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História How To Save A Life - Assunto de Família


Escrita por: Laaep e anaccelis

Notas do Autor


Hellooo
Tudo bem com vocês?
Nem vou pedir desculpas pela demora pq né auydguayga
só digo que escrevemos quando temos tempo e que não desistimos da fic, nem dessa e nem de nenhuma!
Espero que gostem do cap ^^
Bjos

Capítulo 6 - Assunto de Família


 

Camila´s point of view

Haviam se passado dois dias desde que Lauren me emprestara o livro de seu autor favorito. Devo dizer que se o larguei por mais de quinze minutos, foi muito! Eu estava completamente hipnotizada pela estória, cativada pelos personagens e curiosa ao extremo para saber o que aconteceria a seguir. Havia lido tanto que faltavam poucos capítulos para que acabasse o livro e aquilo deixou minha médica favorita bastante impressionada.

- Só dois? – Lauren perguntou enquanto fazia pressão em meu pulmão com a parte chapada do estetoscópio.

- Uhum, mais dois capítulos e eu já acabo de ler. – Eu estava de fato orgulhosa do meu feito.

- Devo dizer que estou impressionada! Achei que demorasse mais tempo para acabar um livro desse tamanho. – Ela disse sorrindo, retirando o aparelho médico de meu peito. – Desse jeito terei que trazer um livro novo a cada três dias!

- Não subestime minhas habilidades de leitura, Jauregui – Disse empinando meu nariz, e fazendo-a rir. – Mas fique a vontade para trazer mais leitura para essa paciente aqui, estou mesmo interessada em ter o que fazer por aqui enquanto ainda estou internada.

- Vou escolher os melhores para você. – Ela colocou o estetoscópio ao redor da cabeça e me sorriu.

- Já que vai terminar este livro nas próximas horas, existe algo mais que eu poça lhe trazer que a distraia? Só poderei trazer mais livros amanhã.

- bem, sinto falta de desenhar...eu o fazia bastante mas acredito que agora não terei nem como – Sorri triste ao levantar o braço direito engessado.

- Você desenha? – Lauren parecia feliz em saber daquilo.

- Sim! Minha avó me ensinou a pintar e desenhar. Ela fazia quadros maravilhosos, você amaria se os visse.

- Quando sair daqui, espero que me leve para conhecer estes quadros. Tenho certeza que devem ser lindos – Ela disse com ternura.

- Só espero que ainda estejam lá quando eu voltar... – Notei Lauren me olhando atentamente. Sabia que ela queria entender o que se passava em meus pensamentos mas era muito educada para perguntar.

- Camila, eu vou atrás de alguma coisa que sirva pra você desenhar! Duvido achar algo muito profissional, pois estamos em um hospital, mas trago o que puder.

- Já disse que você é a melhor médica que conheci na vida?

- Não deixe Dinah ouvir isso – Lauren disse rindo enquanto se dirigia a saída do quarto.

Cruzei os dedos em frente a boca, um sinal de que não falaria nada a Dinah. Vi Lauren dar um rápido tchau e em seguida eu estava sozinha novamente. Respirei o mais fundo que consegui e tentei me ajeitar na cama. Estava bastante cansada de ficar deitada, mas os fios conectados a mim e meus membros engessados faziam qualquer movimento meu ser quase impossível.

Consegui achar uma posição um pouquinho mais confortável na cama reclinável e recomecei minha leitura.

- Vamos ver o que Edgar preparou para o final dessa estória.

---// --

Não muito tempo depois, Lauren adentrou meu quarto novamente e segurando algumas coisas em mãos.

- Espero que sirva para você se distrair. – Ela falou se aproximando e me entregando um caderno em branco e alguns giz de cera coloridos.

Meu sorriso fora instantâneo, me ajeitei o melhor que pude na cama e peguei os objetos com a mão esquerda.

- Onde conseguiu giz de cera?

- Revirei a ala da pediatria, achei apenas estes pequenos...espero que sirva. – Ela parecia até encabulada, como se não achasse que aquilo fosse muito. Mas era muito para mim.

- São perfeitos, Lauren, obrigada!

