1. Spirit Fanfics >
  2. How To Live Forever >
  3. Eight Months and Don't Give Up

História How To Live Forever - Eight Months and Don't Give Up


Escrita por: MaBelleLuna

Notas do Autor


OI OI COOKIES!

Como vocês estão, nenéns? Espero que bem!

Eu sei, é aquele velho ditado né... Demorei, mas tô aqui e isso que importa!

É, gente... A autora tem vida fora das telinhas e as vezes não tem tempo pra escrever, fazer o quê né? Pelo menos tamo aqui, seguindo o bonde firmes e fortes :)

Beeeem... Temos música no capítulo! Feels Like Home - Edwina Hayes. É importante que vocês escutem no momento em que a Camila começar a cantar, ok? A música é linda e se encaixa no momento em questão ;)

Eeeeenfim... Vamos ao capítulo, cookies!

Boa leitura!

Capítulo 36 - Eight Months and Don't Give Up


Fanfic / Fanfiction How To Live Forever - Eight Months and Don't Give Up

“A espera é a pior parte em situações de angústia”.

 

Theresa Land Children’s Hospital, NY – March 3, 11:15 AM.

 

Lauren corria pelos corredores do hospital às pressas.

O motivo? Sua filha havia acordado. Depois de quatro semanas, duas dessas de espera, Alicia havia finalmente acordado e Lauren só queria vê-la e abraçá-la e dizer que a amava mais que tudo. Ela sequer sabia como havia atravessado todo o hospital, quando percebeu já estava chegando perto dos quartos especiais onde sua filha estava internada.

Quando parou em frente a porta de sua filha, que estava entreaberta, Lauren respirou fundo e tentou controlar suas emoções. Não queria assustar Alicia, então deveria ir com calma.

Ela empurrou levemente a porta do quarto, seu coração acelerado a cada movimento que fazia. Quando entrou, finalmente, sua respiração quase parou ao avistar sua menininha sendo examinada por um dos médicos de plantão e com os olhos bem abertos.

─ Lo. – Camila a chamou assim que a viu parada no meio do quarto, atravessando o mesmo e a abraçando, afundando o rosto no ombro da morena. Foi quase que automático Lauren a abraçar de volta, porém, seus olhos estavam presos em sua filha. – Ela acordou... Nossa garotinha acordou!

─ Ela acordou. – Lauren sussurrou. Porém, como o quarto estava quieto, foi alto o suficiente para Alicia a escutar.

A menina procurou pelo quarto a dona daquela voz, seus olhos rodeando o cômodo de um jeito desesperado. Sua respiração começou a ficar mais ansiosa, já que ela não podia se mexer ou falar.

─ Fique calma, querida. – o médico retirou a máscara que cobria a boca e nariz de Alicia. – Está tudo bem, ok? Respire com cuidado. – Alicia o observou com os olhos levemente arregalados, parecia nervosa e com medo. – Não precisa temer, você está bem agora. Consegue falar?

A pequena de seis anos e meio negou com a cabeça levemente, seus olhos começando a brilhar diante as consequentes lágrimas.

─ Não se preocupe, Alicia. É normal, ok? – o médico ofereceu um sorriso simpático para a menina, para então virar-se para Lauren. – A Dra. Anne virá em breve, Srta. Jauregui. Ela explicará os procedimentos que devem ser tomados a partir de agora. – ele então sorriu. – Mas Alicia está bem, seus reflexos estão ótimos para alguém que acabou de acordar de um período longo.

─ Ela está bem? – a voz de Lauren saiu quase como um chiado rouco. Ela ainda continuava parada no mesmo lugar, temendo aproximar-se por algum motivo. Depois de tanto esperar que a filha acordasse, agora que tudo aconteceu parecia tão... Irreal.

─ Na medida do possível, sim. – o médico pegou seus aparelhos de exames e sorriu para Alicia, antes ir até Lauren e Camila e lançar ao casal um sorriso compreensivo. – Mas me refiro ao estado atual de uma paciente que acabou de acordar de um longo período inconsciente. Devemos esperar o hemograma completo para sabermos que rumo tomaremos a partir de agora.

─ Sim, eu... Compreendo.

─ E ela não conseguindo falar agora. Mas, não se preocupem, sua fala deve voltar em poucas horas.

Lauren automaticamente olhou para a filha, sentindo um aperto em sua garganta. Não conseguir falar para alguém que era uma tagarela nata como Alicia era... Sua filha ficará frustrada. Mas, pelo menos, ela estava acordada e isso era o suficiente.

─ Alicia acabou de acordar de um período longo, Sra. Jauregui. Vá com calma com ela, ok? A deixe processar sozinha e aos poucos onde está e o que está acontecendo, para não sobrecarregá-la.

─ Tudo bem, eu... Irei com calma. – Lauren não tirava os olhos da filha ao falar, e nem mesmo Alicia conseguia parar de olhar para a mãe. Era aquela conexão que ambas compartilhavam, algo... Puro e intenso que apenas as duas compreendiam.

─ Bem... Vou deixá-las a sós. Anne deve aparecer em breve, então... – ele sorriu. – Eu vou indo.

─ Obrigada, doutor.

Sem mais, o médico despediu-se do casal com um sorriso simpático e então saiu do quarto as deixando finalmente sozinhas com Alicia. A menina que, durante toda a conversa, permaneceu as encarando com seus expressivos olhos verdes assustados.

Lauren não tirava os olhos da filha, e foi quase que automático ela caminhar até a cama da menina, parando ao lado e sentando-se na ponta. Camila estava bem ao seu lado, observando as duas em silêncio. Aquele era um momento entre Lauren e Alicia apenas, e ela seria uma espectadora privilegiada.  

A morena mais velha passou um tempo apenas olhando para aqueles olhos verdes brilhantes. Como ela sentiu falta deles! Como ela sentiu falta de ver o espelho de seus próprios olhos, olhos tão intensos que poderiam enxergar a alma.

Ela então sorriu para a filha, inclinando-se para deixar um beijo em seu templo.

─ Oi, booboo. – sussurrou, sentindo sua voz embargar. – Eu senti sua falta, pequena.

A boca de Alicia se movimentou, dizendo as palavras sem som. Era “eu te amo”, Alicia tentava falar que amava a mãe. O sorriso de Lauren cresceu com aquilo.

─ Eu também amo você, bebê.

Alicia então olhou para Camila, que segurava sua mão e sorria. Então, a menina traçou o contorno de um coração trêmulo nas costas da mão da tia, piscando algumas vezes pelo pequeno esforço. Camila sorriu também.

─ Eu amo você, bolinha. – fungou. – E senti sua falta também, sabia? Seu irmãozinho também sentiu falta de você.

A menina de seis anos olhou para a barriga de Camila e não pode deixar de notar que estava um pouco maior do que recordava. O que estava acontecendo? Por que sua mommy e sua titia Camz estavam dizendo que sentiram sua falta? Ela não foi para lugar algum, apenas tirou uma soneca e veio... Parar no hospital de novo. Como Alicia veio parar no hospital? Ela não sabia, estava confusa e queria muito perguntar isso para a sua mommy, mas não podia porque ela não conseguia falar.

Alicia fez um bico com os lábios, demonstrando sua frustração.

─ O que há de errado, meu amor? – Lauren perguntou, acariciando o rosto da filha. – Está com dores? – como Alicia negou com a cabeça, a morena franziu. – Está confusa com o que está acontecendo?

O silêncio de Alicia denunciou tudo. Lauren trocou rapidamente um olhar com Camila, procurando saber o que fazer, mas felizmente foi poupada disso já que a Dra. Anne entrou sorridente porta adentro.

─ Olha só quem resolveu nos presentear hoje! – Anne disse animadoramente ao entrar, parando ao lado de Alicia e sorrindo para a menina. – Como está se sentindo, Alicia? Balance a cabeça se está com alguma dor. – Alicia permaneceu imóvel, o que foi bom. – Ótimo. Eu vou fazer alguns exames em você, ok? Não tenha medo, será rápido.

─ Quer que... – Lauren apontou entre e ela e Camila, indicando se queria que elas dessem espaço para a médica. Anne negou com a cabeça.

─ Não precisa, será rápido.

A médica de Alicia primeiramente anotou os sinais vitais da menina, para então colocar a prancheta de lado e voltar-se para Alicia com seu estetoscópio. Ela o colocou no peito de Alicia e pediu para que a menina respirasse fundo.

─ Ótimo, muito bem. – Anne retirou o aparelho e olhou seriamente para a menina. – Agora, eu vou examinar sua barriga, ok? Você irá segurar a minha mão, e se doer você a apertará com força. Você acha que pode fazer isso? – Alicia assentiu e Anne sorriu. – Boa menina.

Anne cuidadosamente retirou o lençol que cobria Alicia e ergueu a blusa da menina, já que a pequena usava pijamas. Havia uma pequena cicatriz presente na pele pálida da barriga de Alicia, algo que não estava ali pouco mais de mês atrás, e vê-la era como se demonstrasse para Lauren o quão real era a situação como um todo. O quão grave e perto de perder a filha ela esteve.

