História Hunter - HIATO - Encontro Selvagem

Hunter

Capítulo 3 -> Encontro Selvagem

Adrien e Matthew estavam se aprofundando na densa floresta. Quanto mais eles avançavam, mais ficava evidente a imensidão e o sentimento de medo e insignificância. Matthew parou por um momento e então fez Adrien.

- Tome, a nossa visão só é boa até um ponto. - Disse Matthew puxando uma das duas lanternas de óleo que estavam presas à cela de seu cavalo.

- Como sabe para onde estamos indo? - Perguntou Adrien.

- É um motivo curioso, mas se você quer saber, eu sigo o cheiro de queijo de cabra.

Adrien não sabia como reagir.

- Eu disse que era um motivo curioso, mas é que a Gina só pode comer queijo e tomar leite de cabra, e esse queijo estava nos suprimentos. - Disse Matthew acendendo as lanternas com um fósforo.

- E qual é o cheiro do queijo de cabra? - Perguntou Adrien.

- Eu não espero que entenda, mas é um odor forte e picante. Vamos logo, o cheiro está ficando mais forte.

Matthew entregou uma das lanternas acesas para Adrien e eles continuaram. Para a surpresa de Adrien a escuridão não era o único obstáculo, já que também havia uma névoa densa cobrindo o caminho. As árvores ao redor eram finas porém numerosas e não havia sinal algum de qualquer vida selvagem, parece que até os predadores temiam os horrores noturnos.

Matthew parou o cavalo e se virou para Adrien.

uh

- Acho melhor você ver isso aqui. - Disse Matthew.

Adrien olhou para um pouco a frente de onde Matthew estava e viu uma carcaça de um cervo completamente dilacerada encostada em uma árvore suja de sangue.

- Acha que foi um lobo? - Perguntou Adrien com um pouco de medo.

- Lobo?… Heh… Acho que foi algo bem maior. Está vendo a área de seu pescoço inchada e as manchas na árvore? - Disse Matthew apontando para o cervo. - Ele foi arremessado, e nenhum lobo teria essa força.

- E se forem os pesadelos?

- Os pesadelos são como nós, além de não ter essa força toda, eles levariam o cervo com eles ao invés de comê-lo aqui. Seja lá o que foi é grande e com certeza vamos na direção oposta a isso. - Matthew apontou para um rastro de sangue que seguia pela floresta.

Ele continuou seguindo o cheiro até que pararam em uma área onde a floresta acabava, dando para uma pequena queda onde dava para ver um campo aberto cheio de colinas. Olhando mais cautelosamente, Matthew percebeu várias cabanas distribuídas pelo campo e luzes vindas de fogueiras e lampiões.

- Lá está o acampamento deles. - Disse Matthew apontando para os campos.

- O quê? Eu não tô vendo nada… - Disse Adrien procurando.

- Concentre sua visão e verá.

Adrien fixou seus olhos no campo e percebeu detalhes que estavam longe de sua visão normal, ele ainda não estava acostumado com seus novos sentidos. Ele percebeu as barracas, fogueiras tesouros e até armas espalhadas pelo acampamento.

- Aquelas coisas são dos pesadelos? - Perguntou Adrien.

- Sim, eles agem como um grupo de bandidos e saqueiam os pertences de vilas desprotegidas. - Disse Matthew.

- Isso é estranho, não tem ninguém lá… Parece que eles abandonaram o lugar.

- Isso é muito improvável, eu estou sentindo o cheiro do queijo vindo dalí, algo deve estar acontecendo…

- E como é a aparência de um pesadelo?

- Eles possuem feições humanas, mas seus corpos estão em decomposição, como o lobo que nos atacou.

- Eles até se comportam como humanos…

- Sim, e é justamente por isso que nós os chamamos de pesadelos, eles se comportam como seres normais, mas sua aparência é distorcida como se fossem pesadelos ambulantes. Além de serem muito agressivos.

- É só isso que nos diferencia deles, a aparência?

- Não é só a aparência, eles possuem uma essência sombria… E vale lembrar também que só nós caçadores e quem bebe o sangue do Caçador consegue ver sua verdadeira forma. Pessoas normais iriam enxergar bandidos comuns.

- Isso é muito estranho…

- Eu sei que é estranho, mas é algo que temos que aceitar…

Matthew desceu do cavalo e o amarrou em uma árvore.

- Amarre o seu cavalo em uma árvore e me siga, nós vamos a pé agora. - Disse Matthew.

- Está escuro, não devemos levar uma lanterna? - Sugeriu Adrien.

- Nós não podemos atrair atenção e a lanterna entregaria nossa posição. Apenas acostume seus olhos ao ambiente e me siga.

Andando agachados, os dois prosseguiram até o acampamento dos pesadelos, era um lugar grande, com varia barracas pelas colinas e fogueiras acesas. As barracas não eram muito grandes, sugerindo que aquilo se tratava de um grande bando. Eles prosseguiram com cuidado, se esgueirando e observando cada canto para não serem pegos de surpresa.

Matthew estava achando tudo aquilo muito suspeito, ele não sentia a presença de ninguém, mas o cheiro que o guiava até seus suprimentos estava ficando cada vez mais forte. Ele continuou em frente até que escutou barulhos estranhos.

- Fique atrás de mim. - Sussurrou Matthew.

A audição de Adrien estava muito aguçada, ele conseguiu ouvir o sussurro em alto e bom tom, assim como os sons estranhos à frente. Eles se aproximavam lentamente até chegarem perto de uma grande barraca que ficava acima de um pequeno barranco. Os sons ficaram mais altos e a iluminação era mais forte naquela área, tudo sugeria que havia uma grande fogueira por trás da barraca e que aquele era o centro do acampamento. Eles subiram o barranco com cuidado e se depararam com oque estava fazendo o barulho. Era uma criatura grande e peluda, ela possua garras enormes e afiadas assim como seus dentes que estavam cobertos de sangue. A criatura estava devorando um cadáver de aparência pútrida, era um pesadelo morto.

