegível de desespero e angústia. Ela queria sair dali, pegar sua filha e salvá-la de todos os males que a perseguia. Queria... Queria entender o porquê de isso tudo estar acontecendo com sua garotinha, que não havia feito mal a ninguém e não merecia passar por tudo aquilo.

Alicia merecia viver, merecia ser feliz e ter uma vida saudável e cheia de alegrias. E não passar por essa merda toda, sofrer tanto assim.

Lauren fechou os olhos, apertando seu punho com tanta força que os nós de seus dedos ficaram mais brancos do que já eram. Ela sentia-se revolta, queria gritar e chorar, mas ela não faria isso. Ela simplesmente não podia abandonar sua filha, então respirou fundo e olhou para os papéis novamente, os assinando e entregando a prancheta para a médica.

Todas a fitavam com preocupação, isso era nítido, mas ela as ignorou. Lauren levantou e caminhou para fora do consultório, querendo sair o mais rapidamente dali e ficar sozinha. Ela não suportava aqueles olhares de pena, não suportava ver a sua dor espelhada nos olhos de sua amiga e sua irmã. Se continuasse ali, Lauren surtaria de vez.

Lucy correu para a porta do consultório, apenas para ver em que direção sua irmã estava seguindo. Ela então olhou para Normani, quase suplicante.

─ O que faremos com ela? Nós... Ela não está nada bem, eu...

─ Deixe ela respirar um pouco. – a Dra. Anne pediu, já caminhando para fora da sala e sendo seguida das demais. – Lauren vem acumulando tudo isso desde o momento em que dei o diagnóstico de Alicia, e temo que agora ela tenha realmente percebido o quão grave a situação é. – a médica respirou fundo e sorriu tristemente. – Eu aconselho que a preparem para tudo. A cirurgia de Alicia é de alto risco, infelizmente.

Para Lucy, aquilo era como um déjà vu. Para Normani, era como um pequeno e desesperador pesadelo.

E, para Lauren, que estava escondida atrás de uma pilastra não muito longe delas e ouvindo tudo, aquilo era como se seu chão estivesse sendo arrancado dela aos poucos e ela estivesse caindo lentamente em um abismo sem fim.

Foi quando ela escorregou lentamente contra a pilastra, entregando-se ao choro.

 

x-x-x

 

O coração de Camila estava angustiado. Ela só queria sair dali e ir para o hospital ficar com Lauren, cuidar dela e amparar suas dores. Mas, no momento, Camila ainda não podia.

No momento, a enfermeira de Alicia, Blair, colocava um pequeno aparelho no pulso da latina para medir sua pressão. Era a quarta vez que fazia isso desde que tudo havia acontecido, cerca de pouco mais de uma hora antes. Camila podia até sentir o desespero voltar apenas em recordar dos momentos assustadores de mais cedo, quando Alicia desmaiou. Podia ouvir os gritos desesperados de Lauren, a dor expressa em cada gesto da morena, o choro de Louise e os olhares arregalados das amigas delas. Podia sentir o seu próprio medo.

Ela já tinha chorado tudo o que conseguiu naquele tempo todo, desde que Alicia foi para o hospital, mas sentia-se a ponto de desmoronar novamente. Ela amava aquela menininha, sentia-se ligada a ela mais do que nunca agora, e só em pensar no que pode ter acontecido... Seu coração gritava com tal pensamento.

─ Sua pulsação está aumentando novamente. – Blair retirou o aparelho de pressão e tocou o pulso de Camila. – Respire fundo, Camila. Pense em seu filho, não podemos arriscar uma queda de pressão agora.

Seu filho.

Essa era a segunda maior preocupação de Camila no momento, o bem-estar de seu filho em seu ventre. Ela segurou instintivamente a barriga, abraçando-a, e respirou profundamente. O único motivo de ela ter escutado o pedido de Lauren informado para suas amigas, sobre Camila não ir até o hospital no momento, era porque ela se preocupava também com aquela criança. Seu menininho, seu pequeno, ele também precisava dela bem e a latina esforçava-se para não surtar até o momento.

Ela precisava ser forte. Por seu filho, sua namorada, sua Alicia e por ela mesma. Camila precisava manter-se firme, porque sentia que Lauren não suportaria mais essa. Ela vinha a observando durante aqueles meses todos, percebia como Lauren tentava sempre manter a cabeça no lugar para todos, acumulando seus temores e sentimentos em silêncio. Mas, uma hora ela surtaria e Camila queria estar lá para segurá-la e ampará-la.

─ Walz, você se sente melhor agora? – Dinah sentou-se ao lado da melhor amiga e segurou a mão da menor, apertando-a contra a sua.

─ Eu não sei. Eu realmente não sei como me sinto agora.

─ Mani ligou agora há pouco. – Dinah puxou ar lentamente para seus pulmões, e Camila a fitou mais preocupada ainda. – Alicia vai precisar fazer uma cirurgia de emergência, parece que a falha se espalhou pelo sistema digestivo dela ou algo assim.

─ Cirurgia? – a voz da nova-iorquina saiu falha, grande era seu temor diante aquela palavra. Ela colocou-se de pé rapidamente, começando a andar de um lado para o outro no quarto. – Co-omo assim, Dinah? Nós precisamos... Eu preciso ir... A Lauren, ela.

Dinah também levantou e parou de frente para a melhor amiga, a segurando pelos ombros.

─ Fique calma, Camila. Você precisa manter-se calma, lembra? Respire, Chancho.

─ Como eu vou respirar quando minha bolinha está prestes a entrar em uma maldita sala de cirurgia, Dinah? – os olhos de Camila já estavam cheios de lágrimas novamente. Ela deixou os ombros caírem, entregando-se ao choro, e afundando o rosto contra o corpo de sua amiga. – E-eu simplesmente não consigo!

─ Eu sei, querida. Compartilho do mesmo sentimento que você e estou tão assustada quanto. – a loira respirou fundo e apertou mais sua melhor amiga contra seu corpo, o máximo que a barriga de seis meses de Camila as permitia. – Mas nós precisamos ser fortes agora, ok? Precisamos manter pensamentos positivos, para Alicia e para Lauren.

─ Lauren...

─ Sim. Ela vai precisar de você agora mais do que nunca, e você precisa manter-se firme para ela e para você mesma. Não esqueça que meu sobrinho ainda está aí dentro, e ele também precisa de você forte agora.

A latina apenas assentiu, não conseguia falar no momento. Sua vontade era de chorar até não poder mais, e era grata por Dinah estar ali agora. Ela tinha uma leve consciência de que havia mais gente em sua sala de estar, porque podia ouvir as vozes agitadas, mas não tinha certeza de quem eram exatamente. E, sinceramente, não tinha cabeça para isso no momento.

─ Quer ir para o hospital agora? Sinto que a bolinho mãe precisa de você agora, porque sei que é a única que consegue acalmá-la. Acha que consegue ir para lá agora?

Dinah acariciava as costas da melhor amiga enquanto a abraçava, tentando acalmá-la do jeito que podia. E ela estava conseguindo, visto que Camila tinha a respiração menos falha agora e sentia-se mais firme.

A nova-iorquina respirou fundo, afastou-se da amiga e enxugou o rosto com a manga do cardigã que usava. Fechou os olhos, afastou seus medos e temores de seus pensamentos, para então abri-los novamente e assentir.

─ Vamos para o hospital. – disse, firme.