A morena engoliu em seco, sentindo o aperto de Camila em seu ombro indicando que a latina se sentia da mesma forma que ela.

─ Muito bem... – Anne murmurou, focada em seu exame na menina de seis anos. Ela foi pressionando toda a área do estômago de Alicia, seu olhar sempre indo da menina para o local examinado para ver se a pequena esboçava alguma reação. – Você está indo muito bem, Alicia. – continuou, pressionando com mais cuidado a área ao redor da cicatriz.

Alicia fez uma careta, mas continuou sem apertar a mão da médica. Porém, quando Anne foi aproximando-se ainda mais do estômago da menina, o aperto da mão da médica foi quase que imediato.

─ Aqui dói? – perguntou com cautela, vendo que a menina assentiu com um bico nos lábios. Quando a mão de Anne subiu mais um pouco, Alicia choramingou e a médica resolveu parar por ali. Já tinha o que queria. – Ok, acabamos. – acariciou a mão da menina com carinho e tocou a ponta do nariz da menor. – Você foi ótima, querida. Estou orgulhosa de você. – a médica afastou-se, mas sem parar de sorrir para a menina. Ela não queria alarmá-la. – Você pode ficar um pouco com sua tia? Eu preciso falar com sua mãe por alguns instantes.

A pequena de imediato olhou para a mãe, e então para a tia. Camila sorriu para ela e aproximou-se mais, beijando o rostinho pálido da menor.

─ Nós vamos ficar bem. – garantiu para a médica, para então olhar para a namorada e beijar o canto de sua boca. – Vai ficar tudo bem, meu amor. – sussurrou em seu ouvido, sentindo que a mesma parecia tensa. Lauren forçou um sorriso e assentiu levemente.

A morena beijou a têmpora da filha e fez um carinho em sua bochecha, encerrando com um beijo na ponta do nariz da menor.

─ A mamãe volta logo, ok?

A menina apenas assentiu, ela gostava de ficar com sua titia Camz também. Os olhos verdes observaram enquanto sua mommy e a Dra. Anne saíam do quarto, para então pararem nos castanhos de sua tia. Camila sorria timidamente para Alicia, sentando ao lado da menina na cama e pegando algo de algum lugar próximo. Era Nala! A Nala de Alicia estava ali com ela!

─ Vejo que gostou da surpresa. – Camila comentou ao colocar a leoa de pelúcia ao lado da menina, que logo envolveu-a em um abraço. – Eu a trouxe para cá quando... – a latina hesitou, mordendo o lábio. Ela deveria ter cuidado com suas palavras agora, não poderiam alarmar Alicia dizendo que a menina passou todo um mês desacordada. – Bem, quando veio para o hospital. Achei que iria gostar de tê-la por perto.

Camila observou enquanto Alicia abraçava a leoa com carinho, sorrindo por vê-la bem e acordada. Uma hora antes, isso não seria possível e só em poder vê-la assim já era um alívio para a latina. Por instinto e quase sem perceber, a nova-iorquina iniciou círculos com a ponta dos dedos em sua barriga sem deixar de tirar seus olhos de Alicia. Com a mão livre, ela segurou a de Alicia e também começou a fazer círculos nas costas da mão da menina distraidamente.

Foi quando Alicia parou de abraçar Nala e olhou para a tia. Algo parecia diferente nela, em Camila, e Alicia percebeu isso. Os toques de sua tia nela, o calor que ele transmitia... Alicia se sentia bem com isso. Se sentia forte de um jeito estranho.

E Camila também percebeu isso, assim como foi a sensação de antes quando o bebê chutou. Era uma sensação elétrica, intensa, como se sua energia fosse renovada apenas por estar com Alicia.

Do lado de fora do quarto, um pouco afastadas no corredor, Lauren ouvia atentamente como seria o tratamento de Alicia a partir de agora. Anne deixou bem claro que seria complicado, doloroso para a menina e que, por isso, Alicia tomaria sedativos fortes que a deixariam adormecida grande parte do dia. Como previsto, o estômago de Alicia estava muito danificado e as lavagens constantes também o afetavam, e para que todo o sistema digestivo da menina não sofresse ainda mais teriam de manter o corpo de Alicia funcionando com o mínimo possível.

Seria um processo longo, e que deveria perdurar por mais dois meses. Dois meses de uma batalha pela vida. A vida de Alicia.

─ Faremos um hemograma para verificar a parte interna. – Anne continuou com sua explicação. – Mas, pelo o que percebi, o intestino de Alicia parece bem recuperado. Não há vestígios de novas falhas, felizmente, e devemos prosseguir com o tratamento para que isso continue assim.

─ Acha que ela precisará de um transplante completo depois?

─ O estômago de sua filha está praticamente inutilizado, Lauren. Esse é o nosso foco principal no momento, mas não iremos descartar um transplante multivisceral também, que é a substituição de vários órgãos de uma só vez. – a médica fez sinal para que Lauren a seguisse, ela conversava com a morena ao mesmo tempo que atendia outros pacientes. – Alicia está na lista de espera desde o momento em que a falha digestiva foi detectada. As células-tronco que utilizaremos serão colocadas nos órgãos que já estão afetados, assim como no estômago de sua filha onde a falha degenerativa tem seu ápice. Não é uma cura, como já mencionado diversas vezes, e sim um remédio que retardará o processo de falha na degeneração. – ela parou para anotar algo em sua prancheta e entregar para um dos residentes, para então olhar para Lauren com um sorriso acolhedor. – Nos dará mais tempo. Dará ao corpo de Alicia tempo para se recuperar o suficiente para o transplante, que pode demorar a acontecer como sabe bem. O nosso maior objetivo é que as células novas ajam sobre as antigas e, assim, retarde e até mesmo acabe com as falhas que estão se espalhando pelo sistema digestivo de sua filha.

─ Porque assim Alicia não irá precisar de um transplante multivisceral.

─ Exato. E, assim, a recuperação de Alicia seria mais rápida e menos complexa. Tudo depende de como o corpo dela reagirá ao novo órgão.

Lauren suspirou com força. Era extremamente doloroso saber que, para que sua filha pudesse viver, outra mãe deveria chorar a perda de seu filho. Não era justo para nenhum dos lados.

─ Alicia passará por várias fases daqui para frente. – Anne alertou. – Seu corpo está fraco, ela se sentirá sempre cansada e seu humor irá variar bastante. O acompanhamento psicológico será importante, tanto para a sua filha como para você também. – tocou gentilmente o braço da morena. – Eu realmente sinto muito por ser sempre a portadora de notícias assim, Lauren, mas estou lutando ao seu lado para que sua filha fique bem. Mas não posso fazer tudo para ambos os lados, então você precisa manter-se forte e ter em mente que isso é temporário. Estamos lutando para que acabe o mais breve possível, mas, para isso, não devemos nunca perder a cabeça e sempre nos manter focados na recuperação de sua filha.

─ Eu sei. – suspirou. – Eu sei, Anne. Mas... – a morena passou a mão pelos cabelos e apoiou o corpo na parede, cobrindo o rosto com as mãos. – Dói tanto vê-la assim, presa a fios que comandam se ela vive ou não e... E eu não sei o que fazer, entende? Eu não sei o que fazer ou dizer para a minha filha. Não sei como explicar para ela que sua vida corre risco!

─ Acredite quando eu digo que ela sabe disso.

Lauren olhou para a médica com uma sobrancelha arqueada, confusa.

─ Acha que ela entende o que está acontecendo?

─ Alicia é esperta, Lauren. Mais do que deveria, devo dizer. – riu, e Lauren esboçou um pequeno sorriso também. – Mas, acima de tudo isso, Alicia tem um coração extremamente puro. Ela sabe o que está acontecendo, mas sempre se mantêm calma porque se importa demais com as pessoas que ama e não quer assustá-los. Está sempre pensando no bem-estar dos outros, sempre querendo vê-los felizes e isso é extremamente raro nos dias de hoje. – a médica sorriu carinhosamente para a mãe de sua paciente. – Você tem uma peça rara em suas mãos, Lauren.

Mesmo com o coração receoso, mesmo que tantos medos a perseguissem agora, Lauren sorriu para aquilo. Ela sorriu, porque sabia que a médica estava certa. Sua Alicia era uma alma pura e brilhante, que iluminava os lugares e pessoas ao seu redor.

Alicia era especial de todas as formas possíveis, e isso automaticamente deixava Lauren forte também. Porque ela deveria manter-se forte para a sua filha, e, acima de tudo, deveria manter-se forte para não desmoronar quando as coisas piorassem.

 

x-x-x

 

Louise estava sentada no chão de seu quarto, enquanto mexia no iPad distraidamente. Era a primeira vez em dias que a menina fazia algo além de ficar emburrada e reclamar, e tudo porque Alicia finalmente acordou. A Srta. Camila havia ligado mais cedo informando a todos que a amiga de Louise havia acordado, mas as visitas ainda não seriam autorizadas por enquanto. Louise compreendia isso, já que passou os últimos três anos e meio de sua vida em um hospital.

