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História How To Live Forever - Akai Ito


Escrita por: MaBelleLuna

Notas do Autor


OI, COOKIES ^^

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Boa leitura!

Capítulo 37 - Akai Ito


Fanfic / Fanfiction How To Live Forever - Akai Ito

Como viver eternamente?

Você deve estar pensado “Ninguém vive para sempre, então isso é impossível”, certo?

Errado.

As lembranças, elas são eternas. Elas passam por gerações e, mesmo que sofram modificações, as lembranças importantes nunca são esquecidas. Vivemos através delas.

Então, torno a perguntar: Como viver eternamente?

A resposta é: Apenas viva.

 

5th Avenue – NY, Cabello’s Building – April 10, 10:30 AM.

 

*Flashback On*

 

Às vezes, nossos pensamentos carregam grandes poderes. Às vezes, você pode desejar tanto algo que, um dia, esse algo venha a se tornar realidade.

No entanto, Lucy não acreditava muito nisso. Ou, talvez, ela realmente temesse que isso pudesse mesmo acontecer. Porque a garota de dezenove anos não conseguia compreender como era possível ela desejar tanto o mal a alguém, como era possível ela odiar tanto uma pessoa a ponto de desejar que algo ruim acontecesse com ela. Mas, esse era o problema. Lucy não queria odiar, não queria pensar coisas assim de alguém que... Alguém que, infelizmente ou não, era sua família.

Ela tentava não odiá-lo, tentava pensar que talvez fosse culpa dela, apenas por ela ter nascido já que nunca foi realmente desejada. Mas não era sua culpa a infelicidade dele, sua única culpa era ter nascido com algo que a ligava à ele.

Só que isso não fazia as recentes marcas em sua pele doerem menos. Marcas estas que ela tentava inutilmente disfarçar, para que seus irmãos não descobrissem e piorassem toda a situação. Ela sabia que a omissão era a porra de um erro, mas tinha a esperança de que um dia pudesse ir embora dali e livrar-se dessa merda toda que poluía a sua alma.

A garota riu, jogando mais uma pedra no rio. Ela nunca seria capaz de ir embora dali, não conseguiria abandonar seus irmãos e Clara. Nunca.

Era a porra de seu karma para sempre.

─ A misteriosa garota do rio.

Lucy girou o corpo, deparando-se com seu irmão caminhando até ela. MJ trazia aquele seu velho sorriso traiçoeiro de sempre, marca registrada dos gêmeos Jauregui, mas dessa vez um olhar preocupado vagava em sua expressão. Ele parou ao lado de Lucy e então pendurou-se na pilastra da ponte, sem temer escorregar e cair em algum momento.

Esse era uma das coisas que Lucy e ele tinham em comum, não temer o perigo. Era algo bom e ruim ao mesmo tempo.

─ O que faz aqui, Mikey? – perguntou, virando-se para frente e fitando o rio logo abaixo deles.

─ Estava procurando por você. – riu. – Mas já deveria saber que a encontraria aqui. – o rapaz de também dezenove anos rodopiou na pilastra perigosamente, fazendo o estômago de Lucy embrulhar com o medo dele escorregar e cair. – O que quero saber é, por que está aqui? Você só vem para cá por dois motivos: ou está triste, ou vai encontrar com a Lexie.

─ Alexa está viajando para um dos concursos de beleza. – murmurou.

─ O que nos leva a primeira opção.

─ Eu não estou... – virou-se bruscamente para o mais novo. – Você quer parar de girar nessa merda? Se você cair e quebrar o pescoço não venha colocar a culpa em mim.

Mikey riu e negou com a cabeça, rolando os olhos antes de sentar-se ao lado da menor e colocar um braço em torno dos ombros da irmã cobertos por um grosso moletom. Isso ocasionou em uma careta de dor em Lucy, mas ela desviou o olhar para que ele não percebesse.

─ O que aconteceu, LucyLucy?

─ Não aconteceu nada.

─ Mentirosa.

─ Idiota.

─ Touché.

Os dois riram, e Lucy se sentiu grata por seu irmão estar ali para distrair seus pensamentos. Mikey era um bom rapaz, apenas era confuso demais em alguns momentos.

Ou na maioria do tempo.

─ Mikey? – o rapaz murmurou um ‘hum’ indicando que ela continuasse. Mas, antes de tudo, Lucy gentilmente retirou o braço dele de seus ombros, esperando que ele não percebesse seu desconforto. – Para onde acha que vamos depois que morremos?

─ Que pergunta mais... Peculiar. – sorriu, para então deitar-se no apoio da ponte e olhar para o céu encoberto por pesadas nuvens escuras. – Eu não sei. Todos pensam diferente em relação a esse tema, creio eu.

─ O que você acha sobre, então?

─ Por que está me perguntando isso? Está pensando na sua mãe?

Lucy suspirou, jogando outra pedra nas águas claras do rio.

─ Talvez. – outro suspiro. – Eu só queria ter certeza que ela ainda está comigo, entende? Mesmo longe, ela ainda está aqui para me... Proteger ou algo do tipo.

─ E ela está. – Mikey levantou e a puxou pela cintura, colando seus corpos. E, mesmo que seu corpo estivesse machucado, Lucy se permitiu ser cuidada pelo irmão. Ela precisava disso naquele momento. – Ela nunca realmente foi embora, Lu. Sua mãe sempre estará com você, sempre fará parte de quem você é. – tocou o nariz da menor com a ponta do dedo, para então afastar algumas lágrimas que manchavam seu rosto. – Sua alma sempre terá um pedaço de sua mãe, Lucy.

─ Você acredita mesmo nisso, nesse lance de almas e tudo o mais. – não foi uma pergunta. Lucy percebia como o irmão falava convicto de suas palavras, certo do que dizia. MJ realmente acreditava que aquilo era possível. – Por quê?

─ Porque eu preciso acreditar, Lúcia.

Com a menção de seu nome original, Lucy rolou os olhos e bateu no braço do irmão, que apenas riu e continuou.

─ Sério. – o rapaz de olhos verdes suspirou e entrelaçou seus dedos, deixando seu olhar descansar nisso. – Eu preciso acreditar, porque eu prometi para a Lauren que nunca a deixaria. Uma vez, contei a ela sobre almas gêmeas e tudo o mais, que nós dois éramos a alma gêmea um do outro.

─ Eu lembro disso, foi quando você deu aquele colar para ela. – a morena puxou uma corrente presa em seu pescoço, expondo-a. – Foi quando você me deu este colar também, com a foto de nós três. – franziu. – Então, você realmente acredita que são a alma gêmea um do outro?

─ Yeap. – Mikey pegou uma das pedras da mão de Lucy e a jogou no rio, observando-a afundar. – Já ouviu falar de uma lenda chamada “Akai Ito”?

─ Fio vermelho do destino. – Lucy arqueou uma sobrancelha, fitando o rapaz. – Pensei que fosse para pares românticos e essa baboseira toda.

─ Akai Ito significa um fio que liga uma alma predestinada à outra. – apontou. – Almas que estarão ligadas para o resto da vida, não necessariamente de forma romântica. Quando uma pessoa, quando uma alma vem ao mundo, um fio invisível é amarrado nela, assim como na alma a qual ela será predestinada. – o rapaz umedeceu os lábios, viajando nas suas próprias palavras. – Eu encaro a lenda de uma forma mais profunda, uma alma pode estar ligada a outra de outras formas como um irmão e uma irmã, um melhor amigo a outro... O ponto de vista que escolhe. O fato é que eu sinto que minha alma sempre estará ligada à de Lauren, nós sempre carregaremos uma ligação além de irmãos gêmeos. – jogou outra pedra, dessa vez seus pensamentos estavam distantes. – Não importa o que aconteça, eu sempre irei cuidar dela e vice-versa. A ligação entre nossas almas é eterna, como as almas sua e de sua mãe biológica.

Eles ficaram um tempo em silêncio por um tempo, ambos pensando naquelas palavras tão puras e simples. Claro que Lucy não era muito de acreditar em ligação de almas e tudo o mais, mas Mikey falava de uma forma tão... Bonita e intensa, que era difícil não acreditar nisso também.

Por fim, Mikey virou-se e depositou um beijo na têmpora da meia-irmã, para então levantar. Lucy o fitou, confusa.

─ Onde você vai?

─ Falar com o Reverendo. – o rapaz de dezenove anos tinha uma expressão mais séria agora, o que não era um bom sinal.

Ele havia notado, Lucy concluiu. E foi por isso que ela também levantou e ficou de frente para ele, segurando em seus braços.

─ Você não pode falar com ele, MJ. Esqueça isso, ok? Eu... Eu estou bem.

─ Ele prometeu que não tocaria mais em você, Lucy. – Mikey apertou o punho com força, grande era a sua revolta. Desviou o olhar para que sua irmã não visse a fúria presente nele. – Vá para a cidade, ok? Fique longe até o final do dia. Vou pedir a Lauren para ficar com você. – suspirou. – Só me prometa que não aparecerá em casa até a noite.

─ O que você vai fazer? – como Mikey continuou em silêncio, Lucy segurou seu rosto forçando-o a encará-la. – Mikey, o que você vai fazer?

No entanto, Mikey não a respondeu. Ele apenas beijou seu rosto com carinho e apontou para o lado oposto da ponte, indicando que ela fosse para lá, para então deixá-la sozinha.

Lucy o observou sumir pelo caminho que levava até a casa deles, seus olhos novamente cheios de lágrimas agora. Lágrimas de medo pelo o que poderia acontecer, porque ela esperava tudo vindo do Reverendo Michael Jauregui. Porém, ela sabia que seu pai não tocaria em um fio de cabelo do filho de outro dele. O problema era o que ele faria com ela.

Mas, para a surpresa de Lucy, a partir daquele dia Michael nunca mais a castigou. Não até a morte prematura de seu irmão caçula, meses depois daquele dia.

 

*Flashback Off*

 

Lucy piscou algumas vezes, confusa com as lembranças que dominaram seus pensamentos tão de repente. Ela não entendia o motivo de ter recordado aquela lembrança em si, ou talvez entendesse sim...

A garota do Kansas ergueu o olhar de onde estava, deparando-se com a namorada de sua irmã focada em digitar algo no computador da empresa. A pedido da própria Camila, Lucy estava a acompanhando na Cabello’s para aprender como tudo funcionava por lá. O motivo? Lucy ajudaria a irmã de Camila durante todo o período que ela estivesse fora quando tivesse o bebê. A morena até que gostou sim da ideia, já não aguentava mais ficar sem fazer nada no apartamento e queria ser útil de alguma forma. Talvez, ali na Cabello’s, se encontrasse profissionalmente.

