Nunca imaginei ser convidada pra sair. Geralmente eu que convidava as pessoas. Mas ultimamente estava tão desanimada que nem isso eu fazia. Depois de ter ferrado com todo mundo por causa de grana, ninguém sequer quis chegar perto de mim. Reconheço que tinha uma ótima namorada, e perdi ela por causa daquela estúpida. Ela conquistou o coração confuso da Lazuli. SJ tinha razão quando disse que eu precisava me distrair, portanto não hesitei em aceitar sair com Ruby.. acho que o nome dela é Andy, não tenho certeza, portanto preferi só chamar pelo segundo nome.
-E-eu nunca andei de moto.- gaguejou quando sentei na moto e liguei.
-Tem medo?- abri a viseira para olhar a mesma, estava um pouco encolhida.
-C-claro que não.- dava pra sentir o cheiro de medo, mesmo assim ela tentou subir na moto.
O fato dela ser baixinha fez com que ela tivesse que dar alguns saltinhos pra subir, eu queria cair na gargalhada, era tão adorável. Porém não quis deixar ela mais nervosa. A garota mal subiu e já agarrou com força meu abdome, me sentia um limão espremido. Por que limão? Hmn.. limões são bons. Limões são apenas pros fortes.
Em pouco tempo já estava em alta velocidade. Ela me segurava com força, ou era minha imaginação ou senti algumas carícias por baixo da blusa em meu abdome. O vento batendo forte em mim fazia alguns sentidos ficarem confusos. Finalmente chegamos ao shopping. Deixei a moto estacionada no lugar de sempre. Lancei aquele olhar mortal ao garoto que cuidava, ele sabia que se algo acontecer com minha moto ele ia parar no hospital.
-Chegamos?- Ruby parecia meio confusa.
-Pode tirar o capacete.- ela tirou, mas ficou me observando, distraidamente eu balançava meus cabelos, haviam grudado no rosto.
-Seu cabelo é lindo.- o rosto vermelho e a expressão, fazia ela parecer que estava caidinha por mim. Sério, por mim? Só pode ser a carência da minha cabeça.
-Obrigado.- baguncei o cabelo cacheado dela, a mesma fez uma adorável cara de brava, por que nanicos são tão fofos? -Se importa de ir comigo comprar algumas coisas antes do filme?-
Dei de ombros. Não tinha nada pra fazer. Levei as mãos aos bolsos da minha calça jeans. Ao olhar para o lado a garota não estava ali e sim atrás de mim, acho que caminho rápido demais, parei então esperando a mesma ficar em meu lado. Nunca vi um rosto tão vermelho, fora da academia claro, quando ela fazia muito força ficava toda vermelha, por isso é Ruby. O grupo de baixinhas que eu treinava.
Olhamos o horário do filme. Íamos assistir um de terror, tsc, nem dava medo. Mas era o único que seria daqui a uma hora, o resto ia demorar umas duas horas ou até mais. Eu insisti em pagar o ingresso dela, já que ela insistiu em pagar a comida. Mas antes de comprar a comida, fomos a tal loja. Me senti no paraíso. Sério, eram coisas pra academia, tinha sacos de porrada, roupas pra artes maciais, luvas de box, bonecos pra encher de porrada, voltei a ser uma criancinha. Até acertei uns socos no boneco, ai que delícia de bater nesse negócio, eu preciso comprar um qualquer dia desses, pena que é caro. Deu até vontade de aprender alguma luta.
Vi ela provando uma daquelas roupas de artes maciais, ela lutava? Sério?
-Acha que ficou muito grande?- deu uma volta.
-Está ótimo. Você luta o que?-
-Taekwondo.- virou de costas e mostrou o nome da arte marcial nas costas.
-Legal.- acabou saindo mais animado do que eu queria.
-Podia treinar um dia conosco, é bem mais barato que sua academia.- pediu com a voz baixa.
-Claro, me liga quando tiver aula.-
-Não tenho seu número.- disse baixo.
Enquanto ela se trocou eu pedi um papel ao vendedor e dei meu número para ela. A garota levou o uniforme. Fomos a praça de alimentação, comemos um daqueles sanduíches do Subway, ambas pedimos um de trinta centímetros, jurava que ela não ia comer aquilo tudo. Mas terminou primeiro que eu. Ela ficou me falando sobre como eram as aulas. Explicou que ela ia pra uma competição e queria ir com o “dobok” novo. Pelo que ela disse, dobok era o nome daquela ropinha branca escrito Taekwondo nas costas e umas letras em coreano, já que ela disse que é uma arte marcial coreana.
Nunca imaginei que uma baixinha pudesse ser tão valente, ela me diz ter lutado contra gente bem maior que ela, pois seu peso era um pouco desvantajoso para sua categoria. Mas pelo lado bom, o peso era puro músculo, assim como eu. Posso dizer que ela era uma versão miniatura minha, porém não sabia lutar, apenas brigar.
