História Human Universe (Steven Universe) - Pior dia

Os dias de diversão na cidade vizinha terminaram, assim como as férias. Teria que voltar as aulas e nada da empresa nos chamar para uma turnê, estava ansiosa pra poder tocar em um palco pra muitas pessoas. Até trouxe o violão para praticar na escola, sim, era diferente da guitarra, mas ainda sim era ótimo para exercitar os dedos.

Ainda bem que caí na mesma turma que Carnelian, muitos dos meus amigos ficaram em outra classe, isso era um tédio, mal tinha alguém pra conversar com ela ficava de olhares com o namorado.

Passei o intervalo sozinha, tocando violão e imaginando algo que me animasse, como o mar. Só fui a praia quando criança, pode-se dizer que foi divertido, tinha curiosidade de voltar lá um dia, de mergulhar, pescar alguns peixes. Algo meio clichê e simples, mas relaxava minha mente por completo.

-Continua tocando.- uma voz animada disse em minha frente.

-Quem?- abri meus olhos observando uma garota baixinha, quase do mesmo tamanho que a Carnelian, acho que era menor. Tem a pele morena e cabelos cacheados, os olhos castanhos me focavam com admiração.

-Ruby.- acho que esse nome era familiar.

-Conheço você?- perguntei.

-Frequento a academia de seu pai, você é a irmã da Jasper né?- fiquei um tanto pensativa, acho que essa garota sempre ficava secando minha irmã.

-Ahhh você é do grupo de baixinhas que treinavam com ela.- havia me lembrado de onde a conhecia.

-Isso. Fomos apelidadas de Ruby, mas meu real nome é Andy.- sorriu.

-Andy não é nome de menino?- fiquei confusa, por mais fortinha que ela fosse, parecia uma garota, tinha até peitos.

-Foda-se.- bufou. -Agora toca essa merda.- impôs.

-Não manda em mim.- franzi a testa.

-Por favor.- ela fez uma adorável carinha, que logo me convenceu a tocar.

-Que bom que arrumou uma nova amiga.- Carnelian se aproximou segurando a mão do namorado.

-É.- disse indiferente.

-Podíamos ir no cinema depois da aula.- sugeriu.

-Prefiro ficar em casa.- foquei no violão.

-Seria ótimo.- disse a desgraçada da Ruby.

-Nos veremos lá as duas em ponto.- falou animada.

-Tanto faz.- revirei os olhos.

Assim que ela saiu segurei a baixinha pela blusa, a ergui do chão, sem que eu levantasse.

-Por que disse isso?- bufei.

-Oras.. assim não fica segurando vela sozinha, conhecendo vocês sei que ela iria lhe convencer a ir.- soltei a mesma que engoliu em seco.

-Ok.. e o que pretende? Ficar segurando vela comigo?- revirei os olhos.

-Vamos ver o filme mais meloso e romântico.- sorriu.

-Quê? Tá maluca?- a mesma negou com a cabeça.

-Deixa eu terminar de falar porra.- gritou.

-Tá.- disse baixo.

-Aí ela vai se pegar com o namorado, podemos ficar nos pegando.. assim ela fica feliz por você e vai lhe dar uma atenção extra.- fiquei pensativa.

-Tipo dica de amiga sobre relacionamento e tal?-

-Isso.- sorriu.

-Não vai dar certo, bom.. meu coração já pertence a outra pessoa.. e mal conheço você.-

-O meu também. Vai ser só um beijo. Sua irmã vai ficar sabendo sobre nós e... hmn.. talvez ela queira tirar umas lasquinhas de mim também.- ela virou os rosto parecendo envergonhada.

-Então só quer se pegar com minha irmã?- neguei com a cabeça em desaprovo.

-Isso, mas sua irmã só fala daquela Lazuli, quero fazê-la ficar com ciúmes de mim.- até que a ideia não era ruim.

-E o que ganho com isso?- cruzei os braços.

