História HUMA: Entre o bem e o mal - A viagem - parte 2

No dia seguinte, fui novamente falar com o Ben. Eu não entendia porque, mas eu gostava de conversar com ele, além disso, eu tinha algo a fazer:

- Eu vou ter que prender você outra vez. - falei. Ele ficou aparentemente confuso. No dia anterior e eu disso o oposto. 

- Tudo bem. - respondeu ele.

- O Harry me convenceu de que é o melhor a ser feito. - expliquei.

- Tudo bem. - repetiu ele com a mesma serenidade.

- Você é um rei. Não devia ficar preso. - falei sincera. 

- Ninguém deve ficar preso, na verdade. - falou ele. - Ninguém devia ficar em um lugar que não queria estar. 

- Mas foi o isso o que o seu pai fez com a gente. Não é? - falei pensativa. A Ilha era como se fosse uma prisão e nós estamos pagando pelos erros dos nossos pais...

- Eu nunca tinha parado pra pensar dessa forma... eu sinto muito!

- Não precisa ter pena da gente! - falei com raiva. - Nós não somos o seu povo. Os descendentes são a minha gente e eu vou lutar por eles! - afirmei. Era a primeira vez que eu tinha parado pra pensar daquela forma. E a partir de então, essa era a minha missão principal: dar uma chance pra quem não teve. 

- Como assim ? - perguntou Ben.

- Nada não... - respondi tentando mudar o rumo da conversa. Ninguém precisava saber meu novo plano. - do que estávamos falando? Ah, sobre você estar acorrentado. Se fosse comigo eu já teria mandado cortar a cabeça de todo mundo.

- Você sempre diz que vai cortar o pescoço das pessoas, né? 

- Sim! Se eu não disser isso eles não me odebecem! - expliquei. 

- E você já cortou a cabeça de alguém ? - questionou ele. 

- Não. Nunca. 

- Então eles sabem. Uma, a sua tripulação é cheia de caras maiores que você, mais fortes que você, mais altos que você. Você sabe porque eles te obedecem? Não é por medo da sua repressão ou força física. É porque eles te respeitam. Você tem que respeitar eles também. 

- Ninguém reclama da minha forma de comandar. - falei pensativa.

- Não estou reclamando. - se explicou Ben. - Só estou dando um conselho. Pra você ser uma capitã melhor do que já é. 

- Eu vou... vou subir pra ver pra que direção estamos navegando. - respondi fugindo. - O... brigada pelo conselho. - falei me esforçando.

- Não tem de que. - falou ele sorrindo.

É por isso que eu gosto de conversar com o Ben. Ele tem uma forma de pensar diferente de todos na Ilha. 

No dia seguinte, passei no calabouço mais uma vez. Ok, isso já estava virando rotina. Conversamos muito nesse dia, conversamos sobre tudo:

- Então, como você se tornou uma pirata? - perguntou ele interessado. 

- Quando eu e Harry éramos pequenos sempre brincamos de pirata, por causa do pai dele e eu adorava. Quando a Mal começou a andar com a gente nós paramos de brincar porque ela não gostava. Nisso tínhamos uns 8 anos. Então, Mal e Harry namoraram... - falei. Dei uma pausa. Toda vez que eu penso nisso me dá um sentimento ruim, raiva, ódio, inveja, ciú...

- Uma? Continua a história. - pediu Ben sem se importar com o ex-namoro. 

- Enfim, depois que ela foi embora eu e Harry nos reaproximamos e o pai dele nos deu esse navio, só que estava caindo aos pedaços. Ele disse que se nós conseguíssemos fazer com que aquele monte de madeira voltasse a ser um navio de verdade, se conseguíssemos guiar esse navio, nós teríamos permissão pra guiar nossas vidas. Minha mãe concordou facilmente. Ela não gosta de mim. 

Fiquei imediatamente triste. Falar na minha mãe é algo que me deixa triste. Acho que ele reparou, porque imediatamente Ben mudou de assunto. 

- Vou confessar uma coisa. Eu acho muito legal essas pinturas que os piratas fazem no rosto. - falou ele espontaneamente. 

- Duvido! - respondi. 

- Você duvida de tudo! - disse ele rindo. 

Ben era realmente uma pessoa intrigante. Como ele conseguia estar feliz, estar sorrindo mesmo preso num calabouço, amarrado? 

- Espera um instante! - pedi.

Subi correndo pra buscar tintas e um chapéu. Esbarrei em Harry nos corredores, e nem respondi quando ele perguntou onde eu ia com tanta pressa. Se eu tivesse respondido, talvez as coisas teriam sido diferentes. 

Voltei pra baixo, coloquei o chapéu na cabeça de Ben e pintei o rosto dele.

- Essa é uma das situações mais improváveis que eu poderia imaginar. - afirmou ele. 

- Pensa que você está numa festa a fantasia. 

Quando Harry entrou no calabouço, eu estava de costas para a porta, sentada de frente pra Ben, que também estava sentado no chão. 

 - Olá, primeiro marujo. - disse Ben me avisando que Harry estava lá.

- Oi... é... isso parece estranho... - comecei gaguejando. - Eu estava apenas...

- Colocando umas cores no rosto dele. - falou Harry. 

- Isso. Exatamente. - respondi aliviada por ele ter entendido.

- Me diga, querido rei, você gosta de vermelho? Tipo, a cor? - perguntou Harry. 

- Acho que eu gosto de todas as cores. - disse Ben sorrindo. 

- Vermelho vai ficar ótimo no seu rosto. - respondeu Harry.

Harry sacou sua espada e cortou a bochecha do Ben, que começou a sangrar e, advinha? Ficou vermelha.

Eu saí do calabouço imediatamente e Harry veio correndo atrás.

- Ei! - gritou ele. - Não vai nem brigar comigo não? 

- Primeiro eu vou dar um jeito naquele machucado. - afirmei. - Depois eu te procuro pra te dar essa migalha de atenção que você está implorando. - respondi bem fria. 

Isso era exatamente o que eu ia fazer, se Harry não tivesse voltado para o calabouço também. Mas antes...

- Eu não queria que isso tivesse acontecido. - falei passando um algodão na bochecha de Ben.

- Desculpado. - respondeu ele com uma cara meio ruim. Não pelo que aconteceu, mas pela dor. Eu realmente não era boa com curativos. 

- Isso. Desculpa.

- Uma, eu posso te dar um conselho? - perguntou ele.

- Você vai falar mal do Harry? Porque se for, não pode. Ele tem razão, se eu visse ele tão perto assim da Mal teria matado os dois. - falei. Eu não ia permitir que Ben falasse mal do Harry. 

- Eu não vou falar mal dele. É só uma dica. Vocês dois se amam. Mas são muito marrentos. Não deixa o ciúme destruir a relação. 

- Como assim? 

- Acabem com o ciúme antes que o ciúme acabe que com vocês.