Mas isso não era seu foco no momento em questão, o foco era a lembrança que Lucy acabara de ter sobre seu irmão. Sobre o assunto que conversaram, na verdade. Assunto esse que vinha batucando na cabeça dela há algum tempo, desde sua conversa com Camila no dia da consulta médica da latina.

Sobre Alicia, e também sobre o sobrinho de Lucy que viria ao mundo dali algumas semanas. Sobre a ligação dos dois.

─ Se você continuar a me encarar assim, vou jogar esse grampeador na sua cara. – Camila murmurou sem parar de digitar, o que fez Lucy arregalar os olhos e corar, desviando o olhar.

─ Desculpe.

Camila riu, parando o seu trabalho e levantando com um pouco de dificuldade devido ao peso de sua barriga. Ela espreguiçou-se e então foi até o sofá onde Lucy estava, sentando ao lado da cunhada e jogando suas pernas sob as da mais velha. O gesto já não surpreendia Lucy, ela já estava mais do que acostumada com o jeito “invasivo” da nova-iorquina.

─ Você me lembra Lauren quando a conheci. – Camila sorriu, deitando-se no sofá ainda com as pernas jogadas nas da cunhada. – E é tão óbvia quanto ela. – apontou. – Vamos, diga logo o que a perturba. E nem venha me dizer que não é nada, porque eu sei que essa sua expressão pensativa demais significa algo.

─ Você me dá medo às vezes, sabia? – Lucy riu um pouco nervosa, para respirar fundo por fim e morder o lábio de forma hesitante. – Mas, sim... Tem algo que eu queria falar com você há algum tempo.

─ Vá em frente. Você tem até a minha bexiga me fazer correr para o banheiro como uma foca desesperada de novo. – a latina fingiu calcular o tempo nos dedos. – O que deve acontecer em dez minutos, levando em conta que pareço um balão furado que vaza com um maldito espirro.

Lucy riu, balançando a cabeça. Ela então respirou fundo, antes de finalmente olhar para Camila com um olhar mais sério.

─ É sobre aquele assunto que deixamos em pauta.

─ Assunto que deixamos em pauta? – Camila franziu, mas logo sua expressão suavizou-se. – Oh... Claro. – a latina sorriu um tanto quanto nervosa, usando os cotovelos para ajudar a levantar-se de forma que ficou sentada agora. – Bem, eu admito que isso vem sim mexendo comigo nos últimos tempos. Esse mistério todo que Alicia faz quando... É, quando... Fala do irmão, entende? Isso me assusta um pouco.

─ Eu tenho uma teoria sobre isso. – Lucy apoiou o queixo na mão, olhando para a mais nova, que parecia tensa. – Mas, vou esperar até o bebê nascer para falar sobre. Quero... Bem, quero ter certeza que estou indo pelo caminho certo.

─ Você vai me enrolar até ele nascer? – arqueou uma sobrancelha sugestivamente. – Então, por que estamos aqui falando sobre isso agora?

─ Porque eu queria saber se não estou sozinha com minha linha de pensamentos, por isso.

Camila pensou um pouco sobre, vendo que Lucy tinha um ponto. E, bem, ela estava certa. Não estava sozinha nisso, porque a latina há muito tempo vinha pensando sobre esse assunto e tinha de admitir que crer tanto a dava um pouco de medo. Ela até dividiria isso com Lauren, mas falar sobre o irmão gêmeo nunca foi um tem agradável para a sua namorada e Camila achou melhor esperar até tudo acalmar-se mais para tocar no assunto.

─ Ok. – disse, por fim, levantando-se. Lucy a ajudou com isso, já que a latina tinha um leve dom para desequilibrar-se com o peso de sua barriga. – Quando esse carinha nascer... – apontou para sua barriga, e então para Lucy. – Nós iremos conversar sobre.

─ Eu estou ansiosa para isso, Camila. É um assunto importante para mim, e... – suspirou, desviando o olhar de sua cunhada e abraçando o próprio corpo. – Eu gostaria muito que fosse verdade.

─ É assustador, não é?

Lucy fitou-a com um olhar confuso, deparando-se com uma Camila agora séria.

─ O quê?

─ Pensar que ele nunca realmente abandonou vocês.

─ Então, você realmente acredita?

Camila deu de ombros e sorriu, pegando sua bolsa para sair dali.

─ Eu acredito que tudo depende do que você crer.

Antes que Lucy pudesse responder alguma coisa, a sala foi invadida pelo furacão Veronica Cabello, fazendo ambas virarem-se ao mesmo tempo para a porta.

─ Como vai a minha Ever Ball* favorita? – Vero sorriu em provocação, ganhando um dedo do meio da irmã mais nova.

[Ever Ball: Ou Times Square Ball, é um balão horário localizado na Times Square, em Nova York, e é uma parte importante da festa de Ano Novo. É popularmente conhecida como a bola que cai, já que desce cerca de 43 m em 60 segundos através de um mastro especialmente projetado; O acontecimento tem início às 23:59 do dia 31 dezembro e termina à meia-noite quando registra o início de um novo ano. ]

─ Vai à merda, Veronica. – Camila rolou os olhos para a irmã, e Lucy apenas sorriu contida da interação das duas. – Você está atrasada, idiota.

─ Não é culpa minha se a reunião com os donos das lojas locais demorou tanto. – Vero ignorou o olhar que a irmã lançava para ela e virou-se para Lucy. – Então, você está pronta para começar nessa loucura toda? Posso prometer que a companhia é boa, pelo menos. – piscou para ela, e Lucy apenas sorriu um tanto sem jeito.

─ Ela não, Vero. – Camila advertiu-a, tocando os olhos da irmã e a empurrando até a porta para conversarem em particular.

Veronica tinha um olhar de tédio direcionado para a irmã, os braços cruzados junto aos seios.

─ O quê?

─ Quatro meses de convivência e você não aprendeu que Lucy odeia esse tipo de comportamento.

─ Eu estou apenas provocando-a, nada demais. – rolou os olhos. – Ela é legal, ok? Não vou bancar a “Veronica” com ela. – desviou o olhar da irmã e fitou Lucy, que a encarava com um olhar presunçoso e sobrancelha arqueada. – Relaxa, bolota.

Camila bateu em seu ombro, fazendo-a esquivar-se.

Ouch, projeto de Rasputia!

─ Pare com esses apelidos ridículos ou eu arranco seus dentes com alicate. – ameaçou-a, para então virar-se para Lucy com um sorriso mais calmo. – Vejo você no hospital, Lu.

─ Logo após o horário do almoço. – Lucy confirmou, sorrindo para a cunhada. – Pode deixar.

Antes de sair da sala, Camila lançou um último olhar de advertência para a irmã. Ela não queria que Veronica fizesse de Lucy mais uma na sua lista, a irmã de Lauren já tinha passado por muita coisa para adicionar uma decepção amorosa nessa equação. Mesmo que Veronica tivesse mudado bastante nos últimos anos.

Quando teve certeza que a irmã estava longe o suficiente, Vero virou-se para Lucy com um sorriso de orelha à orelha. Já Lucy apenas rolou os olhos para ela e apontou para a porta.

─ Vamos logo, Veronica. E, por favor, não me faça chamar Normani.

─ A Mani? – franziu. – Para que você... Ah, espera. – riu. – Minha irmã colocou vigias para que ficassem de olho em mim, não foi?

─ Seu comportamento é questionável.

Veronica seguia Lucy pelos corredores. A situação deveria ser ao contrário, já que seria Vero a instruir Lucy em como tudo funcionava ali, mas...

─ Não é como se eu já tivesse tentando algo...

─ E continuaremos assim. – Lucy parou na porta do elevador, apontando para o painel. – Sua vez.

─ É, tanto faz. – a Cabello deu de ombros. – Vamos deixar como está, então. Sua irmã namora a minha, e nós duas...

─ Não existe um “nós duas”, Vero. – a Jauregui entrou no elevador com um sorriso de canto. – Não ainda. – murmurou. Veronica a escutou, no entanto, e a seguiu para dentro da máquina de metal com um largo sorriso em seu rosto.

As coisas iriam se acertar com o tempo, ela sentia que sim.

 

x-x-x

 

*Flashback On*

 

Lauren tentava inutilmente juntar o máximo de pertences possíveis em uma mochila, para que saísse dali o quanto antes. Ela simplesmente acabou de ser expulsa de casa, de sua família, apenas porque carregava uma outra vida em seu ventre.

Mas, ela sabia que não era só por isso. Ela foi expulsa porque seu pai não suportava a ideia de vê-la viva, enquanto MJ estava enterrado no cemitério local. Se fosse por Michael, o pai deles, seria Lauren ali naquele túmulo e não o filho de ouro dele.

Lauren não carregava mágoa sobre isso, sobre o ódio que estava recebendo desde a morte precoce de seu irmão gêmeo. Ninguém nunca compreenderia o tipo de ligação que os dois compartilhavam, algo que ia além da morte. Sempre seria Mikey e ela contra o mundo, certo?

Errado.

Mikey havia morrido e a deixado para trás, para enfrentar a fúria de seu pai sozinha.

Quando Lauren contou para a mãe suas suspeitas sobre a gravidez – que, na verdade, ela já tinha certeza que era real – Lauren esperou no mínimo apoio por parte da mulher que a colocou no mundo. Mas, Clara Jauregui já não era mais a mesma. Não desde a morte do filho. A mãe de Lauren apenas ficou a encarando sem dizer nada, a expressão tão vazia e sem reação alguma àquela inusitada e inesperada novidade.

E Clara continuou assim quando, minutos depois, Michael entrou no quarto de Lauren gritando e a xingando dos piores nomes possíveis. Ele havia escutado toda a conversa, e também a condenado sobre algo que ela não tinha como voltar. Lauren estava grávida, e o pai da criança era alguém que não merecia ser mencionado e sua existência já não era mais real.

“Essa coisa é fruto de um pecado, assim como você!”

Essas foram as palavras de seu pai, ou uma delas. Michael não as poupou quando se tratou em xingar a filha mais nova, que sequer tinha culpa de tudo o que havia acontecido. Mas seu pai não ligava para isso, ele havia escolhido Lauren para depositar toda a sua raiva e revolta diante o que aconteceu dois meses atrás, e essa seria a sina da Jauregui mais nova.