Ela abriu um sorriso maravilhoso e eu vi ali a chance perfeita de começar a desenhar. Ajeitei o papel em meu colo e....opa, tinha esquecido de um detalhe, minha mão direita estava completamente engessada.

- ahn...acho que vou ter que me virar com a esquerda mesmo – Sorri amarelo e Lauren gargalhou.

- Consegue desenhar com a esquerda também?

- É o que vamos ver – RI e comecei a rascunhar algo no papel.

De fato era bem mais complicado desenhar com a esquerda, mas eu dava sorte pois estava conseguindo fazer algo até que razoável. Anos de aula de piano me deixaram quase ambidestra, quase, então até que o desenho não estava ficando tão ruim.  Lauren continuava parada me observando fazer os traços e contornos de seu rosto, e seu olhar me fazia corar enquanto tentava me concentrar na tarefa.

- Vou ter que atender outro paciente agora, Camila, mas voltarei para ver seu desenho terminado, ok?

- Vou deixa-lo perfeito!

Mais uma vez fiquei sozinha ali, mas agora eu preferia, pois poderia me concentrar em aperfeiçoar o desenho da médica. Consegui adicionar mais traços ao cabelo, cores, e sombreados. Sorri satisfeita com o resultado final, até que para alguém quase toda engessada eu fiz um bom trabalho.

- Tomara que Lauren goste.

- Tomara que Lauren goste do que?

A voz alta e alegre da doutora Dinah adentrou o ambiente e em seguida avistei a cabeleira loira e o sorriso divertido bem a minha frente.

- Bom dia, doutora Jane!

- Bom dia, Camila! Como estamos hoje?

- Bem melhor, na verdade a única coisa que me incomoda é continuar deitada.

- Bem, vamos mudar isso agora! É hora do seu banho, consegue sentar-se?

Tentei me posicionar melhor e vi que Dinah tinha trazido uma cadeira de rodas com ela.

- Nossa, que desenho lindo! Você quem fez?

- Ahn...Lauren trouxe alguns itens para eu passar o tempo, dai...

- Ficou maravilhoso! Ela já viu? Laur vai surtar quando souber que desenha, ela ama arte no geral.

- Sério? O que mais ela gosta?

- Música, desenhos, pintura, dança, poesia, ela adora essas coisas. Você tem outro talento escondido além de desenhar?

- Bem, eu sei pintar e tocar alguns instrumentos...

- Nossa, assim vai conquistar ela rapidinho!

Corei na hora e Dinah riu, se aproximando de mim. Ela me segurou firme e me ajudou a sentar.

- Muito bem Camila, preciso colocar você sentada na cadeira de rodas, vamos lá.

Com um pouco de dificuldade, Dinah conseguiu me fazer sentar onde queria. Minha costela machucada incomodava um pouco e o gesso na perna e no braço dificultavam bastante as coisas também, mas deu certo. Dinah me levou até o banheiro e deu início ao banho.

Bem, era um pouco constrangedor que ela estivesse me vendo nua, mas a médica era tão descontraída que me fez sentir confortável logo. Assim que eu estava limpa o suficiente, Dinah colocou uma roupa de hospital novinha em folha em mim e me ajudou a voltar ao quarto.

Quando voltamos, vi a doutora Jauregui de costas pra mim, mexendo em algo em cima de minha cama.

- Mas já está aqui, Lauren? Que coisa, não posso nem dar banho na Camila que você já vem xeretar

Lauren se virou completamente sem jeito e vi que ela tinha roupas de cama e travesseiros na mão.

- ahn, já voltaram? Bem, eu vim trazer umas coisas para deixar Camila mais confortável na cama, só isso.

- Aproveitou e viu a obra de arte que nossa paciente fez? Nem vou dizer que estou com ciúmes que o desenho é de você

- Eu não pude deixar de ver, ficou realmente maravilhoso Camila. Você é muito talentosa – Lauren me sorriu, ajeitando um mexa de cabelos que lhe caia no rosto.

- Você nem viu nada! – Dinah começou. – Ela sabe tocar e pintar também. É um pequeno prodígio

- Não é pra tanto – Disse encabulada, evitando olhar pras médicas.

