História How To Love a Little Girl - 10

O relógio de Aria marcava sete da noite. Haley já havia se alimentado, tomado banho e brincado o suficiente para ficar exausta. Agora, ela estava deitada, com a barriga para baixo, no sofá, assistindo o DVD da Peppa Pig sem dar um piu. Seus olhos já estavam fechando, aos poucos. Aria estava sentada ao seu lado, observando aquela porca com cabeça de apito horrorizada. Aquilo, certamente, não era de Deus.

- Como as crianças conseguem ver isso? – se perguntou, ficando cada vez mais entediada.

O tempo foi passando e tanto Haley quanto Aria tinha dormido no sofá, de novo. Nem quando Niall chegou, uma da manhã em ponto, elas acordaram.

Ele jogou suas coisas no chão e deu de cara com as duas dormindo em um sono terrivelmente profundo.

- Ótimo. – resmungou o irlandês. – De novo.

Ele parou de frente para o sofá e ficou encarando as duas jogadas. A primeira coisa que passou por sua cabeça foi larga-las lá e ir dormir de uma vez, já que estava extremamente cansado. Mas uma vozinha dentro de sua cabeça, bem lá no fundo, dizia para ele ser uma pessoa educada pelo menos uma vez. E ao observar Aria, dormindo com a cabeça inclinada para trás, imaginou que ela acordaria no dia seguinte e reclamaria de dor, irritando a pobre orelha de Niall o dia todo. Ele não queria ser irritado o dia todo.

Suspirou, se xingando por ter escolhido a opção mais complicada. Foi até Haley, pegando-a com cuidado, e nojo, e a levou para o andar de cima, deitando-a no berço do quarto improvisado, e totalmente ilegal nas suas regras, que Aria fizera. Logo após fazer isso, ele desceu novamente – dessa vez com uma coberta na mão –, quase caindo de susto por um ronco alto que saiu da garganta da garota jogada no sofá.

É um ogro até dormindo, pensou consigo mesmo.

Ele puxou seus ombros para o lado, deitando-a no sofá. Aria pareceu aprovar enquanto dormia e se aninhou no tecido macio que era feito aquele forro. Niall jogou a coberta por cima do corpo da garota e foi logo para seu quarto, ter a boa noite de sono que merecia depois de uma tarde repleta de compromissos. Pelo menos o dia seguinte era sexta-feira e, naquele sexta, ele não trabalharia, teria o dia de folga. Mas sabia que o pior estava por vir, por enquanto apenas divulgava seu novo single, mas logo, logo, seu álbum seria lançado e uma turnê mundial nova viria como bônus.

Encostou a cabeça no travesseiro e dormiu rapidamente.

Aria acordou com algo úmido tocando sua bochecha. Ela fez uma careta quando essa coisa passou por sua boca e então, ela abriu os olhos, dando de cara com Zeus lambendo completamente o seu rosto.

- Que nojo, cachorro! – ela empurrou a cabeça dele, se levantando enquanto passava a palma da mão pelo rosto – Não era com esse tipo de beijo que sonhava acordar um dia. – resmungou.

Zeus ficou encarando-a e se sentou, balançando o rabo. Aria não resistiu e acariciou a cabeça do cachorro, murmurando um pedido de desculpas para ele. Era apenas um cachorro carinhoso, nada mais.

- Espera... – ela esfregou os olhos, encarando Zeus novamente – Merda! Dormi na casa do Horan de novo!

- Isso já está virando habito. – disse uma voz masculina carregada de sotaque. – Vou ter que fazer algo a respeito.

Aria olhou para o lado e deu de cara com Niall encostado no batente da porta da cozinha. Estava vestido com uma calça de moletom, uma blusa preta larga de malha e em sua mão havia uma xícara de café quente. Aria conseguia ver a fumaça saindo de dentro do recipiente de porcelana.

- Que horas são? – ela perguntou, evitando olhar para aquele rosto repugnante.

- Seis horas da manhã.