Lauren enxugou as lágrimas de seu rosto com as costas da mão, indo até sua escrivaninha e pegando em uma das gavetas alguns trocados que tinha guardado para emergências. Ela pegou seu celular e documentos, jogando-os na mochila também, mas parou quando deparou-se com um porta-retratos na mesa de cabeceira ao lado de sua cama. Era uma foto dela e de Mikey quando criança, uma de suas favoritas. Tudo era tão simples naquela época, tudo era tão... Vivo, assim como seu MJ. Sua outra metade.

Os olhos da morena voltaram a encherem-se de lágrimas, e ela piscou algumas vezes tentando inutilmente espantá-las. Passos no corredor a tirou de seus devaneios, e Lauren não pensou duas vezes antes de retirar a foto da moldura, colocando-a a salvo dentro de um dos bolsos da mochila no mesmo minuto que a porta de seu quarto foi novamente aberta. O coração da morena acelerou bruscamente, temendo a fúria de seu pai, mas não era ele.

Era sua mãe.

Clara intercalou o olhar entre mochila de Lauren e a filha, parando apenas quando chegou aos olhos verdes. Olhos idênticos aos dele, a mulher pensou. Era sempre doloroso vê-los, sabendo que o outro par não estava mais ali. Ver Lauren era como se algo a lembrasse sempre do que ela perdeu, do que foi bruscamente arrancado de seus braços. De seu filho morto.

─ Banheiro. – Clara murmurou, abrindo espaço para que Lauren passasse.

Lauren logo compreendeu que sua mãe estava a alertando que Michael estava no banheiro, e que era seguro sair. Por mais doloroso que a situação fosse, Clara não queria ver a filha sofrer mais ainda nas mãos do homem que supostamente deveria cuidar dela, e não ao contrário.

A jovem do Kansas encarou a mãe por alguns instantes, buscando o apoio que, obviamente, não encontrou. Por fim, Lauren suspirou pesarosamente e passou por ela, correndo corredor afora tentando sair sem tombar com o pai novamente.

Algo que foi inútil, já que o encontrou na sala assim que pôs os pés para fora da escada. Lauren fechou os olhos por alguns instantes, tentando criar forças para não chorar na frente de seu pai. Ele não merecia suas lágrimas.

─ Eu disse que queria você fora da minha casa. – Michael ralhou, ele estava apoiado na parede próxima a porta de saída com os braços cruzados e rosto vermelho diante sua raiva. Como Lauren nada respondeu, ele caminhou até ela e a segurou pelo cotovelo. – Você vai sair daqui e nunca mais quero ver essa sua alma pecadora nas minhas terras! Você é uma vergonha para essa família!

─ EU NÃO TENHO CULPA SE ELE MORREU E EU NÃO! – gritou em desespero, enquanto era arrastada para fora de sua própria casa.

Michael a largou bruscamente na varada da frente, olhando-a com nojo e ódio.

─ Foi sua culpa. – apontou com desdém. – SUA CULPA, E DE MAIS NINGUÉM! – gritou, segurando-a pela roupa e apontando um dedo em sua cara. – Eu quero você longe daqui. Se eu souber que tentou falar com um de seus irmãos, eu acabo com qualquer um seja quem for! – empurrou-a pelas escadas da varanda, para então jogá-la na grama. – Você é uma vergonha, uma mancha na geração de nossa família e todos irão saber da puta que você é! Essa criança bastarda que você carrega também! – cuspiu no chão com nojo. – Essa criança irá pagar por tudo o que você fez, Michelle! Você irá pagar no inferno por tudo o que fez! – apontou para o caminho escuro mais à frente. – VÁ EMBORA, SUA PECADORA IMUNDA!!

Estas foram as últimas palavras de seu pai ao expulsá-la. Ele entrou para dentro de casa logo em seguida, e Lauren pode ver o vislumbre de sua mãe parada na escada a observando em silêncio. Escondida, calada, apenas vendo a filha ser enxotada para fora sem fazer nada. Clara, naquele momento, havia se entregue à sua doença e não se importava mais com nada.

Lauren respirou fundo, soluçando perante seu choro e levantando com dificuldades. Ela pegou sua bolsa e olhou para a noite à sua volta, pensando em o que faria agora. Seus irmãos estavam longe, para as compras de Natal, e ela não iria arriscar entrar em contato com eles e fazer com que fossem castigados ou pior, expulsos também.

Não.

Ela estava sozinha agora. Mikey havia ido embora e a deixado sozinha.

Ou não.

A morena tocou a barriga com cuidado, fechando os olhos. Ela não estava sozinha, não completamente. Aquela criança era sim fruto de um erro, mas acabaria se tornando o melhor acerto de Lauren no futuro.

E ela descobriria isso em breve.

 

*Flashback Off*

 

O bipar das máquinas ligadas ao corpo de Alicia trouxeram Lauren de volta a realidade, e ela precisou de mais alguns instantes para perceber que aquilo tudo não passou de um sonho. Ou melhor, de uma recordação. Uma péssima recordação, de fato.

Piscando algumas vezes, Lauren surpreendeu-se ao tocar em seu rosto e notar que estava úmido. Ela sequer percebeu que chorava, e logo tratou de limpar qualquer vestígio de qualquer lágrima derramada por causa daquele monstro. Era incrível como as lembranças de seu pai ainda a perseguia e afetava, mesmo depois de tanto tempo. As últimas palavras ditas por ele principalmente, palavras que marcaram a alma de Lauren para sempre.

As palavras tinham o dom de criar cicatrizes.

As marcas que Michael fez em sua filha, talvez nunca fossem realmente embora. Não quando significavam tanto agora. “Essa criança irá pagar por tudo o que você fez”... Quão injusto era isso? Quão pesadas estas palavras poderiam ser hoje? Quão significativas elas eram, agora perante a situação em que se encontravam? Em que Alicia se encontrava?

─ Lo? – a voz de Camila a fez erguer o olhar, deparando-se com sua namorada parada mais à sua frente com um olhar preocupado. Lauren estava tão distraída que nem a ouviu entrar. – Você está bem? Claro que não está bem, você está chorando!

─ Eu não estou...

Mas Camila já tinha sentado ao seu lado e puxado seu rosto para que ficasse cara a cara com ela, procurando enxugar o rosto da morena com a manga de seu cardigã. Lauren segurou suas mãos gentilmente, retirando-as dali.

─ Eu estou bem. – garantiu, tentando inutilmente mostrar um sorriso para ela. – Só estava recordando algumas coisas, apenas isso.

─ Seja lá o que for... – aproximou-se mais da morena, beijando seu rosto. – Esqueça. Não importa agora, ok? Não pense em coisas que a fazem chorar, não vale a pena.

Camila não tinha noção de como aquelas palavras significavam para Lauren, e quão certas elas estavam. Não valia mesmo a pena recordar nada relacionado ao seu pai, Lauren sabia disso.

─ Você está certa. – sorriu com mais convicção, beijando-a. Camila envolveu os braços em torno de seu pescoço, finalizando o beijo com um pequeno suspiro. Lauren não estava tão diferente dela. – Eu senti sua falta, Camz.

─ Você me viu ontem, boba. – riu. – Como passaram a noite?

─ Eu consegui dormir um pouco, e Alicia não acordou em momento algum. – suspirou, olhando para a cama onde a filha estava. – O medicamento é forte, então ela continua dormindo na maior parte do tempo. Eu sei que é para o bem dela, mas eu sinto falta de ouvir sua voz. De vê-la sorrir, sabe? É tudo tão... Doloroso e complicado.

─ Eu sei, meu amor. E compreendo você, porque me sinto do mesmo jeito. – a latina descansou a cabeça no ombro da mais velha, que tratou de passar um braço em torno de sua protuberante cintura e iniciar movimentos em círculo pela sua barriga. O bebê chutou ao sentir isso, e Camila levou a mão até o local com uma careta. – Por que ele sempre faz isso com você? Parece que toda vez que sente você, usa toda a força para chamar sua atenção de algum jeito. – grunhiu ao sentir outro chute, olhando então para sua barriga. – Mas esquece que a mamãe aqui não está adormecida, não é? Vai com calma aí, rapazinho.

Lauren riu, beijando os cabelos da namorada sem parar os movimentos na barriga da menor.

─ Está animada para saber o nome que Alicia escolheu?

─ Estou me controlando para não gritar com você por ter contado para a minha mãe primeiro, idiota. – fez um bico com os lábios, o que provocou um sorriso na maior. – É injusto, sabia? É meu filho também!

─ Eu sei, boba. – riu. – Mas, acredite, você irá gostar da surpresa. Só vai ter que esperar até depois do almoço para descobrir.

─ Vocês me tiraram do meu próprio apartamento para isso, é bom que eu goste mesmo.

─ Alicia escolheu bem, não se preocupe. – beijou a têmpora da latina, finalizando com um beijo na ponta do nariz. – Eu sei que vai amar tanto quanto eu.

Camila sabia que não se decepcionaria quanto a isso, ela só estava mesmo curiosa para saber o nome escolhido para o seu pequeno. Dias atrás, Lauren a ligou contando que Alicia finalmente havia falado o nome escolhido para o seu irmãozinho, mas que Camila não poderia saber ainda. O motivo? Lauren queria surpreendê-la, e foi por isso que falou com Sinu antes, já que a mãe de Camila estava responsável pela decoração do quarto do pequeno. A latina estava ansiosa para ter um nome para se referir ao seu filho, já que tinha esgotado a cota de apelidos no decorrer daqueles oito meses.

─ Eu deixei Lucy com Vero. – informou, ganhando a atenção de Lauren novamente. – Será que você acharia ruim se eu apoiasse sua irmã com a minha?

O quê?! – Lauren a encarou com surpresa, notando as bochechas coradas da mesma. – Está falando sério? Digo, minha irmã com... Lucy com Veronica? Eu perdi alguma coisa nesses últimos meses? O que estão escondendo de mim? Eu não...

─ Hey, calma! – Camila riu, cobrindo a boca da namorada com a mão e ganhando um olhar confuso da mesma. – Você não perdeu nada, não completamente. Eu só.... Bem, eu percebo as coisas e sei que alguma coisa pode acontecer entre as duas. Se já não está acontecendo...

Lauren retirou a mão de sua boca e a fitou com uma sobrancelha arqueada.

