História How To Love a Little Girl - 24

Niall andava de um lado para o outro, aflito e completamente fora de si. Ele parou de frente para o espelho e fitou o próprio reflexo pela décima vez sem realmente ter necessidade. Só precisava mesmo fazer algo que tirasse sua atenção de Aria e se olhar no espelho parecia ser uma boa ideia. Checou se seu visual estava no divido lugar. Ele usava uma calça preta com sapatos sociais, uma blusa branca lisa de manga e um blazer aberto preto por cima. Os cabelos estavam jogados para cima e tudo o que ele estava fazendo era esperar que seu segurança batesse na porta e avisasse a chegada de seu carro para leva-lo ao desfile sem graça.

Saiu de frente do espelho e se sentou na cama, apoiando os cotovelos no joelho e respirando fundo enquanto esperava aqueles torturantes segundos passarem.

Vamos tentar entender o que passava em sua cabeça: Aria Payne. Ele a havia beijado e agora a única coisa que queria, era repetir o ato. Só que a questão era que, na hora do beijo, ele não esperava ter que sentir aquele tipo de coisa. Tinha toda garota que queria, beijava toda garota que queria, e sabia muito bem o que acontecia quando se sentia daquele jeito. Levava tudo a outro patamar, só que ele não queria que acontecesse aquilo com Aria. Droga! Por que ela tinha que ser tão... linda? Sensual? Sentia um desejo tão grande que chegava a sufoca-lo. O pensamento de tocá-la novamente subia pela sua garganta, implorando para que ele fizesse algo a respeito e acabasse com aquela tortura interior. Só de pensar nela, sem aquele casaco... Sem a blusa... Sem...

Ah Deus! Era de Aria de quem estava falando! Ela era uma amiga, amiga, amiga, nada mais, amiga. Certo. Tinha ficado com uma amiga. Pintou um clima. Climas rolam entre amigos de vez em quando. Era só seguir em frente e agir naturalmente. É isso o que amigos fazem quando ficam com outros amigos.

Então por que ele se sentia tão necessitado em vê-la? Tão necessitado em beijá-la novamente?

Maldito o momento em que pensou “Por que não beijá-la? Sou Niall Horan, beijo quem quiser”.

Totalmente perdido em seus próprios e profundos pensamentos, ele quase não percebeu quando a porta do quarto foi aberta, trazendo vozes alegres para dentro do cômodo. Niall se levantou rapidamente, passando a mão no blazer, como se aquilo fosse ajudar a acabar com seu nervosismo, e esperou Aria perceber que ele estava ali, em seu quarto, esperando-a voltar do grande teste de sua vida.

Ah, sim, esqueci de mencionar que ele tinha “invadido” o quarto de Aria e estava ali, esperando-a.

A garota chegou mais perto da cama e o viu ali, levando um pequeno susto, mas Niall nem conseguiu pensar em pedir desculpas, já que seus olhos se depararam com um par de olhos verdes ao lado de Aria. Era um homem. Um rapaz, para ser mais exato, mas mesmo assim era um ser humano do sexo masculino entrando no quarto junto com ela. O que significava aquilo? Ela saia por algumas horas e já trazia uma pessoa para seu quarto de hotel? Liam não gostaria de saber daquilo.

- Niall? – ela arregalou os olhos, surpresa – O que está fazendo aqui?

- Ei! Você é Niall Horan! – disse o garoto ao lado dela – Cara, sou seu grande fã! – ele sorriu, olhando animado para Niall – Isso explica o porquê de lá fora estar cheio de garotas berrando e gritando. – ele se virou para Aria – Não me contou que era amiga de Niall Horan!

- Não é bem uma coisa que se fala quando conhecemos uma pessoa nova. – disse Aria, totalmente desconfortável com o olhar penetrante de Niall sobre ela. – Bom, eu acho que...

- Ei... Espere um pouco. – disse o rapaz, do nada, acariciando a barba com a mão – Ei, ei, ei, ei, ei!!! Você é a garota do noticiário, não é??? Só pode ser. Ou isso ou os fotógrafos te acharam linda demais para ficar tirando algumas fotos... Isso faz muito sentido agora! Nossa, mereço um prêmio de melhor detetive, sou melhor que Sherlock Holmes.