Mas, agora, isso era passado. Pelo menos, ela esperava que fosse.

Agora, Louise estava finalmente curada. Seu cabelo estava começando a crescer, sua força estava voltando aos poucos e sua mãe... Sua mãe estava feliz. E tudo por causa da louca dos peixes, Louise sabia disso, mas não se importava mais. Não como antes.

Ela até gostava um pouco de Alessia, na verdade. A musicista a ajudou bastante no último mês, já que a mesma tinha uma forte ligação com Alicia.

E falando em Alessia...

─ Hey, estrelinha.

Louise ergueu o olhar e encontrou a mulher de cabelos encaracolados parada na porta de seu quarto, ela trazia uma bandeja com o que a menina imaginou ser seu lanche. Sem esperar por autorização – Alessia nunca esperava – a musicista entrou no quarto e colocou a bandeja na mesa.

─ O que faz aí? – perguntou, sentando no chão ao lado de Louise e espiando o iPad da menina. Franziu. – Você poderia assistir isso comigo e com sua mãe na TV da sala, você sabe.

─ Hurrum. – Louise franziu o nariz em uma careta, e Alessia rolou os olhos e riu.

─ Laur me telefonou há pouco tempo, disse que Alicia está bem melhor. Só ainda não conseguiu falar. – suspirou. – Eu gostaria de estar lá com ela.

─ Então, por que não vai?

─ A Dra. Anne proibiu visitas. – outro suspiro. – Sem previsão de quando serão liberadas.

Louise a analisou por alguns instantes, deixando seu iPad de lado. Alessia parecia triste, coisa que raramente a menina viu desde que a conheceu meses atrás. Na verdade, Alessia era sempre a que tentava fazer os outros sorrirem.

─ É estranho ver você assim. – observou, ganhando um olhar confuso de Alessia.

─ Assim como?

─ Séria. – deu de ombros, mexendo distraidamente no lenço que protegia sua cabeça. – Você é a que sempre está sorrindo ou falando coisas sem sentido. É estranho ver você tão... Adulta.

Por incrível que pareça, Alessia riu.

─ Há situações que exigem que você cresça, eu acho. – também deu de ombros, para então deitar com a cabeça descansando nos ursos de pelúcia de Louise. – Você entende isso, estrelinha do mar.

─ Eu odeio esse apelido. – grunhiu, porém, também deitou ao lado de Alessia.

Elas permaneceram em silêncio por um tempo, fitando o teto cheio de estrelas coloridas do quarto de Louise. Ainda era estranho ter outra pessoa em sua vida, a menina sabia disso, mas não era tão contra a ideia agora. Infelizmente, Louise tinha de admitir que gostava da presença de Alessia agora. Alessia trazia... Uma sensação boa para a vida da menina e da mãe. Mas... Mas, Louise temia que ela um dia cansasse delas e as abandonasse, como os amigos de sua mãe o fizeram. Ou como a família de sua mãe fez.

Ela não queria ver sua mãe triste de novo, não agora que ela sorria o tempo todo. Agora que estava vivendo de novo.

─ Alessia?

─ Hum?

─ Você não vai nos abandonar que nem os outros fizeram, não é?

─ O que... – Alessia não pode negar que ficou surpresa com a pergunta da menina ao seu lado. – Oh... – ela virou-se em seu lugar, apoiando a cabeça na mão e encarando os olhos castanhos da menina de dez anos. E, mesmo que soubesse que Louise não gostava de ser tocada, ela segurou sua mão. A menina não esquivou-se, no entanto, e Alessia entendeu isso como um motivo para seguir em frente. – Eu não sei o que vai acontecer no futuro, Louise, mas eu posso garantir que sempre estarei aqui para vocês. Não importa o que aconteça, não importa o que o destino esteja planejando para sua mãe e eu, eu quero que saiba que pode contar comigo para o que for. – sorriu. – Eu sou a pulguinha que sempre vai estar no seu pé agora, estrelinha. Não vai se livrar de mim tão fácil.

─ Eu não quero me livrar de você. – o sussurro da menina foi quase inaudível, mas Alessia conseguiu escutar e agora tinha um sorriso enorme em seus lábios. Louise não era uma criança fácil de lidar, mas quando permitia que alguém entrasse em sua vida, ela se mostrava ser totalmente diferente da imagem durona que tentava passar. Louise era amável, simples assim.

─ Bem... – Alessia tocou o nariz da menina e sorriu para ela. – É bom saber disso.

─ É, tanto faz.

Louise voltou a pegar seu iPad e assistir ao filme, ignorando o que acabara de acontecer. Mas Alessia sabia que aquele era um sistema de defesa da menina, e já estava acostumada. Foi por isso que ela não fez menção de sair dali, e aconchegou-se ainda mais perto da mais nova para também assistir com ela. E, para a sua surpresa, Louise também aproximou-se dela e descansou a cabeça em seu braço. Era uma forma silenciosa da menina em dizer que gostava de sua presença ali, que estava bem com tudo e que a aceitava.

Parada na porta do quarto, observando em silêncio, Hailee se encontrava observando a cena com braços cruzados e sorriso em seus lábios. Ela se sentia esperançosa, se sentia feliz. Era a primeira vez que ela enxergava a chance de ter um futuro ao lado de alguém, a primeira vez que viu a chance de ver sua filha feliz também.

Uma pequena família nascia ali, naquele momento. Elas só não sabiam disso ainda, mas sentiam em seus corações.

 

x-x-x

 

Era final de tarde daquele mesmo dia. Alicia estava dormindo agora, mas Lauren não conseguia tirar os olhos da menina um minuto sequer. Ela não queria perder nada, queria velar o sono de sua filha e ter certeza que ela acordaria de novo.

O destino planeja coisas que, na maioria das vezes, não conseguimos explicar. Ele planejou a doença de Alicia, planejou o reencontro de Lauren com seu passado, planejou as perdas e também a nova vida que viria ao mundo em dois meses. Planejou que Lauren se apaixonasse.

Camila.

A latina que se dispôs a carregar um filho para Lauren, apenas para salvar a vida de Alicia. A mesma que não saiu do seu lado em momento algum naqueles meses todos, que estava sempre ali para apoiá-la e ser forte por ambas. Camila era uma mulher incrível, e Lauren tinha sorte de tê-la ao seu lado. De, acima de tudo e antes mesmo de ficarem juntas, Lauren teve sorte de tê-la a encontrado naquele táxi quase sete anos antes. Ela encontrou uma amiga antes de tudo, e teve a sorte de encontrar o amor também.

A morena suspirou, descansando a cabeça contra o apoio do sofá. Seus pensamentos estavam confusos no momento, variando entre sua filha e outros assuntos apenas porque ela não queria pensar no problema real. Não queria enfrentar o que estava acontecendo, porque temia pelo futuro incerto. Temia por sua pequena, por mais que a equipe médica tenha a afirmado que Alicia tinha boas chances de sair dessa.

Uma doença rara, um tratamento improvável. Nenhuma chance de cura.

Alicia terá de fazer um transplante de estômago, disso não tinham como escapar. As células-tronco que serão retiradas do cordão umbilical de seu irmãozinho servirão para retardar o processo e ajudar os outros órgãos que já estão afetados, apenas. Elas darão tempo para que o corpo da menina se fortaleça o suficiente para que o transplante possa ser realizado sem danos ou, pior ainda, sem que a vida da menina corra mais riscos.

Falando em Alicia, a menina remexeu-se em seu sono e Lauren rapidamente foi até a filha. Alicia piscou algumas vezes tentando recordar o que estava acontecendo e onde ela estava, até finalmente ver a mãe e acalmar-se. Lauren afastou a franja do rosto da menina e sorriu.

─ Oi, meu amor. – sussurrou, segurando a mão da pequena tomando os devidos cuidados com os diversos fios ligados a mesma. – Está sentindo alguma coisa? – a menina negou com a cabeça e bocejou, abraçando a Nala em seus braços. – Ainda está com sono?

Alicia assentiu e bocejou mais uma vez, fechando os olhos. Lauren fazia agora cafunés na filha, vendo-a acalmar a respiração cada vez mais até suspirar indicando que já estava entregue ao sono novamente.

A morena ficou assim, ao lado da filha, por mais alguns bons minutos, observando-a. Alicia não tinha mais as bochechas coradas, os lábios estavam rachados e pálidos, as maçãs de seu rosto que sempre foram proeminentes estavam mais finas. A menina havia perdido bastante peso naquele último mês, mais do que perdeu nos outros meses desde que adoecera, e isso preocupava Lauren. Os remédios que Alicia começou a tomar ainda naquele dia eram fortes, muito fortes, porque a menina sentiria dores insuportáveis se não os tomasse. O que significava que Alicia passará a maior parte de seu tempo dormindo, sedada.

Seria extremamente difícil para Lauren se acostumar com isso, mesmo que já esteja nessa situação no último mês.