─ Está falando sério? Minha Lucy com sua Veronica? – fez uma careta. – É... Uau! Digo, eu... Nunca pensei nessa possibilidade, mas... Lucy é adulta, então...

─ Eu também não sou muito fã da ideia, para falar a verdade. Só...

O olhar de Camila captou movimento na cama de Alicia, e a latina interrompeu sua fala parando para observar a menina, e Lauren seguiu a imitou. Viram quando Alicia movimentou a cabeça de um lado para o outro lentamente, mas não demorou muito para os movimentos cessarem e a menina voltar a dormir. Camila sentiu quando Lauren suspirou e encolheu os ombros, e a abraçou com mais força.

─ Vai ficar tudo bem em breve, meu amor. – sussurrou, beijando seu rosto.

─ Vai, não vai?

Camila não falou mais anda, até porque aquela era um tipo de promessa vaga e ambas sabiam disso. Haviam promessas que você fazia apenas porque desejava que algo realmente acontecesse, mas sabia que poderia muito bem se decepcionar mais à frente. E essa era uma dessas promessas.

 

x-x-x

 

*Flashback On*

 

Seria um longo dia.

Lauren percebeu isso assim que acordou com dores nas costas, mais fortes dos que já vinha sentindo nos últimos meses devido ao peso de sua barriga. Com seus nove meses completos de gravidez, a cada dia que passava era apenas mais um dia em que seu corpo exigia mais e mais descanso. Coisa que ela não tinha, já que teria de trabalhar naquele dia.

Ela sequer deveria estar trabalhando em seu último trimestre de gestação, mas precisava do dinheiro para manter ela e a filha vivas nos próximos meses, já que ficaria desempregada no momento em que aquela pequenina viesse ao mundo. Não era culpa do Big Rob ou de Ava, Lauren não era oficialmente uma empregada deles e quando a morena estivesse fora, alguém deveria tomar o seu lugar quando saísse.

O que poderia acontecer a qualquer momento, levando em conta o nível de agitação de Alicia em sua barriga.

Alicia.

Lauren sabia que era uma escolha de nome ousada e significativa, mas não se arrependia de tê-lo o feito. Sua irmã merecia aquilo, mesmo que nunca realmente soubesse que a sobrinha existia. Assim como nenhum dos irmãos de Lauren saberiam de sua pequena.

A morena sorriu tristemente, mas acabou fazendo uma careta quando levantou e exigiu mais de seu corpo. Ela olhou para o despertador ao lado de sua cama, vendo que era vinte e sete de julho, levando-a a suspirar tristemente. Era cedo, muito cedo, mas Lauren já estava acostumada a acordar naquele horário desde que chegou a Nova York e Barbs arranjou o emprego na Big R para ela. Pensar em Barbs a fez recordar que a velha senhora estava viajando naquele dia, o que significava que Lauren estaria sozinha para o café da manhã. Ficar sozinha era a pior parte de tudo, a fazia pensar demais em coisas que ela não gostava de recordar.

─ Espero que se comporte hoje, booboo. – falou para a sua barriga, como sempre fazia. Ela gostava de pensar que sua filha respondia do útero, ou que ao menos compreendia as diversas conversas que Lauren compartilhava com ela. Aquela bebê era sua única família agora, seriam Lauren e ela contra o mundo para sempre. – A mamãe precisa que você aguente mais um pouquinho, ok?

Seria aterrorizante passar por toda a experiência do parto sozinha, e Barbs só voltaria e dois dias, o que significava que Lauren precisava que sua filha aguentasse só mais um pouquinho.

A jovem mãe colocou uma roupa não muito quente e pegou sua bolsa, que continha algumas mudas de roupa para ela e para o bebê. Mesmo querendo que a filha esperasse mais um pouco, deveria sempre estar preparada para o inusitado e...

─ Ouch. – fez uma careta, tocando sua barriga e a alisando. – Cuidado aí dentro, pequena elétrica. Isso machuca a mamãe, pequena.

Suspirou, e seu olhar descansou no berço montado ao lado de sua cama. Berço esse que ela mesma montou sozinha quando sua vizinha do segundo andar a presenteou com ele, o que levou a uma enxurrada de esporros por parte de Barbs por ela ter montado toda aquela coisa sem ajuda. Mas, Lauren não podia dar um enxoval ou um quarto completo para a sua pequena e queria, pelo menos, fazer algo especial ela mesma.

Decidindo por tomar café da manhã no trabalho, a morena praticamente se arrastou pelos vários lances de escada do prédio de Barbs, praguejando por morar no último andar e pelas dores extras em seu corpo que apareceram estranhamente naquele dia em questão. Não tinha amigas para fazer um chá de bebê para ela, não tinha ninguém com quem reclamar ou falar sobre essas dores em seu corpo ou reclamar da rotina. Barbs era velha e cansada e Lauren sabia que nos próximos meses deveria se acostumar a se virar sozinha com sua pequena.

Seria um longo dia, ela sentia isso.

 

*Flashback Off*

 

Ela sentia tudo aquilo de novo. Aquela mesma sensação de anos atrás, quando Alicia estava prestes a nascer e ela ficava horas e horas apenas observando as roupinhas e coisas minúsculas que pertenciam a sua filha. Aquela sensação de ansiedade que ela sabia ser a mesma sentida por Camila agora. Era como voltar ao passado, Lauren percebeu isso assim que viu o pequeno enfeite em formato de balão preso na porta ao lado do quarto de Alicia.

Lauren não pode dar para a sua filha um quarto completo na época, e estava feliz em saber que seu filho teria isso agora.

Camila e ela estavam no apartamento para ver o quarto do filho delas, ornamentado por Sinu, e também para que Camila descobrisse o nome do pequeno já que Lauren havia se recusado a contar até então. Lucy estava com Alicia no hospital, como havia prometido a elas, e também garantido que ligaria caso algo acontecesse.

─ Já chegamos? – Camila perguntou pela milésima vez, o corpo prensado contra o de Lauren já que a latina tinha uma venda cobrindo seus olhos. Lauren sorriu.

─ Já. – sussurrou em seu ouvido, afastando o cabelo de Camila para que pudesse deixar um beijo em seu pescoço. – Está preparada?

─ Eu acho bom não ser algum tipo de brincadeira sua e da minha mãe, ou vou ter que ficar viúva antes mesmo de casar.

Lauren riu e retirou a venda que cobria os olhos da latina, a abraçando por trás e descansando o queixo em seu ombro.

─ Abra e descubra, então.

Camila lançou-a um sorriso sapeca com a língua entre os dentes, para então abrir a porta do quarto de uma vez e sem enrolação e entrar no mesmo. Mas, ela parou apenas alguns passos depois disso, seus olhos rapidamente enchendo-se de lágrimas e um enorme sorriso pincelando em seus lábios.

O quarto era todo nas cores branca, cinza e azul bebê. Móveis, paredes, brinquedos, tudo. O berço branco e acolchoado ficava próximo a janela, haviam pelúcias de animais espalhados pelas estantes e um lustre prata em formato de balão pendurado no teto. E, o mais importante de tudo, logo acima do trocador havia quatro letrinhas que fizeram o coração de Camila errar uma batida.

Noah. – sussurrou emocionada, caminhando até lá com Lauren a acompanhando. A morena também estava emocionada, analisando cada cantinho e cada detalhe do quarto de seu filho, já que também era a sua primeira vez no local.

─ Significa “de longa vida”, ou aquele que traz paz. – Lauren voltou a abraçar Camila, que descansou a cabeça em seu ombro. A nova-iorquina chorava e sorria ao mesmo tempo, culpa de seus hormônios estúpidos. – O que se encaixa perfeitamente para ele.

─ É... Maravilhoso, Lauren! E é perfeito para ele!

Noah. De longa vida, aquele que traz paz e carrega bondade em seu coração. Aquele que salva, o que fazia desse o nome perfeito para aquele pequenino. Noah viria não apenas para salvar Alicia, mas também para salvar a todos ao seu redor. Ele carregava a mudança na vida do casal, carregava uma nova chance de felicidade. Noah, que sequer havia nascido ainda, já significava mais do que elas poderiam imaginar.

Literalmente.

─ Mamá escolheu tudo isso? – Camila começou a andar pelo quarto, sorrindo a cada detalhe novo que via.

─ Móveis e decoração, sim. Mas eu decidi as cores, achei que esses tons seriam bons. Acalmam.

─ Eu amei!

─ Eu também. – a morena parou ao lado do berço e sorriu ao ver um pequeno coelho de pelúcia idêntico ao que Alicia tinha em seu quarto. – Sua mãe tem um bom olho para essas coisas, devo admitir.

─ Dá para acreditar que isso tudo é real? – Camila parou em frente a morena e colocou os braços em torno de seu pescoço, e Lauren segurou sua cintura acariciando sua barriga. – Noah. – testou o nome do filho mais uma vez e sorriu gostando de como soava. – Eu só tenho que pensar em um segundo nome que combine com esse.

─ Eu pensei em alguns, mas quero que você escolha. – sorriu, unindo seus lábios em um selinho demorado.

─ Vou pensar em algo e... – a latina franziu ao sentir seu celular vibrar no bolso da jaqueta de Lauren. Ela havia pedido para a morena o guardar, já que não usava bolsos. – Espere. – pediu, pegando o celular e arqueando uma sobrancelha ao ver o nome da mãe piscando indicando uma nova mensagem. – Minha mãe está pedindo para olharmos no quarto de Alicia depois.

─ O quarto da Alicia? – franziu. – O que sua mãe aprontou, em?

─ Vamos descobrir agora!

Sem mais, Camila puxou Lauren pela mão e a arrastou para fora do quarto do filho delas, indo em direção ao quarto ao lado. Um sorriso triste passou pelos lábios de Lauren ao ver a já conhecida porta rosa bebê, que tinha o nome de sua filha como decoração em seu centro. Camila notou isso e apertou sua mão, sorrindo e apontando para a maçaneta.

─ Vamos lá, abra. – incentivou-a, piscando um olho de forma cúmplice.

Lauren respirou fundo e então abriu a porta do quarto de sua filha, seus olhos arregalando-se rapidamente ao notar que tudo parecia tão diferente de como estava antes. Sinu havia redecorado todo o quarto de Alicia também.

─ Ela não fez isso! – Camila exclamou, passando por Lauren e entrando no quarto de sua bolinha. Estava simplesmente lindo!