Aria riu fraco e levantou as mãos.

- Culpada. Foi mal não ter contado, mas realmente não é algo no qual falamos no primeiro encontro e... Não que tenhamos ido a um encontro, mas, rum, er, você entendeu.

- Relaxa, pequena. – ele riu, bagunçando o cabelo dela.

Aria olhou para ele e sorriu um pouco envergonhada.

Niall estava querendo vomitar.

- Rum, rum. – esse foi Niall engolindo seu vomito e limpando a garganta para que percebessem que ele ainda estava ali.

Os dois jovens a sua frente o encaram um pouco curiosos. Niall permaneceu sério diante aquela secada, passando o olhar de Aria para o ruivo garanhão e do ruivo garanhão para Aria.

- Ah... – Aria encarou os dois, batendo os braços na lateral do corpo – Dean, esse é... Bem, você já o conhece... E Niall, esse é o Dean, ele fez um teste na faculdade também e... me deu carona até o hotel.

Niall cruzou os braços, não apertando a mão que Dean estendeu para ele. Como Aria podia ser tão irresponsável???? Como ela trazia um cara que mal conhecia para seu quarto? E se ele fosse um assassino-estuprador-de-mulheres? Essa mulher tinha minhocas na cabeça?

- Aria... – Niall olhou para ela – Podemos conversar a sós?

- Na verdade, eu... – ela ia recusar, já que não queria ficar a sós com Niall nem morta.

- Agora! – ele disse mais rígido, puxando-a pelo braço e a levando para fora do quarto.

Niall praticamente tacou-a para o corredor, fechando a porta com força atrás de si. Ele cruzou os braços e se virou para Aria com sua melhor cara de decepção/bravo. Aria, por sua vez, o fitava como se ele fosse um louco que acabara de falar alguma coisa estúpida. Ela acariciou o braço onde Niall havia agarrado e falou:

- Qual o seu problema? – perguntou ela – Precisava de tudo isso?

- Quem é esse cara, Payne?

Aria ergueu a sobrancelha.

- Já disse. O nome dele é Dean e eu...

- Tá, não quero saber! – ele a cortou, ríspido. Aria fez uma cara que dizia “mas você acabou de perguntar quem ele era”. – Quero saber o que ele está fazendo aqui. Conheceu o cara há dois minutos e já trás ele pro seu quarto? E se ele for um assassino?

- Assassino? Por favor, Niall, ele fez testes para ser ator! – ela disse, indignada – E eu o trouxe porque fomos tomar café e como você iria para o desfile, eu não queria ficar a noite toda sozinha me divertindo com a TV!

- Ele te levou para tomar café? Você saiu com um assassino?

- Niall! O que deu em você? Ele não é um assassino!

- Ah, não? Então, suponho eu, que você deve ter informações que comprovam isso! – Niall arqueou a sobrancelha, abrindo um sorriso desafiador.

Aria sentiu uma vontade de estapeá-lo e depois agarra-lo. Ele ficava muito sexy daquele jeito.

- Olha, ele só é um cara legal com quem fiz amizade. Provavelmente nunca mais nos veremos, então por que não aproveitar? Não é como se fossemos voltar para a Inglaterra e começar a frequentar um a casa do outro, ok? 

- Então você está querendo dizer que vai transar com esse cara? – Niall concluiu, indignado – Espere só seu irmão saber disso. Com quantos caras já transou desde que terminou seu namoro? Esse vai ser o número 54?

Certo, era oficial, ela realmente queria bater nele,

- Olha, Horan, eu não sei se você sabe, mas sexo não é a única diversão no mundo. Nós apenas iríamos conversar e ver um filme, nada mais! Eu não sou que nem você que sai por aí e arranja vagabundas para transar toda noite para fugir antes de elas acordarem! – ela apontou para ele, como se estivesse acusando-o.