Batidas na porta a despertaram. A morena ergueu o olhar no mesmo momento em que Camila entrou e fechou a porta atrás de si, sorrindo sem jeito para ela ao aproximar-se.

─ Hey.

─ Hey. – a morena levantou para abraçá-la, mesmo que elas tivesse se visto há pouco mais de uma hora atrás. A latina havia saído pouco depois que Alicia adormeceu, apenas dizendo que voltava logo. – Estava em casa?

─ Não, na verdade. – Camila sorriu de canto e apontou para o sofá. – Podemos sentar? Essa barriga pesa um pouco.

Lauren sorriu e assentiu, segurando na cintura da latina e a guiando até o sofá. Elas sentaram ao lado uma da outra, Camila aconchegando-se nos braços da mais velha e sorrindo com isso. Lauren agora tinha o braço em volta da latina, a mão descansando na barriga de sete meses da menor.

─ Você não vai ficar zangada se eu disser que fui ao médico sozinha, vai? – Camila soltou de uma vez, mordendo o lábio e esperando a reação da morena.

─ Você foi ao médico sozinha? – Lauren arqueou uma sobrancelha, e Camila assentiu um pouco receosa. – Bem, eu... Não estou zangada, claro, mas... Por que não me disse nada? Não sabia que tinha consulta marcada para hoje.

─ Eu sinto muito. – a latina virou o corpo de lado, descansando as pernas no colo de Lauren e enterrando o rosto contra o pescoço da maior. – Mas, na minha defesa, nem eu mesma recordava. Minha secretária ligou avisando mais cedo, quando você estava conversando com a Dra. Anne. E, bem... Com Alicia acordada e tudo o mais, eu pensei que seria melhor não perturbá-la com isso e...

─ Nem continue essa frase, Camila. Sabe que você e tudo o que envolve o nosso filho é importante para mim. Claro que eu teria gostado de saber que você tinha consulta hoje.

─ Eu só pensei que...

─ Deixe para lá, ok? – suspirou, apertando-a mais em seus braços e beijando o seus cabelos. – Já está feito, de qualquer maneira. E como foi? Ele está bem? Vocês estão bem?

─ Mais do que bem. – sorriu. – Arizona disse que ele está crescendo forte e saudável. Eu tenho uma foto aqui, espere....

A latina pegou a bolsa e procurou pela foto em questão, sorrindo largamente ao entregá-la para Lauren. Automaticamente, a morena sorriu também para a imagem de seu filho em 3D retratada na ultrassonografia.

─ Ele tem a sua boca. – Camila observou, voltando a descansar o corpo na mais velha. – Eu sei que não passa de uma imagem bem confusa, mas...

─ É estranho chamá-lo assim, sem um nome certo. – a morena olhou para a cama onde a filha dormia. – Essa pestinha está nos enrolando com isso.

─ Quando ela estiver mais recuperada, irei perguntar. Minha mãe quer personalizar o quarto do bebê, então precisamos de um nome.

─ Sua mãe vai fazer isso? – Lauren arqueou uma sobrancelha e Camila rolou os olhos com o tom usado pela morena, batendo em seu ombro.

─ Não fale assim. – riu. – Mamá sabe que eu não gosto de nada exagerado.

─ É de Sinu que estamos falando, Camz. Ela é capaz de fazer uma comemoração simples de aniversário em... – os olhos de Lauren arregalaram-se e a morena moveu-se rapidamente para o lado, fazendo Camila encará-la com o cenho franzido. – Ah, meu Deus! Camila, eu sinto muito!

A nova-iorquina inclinou a cabeça para o lado, o cenho ainda franzido.

─ Sente muito pelo o que, exatamente?

─ Eu esqueci do seu aniversário, Camz! Eu sou... – grunhiu. – Merda! Eu sou uma péssima namorada, eu...

Camila suavizou o rosto, rindo consigo mesma.

─ Hey, pare com isso. – Camila riu e puxou Lauren novamente para abraçá-la, depositando um beijo no rosto da mais velha. – Se serve de consolo, você acabou de me lembrar que é meu aniversário.

─ O quê... – a morena franziu, procurando por algum blefe na expressão da latina. Felizmente, ela conhecia Camila bem o suficiente e percebeu que ela não mentia. Riu, apoiando sua cabeça contra a da mais nova. – Eu não acredito que você esqueceu do seu aniversário!

─ Não é como se a data tivesse grande importância no momento. – olhou para a cama de Alicia, suspirando por fim. – E isso explica o motivo de meu celular não ter parado de tocar o dia todo, coisa que eu ignorei... Mas, bem... Feliz aniversário para mim!

Lauren sorriu gentilmente e segurou o queixo da latina, pincelando seu nariz contra o dela antes de selar seus lábios em um beijo calmo. Camila suspirou durante o beijo e então sorriu.

─ Feliz aniversário para a mulher que eu amo. – Lauren sussurrou por fim, acariciando o rosto da menor e a fitando com um brilho no olhar. Ambas tiveram um dia cheio, mas, mesmo assim, o amor que uma sentia pela outra ainda permanecia ali no final do dia, refletido na troca de olhares. – Eu amo você, não esqueça disso.

Camila sorriu com a língua entre os dentes e entrelaçou suas mãos.

─ Eu amo você. – sussurrou, sorrindo acanhada. – Obrigada por me dar essa chance de fazê-la feliz.

─ Eu que tenho a agradecer por ter você comigo, Camz. Eu não sei se... Se conseguiria passar por tudo isso sem você. – mordeu o lábio com força, encarando os olhos castanhos à sua frente. – Eu sei que, bem... Eu sei que como nós acontecemos foi um pouco confuso, tudo se intensificou rápido demais, mas... Eu não me arrependo de nada.

─ Eu até diria que meu único arrependimento foi não ter revelado a você os meus sentimentos logo, mas... – deu de ombros. – Eu acho que tudo acontece no momento certo. Digo, você e eu e... – sorriu contida, brincando com suas mãos entrelaçadas. Ela corou um pouco, o que fez Lauren sorrir e abraçá-la mais forte.

─ E o quê?

─ E, bem... A nossa pequena família, eu acho.

Lauren sorriu diante aquilo, beijando a têmpora da menor e a fitando com carinho. Ela tocava a barriga de Camila com a ponta dos dedos distraidamente, fazendo círculos.

─ Você, eu, Alicia e esse pequeno... – sorriu. – Eu gosto de como isso soa.

─ Eu também. – ela também sorriu, aproximando suas bocas novamente para então uni-las mais uma vez.

Aquele mês tinha sido longo e complicado. Aquele provavelmente era o primeiro momento descontraído que as duas compartilhavam, tudo porque um medo a menos foi tirado de seus ombros. O simples fato de saber que Alicia tinha acordado do coma induzido, que poderiam ficar em paz sabendo que, quando a menina adormecesse ela acordaria em algum momento... Isso era um alívio para elas.

Felizmente, o momento de estendeu até horas mais tarde quando as duas comemoraram o aniversário de Camila com um cupcake ali mesmo na lanchonete do hospital. E, quando Camila soprou a pequena vela de olhos fechados, seu único desejo foi que tudo ficasse bem.

Com seu filho, e, principalmente, com aquela garotinha no andar de cima que ela amava como se fosse sua filha.

Ela esperava que as próximas semanas fossem melhores, por mais que soubesse que os desafios estavam apenas no começo.

 

x-x-x

 

Infelizmente, as semanas seguintes não foram das melhores.

Com a medicação alta e estando constantemente dormindo na maior parte do tempo, o humor de Alicia durante seus poucos períodos acordada só piorava cada dia mais. A menina não gostava de ficar dormindo o tempo todo, não gostava de sentir-se cansada sempre que estava acordada, não gostava de estar ali de novo.

Cerca de duas semanas e meia após acordar do coma, as visitas a menina foram permitidas com algumas restrições e horários. No entanto, Alicia nunca queria ver ninguém. Aquela menininha sorridente, sempre feliz, aquela menininha não estava mais ali.

A psicóloga disse que era normal, infelizmente. Para uma criança elétrica como Alicia era, mudar drasticamente assim nunca era fácil. Mesmo que ela já estivesse acostumada em estar ali, com sua situação e tudo o mais, nada era como na sua primeira internação. Antes, Alicia tinha forças para sorrir, forças até mesmo para abraçar sua leoa de pelúcia, e já agora... Agora, até mesmo respirar doía para a menina. Ela usava da respiração artificial agora, e, na verdade, quase todas as funções básicas do corpo de Alicia estavam funcionando com ajuda artificial. Ela estava constantemente cansada, as dores nunca realmente iam embora e seu pequeno corpo estava usando de todas as suas energias extras para mantê-la funcionando.

E o pior de tudo era que Alicia não queria se sentir assim, porque as pessoas têm de sorrir um pouco para aquecer a alma. Mas ela simplesmente não conseguia sorrir, mesmo que sua mommy e sua titia Camz estivessem sempre tentando fazê-la ficar bem.