─ Agasalhe-se bem, está frio lá fora. – porém, Dinah não esperou e foi logo até o closet de Camila para pegar um sobretudo grosso, luvas, touca e cachecol. Aproveitou para pegar também uma blusa de mangas longas e uma calça jeans. – Aqui. – os entregou para Camila. – Coloque isso, estarei esperando você na sala com as garotas.

─ Todas estão aqui?

─ Apenas Melissa, Sam, Troye e Sofia. As outras seguiram para o hospital, menos Verônica que não conseguiu sair da Cabello’s agora.

A New York Fashion Week aconteceria naquele mês e a Cabello’s teria peças de sua nova coleção desfilando na semana de moda. Sem Normani e Camila no momento, Veronica tinha de ficar responsável por tudo agora.

─ Ela está sobrecarregada tomando conta de tudo sozinha. – Camila suspirou e fitou as peças de roupas em suas mãos. – Eu vou... – apontou para elas, indicando que trocaria de roupa.

─ Estarei lá embaixo caso precise de algo.

A loira ofereceu um sorriso fraco para a amiga, caminhando lentamente para garantir que Camila ficaria bem sem sua companhia. Dinah também estava tão mal quanto Camila, mas ela conseguia ser forte agora porque teve tempo para se preparar para isso. A Hansen amava sua Cookie mais do que tudo na vida, mas ela viu o que suas amigas tentaram não ver durante aqueles seis meses todos: que a situação de Alicia era pior do que pensavam. Dinah teve tempo para se preparar para o pior, ela pesquisou sobre casos parecidos com os de sua afilhada e falou sobre com sua psicóloga na clínica. A médica a ajudou bastante em entender como controlar seus sentimentos, seus pensamentos errôneos, e Dinah conseguiu preparar sua mente para o que aconteceria cedo ou tarde.

Sim, ela ainda estava tão desesperada quanto as outras, mas ela estava pronta para enfrentar a situação. Pelo menos, na teoria. Ela não sabia o que aconteceria quando chegasse àquele hospital, e isso a preocupava. O maior temor que podemos enfrentar é pelo desconhecido.

Já Camila... Camila estava um caos. Um verdadeiro caos por dentro e por fora também.

A Cabello colocava cada peça de roupa em uma lentidão estranha, era quase automático os seus movimentos vestindo-as. Sua mente estava distante, em Lauren para ser precisa, e seu coração também. Era como se... Como se seu corpo necessitasse da proximidade para com ela, como se sua alma exigisse estar com ela para que pudesse cuidar corretamente de sua namorada. Sua mente, coração e alma estavam interligados para com Lauren de uma forma estranha e assustadora.

O caminho para o hospital foi acompanhado de silêncio. Camila estava no mesmo carro que sua irmã e sua melhor amiga, sendo que Dinah quem as conduzia, e no outro veículo estava o resto do pessoal. Todos ali estavam preocupados, temerosos, com corações apertados para descobrir o que estava acontecendo com a pequena Alicia.

Quando finalmente chegaram no grande prédio, Camila saltou do carro – com o máximo de velocidade que sua gravidez permitia – e caminhou a passos rápidos para dentro do mesmo. Ela podia ouvir suas amigas a seguirem, mas sua mente estava focada em encontrar Lauren o mais rápido possível. Trazia consigo algo especial, e sabia que confortaria tanto Lauren quanto Alicia.

Já passava das três da tarde, o clima em Nova York estava frio e neve ainda cobria parte da Big Apple. O céu tinha uma colocarão escura, as pessoas caminhavam com pressa para fugir do frio extremo. Tudo isso dando um ar mais sério a situação enfrentada para aquele pequeno grupo, que seguia até a ala de emergência do hospital infantil.

A sala de espera do hospital infantil não estava cheia, poucas pessoas esperavam por notícias de seus filhos, irmãs e irmãos que provavelmente se encontravam ali. Logo que o grupo entrou na mesma, avistaram Normani, Lucy, Halsey, Ally e Alessia, todas em um dos cantos da sala com expressões tristes e apreensivas. Já Lauren...

O momento em que Camila finalmente a viu, que viu o estado em que sua namorada estava, foi bem ali que seu coração errou uma batida. E não por um motivo bom...

Lauren estava encolhida no canto da sala de espera, abraçada com o próprio corpo, o rosto virado para o lado contrário fitando a parede. Levando em conta que ninguém estava próximo a ela, Camila concluiu que a morena não queria companhia naquele momento. Mas, felizmente, a latina não era muito obediente.

Seus passos ecoaram no ambiente silencioso, suas amigas apenas observando seus movimentos e aguardando o que aconteceria a seguir. Mas Camila tinha os pensamentos distantes naquele momento, focados apenas em uma pessoa e a mesma estava a passos de distância dela. Quando parou ao lado de Lauren, Camila não disse nada, apenas sentou-se no chão ao lado da morena e permaneceu em silêncio. Ela não precisava falar nada, não naquele momento, porque Lauren sentia a sua presença.

E, de fato, Lauren sentia sim que era Camila quem estava parada ao seu lado. Ela reconheceria o perfume da latina em qualquer lugar. Mas, era mais que isso, podia sentir um tipo de conforto que apenas Camila podia passar para ela. Algo que apenas a mulher ao seu lado conseguia passar para Lauren.... Um refúgio.

Lentamente, Lauren virou a cabeça na direção da menor e a fitou por um tempo. Camila viu dor, medo, temor espelhados naquelas esferas verdes. Viu fragilidade. O olhar de Lauren então caiu no objeto nos braços da latina, e então seus lábios tremeram e seus olhos voltaram a lacrimejar, para então a morena deixar seu corpo aconchegar-se contra o de Camila e ela abraçar a pelúcia em seus braços. Era Nala, a leoa de pelúcia favorita de Alicia.

Camila prontamente envolveu o corpo da morena contra o seu, o rosto de Lauren estava em seu pescoço e a morena chorava abraçada a leoa de pelúcia da filha. Era um choro desesperador, doloroso de se ouvir, e Camila tinha lágrimas brilhando em seus olhos enquanto murmurava palavras de conforto para a mulher em seus braços.

Shiiiu... – sussurrou, beijando os cabelos da morena e acariciando suas costas. – Eu estou aqui com você. Vai ficar tudo bem, ok? Eu prometo.

Eu prometo.

Palavras tão simples, mas que carregavam responsabilidades enormes. Mas que, no fundo, você realmente quer fazer isso quando as pronuncia. Quer realmente fazer com que tudo acabe bem no final, mesmo que não estivesse em suas mãos fazer com que isso aconteça.

Quando tudo o que você mais deseja é ver a pessoa que ama bem, o impossível é apenas mais um obstáculo em seu caminho.

─ Eu tenho você, meu amor. – a latina murmurou contra os cabelos da morena, ninando-a em seu colo. Lauren tinha as pernas sob as de Camila, o rosto enterrado em seu pescoço e corpo um pouco de lado devido a barriga da namorada. – Eu tenho você.

E elas tinham uma a outra, e juntas enfrentariam aquela batalha. Alicia enfrentaria aquela batalha e a venceria, Camila tinha esperanças que isso aconteceria.

Ela esperava que acontecesse, de todo o seu coração.

 

x-x-x

 

Três horas.

Faziam malditas três horas que elas estavam ali, naquela sala de espera em um silêncio agonizante. Poucas foram as palavras trocadas naquele período de tempo, poucas foram as vezes em que moveram-se. Nenhum dos amigos de Lauren saiu dali, nenhum deles deixou de estar presente para prestar o devido apoio a morena. Se fosse meses antes, Lauren os agradeceria por isso, mas agora... Agora ela só queria ficar sozinha.