-A pessoa que você gosta também pode ficar com ciúmes.. posso saber quem é pra garantir que vai chegar aos ouvidos?-

-N-ninguém.. é só um.. er... artista.. uma cantora.. nada de mais.- corei levemente.

-Ahh, amor platônico.-

-Isso.. isso aí.- suspirei. Não estava a fim de falar sobre isso, ainda mais com uma estranha.

-Então só irá beneficiar a mim e... talvez faça sua amiga brigar com o namorado se ele for ciumento.- riu.

-Hmn.. até que faz sentido.. espera... seria engraçado.. afinal... se eles terminarem vou poder ter o dia do vídeo-game de volta.- comemorei.

-Isso aí.-

-Nos encontramos no shopping, vista sua melhor roupa.-

-Não vamos nem fazer um clima?- fez uma carinha inocente.

-Meu bem, não precisa fazer clima.-

-E se eu não tiver com vontade de te beijar?- comecei a rir.

-Vai ficar.-

-Duvido... para de rir imbecil.- cruzou os braços.

Coloquei meu violão para o lado, passei a mão em volta da cintura dela, puxei a mesma para mim. Curvei minhas costas aproximando meu sorto ao dela. Nossos olhos estavam fixos, a testa colada, nossos lábios quase se tocavam. Passei a ponta da língua em meus lábios, cujo tocou milímetros no lábio dela. Separei meu rosto lentamente e tornei a rir.

-Ficou toda molhadinha.- continuei rindo.

-N-nossa.. fiquei até com vontade de dar...- abanou o rosto com a mão.

-Se conquista com um olhar.- pisquei e me levantei.

-Adorei, já quero beijar.- pareceu animada.

-Aquieta essa xaninha aí. Foque no objetivo.- peguei o violão para guardá-lo, o recreio já iria terminar.

-Vou me vestir para o nosso encontro.- acenou, nem fiz questão de olhar, achava uma perda de tempo ficar com outras pessoas, mas era bom até pra treinar meu poder de sedução. Esperava que um dia funcionasse com quem eu mais queria.

A aula passou rápido, fingi que nada fosse acontecer, afinal, era boa nisso. Carnelian nem desconfiava, ela só me perguntava o motivo de eu estar aflita, apenas respondia que era tretas com meu pai. Ele seeeeempre brigava comigo. Desde que descobriu que era sua filha. Antes pra ele era só Jasper, agora ter duas Jasper.. aff.. é pedir pra morrer. Maldito o dia que minha mãe disse que eu era filha dele e o exame deu positivo, só serviu pra dar confusão e briga na justiça.

Pelo menos eu ganhei aqueles anos de pensão atrasada, guardei tudo no banco pra quando precisar, minha mãe já queria ficar com o dinheiro, mas eu era a filha, era todo meu. Sorte que eu tenho noção, imagina se eu fosse uma criança? Ela até me nega mesada.

Cheguei em casa na minha bicicleta laranja, mamãe cuidava do seu filho pequeno, era um bebezinho. Não se parecia nada com ela, muito menos com meu padrasto, acredito que fosse adotado, mas ainda desconfio por ter visto ela grávida e sofrendo, tive que fazer tudo pra ela, por que o senhor bonito não largava o pé do sofá. Foi um caos.

-O jantar está na mesa Skinny, venha comer.- levava uma colher cheia de gororoba até a boca do bebê, ele parecia gostar. Só pra constar, odiava ser chamada por esse nome.

-Chama de Jasper.. ou de SJ mãe.- reclamei. Coloquei a mochila em cima do sofá.

-Sua amiga vem hoje jogar com você?- olhei o prato de macarrão, estava sem expressão.

-Ela vai no shopping com o namorado.- enrolei um pouco no garfo e comi.

-Devia arrumar um namorado também, já vai fazer dezoito filha, nunca namorou ninguém.- ela estava mais preocupada que eu.

-Minha vida é só tocar na banda, não preciso namorar.- falei baixo, comendo mais um pouco.

-Não seja boba, não pode morrer virgem.- ela riu, eu franzi a testa.