Agora, por exemplo, sua titia Camz contava uma história para ela com o livro descansando na grande barriga de sete meses e meio dela. Sua mommy precisou resolver algumas coisas fora do hospital, e era por isso que ela não estava ali agora.

─ Essa história é chata. – Alicia murmurou impaciente, respirando com cuidado. – Eu não quero mais histórias.

Camila parou de ler e olhou interrogativamente para a menina, arqueando uma sobrancelha.

─ Você adora histórias, Licie. E sua psicóloga disse que...

─ Eu não quero! – a menina exclamou um pouco mais alto, surpreendendo a tia e até ela mesma. Um bico formou-se em seus lábios rachados e lágrimas acumularam-se em seus olhinhos, ela iria chorar de novo. – De-esculpe, ti-tia Camz...

─ Hey, hey! – Camila deixou o livro de lado e aproximou-se mais da cama, tocando o rosto da menina e enxugando algumas lágrimas que já manchavam sua pele pálida. – Não chore, querida. Está tudo bem, ok? Eu não estou zangada com você. Não precisa chorar, bolinha.

E-eu quero a mo-ommy!

─ Ela não vai demorar, pequena...

A latina olhava receosa para a menina, sem saber como confortá-la. Alicia não era uma criança de birras ou de gritar com os outros, sempre foi muito educada e obediente. Obviamente, a doença havia a mudado.

Camila só tinha de aprender a lidar com essa nova versão da menina.

─ Você quer que eu cante? – sugeriu, vendo que isso já funcionou outras vezes. – Eu sei que gosta de música.

Alicia, ainda chorando, apenas assentiu e virou o rosto olhando para a janela do quarto. As lágrimas ainda manchavam seu rostinho, e ela sentia uma dorzinha em seu coração por estar desse jeito.

Camila umedeceu os lábios, pensando em o que cantar. Ela segurou a mão da menor com carinho, tomando cuidado para não tocar no acesso preso ao braço da menina, e então respirou fundo antes de começar a cantar calmamente.

Somethin' in your eyes, makes me wanna lose myself

(Alguma coisa nos seus olhos, faz com que eu queira me perder)

Makes me wanna lose myself, in your arms

(Faz com que eu queira me perder nos seus braços)

There's somethin' in your voice, makes my heart beat fast

(Tem alguma coisa na sua voz que faz meu coração dispara)

Hope this feeling lasts, the rest of my life

(Espero que este sentimento dure pelo resto da minha vida)

 

If you knew how lonely my life has been

(Se você soubesse como minha vida tem sido solitária)

And how long I've been so alone

(E há quanto tempo estou tão sozinha)

And if you knew how I wanted someone to come along

(Se você soubesse o quanto eu queria que alguém)

And change my life the way you've done

(E mudasse minha vida do jeito que você mudou)

 

It feels like home to me, it feels like home to me

(E eu me sinto em casa, eu me sinto em casa)

It feels like I'm all the way back where I come from

(Parece que eu voltei todo o caminho de onde eu vim)

It feels like home to me, it feels like home to me

(E eu me sinto em casa, eu me sinto em casa)

It feels like I'm all the way back where I belong

(Parece que estou de volta para onde pertenço)   

 

A window breaks, down a long, dark street

(Uma janela quebra na rua escura)

And a siren wails in the night

(E uma sirene toca na noite)

But I'm alright, 'cause I have you here with me

(Mas estou bem, porque tenho você aqui comigo)

And I can almost see, through the dark there is light

(E quase posso ver que há uma luz em meio à escuridão)

 

Well, if you knew how much this moment means to me

(Se você soubesse o quanto este momento significa para mim)

And how long I've waited for your touch

(E quanto tempo esperei pelo seu toque)

And if you knew how happy you are making me

(E se você soubesse o quanto está me fazendo feliz)

I never thought that I'd love anyone so much

(Nunca pensei que amaria alguém tanto assim)

 

It feels like home to me, it feels like home to me

(E eu me sinto em casa, eu me sinto em casa)

It feels like I'm all the way the back where I come from

(Parece que eu voltei todo o caminho de onde eu vim)

It feels like home to me, it feels like home to me

(E eu me sinto em casa, eu me sinto em casa)

It feels like I'm all the way back where I belong

(Parece que estou de volta para onde pertenço)

It feels like I'm all the way back where I belong

(Parece que estou de volta para onde pertenço)

 

Quando Camila terminou de cantar, pensou encontrar Alicia adormecida, mas deparou-se com os olhos verdes – quase azuis devido ao choro – a encarando com uma expressão bem... Diferente. Intensa, por assim dizer. A menina piscou algumas vezes e olhou para a sua mão, que estava entrelaçada a de Camila, mordendo o lábio de forma receosa.

Seu olhar, por fim, descansou na barriga da mais velha que estava protegida pela blusa de lã. Ela a encarou por mais algum tempo, para então voltar a fitar os olhos castanhos de sua tia, que a encarava com um olhar confuso.

─ Ele tem medo. – murmurou com a voz um tanto quanto falha, rouca.

Camila arqueou uma sobrancelha e encarou a menina ainda mais confusa, porém, ela não deixaria Alicia fugir do assunto como antes. Das outras vezes que Alicia falava coisas assim, a menina sempre desconversava, mas agora... Agora Camila tentaria tirar um pouco mais da mais nova, sem aborrecê-la é claro.

─ Ele está com medo? – perguntou, usando uma voz suave para não perturbar a pequena. – Está falando de seu irmãozinho, querida?

─ Ele tem medo por mim. – a menina continuou em seu monólogo, seus olhos brilhando enquanto falava. – Titia Camz, acha que vai doer quando quebrar?

─ Quebrar o quê?

Alicia mordeu o lábio e puxou o ar para os seus pulmões com cuidado, fechando os olhos por fim. Ela fez uma careta, mas continuou a falar ainda de olhos fechados.

─ A mommy tinha dois corações, um deles foi embora. – continuou. – Mas ele continua aqui com nós duas, mas vai quebrar logo. Eu sei que vai, mas tenho medo também porque pode doer.

─ Alicia... O que você quer dizer com isso, bolinha? Está falando sobre quem exatamente?

Camila agora estava preocupada. O que Alicia queria dizer com tudo aquilo? Aquela conversa estava mais do que estranha, a menina parecia distante enquanto falava e séria ao mesmo tempo, mas também emotiva.

─ Titia Camz?

─ Sim, querida. Estou aqui, não se preocupe.

─ Dói. – sussurrou, levando a mão até seu estômago e fazendo uma careta chorosa. – Dó-oi mu-iuito... Po-or favo-or...

Mas Camila não teve tempo falar algo. Em questão de segundos a menina, de repente, começou a gritar e debater-se fazendo as máquinas que estavam ligadas ao seu corpo apitarem em sinal de alerta. Camila afastou-se rapidamente da cama, olhos arregalados e assustada, já sentindo seu coração acelerado.

Rapidamente a porta do quarto abriu-se de uma vez e duas enfermeiras entraram, uma delas se dirigindo à uma Camila em estado de choque.

─ A senhorita precisa sair! – pediu, segurando gentilmente os braços de Camila e a guiando para longe.

─ Mas, eu.... – Camila olhou para Alicia. – Eu preciso ficar com ela!

─ Ela precisa ser atendida agora, senhorita. Não pode ficar aqui.

A enfermeira arrastou Camila até o lado de fora, deixando-a no corredor sozinha. A nova-iorquina recostou-se na parede e passou a mão pelos cabelos, tentando acalmar sua respiração e pulsação. O que estava acontecendo com Alicia? Ela só... Ela estava bem, e no segundo seguinte começou a gritar e chorar... Como... Merda, Camila! Nem ligar para Lauren ela podia, porque seu celular ficou no quarto!

E Alicia... Sua pequenina, ela parecia com tanta dor!

A latina choramingou, afundando o rosto nas mãos. O bebê estava chutando bastante, devido ao estado de Camila, mas ela se recusava em sair dali. Não deixaria Alicia, prometeu que não sairia de perto dela.

Camila ergueu o olhar apenas quando ouviu passos apressados no corredor, era Anne. A médica pareceu não notá-la, entrando no quarto de Alicia e deixando Camila sozinha mais uma vez. Mas, a médica não demorou muito no quarto, logo saindo de lá com uma das enfermeiras deixando a outra no quarto com Alicia.

─ Anne! – Camila gritou pela médica, fazendo-a parar e só então dar-se conta de sua presença. Com toda a rapidez que sua barriga de sete meses e meio permitia, Camila foi até a médica e encontrando no meio do caminho.

─ Camila, o que faz aqui? Você precisa ir para a sala de espera! – Anne segurou no braço da latina e apontou para a porta no final do corredor.

─ Eu preciso saber o que está acontecendo com Alicia!

─ Alicia apresenta espasmos musculares no estômago. Em uma situação comum não provocaria alarde, mas no caso de Alicia precisamos estabilizar essas contrações ou a dor pode ser insuportável.