No entanto, ela não sabia se suportaria realmente estar só. Ela sequer queria que Camila saísse do seu lado, não queria soltá-la em momento algum. Precisava de Camila ali, dizendo que tudo ficaria bem e que nada aconteceria com Alicia. Porque, Lauren sabia, se não tivesse alguém para repetir isso ela deixaria de acreditar e surtaria.

Então, ela estava ali, abraçada com Nala e sua namorada, esperando notícias vindas daquelas malditas portas duplas a qualquer momento.

E esse momento chegou, de fato, quando uma Dra. Anne apareceu empurrando as portas nitidamente cansada e usando roupa cirúrgica. O corpo de Lauren moveu-se no automático quando ela levantou para ir até a médica, e talvez essa tenha sido a reação de todos presentes já que a morena ouviu quando fizeram o mesmo.

─ E minha filha? – a morena disparou antes mesmo de alcançar a médica. – Ela está bem? O que aconteceu? Eu posso vê-la agora?

─ Eu prometo que irei responder todas as suas perguntas, mas não aqui. – a médica olhou para os amigos de Lauren e então para a morena. – Vamos conversar em particular, por favor.

─ Claro. – Lauren então olhou para trás, lançando um olhar de desculpas para seus amigos. Claro que eles entenderiam, então apenas assentiram e sorriram em sinal de apoio. A morena virou o corpo e olhou para a namorada. – Camz?

─ Eu vou estar ao seu lado, não se preocupe. – a latina segurou sua mão e apontou com a cabeça para frente, indicando que elas seguissem a médica.

Lauren respirou fundo e seguiu a Dra. Hathaway para um corredor que até então ela não tinha acesso, dentro das portas duplas. Camila segurava sua mão com força, o corpo caminhando quase colado ao da morena, sentindo o quão trêmula Lauren estava.

A Dra. Anne parou e conversou com uma enfermeira, parando em uma das tantas portas que havia naquele corredor, para então virar-se para o casal e fitá-las com seriedade.

─ Entrem. – indicou, abrindo a porta e apontando para o seu interior.

A porta em si levava para outro corredor, mas com parte de suas paredes feitas de vidro. Era a ala de UTI do prédio, onde os pacientes mais graves ficavam. E era exatamente ali que a pequena Alicia estava, logo atrás de uma das paredes de vidro em um dos quartos reservados.

Assim que a viu, Lauren correu até lá e apoiou a mão contra o vidro grosso. Sua respiração faltou, suas pernas fraquejaram e seu coração batia em um ritmo assustadoramente acelerado. Ela sequer conseguia piscar, sequer conseguia respirar. Porque ali, ali estava sua filha como ela nunca tinha a visto antes. Como ela nunca quis vê-la.

Alicia tinha fios e mais fios presos ao seu pequeno corpo, haviam aparelhos ajudando-a a respirar e bipes soando nas máquinas cada vez que seu pequeno peito subia e descia. A grande máscara presa em seu rosto, seu pequeno corpo imóvel... Lauren nunca se sentiu tão ao ponto de gritar em desespero quanto ali, naquele momento em que viu sua filha naquele estado.

─ Lauren? – a voz da médica a tirou de seu torpor, mas a morena sequer moveu-se. Ela não conseguia tirar os olhos da imagem de sua filha, tão frágil e imóvel. – Nós precisamos conversar sobre o caso de Alicia agora.

─ Eu estou ouvindo você. – a morena murmurou, sua voz rouca devido ao grande tempo sem falar alguma coisa.

A Dra. Anne suspirou e olhou para Camila, procurando por ajuda. No entanto, a mulher grávida também tinha seus olhos fixos na imagem à sua frente, uma mão cobrindo sua boca e olhos marejados. A médica resolveu explicar assim mesmo, pois sabia que aquela reação levaria um tempo para ser digerida pelas demais.

─ Nós conseguimos identificar o ponto de falha presente no intestino de Alicia. Felizmente, estava no começo, mas... Mas já estava bastante avançado, o corpo de Alicia estava prestes a entrar em colapso a qualquer momento. Tivemos sorte da cirurgia ter ocorrido bem, sem maiores sustos.

─ Ela... Ela parecia tão bem, ela... – Lauren olhou para a médica, lágrimas manchando o rosto da pobre mãe. Porém, logo voltou a olhar para a filha, e continuou a falar. – Ela estava feliz! Como isso aconteceu? Eu... Eu não entendo, Alicia fazia exames diários e nada disso foi detectado!

─ A doença de Alicia é silenciosa, Lauren. Ela age de uma forma perigosa, podendo ou não se espalhar. Tanto apenas o estômago de sua filha poderia ser afetado, como todo o sistema digestivo dela. Infelizmente, está se espalhando para o intestino e não tivemos outra opção senão remover a parte afetada com um processo cirúrgico. – a médica olhou para a sua pequena paciente atrás daquele vidro, respirando fundo antes de continuar. – Mas o corpo de Alicia está extremamente fraco. Sem uma alimentação adequada para a idade dela durante todos esses meses, vivendo apenas do que a fórmula pode fornecer e com antibióticos fortes sendo ingeridos todos os dias. Tivemos que optar pela forma mais segura, para que o corpo de sua filha possa se recuperar corretamente.

─ O que quer dizer com isso, Anne? – a voz de Lauren era trêmula, assim como todo o seu corpo. As lágrimas que manchavam seu rosto continuavam a descer sem pudor, ela chorava em silêncio.

─ Para que o corpo de Alicia não entrasse em colapso, optamos por colocá-la em coma induzido até segunda avaliação.

Coma? Alicia estava em coma? Sua menininha, sua bebê, ela estava... Inconsciente por tempo indeterminado, era isso?

Lauren sentia como se fosse desmoronar agora. Ela tinha uma expressão ilegível, seu sangue havia sumido de seu rosto e seus olhos estavam sem foco agora.

─ Mas não é motivo para entrar em mais desespero, Lauren. Tudo o menos queremos agora é isso. – a médica continuou. – O coma induzido é apenas uma sedação profunda, e apenas optamos por esse método porque o corpo de sua filha precisa recuperar-se de danos intensos. A medicação que iremos utilizar é forte demais, Alicia iria conviver com dores diárias e insuportáveis agora e essa foi a nossa melhor opção no momento.

─ Por quanto tempo ela ficará assim? – Camila perguntou, vendo que Lauren ainda continuava sem reação.

─ Talvez, por duas semanas. Mas tudo depende de como seu corpo irá reagir após a cirurgia.

─ Duas semanas? – a voz da latina falhou. Ela voltou a olhar para a sua pequena Alicia, lágrimas descendo por todo o seu rosto agora. – Isso é... Muito tempo, Anne.

─ Eu sei, mas não podemos fazer nada além de esperar agora. – Anne olhou com tristeza para Lauren. – Infelizmente, o tempo de recuperação varia de paciente para paciente. Mesmo após a tirarmos do coma, Alicia pode levar dias, senão semanas para acordar. – a médica tocou o ombro de Lauren. – Eu sinto muito ser portadora de notícias desse tipo, Lauren. Mas sempre fui clara quanto a situação de Alicia, sobre os pontos positivos e negativos de seu tratamento.

─ Eu sei. – a morena murmurou apenas, fungando baixinho.

─ Nosso foco é manter o corpo de Alicia funcionando corretamente até o bebê nascer. Depois disso, dependeremos de como o organismo dela irá reagir com as novas células e se irá adaptar-se como prevemos.

─ Eu posso entrar aí?