- É sim! Não é sempre que recebemos artistas por aqui – Dinah riu. – Lauren, me ajude a coloca-la de volta na cama.

- Ah, mas já tenho que voltar? – Fiz bico, e vi as duas se entreolharem.

- Bem, quer conhecer o hospital?

- Quero!

- Você a leva então, Laur? Tenho sessão de fisioterapia daqui vinte minutos.

- Eu a levo, pode deixar.

- Obrigada pelo banho, doutora!

Dinah riu e acenou enquanto saia do quarto, Lauren se posicionou atrás da cadeira de rodas onde eu estava e começou a me empurrar para frente.

- É esquisito sair da cama com esta roupa de hospital, minhas costas e bunda ficam completamente de fora.

Ouvi um riso baixo da médica.

- Você não deveria se preocupar com isso, Camila, acredite. Vemos pessoas peladas aqui o tempo todo e a sua nudez realmente não incomoda.

Eu deveria corar com aquele comentário? Não, mas foi o que aconteceu.

- ahhn, eu não sei se a frase saiu como eu gostaria mas... – Lauren tentou se explicar mas minha atenção e a dela foram atraídas para um velhinho que passava a nossa frente, acompanhado de uma enfermeira.

Ele aparentava ter uns noventa anos, mas estava de pé, caminhando devagar e com um sorriso banguela no rosto. Quando ele se virou, eu entendi o que Lauren quis dizer com sua frase. Toda sua parte traseira estava exposta devido as roupas do hospital e não consegui conter um riso.

- Viu o que eu quis dizer né?

Eu encarei minha médica e em seguida ambas começamos a rir.

Lauren me levou para conhecer as alas do South Miami, da pediatria a de fisioterapia e depois os jardins externos. Era muito bonito aquela parte de fora, os jardins tinham várias rosas brancas e vermelhas. Lauren pegou uma vermelha para mim, tomando o cuidado de arrancar todos os espinhos para que eu não me machucasse.

- Gosta de rosas? – Ela perguntou, enquanto eu segurava a flor em minha mão.

- As acho lindas! – Cheirei as pétalas. – São delicadas, mas passam muito poder ao mesmo tempo.

- Eu também, e o aroma é maravilhoso também.

Ficamos mais algum tempo no jardim, enquanto a médica me contava como montaram os desenhos com flores que haviam ali fora. Eu me culpei por quase não prestar atenção em suas palavras, mas o sol estava iluminando Lauren de um ângulo tão lindo que eu não conseguia desviar meus olhos dela.

---\\

Voltamos para meu quarto algum tempo depois e Lauren me ajudou a sentar na cama. Ela abriu a parte de trás da roupa hospitalar até o meu cox e usou o estetoscópio para ouvir minha respiração. Um arrepio subiu por minhas costas quando o objeto gelado tocou minha pele.

- Respire fundo, Camila

Fiz o que foi pedido. Respirei uma, duas, três vezes e Lauren ouviu tudo atentamente.

- Sua respiração está bem melhor, mas ainda tem um pouco de ruído o que significa que não deve força-la, ok? Se sentir dificuldades para respirar ou sentir que está sufocando, por mínimo que seja, chame uma enfermeira e ela lhe dará oxigênio, está bem?

- Pode deixar, doutora. Mas não acho que nada vai me exaltar aqui dentro, pelo contrário, nunca estive mais tranquila.

- Isso é ótimo de ouvir! Preciso que permaneça neste estado, assim sua recuperação será bem mais rápida.

- Eu te vejo mais tarde?

- Tentarei dar uma passada aqui na hora do café – Lauren me sorriu gentilmente, e se despediu de mim com um aceno antes de sair porta a fora.

Algumas horas depois, eu estava sozinha no quarto e completamente presa na leitura dos capítulos finais do livro que Lauren me emprestara. Estava tão absorta que não reparei quando Diego, um dos enfermeiros, adentrou o local com minha refeição da tarde.

- Boa tarde, Camila

- Olá, Diego!