-Quem disse que sou.- empurrei o prato.

-Como assim Skinny?- franziu a testa.

-Vai cuidar do seu marido que eu cuido dos meus casos.- dei as costas.

-Volta aqui e me explica isso filha.. como assim? Quem foi o rapaz?- me seguiu.

-Não foi cara nenhum porra. Eu peguei uma mulher e aconteceu, foi isso.- sério? Ela brigava comigo sobre algo tão constrangedor.

-Mas.. você nunca disse..- interrompi ela.

-Você nunca prestou atenção. Eu já beijei garotas na sua cara e você mal se deu conta.- entrei em meu quarto e joguei a mochila na cama.

-Então aquela sua amiga é uma das suas...-

-Shhh não fala da Carnelian, ela é a única pessoa descente que conheço, a única que não abre as pernas pra qualquer conquistador barato. Ela não gosta de garotas e não quero ela.. já tenho problemas demais.- retirei o violão da capinha e coloquei ele em um guada roupa cheio de instrumentos.

-Filha, pare com isso. Me respeita.- cruzou os braços.

-Eu só não quero falar sobre.. me deixa em paz, vou com uma conhecida no shopping.-

-Se pegar com ela? Ahh não vai mesmo.-

-Mãe.. qual problema?-

-Na frente de todo mundo, sua tia trabalha lá? O que ela vai pensar de mim.-

-Caralho.. só em você que pensa.. não é escolha minha.. se fosse preferia seguir o caminho mais fácil. Acha que eu gosto de ser julgada... só pra constar, eu sou bi, não precisa ficar me julgando por isso.-

-Bi? Pior.. não sabe o que quer.- levei as mãos na cabeça.

-Porra... tudo pra você é ruim.. meu deus, só aceita que dói menos, ignora a opinião alheia.- falei gritando, já estava me corroendo de raiva.

-Ignorar? Pra você é fácil falar, ignora as responsabilidades. A partir de hoje, não toca mais nessa merda de banda. Vai ficar estudando aqui, a tarde toda. Está de castigo.- bateu a porta do meu quarto e a trancou.

-Ótimo, não podia ficar pior.- ouvi um som de relâmpago, tive que fechar correndo a janela de meu quarto, chovia muito forte. -Foi só eu abrir a boca.- revirei os olhos e me joguei na cama.

O encontro de hoje seria furada, nem teria como avisar a garota, nem peguei o número dela. Podia mandar uma mensagem para a Carnelian, mas a raiva me consumia, fora que nem sabia se ela leria. Portanto tomei a pior decisão da minha vida... liguei para meu pai.

-Alô?-

-P-pai é a SJ.-

-Oi filha, vem treinar hoje?- pareceu empolgado.

-Eu queria, mas a mamãe me botou de castigo.- falei desanimada.

-Como assim filha? Por quê isso?-

-Não quer que eu saia com garotas.. sacomé..- esperava não levar uma bronca dele também.

-Como assim? Aquela vadia.. porra.. pegue quantas minas quiser, só apoio, fiquei até aliviado por saber que você é como sua irmã. Só tem que ficar mais forte. O treino de hoje vai te ajudar com isso.- engoli em seco, só de imaginar aquele lugar horrível.

-Pai.. antes do treino posso ir no cinema com uma amiga? Só para relaxar os músculos, sabe.-

-Claro. Vou aí te buscar agora, prepare suas coisas. Te amo filhona.-

-Também pai.- a saliva parecia não descer mais por minha garganta, parecia ter dado um nó.

Comecei a arrumar minhas coisas. Em segundos ouviria uma discussão feia, só esperava que os vizinhos não chamassem a polícia novamente. Da última vez foi horrível, ele ficou preso por dois meses. Bem.. acho que isso só fortalece a reputação dele. Melhor eu aproveitar o resto do meu dia, depois desse treino.. acho que não levanto da cama por um bom tempo, não só de cansaço físico, mas o mental muito abalado.