Anne fitou-a com pesar e negou com a cabeça.

─ Pelas próximas quarenta e oito horas, não podemos arriscar que sua filha pegue alguma infecção. Isso significa que...

─ Ela não pode receber visitas. – a morena suspirou, apoiando a cabeça contra o vidro.

─ Sim. Para o bem de Alicia, ela não pode receber visitas por enquanto.

Anne, então, intercalou o olhar entre Lauren e Camila. O casal estava abraçado, Camila tinha a cabeça agora descansando contra o ombro de Lauren e segurava uma leoa de pelúcia, que provavelmente pertencia a Alicia. As duas, tanto Lauren quanto Camila, buscavam uma na outra a força que precisavam para enfrentar aquele difícil momento.

─ Eu vou deixá-las sozinhas por alguns minutos, mas em breve terão de voltar para a sala de espera.

Camila olhou para a médica e assentiu, lançando-a também um olhar de agradecimento. Afinal, Anne tinha salvo a vida de Alicia... Mais uma vez.

Quando ficaram finalmente sozinhas – teoricamente, claro, porque o movimento no corredor da UTI era um pouco intenso – Camila voltou a abraçar a namorada com força. Lauren suspirou, trêmula, apoiando a cabeça contra a da latina. Seu peito parecia que iria explodir a qualquer momento, sua cabeça estava prestes a estourar e ela não sabia como agir. Não sabia o que falar, ou o que fazer. Sua filha estava ali, na sua frente, presa a fios que determinavam se ela viveria ou não.

Camz... – a morena sussurrou com a voz mais trêmula ainda, um suplico diante o seu estado de dor.

─ Eu sei, meu amor. – Camila a virou para que ficasse de frente para ela, beijando sua têmpora e enxugando as lágrimas da maior. Seu próprio rosto estava em lágrimas, mas ela não se importava no momento. – Eu sei. – repetiu, abraçando-a fortemente.

Ao contrário do que imaginava, o choro de Lauren foi silencioso e calmo demais. Quase como se a morena estivesse reprimindo como realmente se sentia naquele momento, como se tentasse não ceder totalmente aos seus reais sentimentos. Camila temia que isso acontecesse, temia que Lauren reprimisse ainda mais como se sentia e o que isso poderia ocasionar quando a morena não suportasse mais e explodisse.

Seis meses de batalha contra a doença de Alicia, dois meses em que tinha perdido a mãe e reencontrado a irmã após sete anos, tudo isso e Lauren mostrou-se forte. Mesmo assustada, mesmo temerosa, a morena não desmoronou.

Porém, Camila tinha um leve pressentimento de que isso aconteceria em breve. E ela sabia, ela sentia, que estava certa.

 

x-x-x

 

Dois dias foi tempo o suficiente para a notícia do estado de Alicia se espalhar para todos os conhecidos e amigos de Lauren.

Mas, infelizmente, não foram apenas os amigos de Lauren que ficaram sabendo disso. Como sendo representante de uma das maiores marcas de roupas e acessórios da atualidade, e visto o modo como Alicia deu entrada no hospital dois dias antes, a mídia ficou curiosamente interessada em sobre o que estava acontecendo na vida de Lauren Jauregui. Lauren, que também era namorada de Camila Cabello e todos já sabiam disso há alguns meses, era um letreiro ambulante para virar notícia da mídia social.

As manchetes dos sites de fofoca e revistas informavam sobre “o caso grave de saúde da enteada de Camila Cabello’’, e isso causou bastante alvoroço para a família da latina. Alejandro colocou seus melhores advogados para garantir que nenhum inoportuno ocorra no hospital onde Alicia está internada, assim como redobrou a segurança pelo local para certificar-se de que nada sobre o caso da menina fosse espalhado para a mídia.

Lauren não estava com cabeça para lidar com isso. De fato, a morena sequer comentou alguma coisa quando Camila a informou sobre. Apenas disse para a latina não ligar para isso, que não importava no momento. E ela estava certa, aquilo tudo não importava agora.

Alicia importava.

A menina, que ainda estava em coma e ficaria até os médicos determinarem, continuava entubada e respirando com ajuda de aparelhos. Seu corpo estava extremamente fraco, extremamente frágil. Mesmo que dias atrás ela estivesse pulando e brincando, mesmo demonstrando estar melhor, Alicia não estava e seu estado vinha piorando em silêncio. E esse é o pior tipo de doença, a que age em silêncio sem dar tempo para reagir contra.

Agora, Camila estava ao lado de Lauren no quarto da UTI. Ambas usavam uma roupa especial e máscaras nos rostos, para proteger o ambiente de vírus e bactérias. Lauren estava sentada na cadeira ao lado de Alicia, temendo tocar a própria filha e fazer com que as máquinas apitassem e tudo piorasse. Era a primeira vez em dois dias que elas puderam ver a menina, e Lauren não queria estragar sua remota chance de ficar perto de sua garotinha.

A morena não falava nada, apenas observava a respiração arrastada de Alicia em silêncio. Já Camila a abraçava por trás, de pé, os braços em seus ombros enquanto também observava sua bolinha.

Foi quando Lauren ergueu a mão pálida e trêmula e tocou com a ponta dos dedos o rosto da menina, afastando a franja de seu rostinho. Alicia estava muito pálida, manchas escuras rodeando seus olhos e o barulho de sua respiração ecoava cada vez que a máquina a incentivava em expirar e inspirar.

─ Não é justo. – Lauren apertou os olhos e afastou a mão rapidamente da filha, grande era a sua raiva e revolta diante a situação da menina. – Ela só tem seis anos, era para estar brincando e indo para a escola e não... Não assim, Camila. Não é... Não é justo.

─ Não é. – Camila foi para o lado da morena, segurando seu rosto para que ela a fitasse. Lauren tinha os olhos marcados por olheiras e expressão extremamente cansada, resultado das duas noites sem dormir desde que Alicia deu entrada no hospital novamente. – Mas, nós temos que ter esperanças de que tudo acabará bem no final. Temos que ter fé.

─ Ter fé... – a morena riu de forma irônica, desviando o olhar da namorada e fitando a filha novamente. – Para quê, hum? Para me decepcionar mais futuramente?

─ Para que sua filha acredite que tudo ficará bem, Lauren.

─ Nada ficará bem, Camila. – os olhos da morena voltaram a lacrimejar, mas ela não iria chorar. Ela estava tão cansada de chorar, tão cansada daquilo tudo! – Nunca está bem, você não entende? Nunca.

Camila não teve a chance de responder aquilo, pois logo uma enfermeira apareceu indicando que o horário de visitas havia acabado. Lauren olhou para a filha com um grande suspiro, antes de levantar e deixar um beijo na têmpora da menina e então seguir para fora do quarto de UTI. Tão grande era a pressa da morena em sair dali, que a namorada ficou encarando a porta por onde ela passou segundos antes com um olhar confuso.

A nova-iorquina ficou mais alguns minutos lá, no entanto. A latina olhou com tristeza para a sua menininha, hesitante em tocá-la, apenas acariciando o braço fino da menina. Ela suspirou e, com a outra mão, tocou sua barriga.

─ Só mais três meses, pequena. – sussurrou com a voz trêmula e rouca. – Por favor, aguente firme.

Foi naquele momento em que Camila tocava em Alicia e também em sua barriga, onde seu filho estava, que algo estranho aconteceu. Uma... Uma sensação parecida com uma corrente elétrica passando por seu corpo, algo... Intenso demais. E, então, o bebê chutou.