─ Ah, meu Deus! – Camila levou a mão até a boca, parando de andar. – Ela... Ela estava com tanta dor e... – virou-se para a médica, segurando em seus ombros. – Ela vai ficar bem, certo?

─ Alicia está sendo medicada agora, Camila. Esperamos que os espasmos sejam temporários, caso contrário terei de alterar parte da medicação dela. – Anne suspirou e olhou para o corredor. – O quadro de Alicia não apresenta evolução adequada, Camila. E não podemos fazer nada além de tentar controlar a situação e esperar. – outro suspiro da médica, colocando a mão no ombro de Camila e apontando para a porta de saída do corredor. – Vá e espere lá fora. Você já teve stress o suficiente por hoje, tente acalmar-se. – apontou para a barriga da latina. – Esse garotinho ainda precisa de você calma.

Automaticamente, Camila segurou sua barriga de forma protetora. Anne estava certa, todo aquele stress não fazia bem para o bebê e ela precisava acalmar seus nervos agora. Arizona, sua obstetra, aconselhou-a a passar menos tempo no hospital e descansar mais. O problema era que ela não conseguia evitar, ela se importava demais com Alicia para ficar longe da menina e sabia que, se ficasse no apartamento ou na Cabello’s sem notícias do que acontecia no hospital, seu stress pioraria.

Mas, Anne e Arizona estavam certas. Ela tinha de pensar em seu filho também, e o melhor era tentar acalmar-se e procurar não estressar-se mais.

─ Você está certa. – suspirou, preocupada. – Mas, Alicia... Ela precisa de mim, entende? Eu... – fungou, massageando a têmpora e respirando fundo. – Eu prometi a ela que não sairia do seu lado.

─ Alicia irá dormir por um tempo agora, Camila. Ela ficará bem, posso garantir isso.

─ E se os espasmos voltarem?

─ Com a medicação que estamos fornecendo a ela, eles não voltarão por um bom tempo. Mas tenho de ser sincera com você, eles podem retornar sim em algum momento, mas não agora. – sorriu compreensiva e apontou novamente para a porta. – Vá e espere. Beba um chá, coma alguma coisa. – sorriu mais largamente, por mais cansada que a médica estivesse. Dois plantões seguidos e aqui estava ela ainda, pronta para salvar vidas de seus pequenos pacientes. – Um chá de camomila deve servir.

─ Pode... – a latina fechou os olhos e os apertou, tentando controlar seus nervos ainda alterados. Ela apontou para o final do corredor onde ficava o quarto de Alicia. – Pegar meu celular, pelo menos? Eu preciso avisar a Lauren.

─ Claro, espere aqui.

Ela observou enquanto a médica ia até o quarto de Alicia, aproveitando para pensar em toda aquela situação. Em o que acabou de acontecer, e também em sobre o que Alicia estava falando antes de tudo acontecer. Não era a primeira nem segunda vez que a menina falava de um jeito estranho, nunca se explicando e sempre fugindo do assunto quando era descoberta. Camila tinha sim uma ideia do que poderia ser, mas nunca comentou com ninguém ou com Lauren sobre, até porque a morena já vinha passando por tanta coisa e não queria aborrecê-la ainda mais.

Porém, agora... Talvez, fosse melhor que Camila falasse com alguém sobre aquilo. Só que não agora. Agora, ela só desejava que sua bolinha ficasse bem. Pensaria sobre esse outro assunto depois.

 

x-x-x

 

Mas os dias seguintes continuaram sendo complicados para Alicia. Os espasmos estomacais persistiram, e Anne teve de aumentar a dosagem do medicamento que anestesiava a dor para a menina. O que significava que Alicia continuava fadigada, passava pouco tempo acordada, e nesse pouco tempo sempre tinha de fazer exercícios para os músculos e consultas com a psicóloga.

E com tudo isso acontecendo, e sabendo da preocupação da latina para com a menina, Lauren pediu para que Camila ficasse mais em casa para evitar mais stress. Ela sabia que a latina seria relutante, sabia que Camila não queria sair do seu lado, mas com a gravidez em um estado já avançado Camila vivia constantemente cansada e com dores no corpo. Era melhor para ela ficar em casa e descansar, mesmo contra a sua vontade. Claro que ela ainda vinha ao hospital, mas ficava por pouco tempo e logo ia para casa. Até mesmo ela estava percebendo que seu corpo exigia um descanso maior agora que ela estava entrando no oitavo mês de gestação.

Agora, por exemplo, Camila saiu do apartamento apenas porque tinha consulta com sua obstetra. Era uma das últimas ultrassonografias de seu filho, e Lucy a acompanhava já que Lauren não podia sair do hospital agora. Camila não reclamava, no entanto. Ela compreendia que Alicia era prioridade no momento, ela mesma queria estar lá com ela agora, mas precisava saber se seu filho estava bem. O pequeno vinha estando bem agitado nos últimos dias, provocando dores nas costas da latina, mas isso era normal no estado em que ela estava.

─ Obrigada mais uma vez por me acompanhar, Lucy. – Camila sorriu em agradecimento para a sua cunhada, que estava bem distraída olhando as diversas fotos dos estágios da gravidez espalhadas pelo consultório. Lucy virou-se para ela com um sorriso tímido e deu de ombros.

─ Hum, é, não precisa agradecer. – sorriu. – Você é minha cunhada, então...

─ Mesmo assim, você tem sido uma boa companhia nos últimos quatro meses e eu sou grata por isso.

Lucy corou, baixando o olhar e mordendo o lábio um pouco sem jeito.

─ Vocês são minha família. – disse. – Eu passei muito tempo privada de cuidar da minha irmã, como fazia quando antes, e... Bem, eu não quero perder isso agora que a tenho de volta.

─ Falando em família... – Camila sentou-se e espiou para ver se a Dra. Arizona estava vindo, feliz por não avistá-la. Lucy voltou a analisar as imagens distraidamente, e Camila aproveitou para abordar um assunto que ela vinha enrolando por bastante tempo. Oito meses, para ser exato. – Você notou alguma coisa fora do normal em Alicia quando ela estava em casa?

A irmã de Lauren parou o que estava fazendo e virou-se de uma vez, encarando Camila com um olhar confuso.

─ Fora do normal? – perguntou, arqueando uma sobrancelha. – Eu não sei se entendi direito a sua pergunta, Camila. Está querendo saber se Alicia...

─ Você falou sobre o MJ para ela? – interrompeu-a, soltando logo aquilo de uma vez. O cenho de Lucy franziu mais ainda e ela olhou para Camila como se a latina estivesse bêbada ou algo parecido.

─ A primeira coisa que a Lo me pediu foi para não falar sobre nada que envolvesse o nosso passado, Mila. Alicia não sabe sobre o Mikey, isso é algo que apenas Lauren tem o direito de falar sobre.

A nova-iorquina jogou as mãos para o alto e exclamou.

─ Sim! Exatamente! – grunhiu, frustrada. Deitou-se novamente na maca e suspirou. – Alicia não sabe sobre o irmão gêmeo da mãe, não diretamente.

─ Eu sinceramente estou tentando entender onde você quer chegar com essa conversa, mas...

E foi então que Camila contou tudo, todas as suas desconfianças e observações que fez sobre o comportamento de Alicia nos últimos meses. Contou sobre como a menina sempre se referiu ao bebê como “ele”, mesmo quando ainda não sabiam o sexo. Falou sobre o colar de Lauren, é claro. E também sobre as diversas vezes que Alicia mencionou que Camila iria salvar ela, e pedia para que a tia cuidasse bem “dele”. E sobre a última experiência que tiveram duas semanas atrás, quando Alicia falou que Lauren tinha dois corações, mas que um ainda estava ali com elas. E com o “elas”, Alicia se referia a Camila e ela.

Lucy ouviu tudo atentamente, e quando Camila terminou de falar ela permaneceu em silêncio. Aquilo não seria possível, certo? Por mais que viesse de uma família extremamente religiosa, Lucy tinha suas próprias crenças e reencarnação era uma delas. Mas... Mas, era algo que envolvia a si mesma e a seu passado agora. Seu irmão, seu MJ. Mikey morreu há apenas sete anos, era um tempo muito curto para voltar assim dessa forma, no entanto...

No entanto, a ligação entre Mikey e Lauren sempre foi algo que Lucy admirou bastante. Era algo que ia além de irmão gêmeo para outro, era o tipo de ligação entre almas que carregava uma aura extremamente poderosa. No dia em que MJ morreu, Lucy viu Lauren em um estado de desespero e torpor que chegava a doer o coração. O fio que ligava sua alma ao do irmão gêmeo havia quebrado bruscamente, e aquilo era uma dor nunca superável.

Mas, Lauren conseguiu seguir em frente e construir uma família e novos amigos. E ela conseguiu tudo isso porque...