─ Ela fez. – Lauren murmurou, também entrando no quarto e olhando para os detalhes novos e desconhecidos para ela.

O quarto estava nas cores rosa e branco, a mobília inteira branca e de estilo clássico dava a tudo um ar exótico e exclusivo. E havia a cama, o que era nitidamente o destaque do cômodo. Uma enorme casa de bonecas fora colocada logo acima da cama, com os ursos e brinquedos de Alicia a decorando, além de um colchão no segundo andar da casinha para que Alicia pudesse brincar também. Tudo estava digno de uma princesinha!

─ “Eu não aguento esse apelido ridículo à toa, ok? Sou a Bubú de Alicia e quero ver minha coisinha tagarela feliz quando voltar para casa.” – Camila leu a mensagem da mãe em voz alta, rindo no final. – Mamá planejou tudo.

─ Ela nos enganou direitinho. – a mais velha também sorriu, enxugando uma lágrima solitária no canto de seu olho. Ela, então, descansou o seu olhar em Camila e sorriu. – Eu tenho que agradecer a você, sabia?

A latina franziu, sentando-se na cama de Alicia. Ela já estava cansada, havia andado bastante para um dia só e suas pernas já começavam a inchar de novo.

─ A mim? Não seria a minha mãe?

─ Também. – caminhou até ela, sentado ao seu lado e segurando sua mão. – Você me trouxe tudo isso, Camila. – tocou em sua barriga carinhosamente e sorriu. – Me deu uma família. Me fez ter esperanças de novo.

─ Você me deu uma família também. – sorriu de volta, apoiando sua testa contra a da namorada e brincando com seus dedos entrelaçados. – Tudo vai acabar bem, Lo. Eu sinto isso.

─ E eu acredito em você.

Ela não sou acreditava, como depositava todas as suas forças nessas palavras. Elas precisavam que tudo acabasse bem, Lauren precisava disso.

Caso contrário, ela desabaria.

 

x-x-x

 

*Flashback On*

 

─ É uma péssima ideia.

Lucy balançou a cabeça em negativa, não gostando nadinha do que seu irmão estava prestes a fazer. Era domingo, toda a sua família estava na igreja e eles também deveriam estar, se Mikey não tivesse fugido para aprontar mais uma das suas. Lucy o viu sair e, querendo evitar que seu irmão arrumasse encrenca, acabou indo atrás dele.

Não que adiantasse alguma coisa, MJ não ouvia ninguém.

─ Eu preciso resolver minhas coisas, Lu. – o dono dos olhos verdes cruzou os braços, o corpo escorado no velho carro que antes pertencia ao irmão mais velho deles. – Volte para a igreja, antes que o reverendo perceba a nossa ausência.

─ Por que você não volta também? Desista dessa ideia estúpida e...

─ Lucy... – suspirou, abrindo os braços para a irmã aconchegar-se ali. Lucy grunhiu, frustrada, mas acabou indo ao encontro do irmão e o abraçando. – Eu preciso fazer isso.

─ Eu não tenho um bom pressentimento sobre isso, Mikey.

─ Você e suas intuições esquisitas. – MJ riu, beijando o topo da cabeça da irmã. – Eu vou ficar bem, relaxe.

─ Promete que não vai fazer nada estúpido?

─ Prometo que vou tentar não fazer. – ele então semicerrou os olhos, avistando algo –ou alguém– vindo na direção dos dois. – Oh, merda! Ela nos viu! Ela vai tentar ir comigo, Lucy! Eu não posso envolvê-la nas minhas merdas!

Lucy desvencilhou-se dos braços do irmão e virou-se para ver o motivo de seu repentino desespero.

Lauren.

A irmã dos dois caminhava apressada até eles, o que provocou um sorriso nos lábios de Lucy. Lauren era a única capaz de colocar a cabeça de Mikey no lugar e fazê-lo desistir de ir fazer mais uma estupidez.

─ Se resolva com ela. – avisou, dando de ombros. – Eu vou voltar para lá.

Mikey a fitou de forma indignada e Lucy sorriu presunçosamente.

─ Você vai me deixar sozinho?

─ Você nunca está sozinho. – piscou para ele. – Eu sempre estou de olho em vocês dois, não esqueça disso.

─ Você entendeu o que eu quis dizer, idiota!

Lucy riu, caminhando de costas para longe dele.

─ Se vira, irmãozinho!

Negando com a cabeça, Mikey acabou sorrindo no final e suspirando. Suas irmãs eram duas coisinhas impossíveis de se compreender, concluiu. Mas ele as amava, assim como as duas também o amava. Eram os três mosqueteiros e nada, nem ninguém, poderia separá-los.

Algo que, infelizmente, mudou ainda naquele dia. A última lembrança que Lucy tem de seu irmão foi daquele par de olhos verdes fitando-a e deu seu sorriso, enquanto ela caminhava para longe de seus braços.

 

*Flashback Off*

 

Era o mesmo tom de verde que fitava Lucy agora, só que não havia sorriso algum presente no rostinho pálido da menina. No lugar, havia uma expressão cansada e protegida pela máscara de oxigênio em seu rostinho. Fazia pouco tempo que Alicia havia acordado e até então a menina não tinha falado nada, apenas ficava encarando a tia com aquela mesma expressão séria.

Mesmo com o pouco tempo de convivência, Lucy havia se apegado demais àquela garotinha de olhos verdes e cabelos castanhos. E vê-la assim a afetava tanto quanto afetava as outras tias da menina, que conviviam com ela desde o seu nascimento. E Alicia também gostava bastante de Lucy, a menina costumava dizer que seu coraçãozinho era aberto para todas as pessoas do mundo aconchegarem-se nele.

─ Quer que eu ligue para a sua mãe avisando que você acordou?

─ Não. – a menina murmurou um tanto quanto rouca, fazendo uma careta ao escutar a si mesma.

─ Você me lembra a sua mãe.

─ Motor.

─ Motor? – franziu.

─ Tia Dinah... – respirou fundo. – Chama de motor... – outra vez pausou para respirar. – Isso.

Lucy riu, segurando a mão da pequena que tinha menos fios presos nela. Foi quando seu sorriso sumiu e uma sensação de vertigem a atingiu, fazendo-a arregalar os olhos e soltar a mão da menina quase tão rápido quanto. Alicia a fitou com os olhinhos também arregalados, ela também havia sentido algo, só não compreendia o que era exatamente.

A tia da menina olhou para os lados para ver se mais alguém estava no quarto e tinha presenciado isso, mas elas estavam sozinhas agora. Lucy piscou algumas vezes e massageou a têmpora, sua respiração aos poucos acalmando-se para só então ela voltar para perto de sua sobrinha. Dessa vez, ela foi mais cuidadosa ao aproximar-se.

─ Você... – limpou a garganta, fitando os olhos verdes assustados da pequena. – Sentiu... Isso?

─ Dói. – a menina sussurrou com os olhinhos cheios de lágrimas, e Lucy rapidamente ficou em alerta.

─ O que dói, pequena? Eu vou chamar o médico e...

─ Não! – Alicia segurou sua mão com urgência, dessa vez a sensação de antes não apareceu e isso de certa forma foi um alívio para Lucy. – Dói... Aqui. – apontou para o coração e torceu a boca. – Ele... Não cumpriu.

─ Não cumpriu o quê, Licie? – Lucy tocou o rosto da menina, enxugando algumas lágrimas ali presentes com seu polegar. – Estou ficando preocupada, querida.

─ A... Promessa. – franziu o nariz, puxando ar para os seus pulmões e fechando os olhos. Aquele esforço todo para falar a fez ficar mais cansada ainda. – Não... Cumpriu.

─ Alicia... – Lucy suspirou, acariciando o rostinho da menina. Alicia havia adormecido.

A mulher mais velha ficou observando o peito da menina subir e descer lentamente, ressonando em seu sono, e a fitando com preocupação. Ela havia compreendido muito bem o que Alicia queria dizer. Se fosse meses atrás, provavelmente isso não teria acontecido, mas agora depois da conversa que teve com Camila... Lucy só via suas suspeitas cada vez mais perto de serem confirmadas.

Ele não cumpriu a promessa, Alicia disse.

Ele prometeu a Lucy que não faria nada estúpido, mas o fez. E isso trouxe consequências inimagináveis.

A ligação entre Alicia e Mikey era nítida, Lucy só precisava de mais uma prova para confirmar que estava certa. Ela só temia em como isso aconteceria.

 

x-x-x

 

Quase trinta e oito semanas de gestação e aqui estava Camila, deitada na porcaria do sofá da sala porque era o único lugar em que sua coluna não protestava tanto. Suas pernas estavam jogadas sob as pernas de sua melhor amiga, que fazia uma ótima massagem para facilitar a circulação no local. Mas, ainda assim, Camila estava irritada. Muito irritada.

E o motivo?

Ela não poderia ir até o hospital ver Alicia, não naquele dia. Tudo porque acordou com a merda de uma dor nas costas e Lauren achou melhor que ela ficasse em casa.

Camila a xingou e desligou o celular na cara dela quando a morena sugeriu isso.

Mas, claro que ligou segundos depois chorando e pedindo desculpas por ter feito isso. Lauren não ficou zangada, já estava acostumada com as mudanças de humor constantes da namorada e apenas disse que estava tudo bem. Só que não estava tudo bem, porque Camila havia acordado com uma necessidade enorme em simplesmente estar perto de Alicia, ficar com a menina e cuidar dela. Não entendia o motivo de sentir-se assim naquele dia em questão, talvez fosse seus instintos maternos aflorando como sua mãe mesmo disse mais cedo quando ela comentou sobre isso.

─ Quer que eu pegue o sorvete? – Samantha, que também decidiu visitá-la assim como Dinah, questionou já levantando com Cupcake nos braços.

─ Eu não estou com fome, por incrível que pareça. – a nova-iorquina fez uma careta quando Dinah apertou um lugar incômodo. – Foca no que você tá fazendo aí, Dinah Jane!

Dinah lançou-a um olhar semicerrado, ignorando-a.

─ Você tem que me agradecer, viu? Porque eu deveria estar em Cleveland vendo meu noivo ganhar a porcaria de um jogo.

─ Você odeia o clima de Ohio.

─ Ela queria comemorar a vitória cavalgando. – Sam riu e entregou uma taça com sorvete para Camila, que mesmo dizendo que não estava com fome a aceitou de bom grado.