A latina arregalou os olhos, saltando da cadeira diante o susto. Fora alguns movimentos preguiçosos, seu filho nunca realmente tinha chutado ou algo parecido, nem mesmo quando ela ou Lauren “conversavam” com ele em sua barriga. Foi uma sensação incrível sim, porém, juntando com a outra sensação de eletricidade foi algo esquisito e... Uau! O que raios tinha acontecido ali?

─ Srta. Cabello? – a enfermeira voltou a chamá-la, mas estranhou a palidez em seu rosto e franziu o cenho. – Está tudo bem?

─ Eu... – Camila olhou para a cama onde Alicia estava, e então para a sua barriga, segurando-a. Fechou os olhos e respirou fundo, balançou a cabeça e então saiu do quarto sem dizer nada.

Assim que a latina colocou os pés para fora do quarto, outra sensação estranha a dominou agora. Ela sentia-se numa necessidade enorme em ver Lauren, saber se ela estava bem, principalmente depois de ter saído do quarto daquele jeito. Foi por isso que Camila apressou-se em ir para a sala de espera onde alguma de suas amigas estavam, e onde esperava encontrar Lauren. No entanto, quando chegou lá, não gostou nada do que viu.

Normani estava no telefone e parecia nervosa. Halsey vinha na direção delas correndo e ofegante, e Ally tinha o olhar preocupado.

─ O que aconteceu? Onde está Lauren?

─ Você! – Halsey parou ao lado de Camila e fez sinal para que ela esperasse enquanto recuperava o fôlego. A tatuadora respirou fundo e então voltou a encará-la. – Para onde Lauren foi? O que aconteceu lá dentro?

─ Como para onde Lauren foi? – Camila olhou exaltada entre cada uma de suas amigas. – O que diabos está acontecendo? Cadê a Lauren?

─ Ela passou correndo por aqui, Mila. – Ally aproximou-se e segurou delicadamente o braço da latina. – Pensávamos que você sabia para onde ela estava indo.

Halsey apontou para a saída.

─ Eu corri atrás dela, mas ela pegou o seu carro e saiu do estacionamento às pressas.

─ Ela saiu de carro no estado em que está? – a latina tocou a têmpora e comprimiu os lábios, controlando-se para não gritar ali. – Mas que inferno, meninas! Por que a deixaram sair? Ela... Ela está.... Sobrecarregada demais, merda!

─ Eu vou ligar para Dinah e pedir para ela ir até o apartamento, já que a própria Lauren não me atende. – Normani assegurou, voltando-se para o seu celular.

─ Eu vou ligar para Lucy. – Ally informou, também pegando seu celular. – Eu sei que ela está no aeroporto esperando Alexa e Keana, mas não custa tentar.

Camila apoiou o corpo na parede e levou a mão até o rosto, sentindo lágrimas arderem em seus olhos. Por mais que esperasse que Lauren estivesse bem, ela sentia que isso não estava acontecendo. Lauren suportou aquilo tudo por meses, Camila não sabia como ela conseguiu, mas ela o fez e agora... Agora ela não aguentava mais.

─ Acha que ela fugiu? – Halsey perguntou, escorando-se ao lado da latina.

─ Ela não fugiu. – afirmou. – Ela não abandonaria a filha, mesmo estando tão sobrecarregada com tudo.

─ Então, acha que ela foi para casa ou algo do tipo?

─ Não. – respirou fundo, para então olhar tristemente para um ponto qualquer na sala de espera do hospital. – Ela foi em busca de respostas.

─ Você é bem bipolar, sabia? – como Camila a olhou com a sobrancelha arqueada, Halsey foi logo tratando de se explicar. – Digo, segundos atrás estava gritando com a gente e agora está... Calma, sei lá.

─ Porque Lauren precisa de tempo, e eu a entendo. – fungou, enxugando o canto do olho com o moletom que usava. – Vocês não imaginam como é ver a filha no estado que Alicia está, sendo que três dias atrás ela estava bem e sorrindo... E agora ela tem fios ligados a cada parte do corpo para mantê-la viva. Então, se Lauren quer um tempo para pensar a deixem pensar.

─ Você tem uma ideia de para onde ela foi, não é?

A latina suspirou e apoiou a cabeça no ombro da amiga, ela estava cansada e sua cabeça latejava irritantemente. Estava sim preocupada com Lauren, mas respeitava seu espaço e esperaria até a morena sentir-se melhor e voltar para lá.

─ Sim, eu tenho uma ideia sim. Só me preocupo, apenas. Está nevando lá fora e ela está muito nervosa para dirigir nessas condições, só espero que ela fique bem.

─ Alicia está tão mal assim?

Os olhos de Camila voltaram a lacrimejar e ela apenas assentiu levemente. Halsey a abraçou de lado, vendo que a latina não estava em condições para falar mais.

Normani voltou dizendo que Dinah ia ficar de olho no apartamento delas, e Ally falou que Lucy também iria ficar atenta para qualquer coisa. Ligaram para todos os seus amigos para informar sobre o “desaparecimento momentâneo” de Lauren, apenas para que não se preocupassem.

Já Camila.... Camila estava mais preocupada em como Lauren estava do que onde. Porque ela sentia que a morena não estava bem, e por mais que estivesse disposta a dar espaço a ela, ainda assim seu coração dizia que Lauren estava precisando dela mais do que nunca agora. Ela esperaria um pouco, e, caso Lauren não aparecesse, iria atrás da morena e cuidaria dela.

Como deveria ser sempre.

 

x-x-x

 

O bairro estava com pouco movimento naquela tarde. Poucos centros comerciais se arriscavam a abrir suas portas, vendo que a clientela também era pouca quando a neve cobria a cidade assim. A camada de gelo era pouca, mas o frio era enorme.

No entanto, Lauren não sentia tanto frio como deveria sentir.

Ela caminhava pelas ruas do Harlem, ruas das quais ela não frequentava há um bom tempo, e enfrentava o clima nada generoso da cidade. Havia deixado o carro de Camila estacionado em local seguro, vendo que conhecia muito bem o perigo que aquele lugar fornecia, e resolveu caminhar até seu objetivo. Era bom para pensar um pouco, refletir, espairecer sua mente que estava cheia de pensamentos errôneos.

Usava sobretudo, botas, touca e luva, e mesmo assim seus lábios tremiam e seu nariz deveria estar com uma coloração avermelhada agora. Mas ela ignorava a reação de seu corpo, porque sua mente estava distante agora.

Sabia que o modo que saiu do hospital foi errado, sabia que deveria ter ao menos avisado Camila para onde estava indo, mas ainda assim não o fez. Ignorou os chamados de suas amigas, ignorou suas ligações e atravessou a cidade Deus sabe como já que as lágrimas mancharam seus olhos durante todo o trajeto. Era doloroso reviver a imagem de como sua filha estava, era difícil imaginar em como aquilo tudo acabaria. Não queria ser pragmática, sabia que deveria sempre manter-se forte e com esperanças, mas simplesmente não conseguia mais.

Ela estava quase desistindo, estava quase quebrando.

─ Eu conheço você.

Lauren parou de andar e virou-se rapidamente ao ouvir aquela voz rouca, deparando-se com uma velhinha que segurava algumas flores. Foi então que Lauren notou que estava ao lado de uma pequena floricultura, mas não a reconheceu de imediato.

─ Perdão? – fitou a velha senhora com uma sobrancelha arqueada e braços cruzados.

─ Você. – a senhora apontou para Lauren e sorriu. – Eu conheço você. Morava no prédio da velha Barbs, o que pegou fogo.