- Vejo que está cada dia melhor, isso é ótimo. – O rapaz depositou a bandeja com os alimentos em minha cama, e me ajudou a me posicionar melhor para comer.

- Vocês cuidam muito bem de mim aqui, não tenho como não ficar melhor

- Você está no melhor hospital de Miami, sempre fazemos o melhor por nossos pacientes.

Sorri para o rapaz antes de atacar a comida que estava em minha frente. Não tinha percebido o quanto eu estava com fome até ele chegar.

- Viu, Camila, eu vim te dar uma notícia adiantada. – O encarei curiosa. – La na recepção chegaram duas pessoas pedindo suas informações e daqui a pouco começa seu horário de visitas. Bem, é a primeira vez que você recebe visitas então preferi vir perguntar se deseja vê-las.

Fiquei imóvel não sei quanto tempo com aquela informação. Duas pessoas vieram me visitar? Quem seriam? Será que...

- Camila? – O rapaz me chamou a atenção.

- Ahn...nossa, eu agradeço a sua preocupação comigo Diego. Bem, eu acho que vou receber elas sim...afinal é a primeira visita que recebo não é?

- Bom, então assim que terminar de comer eu peço para eles entrarem.

- Ok, obrigada!

Com um sorriso, o enfermeiro se retirou do quarto. Admito que fiquei bastante nervosa dali pra frente, um sentimento de ansiedade começando a crescer dentro de mim. Será que eram meus pais? Minha mãe havia me dito que visitaria, mas não achava que seria tão rápido!

Quando a bandeja de comida fora retirada do quarto, eu já estava com as mãos suando. Cogitei chamar Diego para ajustar um pouco de oxigênio para mim, pois eu achava que sufocaria a qualquer minuto tamanho o nervoso que sentia.

Ouvi sons do outro lado da porta do quarto e finalmente ela foi aberta. A figura elegante de minha mãe adentrou o quarto, e é óbvio que ela viera de Scarpin e terno Chanel preto para uma visita a um leito de hospital. E postado ao seu lado, como um grande cão raivoso e dominante, estava Alejandro, meu pai. Ele aparentava estar um pouco mais velho e mais odioso desde a última vez que o vi, apesar de ter sido há um mês atrás. Os cabelos grisalhos continuavam arrumados de forma impecável, o terno cinza feito sob medida parecia ter custado mais uma pequena fortuna e sua postura continuava a mesma, ereta e imponente. Meu pai era um homem imponente e impunha respeito a qualquer um que cruzasse seu caminho. Bem, digo respeito mas na verdade a palavra certa é medo. Ele impunha medo aonde quer que fosse.

Sinuhe me olhou dos pés a cabeça, como que medindo os estragos que foram causados em mim. Quando nossos olhares se encontraram, por um resquício de segundos, vi um pouco de compaixão no par de olhos castanhos. Já Alejandro apenas encarava meus olhos. Aquelas esferas negras me fuzilando apesar de sua expressão estar serena e quieta.

- Olá, Karla...- Sinuhe começou, quase insegura das palavras que dizia. – Como você está?

- Bem, na medida do possível. – Meus olhos desconfiados iam de minha mãe para meu pai como que prevendo um reação negativa a qualquer momento.

- Que bom – Era óbvio que minha mãe não sabia o que conversar comigo e não tinha ideia do que falar a seguir. – Bem, você deve estar se perguntando do porquê estarmos aqui...

- Ah claro, porque vir apenas para ver como estou não é um motivo suficiente – Antes de pensar a respeito, as palavras já saíram de minha boca. Pois é, eu tinha um gênio difícil também...

- Incrível, nem em uma cama de hospital você deixa de ser insolente – Alejandro rosnou ao dar as costas para mim e ficar de frente para a janela.

- Se você está falando e interagindo normalmente, significa que está bem e suas lesões não são das mais graves. – Sinu falou como se fosse a coisa mais obvia do mundo. – Não saia julgando, Karla, também ficamos preocupados com você.

- Preocupados? Por favor, mãe, corte esse papinho sentimental! Por mais que eu realmente queira acreditar que estavam “ preocupados” com meu estado de saúde, eu convivi a vida inteira com vocês e sei que não é verdade. Vamos direto ao assunto, o que vieram fazer aqui?