─ Isso é um complô contra a minha pessoa! – Dinah resmungou, apertando com mais força a perna de sua amiga grávida. – Alguém tem que transar aqui, ok? E amém que esse alguém possa ser eu.

Camila rolou os olhos, sabendo que a provocação era para ela.

─ Eu estou grávida de quase nove meses, Dinah. Acredite que tudo o que menos penso é sobre sexo. – Camila uniu as sobrancelhas, recordando-se de algo. – Sofia não deveria estar aqui agora?

─ Katie tinha dentista marcado. – a loira parou para responder uma mensagem em seu celular. – E Lucy avisou que vai passar no hospital antes de vir para casa. – jogou o celular no sofá e olhou sugestivamente para Camila. – Ela anda passando bastante tempo da Cabello’s, não acha? Principalmente com uma Cabello em específico.

─ Lucy trabalha lá agora, idiota. Não fique criando teorias sem sentido na sua cabecinha e.... – a latina interrompeu-se e ficou em silêncio por alguns instantes, um vinco formando-se em sua testa.

Ela colocou a taça com o sorvete no chão e apoiou-se nos cotovelos, fechando os olhos e os apertando quando sentiu algo que não deveria sentir ainda. Não agora.

─ Walz? – Dinah, assim como Sam, observava Camila com preocupação. – Está tudo bem?

Camila fez sinal para que ela esperasse e então arfou baixinho, apertando com força o material do sofá em que estava deitada.

Oh, merda!

─ Eu... – respirou com cuidado. – Eu acho que estou em trabalho de parto.

Samantha e Dinah arregalaram os olhos ao mesmo tempo e trocaram olhares, ambas sabiam que ainda estava um pouco cedo para isso acontecer. Camila sequer completou os nove meses ainda.

Ainda era cedo para o bebê nascer, mas, aparentemente, ele tinha outros planos.

 

x-x-x

 

─ Falaremos agora sobre a situação clínica da paciente Alicia Marie Jauregui. – Alex, o diretor chefe do hospital, colocava em pauta para análise todos os casos mais graves de pacientes internados ali.

Era reunião do conselho médico, algo que acontecia todas as semanas para que fosse definido o que deveria ser feito com a situação médica dos pacientes graves. Anne, como especialista em doenças degenerativas, estava sempre presente em todas.

─ Não há alteração positiva, Dr. Karev. – a médica de Alicia informou com um semblante sério, enquanto todos os outros médicos presentes analisavam a pasta onde estava descrito o caso de Alicia. – Ela foi intubada essa semana, e continua muito fraca.

─ O procedimento que será feito nela teve bons resultados em teste. – Alex retirou os óculos de leitura e massageou a têmpora. – Mas, como sempre, tudo depende do paciente. Estamos fazendo o impossível para manter aquela garotinha viva e...

O bipe de Anne interrompeu a fala do diretor chefe, que fitou-a com uma sobrancelha arqueada. Anne rapidamente pegou o aparelho, no mesmo momento em que uma das residentes abria a porta da sala de reuniões de forma alvoroçada.

─ Dra. Hathaway! – a jovem aprendiz procurou pela médica na sala, e Anne levantou rapidamente. – Complicações na paciente 427! Precisamos de você lá agora!

A expressão de Anne ao sair da sala não escondia a sua apreensão e nervosismo, e todos os médicos notaram isso. Quando a médica já não estava mais presente, Alex Karev intercalou o olhar entre alguns médicos e respirou pesarosamente.

─ A paciente 427 não é a menina Jauregui? – um dos médicos na sala questionou, fazendo com que os outros pegassem a pasta de Alicia e conferissem isso.

Paciente: 427

Nome: Alicia Marie Jauregui

Idade: 6 anos

Tempo de Internação: Nove meses, com intervalos.

Situação clínica: ARC (alto risco clínico)

 

x-x-x

 

─ Por que ela não atende a porra desse celular? – Dinah praguejou alto, andando de um lado para o outro no quarto de Noah.

Samantha terminava de colocar algumas coisas na malinha do bebê, já que Camila não tinha terminado de aprontá-la ainda esperando que ainda tivesse mais duas semanas para isso. Já Camila estava sentada na poltrona com as mãos apoiadas nos joelhos, respirando com cuidado e tentando não entrar em desespero. Lauren não atendia o telefone, ela não atendia a porcaria do telefone justo naquele momento quando Camila mais precisava dela e...

─ Porra! – a latina grunhiu quando outra contração veio, apertando os olhos e prendendo a respiração por alguns segundos. – Isso... Dói para caralho, merda!

─ Tia Sinu disse para irmos logo. – Dinah foi até Camila e a ajudou a levantar. – Lucy está indo para o hospital e deve encontrar com Lauren, o celular dela deve estar carregando ou algo assim.

─ Há quanto tempo você está com dores nas costas mais fortes, Mila? – Sam perguntou, também ajudando Camila e levando a mala de Noah na mão livre.

Camila fez uma careta, olhando para os seus pés onde Cupcake andava colado. O maltês branco não deixou a latina um segundo sequer desde que Camila iniciou o trabalho de parto.

─ Acordei assim.

─ Bem... – Sam colocou a bolsa no ombro e pegou o celular, abrindo em uma pesquisa recente. – Segundo diz aqui, esse é um dos principais sintomas do trabalho de parto. Você deve estar quase pronta para colocar o bebê para fora agora.

─ Sam... – Camila murmurou, entredentes. – Se... For para piorar meus nervos, pode... – respirou fundo. – Enfiar esse celular no... Puta que pariu, esperem!

A nova-iorquina parou quando estavam descendo a escada e segurou no corrimão. Era mais uma contração, dessa vez mais forte que a anterior. Camila não queria se desesperar – mais – mas, ela nem deveria estar em trabalho de parto para começo de conversa. Ainda estava de oito meses, quase nove ela sabia, mas mesmo assim... Algo estava errado, ela sentia isso.

Sentia que... Que algo a mais estava acontecendo, só não sabia o que.

 

x-x-x

 

Lauren sorriu forçadamente para o jovem rapaz que trabalhava na lanchonete do hospital. Ela não se alimentava direito desde o dia anterior, então aproveitou que Alicia dormia e foi até a lanchonete do prédio para comer alguma coisa. O local estava um pouco cheio, então ela demorou a ser atendida, e estava

Sua perna balançava em um ritmo impaciente, não queria demorar mais tempo longe de sua filha e precisava voltar para o andar de cima logo. Seu celular estava carregando lá, e ela nunca gostava de ficar muito tempo longe dele já que era a sua única forma de se comunicar com Camila agora que a latina não podia ir mais ao hospital.

Na verdade, ela odiava ficar longe de sua namorada. Mas com a gravidez tão avançada e estando constantemente cansada, era melhor para Camila ficar em repouso em casa o máximo de tempo possível. Lauren procurava sempre ir no apartamento nos curtos intervalos de tempo que tinha, mas Alicia havia piorado na última semana e a morena não teve escolha senão ficar com sua filha.

Sua menininha, sua bebezinha não estava nada bem e isso era torturante para Lauren. Alicia havia sido intubada naquela semana, e se a menina acordou três vezes durante esse tempo de intubação foi muito.

─ Lauren!

Lauren virou-se rapidamente e com o cenho franzido ao ouvir seu nome ecoar pelo ambiente cheio, buscando com o olhar a origem do chamado. Era Lucy, e ela vinha correndo apressada na direção da morena. Lauren logo colocou-se de pé e foi ao seu encontro, seu coração começando a acelerar e apertar temendo pelo pior. Lucy parecia estar com urgência.

─ Até que enfim encontrei você! – a meia-irmã de Lauren respirou fundo e apoiou-se em seu braço. – Onde está a porra do seu telefone? Todos estão ligando para você e...

─ Por que estão ligando para mim? Aconteceu alguma coisa? – os olhos de Lauren arregalaram-se. – É Camila? Ela está bem? Meu filho...

─ Seu filho resolveu vir mais cedo, Lauren! Camila entrou em trabalho de parto e está a caminho do hospital agora!

 

x-x-x

 

O carro parou com um solavanco no estacionamento do hospital maternidade e logo as amigas de Camila trataram de ajudá-la a sair de dentro do veículo. Não demorou muito para um enfermeiro aparecer para ajudá-la e Sinu também aparecer antes mesmo de elas entrarem no prédio.

─ Já liguei para a Dra. Robbins e ela já está a caminho. – a mãe de Camila informou, lançando um olhar ameaçador para Dinah afastando-a e tomando o seu lugar ao lado da filha.

Dinah encolheu-se ao lado de Samantha, que riu.

─ Suas irmãs estão a caminho também, e seu pai.

─ Deus! Você vai... – respira. – Fazer disso um evento... – a latina segurou no braço do enfermeiro e o apertou com força. – Agiliza essa porra de cadeira ou eu vou cortar suas bolas fora!

─ Algum sinal de Lauren? – Sinu perguntou para Samantha, que deu de ombros.

─ Lucy está a caminho do hospital para informá-la.

Sinu apenas assentiu e não falou mais nada. Todos ali estavam preocupados demais, o nascimento de Noah ainda seria um nascimento prematuro e precisavam manter a calma.

Não demorou para Camila ser encaminhada para um dos quartos. Com o dinheiro e influência que sua família tinha, conseguiram reservar um quarto só para ela em um dos andares, coisa que não seria possível em outras ocasiões.

Parecia que tudo estava acontecendo há horas, principalmente cada vez que Camila sentia uma contração vindo, mas não fazia nem uma hora desde o momento em que ela começou a sentir as contrações e chegar no hospital. Ela só queria que seu filho estivesse bem, e, acima de tudo, que aquela sensação estranha que estava sentindo fosse apenas algo de sua cabeça.

Ela não queria estar certa sobre seus instintos, mas, infelizmente, algo a dizia que estava.

 

x-x-x

 

As irmãs Jauregui corriam corredor acima, tentando chegar até o quarto de Alicia. Lucy ficaria com a sobrinha para que Lauren fosse até o hospital onde Camila estava, a morena precisava estar ao lado de sua namorada naquele momento. Camila precisava dela, ela sentia isso.

No entanto, no momento em que viraram o corredor que levava até o quarto onde a filha de Lauren estava internada, notaram que algo estava errado ali. Haviam enfermeiras entrando e saindo de um quarto em questão, e Lauren engasgou quando percebeu que o quarto era o de sua filha.

A morena apressou-se para ver o que estava acontecendo com sua filha, correndo desesperada até o local.