─ Oh. – Lauren franziu o cenho e, então, olhou para os lados. Ela estava... Na sua antiga rua, onde morou quando chegou em Nova York. – Eu não... Percebi que estava aqui.

─ Você parecia bem distraída enquanto andava. – a florista sorriu e apontou para a sua lojinha. – Venha, entre e se aqueça. Está muito frio aqui fora, seus lábios estão ficando roxos já.

Instintivamente, Lauren tocou sua boca com a ponta dos dedos. Ela não podia senti-los, já que usava luvas, mas mesmo assim o fez. A morena então olhou para trás, para o outro lado da rua onde seu antigo prédio ficava e onde hoje um grande estacionamento ocupa o lugar dos dois prédios que foram destruídos no fatídico incêndio pouco mais de três anos atrás. Nem Normani ou ela visitara muito o bairro após mudarem-se, as lembranças do ocorrido ainda as assustavam um pouco.

Por fim, a morena suspirou e virou-se para a velha florista. A senhora negra apontou novamente para dentro de sua floricultura e sorriu de lado, incentivando Lauren a entrar. A morena deu de ombros e a seguiu, não tinha pressa alguma e talvez a velha florista a distraísse um pouco.

O lugar era pequeno, porém, aconchegante. Haviam diversos tipos de flores espalhadas em recipientes por toda a loja, suas cores enchiam o ambiente e davam uma sensação incrível de paz. A florista a guiou até o interior da loja e indicou para que Lauren sentasse, e a morena assim o fez.

Enquanto a senhora preparava algo que parecia chá, Lauren tinha seus pensamentos mais uma vez voltados para o hospital. Camila deveria estar preocupada, e tudo o que a morena menos queria era preocupá-la, ainda mais no estado em que a latina estava. Ela só... Não conseguia ficar ali, não conseguia ver sua filha naquele estado, sua menininha preciosa e que não merecia passar por tudo aquilo. Era como se fosse um pesadelo frequente que voltava e voltava sempre que ela tentava esquecer a situação, ignorar o que estava acontecendo mesmo que estivesse ali, diante de seus olhos.

Não era egoísmo, era medo. Medo de não ser forte o suficiente.

─ Aqui. – a velha florista a entregou uma xícara com um líquido quente e sentou-se em frente à Lauren. – É camomila, para acalmar esse seu coração inquieto.

─ Eu lembro de você. – Lauren comentou, bebericando seu chá. – Você me deu um buquê de cravos uma vez, para o meu irmão. Tinha uma banca em frente ao prédio da Barbs. – sorriu levemente. – Fico feliz em saber que conseguiu expandir seu negócio.

─ Obrigada, menina. – a florista olhou para a sua loja e sorriu, recostando-se na cadeira. – Não há muito movimento nessa época, por causa do frio. Mas com o dia dos namorados se aproximando, espero que melhore um pouco. – então, a senhora olhou para Lauren e a analisou por alguns instantes. Os olhos inchados, as olheiras os rodeando e a expressão cansada tanto física como emocionalmente. – Há algo machucando a sua alma.

Lauren piscou algumas vezes e franziu, segurando com mais força a xícara em suas mãos e olhando desconfiada para a senhora de idade.

─ O que quer dizer com isso?

─ Seu coração não está feliz, sua alma menos ainda. – a florista inclinou a cabeça para o lado e deixou os olhos escuros descansarem na jovem mulher à sua frente. – Seja lá o que está acontecendo, você precisa manter em mente que a única pessoa forte o suficiente para passar por tudo isso é apenas uma. – apontou para Lauren. – Você mesma.

─ E se... – a voz da morena falhou e ela desviou o olhar, seus olhos marejando. – E se eu estiver cansada de ser forte? E se eu estiver cansada de lutar tanto?

─ Você quer desistir de tudo, querida?

A morena suspirou e fungou, algumas lágrimas manchando seu rosto agora. Ela negou com a cabeça, e a senhora tocou seu ombro com carinho.

─ Então, seja mais forte do que seus medos. Não deixe seus temores vencerem você, por mais assustador que seja a batalha.

─ Eu só estou tão cansada de... De acreditar que tudo vai ficar bem, sabe? Porque nada nunca fica bem, há sempre alguma coisa que acontece e destrói toda e qualquer chance de felicidade que apareça em meu caminho.

─ Nunca se é fácil viver, assim dizem os sábios.

A florista bateu levemente no ombro de Lauren e então levantou, para então começar a mexer em alguns jarros que estavam em uma mesinha. Ela pegou um que continha algumas flores de pétalas compridas e finas, colocando-as em um jarro maior.

─ Jacintos significam tristeza profunda. – comentou, pegando um segundo jarro com flores brancas com algumas pintinhas escuras. – Lírios significam pureza da alma. Coloque-os ali para mim, por favor? – pediu para Lauren, a entregando o jarro com os lírios.

Lauren deixou sua xícara com o chá de lado e pegou o jarro das mãos da florista, os colocando no local indicado. Quando retornou, a velha senhora tinha um terceiro jarro nas mãos, agora com apenas duas flores azuis e branco. Ela sorriu para Lauren e colocou o pequeno jarro nas mãos da morena.

─ Está se chama amor-perfeito. – informou. – Por mais que tenha esse nome, elas estão associadas a pensamentos e recordações. Mas também está ligada a amor incondicional, aquele puro e forte. Único. Uma garantia de que você sempre estará presente. – empurrou delicadamente o jarro para que Lauren o segurasse com mais firmeza. – Como o amor de amantes eternos, ou de uma mãe para uma filha.

─ O que... – Lauren intercalou o olhar entre as flores e a senhora de cabelos brancos, entreabrindo a boca e não escondendo sua surpresa. – Como sabia... Como...

─ Eu leio muitas revistas. – disse, voltando para o lugar que estava antes. – Sou uma velha informada.

─ Você sabia.

─ Sim. – sorriu com tristeza para Lauren, que segurava o jarro com as duas flores contra seu corpo como seu fosse um tesouro precioso. – Eu sabia. E espero que sua garotinha fique bem, menina. Tenho fé que sim.

─ Ter fé não tem me adiantado muita coisa.

A velha florista suspirou e balançou a cabeça tristemente.

─ Então, está aí o motivo de você não encontrar o equilíbrio entre sua mente e alma.

─ Quer dizer que eu tenho que manter esperanças, mesmo com tudo o que está acontecendo com a minha filha?

─ Não está tudo perdido, certo? – encarou-a com uma sobrancelha arqueada. – Porque, se estivesse, nossa conversa teria um assunto diferente. Rumos diferentes.

Lauren não disse nada, apenas a encarou por mais alguns instantes antes de dar alguns passos para trás e suspirar de forma cansada.

─ Eu preciso ir. – disse. – Quanto devo pelas flores?

─ São um presente para a sua menininha.

─ Eu não...

─ Vamos, aceite isso. – rolou os olhos. – São flores, não droga. Coloque-as perto de sua Alicia, para que ela saiba que você ainda está com ela mesmo com tudo o que está acontecendo. Que você não desistiu de tentar.

A mais nova comprimiu os lábios, porém, resolveu não a contrariar. Agradeceu pelas flores e o chá, e então se despediu. Ainda tinha um lugar que queria ir, ainda não estava pronta para voltar ao hospital. Mesmo depois dessa conversa estranha com a florista, mesmo assim, Lauren não conseguia... Não conseguia equilibrar seus sentimentos.

Ainda se sentia sufocada, sua alma e coração doíam como um inferno e ela não sabia o que fazer ou como se sentir.