- Olha, que tal você mandar esse cara embora e tentar ser uma pessoa mais madura? Vamos fazer o seguinte, você vai lá, expulsa ele e eu espero aqui pra ver se você fez tudo certo.

 - O quê? Não! Isso é ridículo! Eu não vou expulsá-lo!

- Então está assumindo que está atraída por ele?

Aria passou a mão na testa, respirando fundo.

- Quer saber? Se eu quiser transar com o Dean, eu transo. Se eu quiser transar com o porteiro, eu transo. Você não manda na minha vida sexual! Eu transo com quem eu quiser! – falou Aria, elevando um pouco o tom de voz e chamando a atenção de um casal de velhinhos que passava pelo corredor, levando uma criança de pelo menos sete anos na mão.

- Oh, céus! – disse a velhinha, tampando o ouvido do neto e passando correndo por eles.

Aria decidiu ignorar o fato de que eles a achavam uma vagabunda.

- Ótimo, mas depois que esse canalha aí te engravidar de gêmeos e precisar de alguém pra te sustentar, eu não vou ajudar! – disse Niall, irritado com as palavras ditas anteriormente.

- Engravidar?? – Aria quase engasgou. Será que Niall estava bêbado? – Pelo o que sei, você é que tem a filha perdida e abandonada, não eu! Você que transou com a vagabunda, não eu!

Niall sentiu os músculos ficarem tensos dos pés a cabeça. Ele sentiu o coração doer ao lembrar-se da perda e desviou seus olhos de Aria. Doía, doía demais ouvi-la falar daquele jeito sobre Sara, a pessoa mais bondosa, maravilhosa e gentil que ele conhecera na vida. Ouvir Aria chamando de vagabunda era quase como levar um soco na barriga.

Aria cruzou os braços, não perdendo a postura que adquirira: forte e nada submissa. Não deixaria Niall mandar nela daquela maneira, ela não era um cachorrinho, não era seu mascote e ele precisava se tocar disso fazia um tempo. No entanto, algo dentro de si estava inquieto, porque Niall parecia inquieto. Ele fechou a boca completamente e encarava o chão que se recapitula-se toda a discussão até aquele momento. Quando seu olhar levantou para o dela, Aria sentiu um arrepio pelo corpo, tamanha a intensidade dos olhos azuis frios sobre ela. Por um segundo, pensou que ele fosse batê-la.

Mas em vez disso, ele apenas falou:

- Sara é a mãe da Haley. – falou Niall, a voz cortante como uma faca – E ela está morta.

Dizer aquilo em voz alta era ainda pior, soava pior e Niall ainda não conseguia associar aquilo a vida real. Ele lançou um último olhar doloroso a Aria e depois passou por ela, indo para o seu quarto, que era umas três portas para frente, e se enfurnou lá dentro até a hora que precisasse sair.

Aria escutou a porta se fechando em um som distante e sombrio. Ela passou a mão na testa, respirando fundo enquanto as palavras de Niall passavam por sua cabeça repetidas vezes. Sara estava morta. Sara era a mãe de Haley. Aria poderia ter imaginado qualquer uma, menos Sara. E o pior de tudo, era que os traços de Haley eram quase idênticos aos da mãe. Descobrir aquilo fora devastador. Aos poucos, Aria foi se sentindo um lixo pelo o que tinha falado, foi se sentindo uma poeirinha em cima de um móvel abandonado. Se sentia horrível, um caco de vidro na rua.

Ela suspirou, entrando em seu quarto e fechando a porta atrás de si, apoiando a cabeça na madeira. E como se fosse resolver alguma coisa, começou a se xingar mentalmente. Burra, burra, burra, burra, burra, burra, burra, burra, burra, burra. A cada “burra”, era uma batida na porta com a cabeça.

- Hm... Eu acho que é bom eu ir embora. – uma voz grossa e calma veio de trás de si.

Ela se virou, olhando para Dean. Ele tinha um sorriso compreensivo no rosto e parecia mais bonito do que nunca. Aria sorriu para ele de volta, sem mostrar os dentes, enquanto coçava a cabeça.

- Eu acho que seria uma boa. – respondeu, lembrando-se da indignação de Niall ao vê-lo ali – Sinto muito, Dean.