─ Alicia! – gritou, parando na porta do quarto. Mas havia uma enfermeira lá, e a mesma a impediu de entrar.

─ A senhora precisa ir para a sala de espera.

─ É a minha filha ali! O que está acontecendo? QUE PORRA ESTÁ ACONTECENDO COM A MINHA FILHA?

─ Precisa se acalmar, Sra. Jauregui. – a enfermeira olhou para Lucy buscando por ajuda. – Não pode ficar aqui, precisa ir para a sala de espera e....

─ Eu não vou sair daqui até saber o que está acontecendo com minha filha, merda!

A voz de Lauren era desesperadora, a angustia e medo estavam presentes em cada movimento seu. A comoção no corredor chamava a atenção dos presentes nos outros quartos, haviam familiares de pacientes parados nas portas tentando ver o que acontecia.

Foi quando Anne apareceu.

─ Deixe que eu cuido disso. – a médica tocou o ombro da enfermeira e tomou o seu lugar. – Você precisa sair agora, Lauren. – Anne já segurava o braço da mãe de sua paciente, a arrastando relutantemente para longe. – Confie em mim, ok? Eu não deixarei nada acontecer com sua filha.

─ O que está acontecendo com ela? Por favor, Anne! – Lauren soluçou alto, seus olhos presos na porta do quarto de sua filha enquanto ela era arrastada para longe dali. Lucy segurava sua mão, tentando manter a irmã por perto.

─ Estamos trabalhando para saber o que está acontecendo, é só isso que posso dizer no momento.

─ EU NÃO VOU FICAR LONGE DELA, ANNE! MINHA FILHA... – outro soluço. – Ela precisa de mim!

─ Alicia precisa ser cuidada agora e eu preciso voltar para lá e garantir que sua filha viva, Lauren!

Naquele momento, elas já estavam na porta que dava acesso a recepção do andar. Antes da porta fechar, Lauren pode ter um vislumbre de sua filha sendo retirada do quarto em uma maca seguindo para a emergência.

 

x-x-x

 

Um, dois, três.... Respira.

Esse era o mantra de Camila no momento, o mesmo que sua médica pediu para que ela ficasse repetindo a cada contração. A latina receberia a peridural em breve, mas, enquanto isso, cada contração que vinha a fazia desejar arrancar a cabeça de alguém.

Aparentemente, Noah estava com mais pressa do que o previsto. Um trabalho de parto poderia durar mais algumas horas, e se Camila não tivesse com dilatação o suficiente duraria mais tempo ainda. Porém, ao que parece, a dilatação da latina estava quase no ponto para que ela começasse a empurrar e tudo porque ela já estava em trabalho de parto desde o momento em que acordou pela manhã.

No quarto estavam com ela sua mãe, Sofia, Dinah e agora Ally. O resto de seus amigos ainda não haviam chegado e nem Lauren. Mas Camila não sabia se queria ver Lauren agora, não quando estava há tempos tentando falar com ela e a morena NÃO DAVA SINAL DE VIDA.

─ Mamá? – Vero chamou por Sinu, parada na porta do quarto. – Pode vir aqui fora?

─ O que você quer, em? – no entanto, Sinu já levantava e deixava um beijo no topo da cabeça de Camila. – Não coloque meu neto para fora sem a minha presença, querida. – advertiu-a.

Camila apenas rolou os olhos, estava mais focada em manter sua respiração compassada no momento. Sinu seguiu para fora do quarto e Vero logo a puxou pelo braço, a arrastando para longe dali.

─ Solta meu braço, pirralha! – a mãe de Veronica bateu em seu ombro, mas logo ficou séria ao ver a expressão da filha. – Por que essa cara de quem transou e não comeu bem?

─ Alicia foi para a emergência às pressas. – Vero soltou de uma vez. – Lucy acabou de me ligar, mamá. Lauren está um caos, tiveram de sedá-la e tudo.

Oh, dios! – Sinu cobriu a boca com a mão e olhou para o corredor. – O que faremos?

─ Não podemos contar para a Kaki, não agora. Temos de enrolá-la até tudo ficar bem ou até o bebê nascer, falar que Lauren está presa no trânsito a caminho daqui ou algo assim... – suspirou pesarosamente. – Eu não sei, mamá! Eu não sei o que falar para ela, eu...

─ Não podemos alarmá-la, Camila já terá um prato prematuro e não sabemos se é de risco ou não. – a matriarca Cabello suspirou. – Eu sei que mentir não é o certo, mas é a nossa melhor opção no momento.

Para o bem de sua filha e seu neto, pensou com tristeza.

Naquele momento, o único foco de Camila deveria ser trazer ao mundo o pequeno Noah.

 

x-x-x

 

─ Precisamos parar as contrações no estômago dela antes que o corpo entre em colapso!

─ Preparem a sala de cirurgia! – Anne gritou diante o alvoroço.

Alicia havia acordado bem naquele dia, mas em um intervalo curto de tempo as contrações no estômago da menina voltaram com tudo. O pior é que o intestino e pâncreas estavam sendo afetados, a circulação sanguínea estava comprometida e o refluxo no estômago de Alicia estava fazendo com que a menina colocasse sangue para fora. Estava acontecendo o que mais temiam no quadro clínico da menina de seis anos e meio, o corpo de Alicia vinha trabalhando no seu estado máximo nos últimos tempos e agora não encontrava forças para continuar funcionando direito. Ou seja, os órgãos digestivos de Alicia estavam entrando em colapso, a circulação sanguínea estava sendo afetada e o sangue que seu estômago colocava para fora corria o risco voltar e invadir os canais respiratórios da menina. Isso tudo poderia levar a uma parada respiratória, e deveriam evitar isso a todo custo.

Eles tinham de controlar aquilo, ou caso contrário Alicia não resistiria.

 

Já no andar inferior, Lucy encontrava-se no balcão de informações para tentar saber o que estava acontecendo com sua sobrinha. Ela olhou para trás tristemente, vendo sua irmã abraçada com Normani, que tentava consolá-la.

Mais amigos de Lauren também estavam ali, não todos já que estavam divididos entre um hospital e outro. Normani, Halsey, Troye e Alessia estavam ali para apoiar a morena, e já Ally, Sam, Vero, Dinah e os outros estavam na maternidade para dar apoio a Camila. Falando em Camila, a latina ainda não sabia o que estava acontecendo com Alicia e Lucy achou melhor assim, já que a latina deveria focar-se em seu parto no momento. Não queriam preocupá-la.

Mas, Lucy sentia que algo estava acontecendo. Ela sentia... Um estranho aperto em seu coração, algo que a preocupava ainda mais. Era como se... Como se sua mente a estivesse preparando para o que aconteceria.

Ela só não fazia ideia do que exatamente deveria aguardar.

 

x-x-x

 

Arizona tinha acabado de examinar Camila e retirava suas luvas, pensando em como aquele parto seria rápido. Camila estava perto de começar a colocar força, só esperariam a peridural fazer efeito e pronto. Os batimentos do bebê estavam bem, assim como os da mãe, e mesmo tudo acontecendo rápido demais, Arizona tinha um bom pressentimento para aquele parto. Camila estava no hospital há pouco mais de duas horas, tempo o suficiente para a sua dilatação aumentar agora, e sua bolsa havia rompido pouco tempo depois de sua chegada.

─ Você está em trabalho de parto há mais ou menos dez horas, Camila. – informou. – As dores em suas costas eram contrações leves, por isso você não desconfiou de primeira. Mais uma ou duas horas e começaremos a segunda fase, que é quando você deverá empurrar para que esse rapazinho venha ao mundo.

─ Mais duas horas? – a voz da latina estava mais calma, porém, sua preocupação era nítida. – Isso é muito tempo!

─ Eu sei, mas é normal. – Arizona verificou a pressão arterial da nova-iorquina e sorriu para ela, tentando acalmá-la. – Mas, se as contrações aumentarem, Noah estará aqui mais rápido do que esperávamos.

─ Eu só quero que ele fique bem.

─ Estamos o monitorando, não se preocupe.

A latina respirou fundo, grata pela peridural correndo em seu corpo e a eliminando da agonia das contrações mais fortes. No entanto, ela queria desesperadamente chorar agora. Ela estava com medo, estava com medo e se sentia sozinha, mesmo com sua mãe e irmãs ali com ela. O problema era que nenhuma delas era Lauren, Camila sabia disso. E também estava escondendo alguma coisa dela, porque Camila notou os cochichos e as mensagens de texto que Veronica recebia de vez em quando, ficando apreensiva cada vez que as lia.

Algo estava errado, e Camila não tinha um bom pressentimento sobre isso.

 

x-x-x

─ Os batimentos estão ficando mais fracos!

─ A pulsação dela está diminuindo e a pressão está caindo!

A correria era enorme. Haviam conseguido fazer com que o refluxo de Alicia parasse, mas a menina continuava com as contrações estomacais. Ácido estomacal já havia saído junto ao sangue, estavam preparando para uma lavagem e tentar limpar o sistema digestivo da menina antes que o pior acontecesse.

Em um piscar de olhos, Alicia havia passado de um quadro estável para um de alto risco. Anne estava agindo contra o tempo agora.

 

Na sala de espera, Lauren estava agarrada com Normani e já não chorava mais. Ela não conseguia, por mais que quisesse. Talvez fosse os remédios em seu corpo que haviam a deixado em um estado entorpecido, ela não via o tempo passar ou o que acontecia a sua volta. Ela estava ali em corpo, mas sua mente estava distante.

Estava com Camila.

Estava com Alicia.

Estava com Noah.

Havia uma enorme dor no coração de Lauren, um aperto em sua alma que ela não compreendia. Havia medo.

Algo estava acontecendo, ela só não entendia o que.

 

x-x-x

 

─ Vamos tentar mais uma vez, ok? – Arizona incentivava Camila a fazer força, mas a latina não conseguia mais. Elas estavam nisso há quase uma hora, e mesmo que seu trabalho de parto estivesse adiantado, a latina se via cansada.

─ Eu não... Ah, porra!

Outra contração, Camila teve de forçar-se a empurrar. Sua mãe estava de um lado e Dinah estava de outro com Sofia, todas incentivando Camila a continuar e empurrar. Todos estavam ali, exceto quem ela mais queria que estivesse.

─ Onde... Ela está, mamá? – perguntou mais uma vez para a sua mãe, que olhou preocupada para Dinah. – Digam de uma vez, merda! O que... – respira. – Está acontecendo?