Foi por isso que voltou para o carro e guardou o jarro com cuidado no banco ao lado, seguindo para o único lugar onde conseguia ficar em paz consigo mesma.

 

x-x-x

 

A tarde já estava quase chegando no seu fim e Camila agora estava sim preocupada com Lauren, que não deu nenhum sinal de vida até o momento. Mesmo que tivesse uma ideia de onde a morena estava, levando em conta que ela saiu cerca de seis horas atrás, esperava que ela já estivesse de volta naquele momento.

Normani teve de voltar para a Cabello’s e Ally para a Today’s, Halsey trocou de lugar com a esposa e agora Samantha quem estava no hospital. Lucy já estava de volta ao hospital também, mas tinha ido até a lanchonete com Dinah e Melissa.

Ou seja, Camila estava sozinha na sala de espera com Samantha. Estava sentada com as pernas descansando nas pernas da tatuadora, porque seus pés estavam inchados e ela se sentia um pouco cansada no momento.

─ Você deveria ir para casa e descansar um pouco. – Sam observou, massageando as pernas da latina e a olhando preocupada. – Nós ligamos caso Lauren apareça, Mila.

─ Eu não vou sair daqui agora. Não antes de vê-la.

─ Se você sabe onde ela está, por que não vai até ela?

─ Porque quero dar espaço para ela.

─ São quase seis da tarde, Mila. Está congelando lá fora e logo ficará escuro. – os olhos azuis preocupados fitaram a latina com pesar. – Eu sei que quer dar espaço a ela, mas Lauren precisa de você agora mais do que nunca e deixá-la sozinha... Não é uma boa opção no momento. Mesmo que ela diga que quer ficar só, não a deixe.

─ Eu só não sei o que fazer! – grunhiu, mexendo impaciente nos cabelos e os jogando para o lado. – Ela está sufocada, entende? Não sabe o que sentir, não sabe o que pensar e isso a assusta como um inferno! Eu só queria que ela entendesse que não está sozinha nessa, que não precisa guardar esses sentimentos e... E deixar essa merda toda a consumir.

─ Então, o que ainda está fazendo aqui?

A latina cobriu o rosto com as mãos e respirou fundo. Sam estava certa, ela deveria estar com Lauren agora. Deveria ser seu refúgio para todos os medos que a assombravam.

E era o que ela faria agora.

 

x-x-x

 

O silêncio reinava por todo o lugar. A neve cobria parte da grama, o lago tinha uma pequena camada de gelo parcialmente congelado apenas.

Lauren deveria estar ali há algumas horas, ela não sabia exatamente quanto tempo. Seu corpo tremia, seus lábios tinham uma coloração arroxeada e sua respiração saía com lufadas de ar frio.

Ela chorava.

Chorava em silêncio. Por medo, insegurança, dor e revolta. Chorava pelo seu irmão, pela sua mãe, por seus irmãos. Chorava pela sua filha, tão pequena e inocente e já enfrentando uma batalha tão... Difícil e complicada.

Ela deveria ter esperanças, mas não conseguia pensar positivo diante tudo o que estava acontecendo.

Ela deveria ter fé, mas não conseguia acreditar em algo que a vida mostrava-lhe o contrário.

É incrível como tudo poderia estar bem, mas mudar em um piscar de olhos. Assim aconteceu com Alicia há seis meses atrás, e assim aconteceu com a vida de Lauren também.

O choro da morena voltou a ser alto, desesperador e doloroso. Não haviam muitas pessoas por perto, apenas algumas dispersas visitando túmulos de parentes. Mas ninguém ousaria ir até Lauren, porque respeitavam sua dor.

Lauren teve um sobressalto quando um cobertor foi colocado em seus ombros, não tendo tempo de reagir já que a pessoa responsável por isso logo pôs-se ao seu lado, sentando no banco e segurando sua mão. A morena acompanhou tudo com o olhar.

─ Como me encontrou? – perguntou com a voz falha.

─ Esse é o seu lugar secreto, sabia que a encontraria aqui. – Camila sorriu acanhada e terminou de cobri-las, aconchegando seu corpo ao da namorada. – Você está congelando, Lauren.

─ Desculpe. – a morena suspirou e passou um dos braços em torno da cintura de Camila, acariciando a barriga volumosa da menor.

Elas ficaram em silêncio por um tempo, perdidas em seus próprios pensamentos e confusões. Camila descansava a cabeça no ombro de Lauren, segurando sua mão livre e observando o lago congelado mais a frente. Então, Lauren voltou a tremer e seu choro tornou-se audível novamente, e a morena afundou o rosto contra o corpo da namorada para abafar seu choro.

Camila a abraçou com força, deixando-a chorar. Lauren precisava disso, precisava extravasar todo aquele tempo de sentimentos acumulados, de medos escondidos atrás de uma máscara que fingia ser forte, quando na verdade estava aterrorizada por dentro. Não era fácil passar por tantas mudanças, não era fácil ver a vida de sua filha em risco, não era fácil saber que seria mãe novamente e em uma circunstância como aquela, não era fácil apaixonar-se, não era fácil perder alguém.

Não era fácil manter-se forte, quando sua alma estava tão machucada.

Mas, Camila estava ali para ela. Estava ali para cuidar de sua alma, para cuidar de seu coração. Ela a amava mais do que tudo, e vê-la nesse estado era como se arrancassem partes de seu coração a cada lágrima que Lauren derramava.

─ Eu estou aqui, querida. – sussurrou, beijando seus cabelos e acariciando suas costas. – Está tudo bem chorar ou sentir medo, é natural.

E-eu estou co-om tanto medo, Camz. – a voz de Lauren saiu um pouco abafada, já que ela ainda tinha o rosto afundando contra o casaco de Camila.

─ Eu sei, meu amor. Eu sei. – apertou-a mais em seus braços. – E não julgarei você por demonstrar fraqueza, por demonstrar que é humana. Eu sei que... Quero dizer, eu não sei exatamente, mas imagino que deve ser extremamente doloroso se sentir assim. Achar que é uma inútil por não poder fazer nada por Alicia. Mas, sabe de uma coisa? – afastou o rosto de Lauren de seu corpo e o segurou com as mãos, limpando algumas das lágrimas com os polegares. Selou seus lábios e então descansou a testa contra a da morena. – Você já está fazendo muito por ela apenas por não desistir. Por manter-se ali, ao lado de sua filha sempre. Você é o alicerce de Alicia, Lauren, não esqueça disso. Aquela menininha tem o mundo espelhado em você.

─ É só... – fungou, puxando ar para seus pulmões com dificuldades devido ao frio que sentia. – Dói, entende? Dói não poder fazer nada. Eu... Droga, Camila! Eu trocaria de lugar com Alicia sem pensar duas vezes se isso significasse que ela ficaria bem!

─ Mas você não pode, Lauren. Não pode mudar o que está acontecendo, mas pode mudar o modo com encara tudo isso. – a menor afastou-se o suficiente para poder fitar aquelas esferas verdes, tão cheias de dor e sofrimento. Acariciou seu rosto carinhosamente, sorrindo de canto. – Não tenha vergonha em demonstrar seus sentimentos, não para mim. Eu amo você e a compreendo, Lauren. Não me importo se chore, contanto que eu esteja lá para enxugar suas lágrimas sempre.

Lauren não disse nada, ao invés disso ela colou seus lábios novamente e a beijou de forma correta dessa vez. Camila ainda segurava seu rosto, e distribuiu beijos por ele finalizando com um na ponta de seu nariz.