-Está na hora do filme.- olhei o horário em meu celular e o coloquei no bolso novamente.
-Vamos.- falou animada.
Ela comprou um potão de pipoca pra cada, e dois litros de refrigerante, claro que iríamos dividir o litrão, estava mais barato do que dois de um litro. Pegamos inclusive dois canudos. Sentamos bem lá traz. Coloquei o potão de pipoca no meu colo e abri o refri, sério era horrível beber com aquele canudo.
-Se importa?- apontei para o gargalo.
-N-não.- gagueijou.
Bebi então um pouco. O filme já começou. Comia pipocas atenta na tela, de início um cara com uma motosserra estava assustado e cerrou a namorada ao meio, achando que era o bicho atrás dele. Eu não resisti, comecei a rir, minha nossa que otário, como conseguiu fazer uma merda dessas? Notei que as pessoas estavam me olhando, portanto fui no banheiro, tentar parar de rir.
De verdade, nem queria saber o final, imaginava o que ia acontecer. A gostosa morreu primeiro, depois seria o gordo ou negão, aí um branquelo e magro, corre pra caralho e consegue fugir. Um clichê. Minha vida era um clichê, que tédio. Lavei o rosto, nunca vi tanta pipoca em meu cabelo, como consegui sujá-lo desse jeito? Após tirar tudo lavei bem as mãos.
Ruby entrou no banheiro, respirava forte, estava com lágrimas nos olhos e com o rosto todo vermelho. Ela tossia. Me aproximei da mesma.
-O que houve?- a garota não parou de tossir, acho que se afogou.
Segurei ela por trás e apertei a mesma, sorte que sabia técnicas para desafogar as pessoas, tinha que fazer um movimento próximo a boca do estômago com as mãos. Por sorte deu certo, ela cuspiu a tampinha da garrafa, espera, como ela engoliu isso?
-Comeu a tampa?- peguei a mesma e joguei no lixo, a garota se apoiou na parede respirando forte.
-Caiu no meu pote, peguei muita pipoca.. nem mastiguei direito, só engoli com o susto daquele bicho.- explicou pausadamente.
-Está com medo?- dava pra notar ela suando um pouco.
-E-e-eu s-s-s-suporto.- travou, não me contive em rir.
-Era só dizer que preferia outro filme, não me importo.- dei de ombros.
-E-eu.. quis ver o filme..- abaixou a cabeça.
-Por que?- me aproximei.
-S-sou corajosa.- a mesma ficou paralisada, encostada na parede, os olhos dela me focavam.
-Então queria mostrar que tem coragem, mesmo que morra de medo?- apoiei minha mão na parede, deixando ela encurralada, olhei para baixo, podendo focar os olhos dela.
-Sim.. queria impressionar você.- notei a mesma tentar ficar nas pontas dos pés para me alcançar, mas foi em vão, sou muito alta.
-E por que quer me impressionar?- segurei os braços dela e a ergui, deixando a altura do meu rosto, a mesma estava mais vermelha que a própria blusa.
-T-te acho incrível, queria que me achasse também.- cada vez ela gaguejava e parecia mais vermelha.
Não sou bem o que dizer, depois de uma “cantada” dessas. Era minha vez de ter atitude, toquei então meus lábios aos dela, deslizando vagarosamente. Ela retribuiu de imediato, dava pra sentir o beijo dela um pouco trêmulo, seria nervosismo.
-Eca que nojo.- um viado entrou no banheiro e logo saiu, isso não fez nosso beijo ser separado. Que irônico, se ele gostava de homem, por que mulher não poderia gostar de mulher.
-Sumam daqui suas sapatonas.- senti uma mão em meu ombro, essa voz era bem mais grossa que a outra.
Coloquei Ruby ao chão, franzi a testa e virei para o cara, assim como eu ele era enorme. Fechei os punhos, o cara fez o mesmo.
-Se querem se comer, vão ao banheiro só de mulheres, aqui não é lugar pra sem vergonhas..- será que entrei no banheiro errado? Espera... ela também? Duas bestas.
-Se fosse um casal hetero você iria adorar ver não é?- mostrei a ele meu braço, com certeza era maior que o dele, o gordo só tinha tamanho.. e pelos, muitos pelos.. eca..queria dar uma surra nesse babaca..
-Vou dar na sua cara.- lá vem a pinscher.
-Ruby, eu cuido disso.- a garota passou em minha frente, deu um soco no estômago do cara, o mesmo caiu ao chão de quatro. A mesma segurou a cabeça dele e deu uma joelhada no nariz dele, foi lindo.. mas sério.. ela está me protegendo? Isso nunca aconteceu.
-Não fale assim com Jasper.- apontou para o homem no chão, que choramingava.