Dinah olhou para Sofia, e então para Sinu, e por fim seu olhar descansou em Camila. Sua melhor amiga, que estava prestes a dar à luz ao seu sobrinho. O pequeno Noah viria ao mundo, mas será que ele teria a oportunidade de conhecer a irmãzinha? Só de pensar que sua cookie poderia... Dinah não suportou pensar aquilo, e para Camila não vê-la chorando, ela saiu da sala de parto às pressas.

─ Você precisa se concentrar aqui, Camila. – a obstetra a alertou. – Precisamos trazer esse garotinho ao mundo, acha que consegue empurrar agora?

Ela precisava conseguir, então apenas assentiu.

Mas, enquanto concentrava-se ali, seu coração palpitava de uma forma estranha e sua garganta estava apertada. Ela queria desesperadamente chorar, queria gritar.

E foi o que ela fez.

 

x-x-x

 

Lauren chorava.

Normani não sabia o que fazer para acalmar a sua melhor amiga, que chorava desesperada em seus braços.

Alicia estava na emergência há mais de duas horas e elas não tiveram nenhuma notícia até agora. Ninguém as informava sobre nada, ninguém dava algum sinal de que a menina estava bem ou... Ou que algo tinha acontecido. Ela não gostava nem de pensar isso.

O fato era que o efeito do calmante havia passado e Lauren chorava tanto que soluçava, tremendo diante seu desespero. A morena sentia um aperto em seu coração que a agoniava, parecia que algo estava sendo rasgado de dentro para fora e ela queria desesperadamente estar com sua filha.

Queria sua Alicia em seus braços.

Queria Camila.

 

x-x-x

 

Rosto avermelhado e manchado por lágrimas, cabelo preso em um coque bagunçado e o suor fazia com que as mechas soltas ficassem grudadas em sua face.

Camila ouvia as pessoas ao seu redor falando para ela empurrar, que logo seu filho estaria em seus braços, mas ao mesmo tempo era como se ninguém estivesse ali e ela estivesse sozinha. Seu corpo agia no automático, a força que ela encontrava para empurrar era insana, e seus olhos teimavam em derramar lágrimas.

Havia um desespero em sua mente, corpo e alma.

Havia ansiedade em que tudo desse certo.

Havia medo.

Ela queria desesperadamente Lauren ali, agora.

 

x-x-x

 

─ As contrações foram controladas! – um dos médicos auxiliares informou, e aquilo fez Anne respirar mais aliviada.

Praticamente três horas tentando fazer o corpo de Alicia não sucumbir, com altos e baixos. A perda de sangue fora controlada, e agora as contrações em seu estômago. A cirurgia ainda estava acontecendo, eles ainda precisavam limpar todo o sistema digestivo da menina antes que o líquido corrosivo fizesse mais estragos. Na verdade, não era uma cirurgia como um todo, já que estavam usando as vias disponíveis da menina para realizar o processo sem cortes.

Então, houve um bipar estranho nas máquinas que monitoravam os sinais vitais de Alicia.

─ Ela não está conseguindo respirar direito! – a enfermeira que também auxiliava na cirurgia alertou com urgência.

─ A pressão está caindo novamente. – Anne gritou para os outros médicos. – A pulsação está baixa! Estamos com uma parada cardiorrespiratória em andamento!

AESP* DETECTADA!

[AESP: Atividade elétrica sem pulso]

O coração de Alicia estava desistindo.

 

x-x-x

 

─ Um, dois, três... EMPURRA!

Camila gritou, empurrando com todas as suas forças. O bebê já estava na metade do caminho, Noah estava quase nascendo e ela só queria que tudo isso acabasse logo.

A latina respirava entrecortada, chorava cada vez que tinha de empurrar e segurava o apoio da cama com tanta força que os nós dos seus dedos estavam brancos. Sinu tinha o corpo apoiado logo atrás dela, ajudando-a em uma melhor posição, a segurava cada vez que a latina forçava tentando colocar seu filho para fora.

─ A cabeça já passou, Camila! Estamos quase lá!

Ela até poderia chorar aliviada em apenas ouvir aquilo, isso se algo não tivesse chamado sua atenção em um canto da sala. Não havia ninguém além da médica, enfermeira e mãe de Camila ali, mas... Mas, Camila podia jurar ter visto o vislumbre de um par de olhos verdes a observando.

 

x-x-x

 

Era um lugar estranho.

A menina concluiu isso assim que seus olhos abriram, e ela viu todas aquelas árvores esquisitas. Ela estava em uma estrada sem fim, porque não tinha casinhas de nenhum lado, apenas aquela plantação estranha. E estava Sol, mas não queimava sua pele, na verdade parecia até boa a sensação de ter o Sol em contato com seu corpo.

Ela riu, rodopiando de olhos fechados e braços abertos, sentindo os raios do Sol em sua pele pálida.

─ Está se divertindo?

Alicia parou imediatamente ao ouvir aquela voz, mas continuou sorrindo. Ela virou-se de imediato e seu sorriso alargou-se ainda mais, e a menina correu até o encontro de seu amiguinho.

─ Mikey Mouse! – ela gritou alegremente, sendo erguida do chão pelo rapaz de olhos verdes e gargalhando alegremente.

─ Sentiu minha falta? – o rapaz a rodopiou em seus braços, fazendo a gargalhada de Alicia aumentar mais ainda. A menina adorava rir, aquecia a sua alma.

─ Muitão! – Alicia olhou para o seu redor e apontou para as árvores estranhas. – Por que estamos aqui? Eu não conheço esse lugar.

Mikey olhou com pesar para a plantação que os cercava. A pista parecia não ter fim, mas ele sabia que mais a frente encontraria uma curva no caminho.

─ Eu não sei. – foi sincero. – Mas, está na hora agora.

─ Agora? – a menina fez um bico com os lábios, cruzando os braços de forma birrenta. – Mas eu não quero ir! Eu gosto daqui porque eu não tenho mais dor!

Ela desvencilhou-se dos braços do rapaz de olhos verdes e começou a pular pelo chão, sorrindo.

─ Viu? – rodopiou. – Eu posso ser eu de novo!

─ Nós precisamos ir, Alicia.

A menina parou e seu sorriso sumiu, ela parecia assustada agora.

─ Mas... Mas, não vai doer?

─ Eu prometo que não vai, pequena. – o dono dos olhos verdes piscou para a menina e a ofereceu sua mão. – Vamos, não podemos nos atrasar.

─ Você promete que vai me encontrar depois?

Mikey sorriu para a menina, que segurou sua mão com força. Eles começaram a caminhar na direção que o rapaz sabia que ficava a curva na estrada, e a cada passo que davam a luz do Sol ia cessando aos poucos.

─ Uma parte minha sempre esteve com você, Alicia. Desde o dia em que nasceu.

─ Mas, mas vai partir agora.

─ Sim. – afirmou, sentindo o aperto da menina em sua mão aumentar conforme se aproximavam da curva. – Mas seremos um só ainda.

─ Para sempre?

─ Para sempre.

A curva na estrada cercada pela plantação tão familiar para Mikey apareceu, e tudo ficou escuro novamente.

Exatamente como sete anos atrás.

 

x-x-x

 

A RCP* estava sendo realizada no corpo inerte na menina.

[RPC: respiração cardiopulmonar]

Anne tentava reverter o quadro de Alicia às pressas, o coração e cérebro de Alicia precisavam de sangue oxigenado e o fluxo era quase nulo.

Segundos se passaram, o bipar da máquina alertava que o pior estava acontecendo.

O batimento cardíaco estava inefetivo, sem pulsação nas grandes artérias. Foi iniciada a compressão torácica.

─ Vamos, vamos, vamos.... – Anne murmurava apreensiva, intercalando o olhar entre o monitor dos sinais vitais da menina e a pequena paciente. – Vamos, Alicia...

Não desista agora, a médica pensou.

Por favor.                 

 

x-x-x

 

─ AAAAAAAAAAAAAAAAAH!

Camila gritou com todas as suas forças, lágrimas saiam de seus olhos e seu corpo trêmulo. Estava acabando, estava quase lá...

─ Só mais um pouquinho, Camila! Só mais um pouquinho!

A latina puxou ar para seus pulmões com uma lufada, fechando os olhos e no momento em que a enfermeira indicou que viria mais uma contração.

Era agora ou nunca, a Cabello sabia. Ela sentia em seu coração que estava no momento de acontecer.

Estava na hora.

 

x-x-x

 

Em lados opostos da cidade, duas médicas batalhavam ao mesmo tempo para trazer duas vidas.

Foi quando os monitores biparam juntos.

Um choro soou em um quarto.

Uma respiração aliviada ecoou em outro.

Duas pequenas vidas lutavam juntas.

Dois corações batiam com força agora.

Dois fios estavam agora ligando uma alma a outra.

Uma única alma, que agora fora dividida em duas.

 

 

 

 


Notas Finais


Oláaaaa! Vivos?

Não estranharam minhas notas iniciais? Para alguém que fala bastante lá, eu fui bem... Calma, eu diria. E tudo porque EU ESTAVA PREPARANDO VOCÊS PRO TOMBO KJFNJSKDNFSKJDF

O que acharam do capítulo? Esse capítulo foi o mais diferente de escrita para mim, em todos os sentidos. História intensa, não? Abordamos diversos temas em HTLF, e reencarnação é uma delas. Me digam aqui, vocês acreditam nesse fato? Caso não, espero que abram seus olhinhos apenas nesta história, não estou aqui para mudar crença de ninguém e sim apenas contar um enredo diferente ^^

Para quem entendeu o que aconteceu, fico feliz em saber que conseguiram ligar os pontos passados em cada fase deste capítulo, que foram muitos. Nenhum flashback foi a toa, ok? Se vocês leram direitinho, encontraram a ligação deles com o capítulo em si.

Sobre as partes finais... Deixo em aberto para o ponto de vista de cada leitor, cada um acredita no que sua mente quer ^^ E, bem, para quem não entendeu: Uma alma, dois corações. Um coração dividido entre dois corpos.

Fiquem refletindo aí :)

Beeeeeeem, espero que tenham gostado do capítulo! Qualquer coisa estou a disposição para tirar suas dúvidas ^^

Twitter: @jaureguisbig

P.S.: Se quiserem saber como ficou o quarto do Noah e o da Alicia, é só dar uma conferida nas mídias do capítulo no wattpad :)

Até mais, nenéns!


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