─ Eu amo você. – Lauren proferiu, suspirando por fim. Então, tocou a barriga de Camila com carinho. – Eu amo você e amo esse garotinho aqui. Vocês... Você, Alicia e esse bebê, são as únicas coisas que me mantem de pé a cada dia.

─ Inclua você mesma nessa equação e estamos conversadas.

A morena riu, escondendo o rosto contra o pescoço da menor.

─ Você está muito fria, Lo. – Camila observou, cobrindo ainda mais o corpo de Lauren com o cobertor. – Vamos sair daqui antes que você adoeça.

─ Eu não quero encarar todos aqueles olhares de pena, Camz.

─ Ninguém ali está com pena de você, Lauren. São seus amigos, sua família, e querem apenas demonstrar que estão ali para você e para Alicia não importa o que aconteça.

─ Eu sei, eu só...

─ Não quer aparecer depois de ter fugido, não é? – pelo silêncio de Lauren, Camila concluiu que estava certa. Riu. – Não seja boba, Lo. Ninguém ali vai julgar você, muito pelo contrário. Todos imaginam como a situação deve ser difícil para uma mãe passar por tudo isso. Não sinta vergonha apenas por demonstrar que é humana.

─ Como você me conhece tão bem?

─ Você supostamente é o amor da minha vida, é o meu dever conhecê-la bem.

Lauren ergueu o olhar e a fitou com uma sobrancelha arqueada.

─ Supostamente, é?

Camila rolou os olhos e pincelou seus narizes, sorrindo.

─ Você é minha outra metade, Lauren. Não esqueça disso.

─ Eu não posso esquecer quando sei que você significa a mesma coisa para mim. – a morena sorriu e suspirou, por fim. – Como ela estava?

─ Estável. – suspirou também. – Teremos duas semanas pela frente, Laur. Duas semanas para sermos fortes uma para outra, e para Alicia também.

─ Duas semanas. – repetiu com outro suspiro, fechando os olhos.

Seriam as duas semanas mais difíceis de sua vida, Lauren tinha certeza disso. Mas, ela também estava certa sobre outra coisa.

Ela não estaria nessa sozinha. Tinha Camila, sua irmã e seus amigos para a ajudarem a passar por essa.

 

x-x-x

 

De fato, as próximas duas semanas não foram nada fáceis.

Com o caso de Alicia sendo conhecido pela mídia, haviam sempre paparazzi e repórteres ligando para a família Cabello atrás de novas informações sobre a situação da menina. Alejandro fazia de tudo para manter em sigilo, mas isso não impedia de cada vez que Camila ou Lauren aparecessem em público, serem perseguidas por câmeras e flashes.

O relacionamento das duas não era nenhuma novidade para as pessoas, visto que estavam sempre postando sobre em suas redes sociais. Mas, sobre a gravidez de Camila e sobre o que realmente estava acontecendo de Alicia, isso era algo que elas preferiam manter apenas para a família e amigos. Ou seja, estava sendo uma pequena batalha extra enfrentar tudo isso sem surtar.

Felizmente, Lauren estava mais focada na recuperação de sua filha e pouco se importava com o que a mídia falava. E, por sorte, com a semana de moda em Nova York acontecendo na mesma época, a mídia tinha outros interesses e com o decorrer das semanas foram deixando o caso de Alicia um pouco de lado.

Na manhã daquela quinta-feira, Alicia fora retirada do coma induzido. Seu corpo estava mais forte agora, porém, não o suficiente. Ela ainda seria mantida na respiração artificial e com sondas coletoras e alimentícia, claro. Anne alertou que o corpo da menina levaria seu próprio tempo para se recuperar, e que ela poderia levar de horas a semanas para acordar. Disse também que Lauren não se assustasse com a demora, pois era algo necessário para Alicia e que a menina acordaria no seu tempo.

O problema era que a espera era angustiante.

Duas semanas depois de ser retirada do coma induzido, e Alicia continuava desacordada. Os exames da menina estavam bons, no entanto, mas a demora começava a preocupar a equipe médica. A menina não estava mais da UTI e sim em um quarto na ala especial do hospital, mas ainda não podia receber visitas. Apenas Camila e Lauren tinham permissão para ficar com ela no quarto, e só.

Lauren pouco saía do quarto de Alicia, temia que a filha acordasse e ela não estivesse presente. Porém, hoje, infelizmente, ela teve de ir até o outro lado do hospital para uma reunião com a equipe médica que estava cuidando do caso de sua filha. Não era uma reunião para assustá-la, muito pelo contrário, eles iriam rever o tratamento de Alicia e tentar outros modos de fazer o corpo da menina funcionar até o nascimento do irmão, onde as células-tronco do cordão umbilical seriam retiradas.

Como Camila tinha completado sete meses de gestação naquele dia, isso significava que teriam apenas mais dois meses para fazer com que o tratamento surtisse efeito.

Falando em Camila, já que Lauren estava na tal reunião era a latina quem fazia companhia a Alicia naquele momento. Já fazia parte da rotina da latina estar ali, então ela já se sentia meio que a vontade no quarto de hospital. Isso significava que ela estava deitada no sofá do quarto, usando leggings pretas e uma camisa de mangas compridas também preta, mas a mesma estava levantada deixando sua barriga a mostra. Mesmo com o frio que fazia, o corpo de Camila funcionava diferente e a latina tinha ápices de calor momentâneo como o que estava tendo agora.

A latina lia alguns e-mails de trabalho em seu celular, quando escutou o bipar das máquinas de Alicia soar diferente e mais rápido. Ela rapidamente sentou-se e olhou para a cama da menina, seus olhos arregalando-se diante o alarde. Levantou com cuidado e caminhou até a cama, olhando assustada para os aparelhos e apertando de imediato os botões que chamavam a enfermeira.

─ Alicia? Querida, fique calma. – ela dizia isso para a menina, mas era mais como um mantra para ela mesma ficar calma. A Dra. Anne disse que Alicia, mesmo inconsciente, talvez pudesse escutá-las e por isso que Camila conversava com a menina agora. – Está tudo bem, querida. É a tia Camz que está aqui, ok? Você está bem. – olhou para a porta e gritou. – Alguém me ajude aqui, por favor!

Camila estava ao lado da cama, segurando o braço de Alicia e olhando o tempo todo para a porta do quarto. Onde diabos estavam aquelas enfermeiras, merda! Ela estava apertando a droga daquele botão estúpido há minutos e nada, inferno!

Quando a latina deixou seu olhar cair novamente em Alicia, sua respiração falhou. Haviam duas grandes esferas verdes a encarando agora.

Alicia havia acordado, finalmente.

 

 

 


Notas Finais


Eita que o capítulo foi intenso né? O que acharam dele? Dei um belo de um susto em vocÊs que eu sei e.e

Sinceramente, para mim, foi bem difícil de se escrever em termos emocionais. Comparando com toda a história, este é o 2 capítulo mais difícil de se escrever para mim (perdendo apenas para o 37, que ainda estar por vir para vocês).

Avisando logo que a situação só piora por aqui. Lembrem-se que Alicia tem uma doença DEGENERATIVA, algo contínuo e com tendêndia a piorar. Se estão achando ruim todo esse drama (não sei se alguém estar, mas sabe se lá né) eu sinceramente não posso fazer nada. Afinal, este é o gênero da história :) ler quem quer.

EEEENFIM, espero que tenham gostado e fiquem bem meus anjinhis <3

Até a próxima atualização! Amo vocês ^^


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