─ Ele nunca a abandonou. – sussurrou, segurando o colar em seu pescoço. Era um colar especial, Mikey havia a presenteado no mesmo dia em que deu suas iniciais para a irmã gêmea. Só que, no colar de Lucy, havia uma pequena foto dos três irmãos Jauregui. Mikey, Lauren e ela. Não que MJ desprezasse Taylor ou Chris, era apenas que os três Jauregui’s mais novos cresceram juntos e tinham uma ligação mais forte para com os outros.

─ Você está pensando o mesmo que eu, não é? – Camila intercalou o olhar entre sua cunhada e a protuberância em sua barriga. Ela a tocou com carinho, porém, com um pouco de medo e devoção também. – Eu não sei se acredito nesse tipo de coisa, mas... Eu sinto algo diferente, eu não sei.

─ Diferente como?

Infelizmente, elas foram interrompidas quando a obstetra de Camila entrou na sala para iniciar o exame da latina. Com uma troca de olhares, as duas decidiram que terminariam aquele assunto mais tarde e então focaram em saber como o pequeno Jauregui estava.

Com uma ultrassonografia em 3D, os contornos e características do filho de Camila eram bem mais perceptíveis. O nariz minúsculo e a boquinha – que Camila insistia que parecia com a de Lauren – e todos os pequenos detalhes que faziam de seu bebê perfeito como ele era.

─ Ele está um pouco agitado hoje. – a Dra. Arizona sorriu e apontou para o monitor onde a imagem do bebê se encontrava. Ela olhou para Camila com uma sobrancelha arqueada e um sorriso de canto. – Acho que temos uma mamãe um pouco estressada hoje, mais uma vez.

─ Não me culpe por isso, eu tento me controlar. – suspirou. – Mas, sinceramente, a situação não é das melhores.

─ Você teve sorte de sua gravidez estar sendo saudável e sem problemas extras, Camila. Os motivos para complicações durante todos os trimestres foram enormes, mas de alguma forma você conseguiu passar por tudo sem dores de cabeça maiores.

A médica limpou a barriga de Camila e fez sinal indicando que terminaram o processo.

─ Irei coletar seu sangue para confirmar que está mesmo tudo bem e que teremos um bom parto em breve. Está com 34 semanas e a gravidez pode se estender até as 42, mas como sabe podemos ter surpresas antes desse prazo finalizar.

─ O parto está previsto para o início de Maio, certo?

─ Sim, mas temos de estar prontos para tudo até lá. Podemos receber esse rapazinho no final deste mês ainda, estamos dependendo apenas dele agora.

─ Final desse mês? – o tom de voz da latina aumentou no final da frase, indicando sua surpresa. – É muito cedo ainda, Arizona! Eu nem terei completado os nove meses ainda! Ele... Ele não estará pronto!

─ Seu bebê sabe a hora para nascer, Camila. Claro que não queremos um parto prematuro, mas temos que estar prontas para tudo agora. Um bebê geralmente nasce entre a 38ª semana de gestação à 40ª semana, mesmo que o tempo médico previsto para uma gestação seja de 42 semana como eu já mencionei. – Arizona entregou a ficha para que Camila fosse até a sala onde tirariam seu sangue. – Aqui, já sabe o que fazer.

Arizona notou a hesitação de sua paciente, mas já estava acostumada com os temores de mães de primeira viagem. Ela sorriu gentilmente para Camila e segurou as mãos da nova-iorquina.

─ Camila, querida. É normal se sentir ansiosa cada vez que a data do parto se aproxima, ainda mais no seu caso que a gravidez foi tão aguardada. – a médica fez questão de passar toda a segurança para a latina através daquelas palavras, e também de seu olhar. – Não se preocupe, ok? Você e seu bebê estão em boas mãos. E, além do mais, como sua gravidez foi saudável e bem aproveitada, posso garantir que não teremos problemas quando esse rapazinho resolver nascer.

─ Eu sei, e obrigada. – Camila sorriu sem jeito, trocando olhares com Lucy que também sorriu para reconfortá-la. – Eu só estou nervosa, apenas isso. É tudo... Novo para mim, eu acho. Eu não sei o que esperar ou o que irá acontecer.

─ Como eu disse, é normal sentir-se assim. Mas, se quer um conselho, fale com Lauren. – piscou para a latina e sorriu. – Ela já passou por uma gravidez e sabe como você está se sentindo. Diga suas dúvidas para ela, procure ser sincera com seus medos e garanto que ela responderá tudo com prazer.

─ Claro. – sorriu. – Obrigada, Arizona. Por tudo, sério!

─ Não por isso.

Camila sorriu em agradecimento mais uma vez, seguindo então para a sala onde faria o exame de sangue.

Pouco tempo depois, Camila e Lucy agora seguiam até o hospital para ver Lauren e Alicia. Elas não falaram mais sobre o assunto de antes da consulta de Camila começar, e a latina tinha de admitir que achava melhor assim. Seu dia havia sido longo e ela precisava descansar e focar em seu filho agora, que em breve estaria em seus braços.

Ok, isso era um pouco assustador. Pensar quem em poucas semanas ela seria oficialmente mãe... Puta que pariu! Como ela faria isso? Como seria o parto? Deus! O bebê sairia da sua vagina e alargaria tudo!

¡Madre de Dios!

Ela será mãe! Ela… Ela será mãe com Lauren, as duas seriam oficialmente mães desse pequeno serzinho que Camila estava carregando há oito meses e… Nossa! Era uma loucura pensar que em breve o filho dela estará em seus braços, o bebê tão aguardado por ambas. A criança que salvará a vida de Alicia, e os dois compartilharão mais do que uma ligação sanguínea. Camila tinha certeza que aqueles dois serão inseparáveis, ela sentia isso.

Era final de tarde quando Camila e Lucy chegaram ao hospital. Aproveitando que Alicia estava dormindo, Lauren deixou Lucy com a filha e foi com Camila até a lanchonete do grande prédio. Ela se sentia mal por não ter acompanhado a namorada até a consulta com a obstetra, sabendo que aquela era uma das últimas consultas para saber como o filho delas estava. E mesmo que Camila falasse que não se importava com isso e que estava tudo bem, Lauren não deixava de sentir-se em falha com ela e com seu filho.

Elas estavam em uma área afastada da lanchonete, onde haviam algumas mesas rodeadas com sofás para fornecer mais conforto aos pacientes e parentes que passavam tanto tempo ali com seus pequenos. Camila tinha a cabeça descansando no ombro de Lauren, que a abraçava pela cintura e tinha suas mãos entrelaçadas. Ambas pareciam cansadas, mas por motivos diferentes.

─ Tem certeza que está tudo bem com os dois? – a morena perguntou, beijando os cabelos da latina e inalando o aroma adocicado dos mesmos. – Eu me sinto mal por não estar lá com vocês.

─ Eu já disse que está tudo bem, Lo. Não se preocupe, ok? Eu entendo você e seus motivos para não estar lá. – deu de ombros. – E era apenas mais uma consulta, e está tudo bem como nós dois. – o sorriso da latina vacilou e ela mordeu o lábio. Lauren percebeu sua repentina tensão, no entanto.

─ Algum problema? – Lauren arqueou uma sobrancelha, afastando-se apenas para poder ter uma visão da menor. Aqueles olhos castanhos não conseguiam disfarçar quando algo a incomodava, pelo menos não para Lauren. – Está preocupada com alguma coisa. – concluiu. – Pode falar comigo sobre o que for, Camz. Seja lá o que estiver perturbando essa sua cabecinha, pode falar para mim.

Camila respirou fundo e mordeu o lábio, hesitante. Ela não queria perturbar Lauren com seus problemas e inseguranças, mas sabia que Lauren não gostava quando não era sincera com ela. A morena a fez prometer que Camila compartilharia tudo com ela, suas inseguranças sobre a gravidez e também sobre como Camila se sentia com tudo o que estava acontecendo com elas. Ela deveria ser sincera, então...

─ Eu estou com medo. – confessou em um sussurro, seu olhar desviando da morena e fitando suas mãos entrelaçadas.

─ Você pode ser mais específica que isso, babe. – Lauren afastou algumas mechas do rosto da menor, sorrindo de canto para ela. – Está com medo de...

─ De tudo, eu acho. Do parto, de como vai ser tudo e... Se eu serei uma boa mãe, eu não sei.

─ Sobre o parto, eu posso garantir que você saberá o que fazer na hora. É instintivo, Camz. – a morena agora segurava o rosto da nova-iorquina com uma das mãos, a outra descansando na barriga da menor. Ela sorriu. – E sobre o resto... Camila, acha mesmo que eu teria me virado tão bem com Alicia nos últimos seis anos e meio sem a ajuda de vocês? Das meninas e da sua ajuda, principalmente? Mani foi importantíssima nos três primeiros anos de Alicia, me ajudando com ela enquanto dividíamos apartamento, e você... – beijou seu rosto, finalizando com um beijo rápido em seus lábios. – Você foi extremamente importante para Alicia nos últimos três anos e meio, Camz. Me ajudou a fazer daquela menininha o que ela é hoje.

─ Eu sei, mas...