- Enfim concordamos com algo, vamos direto ao assunto. – Meu pai se virou parecendo bastante irritadiço. Sinu respirou fundo, como se a conversa não estivesse tomando o rumo que ela queria.

- Como você já deve estar ciente, sua avó Mercedes faleceu e sendo assim, tudo que estava no nome dela fora passado para frente, se é que me entende. – Ele falou aquilo como se não significasse nada, havia quase um tom de felicidade em suas palavras. – Você reclama de nossa falta de atenção para com seu estado de saúde mas eu e sua mãe estávamos trabalhando duro para garantir que todo o legado de seus avós não caísse em mãos erradas ou fossem desperdiçados em doações idiotas.

- Veja, Karla, minha mãe deixou um testamento onde detalhava o que deveria ser feito com todos os bens. E com você no hospital, tivemos que tomar diversas decisões para garantir que tudo fosse feito de acordo com o que era necessário.

- Você deve estar bem feliz, não é? – Os encarei com raiva. Sabia onde chegariam com aquele papo, iam falar para não me meter nas negociações dos bens da família por que eles sabiam o que era o melhor a se fazer. Errado, eu me meteria sim até porque sabia que em alguma parte daquele testamento deveria existir uma pequena parte destinada a mim e eu não deixaria meus pais tomarem posse dela. Eles provavelmente já haviam dominado tudo e agora queriam minha parte também.

- Desculpe? –Sinu perguntou sem entender.

- Não era o que queria? Herdar todo o dinheiro dos meus avós? Deve estar bem feliz por finalmente ter posto as mãos em tudo.

- Olhe bem como fala comigo, Karla.

- Ora mamãe, a senhora ficou milionária da noite para o dia, não aja como se não fosse isso. Agora acabem com esta enrolação, o que de fato vieram fazer aqui?

Vi uma troca rápida de olhar entre meus pais e Alejandro se aproximou de mim.

- Pelo menos na impaciência você é igualzinha a mim. – Ele disse com um sorriso sarcástico. – Preciso que assine este documento, para liberar os bens de Mercedes e assim podemos tomar as medidas necessárias para que permaneçam na família.

Alejandro tirou um documento escrito em papel pardo, enrolado e devidamente assinado por advogados e pelos meus pais. Eram muitas letras minúsculas dispostas ali e logo abaixo havia uma parte com linha tracejada exigindo minha assinatura.

- O que é isto?

- É apenas um documento que desimpede certas burocracias chatas, passamos o mês brigando na justiça tentando desbloquear os bens de Mercedes.

- Desbloquear? Por que estão bloqueados se vocês os herdaram? – Estranhei e vi novamente a troca de olhares entre eles.

- Apenas assine, Karla, você mesma quer que esta conversa termine logo, não? – Alejandro disse impaciente.

Realmente eu queria mas se tratando de meus pais, eu não assinaria nenhuma documento sem ler. Rolei meus olhos pelo amontoado de palavras e comecei a rápida leitura. Franzi o cenho ao ler frases como “...se Karla Camila Cabello Estrabão abdicar da posse dos bens herdados, os mesmo podem ser passados, como diz a lei, a seus pais Alejandro Estrabão  e Sinuhe Cabello Estrabão cujo parentesco de primeiro grau com a falecida proprietária faz ..”

- Pera, pera, como assim eu devo “ abdicar dos meus bens”?

- Vai ser melhor assim! Agora assine, já estamos a um mês tentando desenrolar essa bagunça

- Que bagunça? Não basta terem herdado uma parte da herança, ainda querem que eu deixe a minha para vocês!? Não mesmo! Se minha avó decidiu deixar alguma coisa para mim, eu ficarei com ela!

- Karla, pare de ser sentimental! Precisamos que assine o documento logo, temos que comparecer ao tribunal para dar um fim nesse maldito processo de bloqueio de bens.

- Vocês ainda não me explicaram o porquê dos bens da família estarem bloqueados. – Insisti, encarando meu pai que ficava cada vez mais irritado.