- Você não vai me trancar aqui, vai?

- Para a sua sorte, hoje não. – Niall sorriu ironicamente, se sentando na poltrona ao lado do sofá. – Tenho o dia de folga.

- Se é seu dia de folga... – raciocinou Aria – Por que exatamente está acordado?

- Porque – disse ele, um tanto quanto frustrado – Estou acostumado a acordar cinco, ou mais cedo, da manhã. E digamos que quando tiro o dia de folga acabo ficando ainda mais estressado porque não consigo simplesmente relaxar. Só quando estou de ressaca, aí durmo até tarde.

- Uau. – Aria fez cara de entediada – Tenho que ir pra casa me arrumar para a escola.

- Você está sem carro.

Aquilo era verdade. Aria não tinha ido de carro para a escola no dia anterior, tinha ido a pé e pretendia voltar a pé para se trocar, pegar o carro, e ir para a casa de Niall. No entanto, ele simplesmente tinha ido busca-la na porta da escola para que ambos não se atrasassem para fazer aquela coisa idiota de teste de DNA. Depois disso, Niall a trouxe diretamente para sua casa, onde acabou ficando até agora.

- Chamo um táxi.

- Nem fodendo, querida. – respondeu Niall e Aria fez careta – A anã de jardim não está aqui, não adiante me dar bronca por ter falado palavrão. De qualquer jeito, não deixarei ligar para um taxista vir te buscar na minha casa.

- Como quer que eu vá embora, Sr. Inteligente?

- A pé...? – disse o irlandês como se fosse obvio.

- A pé? Niall, daqui até a minha casa são quase trinta minutos de carro! Como acha que chegarei a pé, com essas perninhas que tenho, a tempo de ficar pronta para a escola? – ela se levantou, indignada. – Me empresta seu carro.

- Claro que não! – foi a vez de Niall levantar – Da última vez que deixei alguma coisa minha com você minha casa virou uma creche!

- Tenho que ir pra casa de algum jeito.

- Pega um ônibus.

- Ótimo. – Aria respirou fundo – Como vou demorar meio século pra chegar em casa, vou daqui pra escola. É um pouco mais perto. E como a culpa é sua, vai me deixar tomar banho e tomar café aqui.

- Eca. Não vou deixar você entrar no meu chuveiro. Pode tomar banho na pia, se quiser.

- Niall! – o tom de voz de Aria saiu ameaçador.

- Tá bom. – bufou – Tanto faz. Pode usar um dos banheiros do quarto de hóspedes, só não espere que eu te empreste roupas íntimas também.

- Você é um idiota.

- Já ouvi isso de você outras vezes.

Aria decidiu ignorar e foi em direção ao elevador. Ela subiu até um dos quartos de hóspedes e entrou em seu banheiro, girando a maçaneta. Tirou sua roupa – que seria o uniforme que estava usando desde o dia seguinte – e a dobrou cuidadosamente, deixando-a sobre a pia. Aria tomou um banho rápido, levando em consideração que não tinha nada além de um sabonete ali. Vestiu a mesma roupa e penteou os cabelos finos com os dedos, fazendo uma trança já que eles estavam sujos.

Ela saiu do quarto, passando no quarto de Haley para ver se ela estava bem. Para a sua surpresa, a bebê estava com os olhos abertos, olhando para as estrelas penduradas a cima do berço.

- Vejo que não somos os únicos a acordar cedo. – Aria pegou-a do berço – Oi, Haley. Tá com fome? Acho que sim. – as duas foram em direção às escadas, descendo-as – E péssima notícia: seu pai vai cuidar de você hoje de manhã... De novo.

- Não me irrite, posso te trancar aqui de novo. – falou Niall assim que elas apareceram na sala.

Haley começou a se mexer no colo de Aria, como uma minhoca saindo da terra. Aria começou a balança-la, tentando acalmar a pequena garotinha.

- Não, você não vai fazer isso, Niall. – respondeu a garota – Tenho aula, preciso comparecer nela.