─ Mas você não percebe o óbvio, boba. – Lauren pausou apenas para acariciar a barriga da namorada, segurando uma das mãos de Camila e a levando até lá, colocando sua mão por cima da dela. – Você já carrega os instintos maternos muito antes desse bebê sonhar em ser algo real, Camila. Você sempre cuidou de Alicia como se ela fosse sua, sempre a colocou em primeiro lugar e isso é algo que apenas uma mãe é capaz de fazer. E quer saber a maior prova de que isso tudo que estou falando é verdade? – a morena apertou suas mãos unidas, que descansavam na barriga da latina, sorrindo para ela. – Você se dispôs a carregar uma vida, apenas porque teríamos uma chance de salvar Alicia. Isso não é algo que muitos fariam.

─ As garotas também se ofereceram...

─ Sim, eu sei. Mas isso foi depois, você não pensou duas vezes assim que soube que seria preciso fazer isso. E Deus sabe como eu amo você por isso, Camz! Como eu amo você por amar minha filha, por cuidar dela assim como eu cuido.

Lauren, então, levou a mão de Camila até seus lábios deixando um beijo casto ali. Camila fungou e sorriu, apoiando a cabeça contra a sua.

─ Eu simplesmente amo você, Camila. E sou eternamente grata por tê-la comigo, por você ter me escolhido para ser o seu amor.

─ Deus! Você está me fazendo chorar aqui, idiota!

Ambas riram, e Lauren aproveitou para beijá-la mais uma vez. Haviam olheiras contornando os olhos verdes de Lauren, seu aspecto era cansado tanto física como emocionalmente, mas Camila ainda a achava a mulher mais perfeita do mundo acima de tudo isso. E era para ela. Lauren era perfeita para ela, assim como ela era perfeita para a morena. Simples assim.

─ Eu te amo. – a menor murmurou, descanando a cabeça contra a da mais velha. – E estou aqui para você também, não esqueça disso.

─ Eu sei.

─ Você precisa descansar, Lo. Há dias que não tem uma boa noite de sono, eu sei bem disso.

─ Eu simplesmente não consigo descansar sabendo que minha filha pode acordar gritando com dores a qualquer momento, Camz. Mesmo que eu queira, eu simplesmente não consigo. – suspirou pesarosamente. – Eu não sei o que fazer para que ela melhore, não sei como agir quando ela chora dizendo que está cansada das dores. Quando ela me implora para fazer a dor ir embora, é... É como se meu coração fosse quebrado cada vez que isso acontece.

Essa última parte fez com que Camila abrisse os olhos largamente, fazendo-a recordar de sua conversa de mais cedo com Lucy. Ela deveria falar com Lauren também sobre isso? Talvez, fosse melhor esperar. A morena já estava sobrecarregada demais, exausta demais para mais aquilo.

E foi por isso que Camila não tocou mais no assunto, até mesmo evitou pensar sobre nos dias que se seguiram. Era melhor assim, a latina concluiu para si. Talvez, no final, tudo não passasse de bobagens de sua cabeça.

Mesmo que Lucy também pensasse o mesmo que ela sobre isso.

 

x-x-x

 

Alguns dias se passaram após a conversa do casal, e a situação clínica de Alicia só vinha piorando gradativamente. Mesmo que Anne tivesse dado o prazo de um ano e meio para a menina, era inevitável a falha no pré-diagnóstico em casos de doenças degenerativas graves como a de Alicia era. Infelizmente, o tempo sempre foi o inimigo número um da menina.

Lauren não saia mais do hospital agora, queria estar sempre presente para a filha mesmo que Alicia passasse boa parte do tempo desacordada. Ela, agora, tinha os olhos fixos na cama de hospital, que parecia grande demais para aquele quarto. Assim como a sua filha parecia pequena demais para a aquela cama... Para aquele lugar como um todo, na verdade.

A morena suspirou, levantando-se daquela poltrona onde se encontrava desde cedo, e caminhou até a cama onde sua pequena Alicia estava dormindo. Alicia não teve um dia bom, o que significou doses extras de remédios para dor. Isso a fez dormir praticamente quase todo o restante do dia, mas Lauren achava melhor assim. Ela sentia falta da voz sempre alegre de sua filha, claro. Mas era melhor vê-la descansar, que ver aquele olhar de quem estava sofrendo. Alicia era muito pequena para carregar um olhar desses.

─ A dor logo vai passar, meu anjinho. – murmurou, passeando os dedos vagarosamente pelas mechas castanhas do cabelo da filha. A franja de Alicia estava um pouco grande, mas a menina se recusava em cortá-la. – Logo seu irmãozinho estará aqui, e vai trazer sua cura com ele. – só mais um pouquinho, pensou em um suspiro doloroso e melancólico.

A morena deixou seus olhos passearem pelas feições abatidas de sua filha. Os dois pequenos fios presos em seu nariz, fornecendo o oxigênio que o corpo de Alicia não conseguia suprir sozinho. Os diversos fios presos nos bracinhos de sua pequena, garantindo os sinais vitais dela. E o tubo que fornecia alimento para Alicia, já que a mesma não podia mais se alimentar de coisas sólidas... O corpo de Alicia estava desistindo, ela sabia disso. Sentia que as chances de sua filha estavam diminuindo cada vez mais.

Lauren já estava sentindo aquele conhecido aperto em sua garganta, indicando o consequente choro. E quando deu por si, seu rosto já estava banhado por lágrimas, e seu coração doía como um inferno.

─ Você não pode desistir, boo. – sussurrou, tocando as bochechas pálidas demais de sua pequena. – Alicia e a mamãe contra o mundo, lembra? – tentou sorrir de forma fraca, mas apenas um soluço escapou de sua garganta antes que mais lágrimas voltassem a cair sem pudor. – Eu não posso enfrentar o mundo sem você, meu amor.

A morena deixou sua cabeça cair contra o colchão da cama de hospital, soluçando baixo e chorando seus medos. Chorando suas inseguranças, chorando suas dores por ver sua filha naquele estado. Doía vê-la assim, doía não poder fazer mais para ela. Mas ela entendia que não podia realmente fazer nada, apenas esperar que tudo ficasse bem no final.

Lauren sentiu algo tocar seus cabelos, fazendo-a erguer a cabeça de uma vez e enxugar rapidamente o rosto quando viu que sua filha estava acordada.

─ Oi, meu amor. – tentou sorrir para disfarçar, mas Alicia continuava apenas a encarando-a com um pequeno vinco em sua testa. – Está sentindo alguma coisa?

─ Não chora. – a menina murmurou com a voz rouca.

─ Eu não estava... – Lauren procurou mais uma vez limpar os vestígios de lágrimas do seu rosto, praguejando em silêncio por ter sido pega chorando por sua filha. Odiava vê-la preocupada com ela. – Eu estou bem, não se preocupe.

─ Não . – Alicia fechou os olhos e respirou fundo, para então voltar a abri-los e fitar a mãe de forma intensa. Ela tocou o rosto de Lauren, manchado pelas lágrimas de antes. – Tá... Tudo bem, mommy. – outro suspiro. – Ele está chegando... Em breve.

─ Quem? – franziu. – Está falando de quem, querida? Seu irmãozinho?

─ Noah.

─ Noah? – Lauren piscou rapidamente e sentou-se de forma ereta, olhando para Alicia com a cabeça inclinada. – Noah é o nome que escolheu para ele?

A menina assentiu lentamente, fechando os olhos mais uma vez. Então, o vislumbre de um fraco sorriso nasceu em seus lábios pálidos.

─ Noah está chegando... Logo, logo.

A respiração de Alicia acalmou-se, a menina havia dormido mais uma vez. A medicação fazia isso com ela.

Lauren a fitou por mais algum tempo, velando seu sono calmo. Balançando a cabeça, a morena sorriu tristemente e inclinou-se para beijar o rosto da filha.

Noah.

Alicia tinha escolhido Noah para ser o nome de seu irmãozinho. Noah soava perfeito para Lauren, e ela tinha certeza que Camila iria amar o nome tanto quanto ela.

Noah e Alicia.

Duas partes de seu coração, que Lauren esperava ansiosamente pelo momento em que pudesse ter os dois em seus braços. Juntos e bem, como tinha de ser.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Notas Finais


E AÍIII COMO ESTAMOS? Tombados? Imagino que sim :)

E QUEM VOTOU EM NOAH NA ENQUETE ACERTOU, MIZERAVI!

O nome do bebê já tava escolhido desde que a fanfic era só um projeto, então não foi influenciado pela enquete. Apenas queria saber se vocês iam acertar, e, bem... Cês tombaram achando que ia ser Michael. FAFAVÔ NÉ GENTE ATÉ PARECE QUE EU IA COLOCAR MAIS UM MICHAEL NA HISTÓRIA -_-

EEEEEnfim, só queria dizer que o kit tombo pro próximo capítulo tem que ser preparado desde já, obrigada :)

Vejo vocês na próxima atualização, nenéns! E lembrem-se sempre de serem bons consigo mesmo.

Atéeee!


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...