- Burocracias, Karla, burocracias! Você só precisa assinar esta merda e não precisa fazer mais nada. Nós cuidamos do resto!

- É exatamente esta parte que me faz não querer assinar nada!

- SUA INSOLENTE! – Alejandro bateu com o punho no armário de remédios próximo a mim, o barulho fez Sinu se sobressaltar e eu também. Em seguida o corpanzil de meu pai se aproximou de minha cama furioso. – Você já me deu trabalho demais! Assine isto agora ou terei que força-la!

- Você não pode me obrigar a nada! – Neguei tentando me afastar o máximo possível de meu pai.

O homem usou a força para segurar meu braço e pressionou a caneta em minha mão. Meu coração disparou no peito, eu estava nervosa e com medo daquele homem e de tudo o que ele poderia fazer. Senti aquela sensação dolorosa ao respirar o ar cada vez mais forte, parecia que algo impedia que meu pulmão se enchesse novamente.

- Ande Karla, já fiquei tempo demais nessa merda de quarto. – Ele quase berrava.

- Não vou assinar nada! Eu sei que estão me escondendo alguma coisa e não farei nada sem a presença de algum advogado!

- Cale a merda da boca! Como se já não bastasse a velha ter escolhido deixar tudo para alguém tão irresponsável quanto você, você ainda me fica um mês em coma apenas para dar mais dor de cabeça! Se eu precisar eu vou colocar você na justiça, está me entendendo!?

- Ela...deixou tudo para mim?  - De repente, tudo fez sentido. Meus pais ali insistindo para que eu assinasse um documento sem ler, a fúria de Alejandro quando me recusei e o bloqueio dos bens. Minha avó deixou a herança inteira para mim e nada para eles, fora isso! No testamento deve estar escrito algo que proíbe os bens de serem mexidos caso eu não esteja apta para tal e por isso estão bloqueados. Toda a conversa de meus estarem com uma ação na justiça para libera-los deve ter a ver com o fato de que eu estava em coma e eles alegarem serem os melhores para cuidar de tudo na minha ausência. A dúvida era, por que eles não conseguiram isso ainda?

- Você sempre puxou mais o saco dela do que a gente- Sinu falou em um tom altivo. Sua cara era a de que definitivamente não havia gostado do rumo da conversa.

- Eu a amava, se é o que está dizendo. – Fulminei minha mãe com os olhos.

- Pelo amor de Deus, Karla! Amava? Você não consegue parar de mentir nem agora? Só estava atrás de dinheiro fácil, isso sim, nunca nem se importou com nada! Admita logo, garota e pare de bancar a boa neta! – Alejandro soltou de forma debochada.

- Cale a boca! – Gritei sem conseguir me controlar. Os bipes dos aparelhos indicando o aumento de minha pressão sanguínea e oxigenação. – Eu não vou cair nesse jogo barato de vocês! Só minha avó e meu avó sabem como eu os amava e como vocês dois são só gananciosos nojentos atrás da fortuna deles! Eu não vou assinar merda nenhuma, se a última vontade de minha avó era de que nada fosse deixado para vocês então que assim seja!

Dito aquilo, rasguei o documento em minhas mãos. Vi o rosto de meu pai sair do vermelho e assumir uma coloração púrpura. Ele segurou meu braço com tanta força e se virou de forma tão brusca para mim que os aparelhos ligados a mim dispararam.

- VOCÊ NÃO SABE A MERDA QUE ESTÁ FAZENDO! EU VOU ME CERTIFICAR QUE PAGUE POR ISSO, KARLA

- ME SOLTA! – Gritei mas senti meu pulmão queimar com o esforço que fazia. O ar começou a me faltar e aquela dor aguda tomou conta do meu pulmão. – Me sol...

- Vou arrancar você daqui! Quero ver bancar todas as suas despesas hospitalares não tendo nenhum centavo liberado na sua conta!

- Me solta – Falei com dificuldades, minha visão ficando embaçada por causa de minha respiração irregular. Tentava pressionar o botão para chamar um enfermeiro mas Alejandro quase não me deixava se mexer de tão forte que me segurava.