- Ainda bem que não estudo mais. – Niall fez careta – Escola é um saco.

Haley continuou se contorcendo e, logo, ela começou a chorar. Niall virou os olhos, bufando, como se aquilo fosse a coisa mais irritante do mundo. Aria começou a balançar Haley, mas tudo o que a bebê fez em resposta foi esticar os bracinhos na direção do suposto pai.

- Essa é nova. – comentou Aria consigo mesma. – Ela quer você, Horan.

- Como assim me quer? Eu hein. Leva essa coisa lá pra cima.

Aria ignorou suas palavras e foi em direção ao irlandês, colocando Haley no seu colo. Niall reagiu levantando os braços, como se ela fosse uma doença contagiosa.

- Tira essa coisa daqui.

- Dá pra segurar ela direito um pouco.

- Eu não. Tira ela daqui.

- Segura ela direito logo!

- Já disse...

- SEGURA ELA, HORAN!

- TÁ BOM! QUE MERDA!

- Niall, sem palavrões perto do bebê.

Niall ignorou e pegou Haley de uma maneira mais civilizada. Num passe de mágica, Haley parou de chorar, virando seus olhinhos azuis para o homem que a segurava.

- O que exatamente aconteceu? – perguntou ele.

- Ela pediu seu colo. – respondeu Aria – Ela gosta de você, Niall.

Niall fez careta.

- Mas eu não gosto dela.

Aria virou os olhos.

- Tanto faz, vou tomar café.

- Será que não pode aproveitar e dar café pra ela também? Pra ela não ficar chorando mais tarde?

- Que tal você aprender a fazer a comida dela? Assim ela não morrerá de fome todas as manhãs. – disse ela, indo para a cozinha.

Um Niall totalmente indignado a seguiu com Haley em seu colo.

- Você é a babá, não eu.

- Niall. – Aria suspirou – Só me escuta. Não é tão difícil.

Niall já ia voltar a protestar e quem sabe não tranca-la em sua casa novamente, mas Aria foi mais rápida e pegou algumas coisas da geladeira, voltando a falar rapidamente:

- Quando ela estiver com fome, dê um pouco de leite para ela. É simples... – ela pegou a mamadeira em cima da pia – Você abre, põe o leite, coloca a mamadeira no micro-ondas e depois dá pra ela tomar.

- Se eu fizer isso você para de falar?

- Não. – Aria sorriu. – Porque como será o café da manhã dela, nós faremos uma papinha caseira.

- Isso parece nojento. – continuou Niall, fazendo outra careta.

- Não é. Você só precisa colocar alguns ingredientes no liquidificador e pronto. – ela indicou alguns dos ingredientes que tinha pegado na geladeira – Vai. Tenta.

- Eu não vou fazer papinha.

- Você vai! Não queremos que a Haley morra, Niall! Até você que a detesta não quer isso.

- Eu não vou mata-la! Qual o problema de dar um copo de café?

- Vou ter que apelar para chantagem?

- Eu sou o chantageador aqui, querida, você não tem direito de me chantagear.

- Ah, não? – Aria arqueou a sobrancelha – Nem se for sobre contar pro mundo sobre a Haley?

- Essa chantagem já tá ficando velha. E sabe muito bem que posso te dedurar pro seu irmão se falar alguma coisa. – disse Niall, convicto.

- Só faz, Horan!

Niall suspirou, derrotado.

- Tá legal, mas não se acostume com isso, não sou cozinheiro pra ficar fazendo essas coisas. – ele se levantou, entregando Haley para Aria e pegando os ingredientes em cima da mesa. – O que eu tenho que colocar?

- É só colocar esses legumes aí dentro e pronto, mas com cuidado. – disse ela – Você sabe quebrar o ovo? Não, sabe?

- Sei! Não sou tão idiota! – disse Niall, colocando os legumes dentro do liquidificador e depois quebrando dois ovos – Isso parece nojento.