Não resisti em rir. Ela segurou minha mão e me puxou pra fora do banheiro, era um banheiro unissex? Olha, talvez fosse melhor não separar por gênero. Ou será que era melhor separar por gênero? Da mesma maneira que tem heterossexuais, também existem homossexuais, então tanto faz.
Nem terminamos o filme, era uma droga, tudo que eu falei acontecia, o magrelo ainda corria do bicho. Como acabou a comida, fomos é pra casa mesmo. Convidei ela pra dormir em minha casa, claro. Fazia tanto tempo que não ficava com ninguém, aquela garota despertou meu interesse.
Quando chegamos em casa, já estava escurecendo. Mal chegamos e Ruby já me puxou pra um beijo. Imaginei que Carnelian e SJ estariam no sofá, mas não. A sala era nossa. Segurei a pequena no colo, juro que naquela hora que vi ela batendo no cara, um dos olhos dela ficou vermelho, mas não foi algo que me incomodou, isso era interessante.
Deitei ela no sofá, ficando por cima dela. A essa altura, nossas línguas já se encontrava e bailavam de uma boca a outra. Ela se atrapalhava um pouco, mas eu mostrava o ritmo devagar para ela. Lentamente coloquei umas das mãos ao seio dela, a mesma soltou um suspirou profundo, levou as mãos em meus ombros e separou o beijo.
-Jasper.. vamos um pouco mais devagar? E-eu.. não sei se quero que me toque..- falou toda sem graça.
-Vai dizer que nunca..- ela se encolheu, oh.. a primeira vez a pessoa sempre era mais tímida, acho que entendi, Jasper não seja babaca novamente... -Quer pedir uma pizza?- me sentei melhor no sofá.
-Hmn.. estou sem fome, poderia dormir abraçada comigo?- notei ela mordendo o lábio inferior e sentando em meu colo, ainda estou achando que se transarmos, vai ser tão intenso, ela parece tentar me seduzir a cada movimento, e confesso que isso está me deixando com um maldito tesão.
-E como vou saber se vai querer mais do que apenas um abraço?- rocei meu nariz na bochecha da mesma.
-Vai saber.- sussurrou em meu ouvido e saiu do meu colo. -Vou ao banheiro, onde fica?-
Apontei para o local, a mesma foi naquela direção. Acho melhor arrumar meu quarto antes de levar ela pra dormir comigo. O que houve comigo? Será que esses anos sozinha mexeram com meu psicológico? Desde quando eu tento agradar alguém? Desde quando eu aceito ela “dizer que não quer” e eu ficar de boas?
Subindo para meu quarto eu ouvi um gemido feminino, minha porta era bem em frente ao quarto de SJ. Os gemidos vinham do quarto dela, será que finalmente ela e Carnelian..? Minha nossa não to acreditando. Tentei ver pela fechadura, mas a chave estava na porta. Será que devia abrir a porta e atrapalhar? Se eu for cuidadosa talvez nem notem. Queria ter certeza que não estava ouvindo coisas.
Lentamente abri a porta, pude ver as duas na cama. Mas estavam.. dormindo? Entrei ao quarto dela, a televisão estava ligada, nela uma mulher gemia por estar dando a luz. Ok Jasper.. sua mente é muito poluída. Se bem que elas dormindo juntinhas, abraçadas e com os rostos tão perto, valeu a pena. Tirei uma foto pra zoar SJ depois. Desliguei a TV e corri para meu quarto, deixando a porta bem fechada.
Arrumei meu quarto mais rápido que o Flash. Claro que peguei toda a bagunça e soquei ela no guarda-roupa. Ouvi Ruby chamando e desci a escada, acenando pra ela subir. Eu já havia me trocado, usava uma blusa bem larga e um short bem curto. Juro que ela não desgrudava os olhos da minha coxa. Até emprestei uma camisa pra ela dormir, parecia mais uma camisola.
Deitei na cama me cobrindo em seguida. Ela deitou em meu ombro, se encolhendo pra ficar perto de mim. Os olhos castanhos dela me olhavam, brilhantes. Juro que um dos olhos dela ficou com umas marcas vermelhas e logo sumiu. Deve ser coisa da minha mente. Pena que estava sem sono.
-Vamos assistir uns vídeos?- ela se esticou para pegar o celular em sua calça.
-Pode ser.- a mesma colocou no Netflix e colocou algumas séries de super-herói. Tinha batante ação até.
Incrível como consigo dormir vendo qualquer filme. Adormeci em meio a série. Assistimos uns dez capítulo, eu acho. Senti um beijo em minha bochecha, mas nem quis me mexer. Ela se arrumava em meus braços, me sentia tão confortável. Até abracei aquele “ursinho de pelúcia”. Os cabelinhos macios foram ótimo para que eu pudesse apoiar minha cabeça. Fazia tempo que não relaxava tanto.
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