- Não tem problema, Aria. – ele se aproximou dela, bagunçando seus cabelos mais uma vez – Nos vemos por aí!

Ele beijou a bochecha dela e deixou o quarto silenciosamente.

Aria se jogou na cama e deixou que o tédio e a culpa a consumissem pelo resto da noite.

ღ

Liam abriu a porta com pressa com batidas ecoaram pela casa, revelando a figura que ele mais queria, ou não, ver no momento. Zayn tirou os óculos escuros e fechou o guarda-chuva – sim, óculos escuros e guarda-chuva – e o deixou na varanda, encarando Liam como se ele fosse algum tipo de inseto grande e raro. E, bem, ele precisava encarar daquele jeito mesmo, já que não estava acostumada com sua presença, e de uma hora para a outra, ele recebia uma ligação do ex-colega de banda para ajuda-lo em algo muito sério.

- É bom que seja verdade. – disse Zayn, entrando na casa – Onde está? E... que barulho é esse?

- Pois é... – Liam fechou a porta e encarou Zayn – Eu sei que eu te falei que tinha um artefato antigo e raro aqui... mas... na verdade eu não tenho.

Zayn fez uma cara de bunda decepcionada.

- Como assim não tem? Então por que raios me chamou aqui, Liam?

Liam tentou abrir um sorriso acolhedor, mas tudo o que saiu foi um sorriso medonho e nervoso. Zayn até deu um passo para trás. O amigo foi até o sofá, se inclinando levemente e levantando com uma criança chorona no colo. Sim, uma criança chorona. Se Zayn já estava confuso antes, imaginem depois disso. Era um bebê que usava uma roupinha rosa com uma toquinha na cabeça da mesma cor, mas não era aquilo que chamava mais a atenção, e sim a maneira desesperada como ela chorava.

- O que é isso? – perguntou Zayn, assustado, enquanto Liam se aproximava.

- Um bebê.

- Eu sei que é um bebê, mas por que você está vindo em minha direção com um b... – Liam colocou Haley no colo de Zayn, fazendo parar de falar e encarar aquela criaturinha fofa porém irritante – Por que tem um bebê fedorento no meu colo, Payne?

- É o seguinte. Você tem um afilhado, não tem?

- Tenho, e daí? – Zayn o olhou ainda mais assustado, tentando não se incomodar com o choro da criança.

- E, bem, eu achei que você poderia trocar a fralda dela.

Zayn precisou de vinte segundos para entender o que estava acontecendo, quando finalmente o loading foi efetuado com sucesso, ele fez uma careta e devolveu o bebê para Liam.

- Eu tenho um afilhado, mas não trocava a fralda dele quando ele era pequeno. – disse ele – Me chamou aqui só para isso?

- Eu preciso muito de ajuda! To desesperado!!!

- Se vira, Liam, isso não é problema meu. Se me dá licença, vou para outro lugar onde não dispersarei meu tempo.

- NÃO! Não me deixe sozinho com ela! Eu não sei o que fazer para ela parar de chorar... Já tentei de tudo. TUDO. Mas tudo o que resta é essa fralda e... Eu não o que fazer. – disse Liam, balançando Haley em seu colo de um lado para o outro. – Eu estou desesperado.

Zayn respirou fundo, encarando aquela cena com certa piedade nos olhos. Liam parecia estar realmente desesperado. Talvez ele pudesse ajudar o amigo, quer dizer, o ex-amigo.

- Por favor, Zayn! Me ajuda!

Zayn suspirou, dando-se por vencido.

- Olha, ok, Liam, eu conheço uma pessoa que talvez saiba o que fazer, mas... Não vai ser agradável. É que em certas situações, precisamos de... Medidas extremas.

Liam engoliu em seco e depois encarou Haley.

- Faça o que for necessário.

Zayn estreitou os olhos e pegou o celular, ele desbloqueou a tela e apertou os botões lentamente, levando o telefone a orelha.

- Oi, sou eu. – disse, limpando a garganta – Tenho um problema. Código FR41D4 2UJ4.