- Não é, confie em mim. Trabalhei vários anos como babá, são as proteínas necessárias pro dia a dia dela. – falou Aria.

- Isso é completamente nojento. – continuou ele – Agora é só bater, certo?

- Sim, mas não se...

Niall ligou o liquidificador na última potência e automaticamente tudo que tinha dentro do copo voou para seu rosto em segundos. Aria correu até a tomada, arrancando o fio do aparelho com força. O liquidificador parou de girar, sessando o barulho alto que havia tomado a cozinha.

- ...Esqueça de tampar o liquidificador... – ela completou a frase anterior, encarando o rosto de Niall completamente sujo com papinha verde.

Ele cuspiu a parte que tampava sua boca e passou a mão nos olhos, voltando a abri-los. Haley soltou uma gargalhada gostosa e Aria precisou acompanha-la, rindo do rapaz a sua frente. Niall ficou parado por alguns segundos, meio paralisado, meio nervoso, meio com vontade de estrangular as pessoas que estavam rindo dele.

Aria passou o dedo na bochecha dele, acumulando um pouco da papinha na ponta do dedo. Ela levou até sua boca e experimentou, ainda rindo.

- Pelo menos ficou gostoso.

- Muito engraçado. – disse Niall, mal humorado.

Ele estava a ponto de gritar algum palavrão, mas, então, seus olhos encontraram o rosto de Aria, que respirava fundo para parar de rir. A expressão que sua face assumia enquanto ria era de extrema semelhança com a face de Liam quando ele ria. Os olhos, ficavam mais estreitos e ruguinhas apareciam em suas laterais, sem contar que era exatamente da mesma cor. Aquilo, de certa maneira, deixou Niall mais calmo. Não tinha mais vontade de gritar ou de matar alguém.

- Vamos ver se você acha isso engraçado... – Niall passou a mão no rosto e depois a levou para a blusa branca de Aria.

Ela parou de rir imediatamente. Havia uma marca de mão feita de papinha carimbada em sua blusa branquinha.

- HORAN! – ela gritou. – PERDEU O MEDO DE MORRER, GAROTO?

Foi a vez de Niall rir.

- A vingança é um prato que se come frio... Literalmente.

Aria levou Haley até o cadeirão – o mesmo que tinha comprado e montado – de frente para a mesa e a colocou ali, sentada.

- Você não deveria ter feito isso. – disse ela para ele.

Aria pegou os legumes que tinham sobrado em cima da mesa e começou a tacá-los em Niall. O rapaz colocou a mão na frente, tentando se proteger enquanto inúmeros alimentos eram tacados nele. E aquilo estava começando a machucar sua mão. Precisava de um plano e assim que viu o litro de leite em cima da mesa, sabia o que deveria fazer.

- Droga... – Aria murmurou assim que os legumes acabaram.

Niall espiou por trás das mãos.

- Ah-rá! – ele disse, sorrindo, correndo até o leite – Toma essa!

Antes que Aria pudesse desviar, Niall jogou o leite, novamente, em sua camisa. Ela levantou as mãos, fechando a boca para não engolir o leite que respingara em sua boca. A marca da mão de Horan foi deslizando, desmanchado, misturando com o leite que encharcara seu uniforme. O mesmo uniforme que precisava usar para ir para a escola naquele dia.

- Agora, diria que a vingança é um copo de leite que se toma frio. – Niall fez cara de vitorioso, rindo logo em seguida.

Haley começou a rir da cadeirinha, desviando o olhar de Niall e Aria para ela. Ela batia palminhas alegres. Parecia que tinha acabado de ver um grande espetáculo e agora queria um bis.

Aria não conseguiu se segurar e acabou rindo um pouco.

- Estou começando a gostar mais de você, anã de jardim. – disse Niall, dando uma gargalhada que Aria sabia ser a sua verdadeira risada, alta e escandalosa.

Talvez o antigo Niall não estivesse tão distante assim.