- Alejandro, cuidado, ela não parece bem! – Ouvi Sinu falar algo mas não conseguia assimilar direito, tudo o que eu queria era conseguir respirar. – Alejandro, você está em um hospital, pelo amor de Deus!

- Cale a boca, mulher! – Ele berrou, pressionando ainda mais meu braço. O cateter que estava inserido em meu braço se soltou, deixando um fio de sangue escorrer. Eu tinha que tirar meu pai dali, rápido. – Você acha que vai se livrar rasgando um pedaço de papel, Karla? Vou voltar aqui com meus advogados e você estará

- O que está acontecendo aqui!?

A figura de Lauren Jauregui apareceu na porta do quarto junto de dois enfermeiros. Nunca em toda minha vida pensei que ver uma mulher me deixaria tão aliviada. Consegui juntar as forças e falar a única coisa que precisava:

- Lauren, ar!

Lauren viu meu estado, os meus pais e ouviu meu apelo e rápida como um raio ela correu até mim, batendo bruscamente em Alejandro no que eu entendi como sendo uma “indireta” para ele sair da frente. Lauren posicionou o oxigênio no meu rosto e ajustou-a com cuidado, ligando o aparelho em seguida. Senti meus pulmões receberem o ar e consegui relaxar na hora.

- Posso saber o que vocês estão fazendo perturbando o tratamento de uma paciente que acabou de sair de um coma!?

Lauren estava furiosa, de um jeito que eu nunca nem imaginei que ela conseguisse ficar. Seus olhos verdes fuzilavam Alejandro e Sinu, os punhos fechados e as narinas infladas davam a ela um ar amedrontador.

- É um assunto de família, doutora. Não me meteria se fosse você

- Não me interessa o assunto, e sim o estresse que estão causando em minha paciente. Vou pedir que se retirem, imediatamente.

- Somos os pais dela e temos assuntos mais importantes a tratar no momento, se nos der licença. – Sinuhe falou encarando Lauren friamente, como se ela de fato estivesse atrapalhando.

- Não me interessa se são os pais dela ou o Papa, saiam deste quarto agora ou chamarei a segurança para expulsar vocês dois daqui.

- Como ousa falar assim com a gente!? Quem você pensa que é?

- Eu sou Lauren Michelle Jauregui Morgado, médica cirurgiã do hospital South Miami e neste momento, a pessoa que está prestes a chamar a polícia aqui e mandar prender o senhor e sua mulher por perturbar a ordem de um leito de hospital e colocar em risco a vida de uma paciente!

Neste mesmo momento, dois guardas se postaram na porta do quarto e junto deles a doutora Dinah Jane.

Alejandro parecia que explodiria alguém se pudesse, de tão contrariado, mas aceitou que naquele momento ele havia perdido.

- Já estamos de saída, doutora. – Ele frisou o doutora como quem fala um palavrão e Lauren quase rosnou de volta para ele.

Meu pai e minha mãe saíram do quarto, acompanhados de perto pelos dois guardas e os enfermeiros. Lauren soltou uma respiração aliviada e se aproximou de mim, olhando cada pedacinho meu para ver se tudo estava bem.

Ouvi ela xingar baixinho meu pai ao ver o cateter solto e meu braço sangrando. Lauren se prontificou a limpar o ferimento e a recolocar o equipamento em minha veia com o devido cuidado.

- O que aconteceu aqui? – Dinah perguntou, sentando-se em minha cama.

- Eu também adoraria saber. Mas você precisa de uma boa dose de oxigênio e que seu coração diminua um pouco o ritmo, agora. Assim que estiver com a respiração normalizada, queria que me explicasse o porquê de seu estimado pai quase matá-la.

- Eu explicarei até onde posso... – Falei baixo e pausadamente. – Mas antes...

Lauren nem teve tempo de reagir quando me joguei contra seu corpo em um abraço apertado, cheio de gratidão. Ignorei completamente minhas dores e permaneci agarrada a médica que salvou meu dia mais uma vez.

- Obrigada, Lauren, de verdade


Notas Finais


Até o próximo o/


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