A criatura olhou para trás e Matthew rapidamente puxou Adrien para trás da cabana.

- O que é aquilo? - Perguntou Adrien com medo.

- Aquilo… É um lobisomem. - Disse Matthew. - Esteja pronto para se defender. - Matthew sacou sua espada.

- Mas… Não tem como evitar a luta? Pegar nossos suprimentos e dar o fora?

- Aquilo já percebeu que estamos aqui, e se deixarmos à solta pode causar problemas para outras pessoas e até mesmo para a nossa…

Matthew parou de falar assim que percebeu um movimento súbito no canto de seu olho e rapidamente saltou para frente empurrando Adrien. Os dois rolaram pelo barranco, mas Matthew rapidamente de recompôs. Encima do barranco estava o lobisomem de pé e o tecido da barraca caído em seus pés. Matthew havia percebido o exato momento em que as garras da criatura rasgavam através da barraca para acertá-los, a fera havia investido contra a barraca, talvez suas sombras os denunciaram?

Adrien rolou para trás e se pôs de pé desajeitado, suas pernas tremiam de medo e nervosismo, e ele mal conseguia puxar sua espada da bainha em sua cintura.

- Adrien… Se não conseguir lutar, apenas fuja… - Disse Matthew sacando sua espada e andando para frente. - É meio tarde para se arrepender das suas escolhas, mas… é algo que precisamos aceitar, não é mesmo?

Adrien estava imóvel e inseguro, algo nele estava errado, ele não estava com ódio o suficiente, ele não sentia aquela sede de sangue, ele não podia fazer nada além de se esconder.

A criatura avançou rapidamente para a direção de Matthew e pulou investindo contra o mesmo. Matthew avançou para o flanco do lobisomem e o golpeou com sua espada, fazendo um profundo corte que ia de seu abdômen até suas costelas. A fera rapidamente atacou Matthew enquanto ele avançava, ignorando completamente o corte. Matthew cambaleou com o impacto do golpe e tombou no chão, ele olhou para o lobisomem e viu que sua ferida estava se regenerando rapidamente. Ele se levantou e olhou para o seu ombro, que foi onde a fera o atingiu, as feridas eram profundas e atravessavam os ossos.

- Merda, parece que não tem outro jeito. - Disse Matthew.

Ele abriu uma pequena bolsa que estava amarrada em seu cinto e tirou de lá um frasco com o sangue do Caçador. Ele retirou a rolha do frasco e o bebeu, seus olhos ficaram em um tom vermelho vivo e as feridas de seu ombro estavam se fechando. Ele olhou para o lobisomem com uma expressão totalmente diferente, ele estava selvagem e cheio de ódio. Adrien reparou a mudança do olhar de Matthew e como suas feridas se curaram, era aquilo! O frasco de sangue! Com aquilo ele poderia lutar.

Matthew investiu contra o lobisomem e desferiu um golpe descente com sua espada em seu pescoço, ele tentou atacar Matthew, mas com o mesmo movimento de seu ataque ele girou, arrastando sua espada até o braço da fera e depois cortando até atravessar. O sangue jorrava para todo o canto e Adrien observava aquela disputa brutal, ele estava confiante de que Matthew ia vencer. A criatura então se jogou rapidamente sobre Matthew, cravando suas garras em seus dois braços, e logo depois mordeu brutalmente seu ombro esquerdo, fazendo-o largar a espada e gritar de dor.

O lobisomem era um oponente formidável, os ataques de Matthew não surtiam nenhum efeito, já que suas feridas se regeneravam quase que instantaneamente. Se Matthew quisesse derrotá-lo, ele deveria arrancar sua cabeça dando um fim na regeneração. Matthew juntou forças para movimentar seu braço direito e alcançar sua espada, com um movimento rápido ele a enfiou no pescoço da fera e continuou pressionando até parar no osso. O lobisomem então apertou mais ainda o ombro de Matthew com suas presas e o levantou de maneira que ele não pudesse mais forçar a espada.

Adrien estava preocupado, mas não sabia como agir, ele sabia que se partisse para a luta seria esmagado impiedosamente. Matthew então desistiu de forçar a espada e usou suas forças para alcançar seu cinto e retirar outro frasco, mas antes que ele pudesse o abrir o lobisomem segurou seus braços e movimentou sua cabeça para trás, arrancando um pedaço do ombro de Matthew. A dor era intensa, o efeito do sangue havia passado e a visão de Matthew escurecia. O lobisomem então o segurou pelo pescoço com uma mão e usou a outra para golpear as costelas de Matthew com extrema força, ele então o balançou brutalmente pelo pescoço e o jogou contra uma árvore.

Matthew não conseguia respirar direito, o mais sutil movimento gerava uma dor excruciante. Ele não conseguia mover seu pescoço e sua visão se escurecia, mas havia um último recurso, um último ataque para derrotar a criatura. O sangue do Caçador não apenas melhorava seus sentidos, mas o concedia uma habilidade única que o ajudava na batalha. O lobisomem se preparava para atacar Matthew novamente, mas algo o impediu. A espada que estava presa em seu pescoço afundou ainda mais, atravessando as vértebras e rompendo a medula. A fera lutou contra a dor e se arrastou pelo chão enquanto suas forças se esvaíam de seu corpo. Até que não teve mais resistência e ele desmaiou no chão. Matthew podia controlar objetos feitos de prata como telecinese, e foi o que ele fez para parar o lobisomem, no entanto ele também estava ficando sem forças, até que ele fechou seus olhos e apagou.

Adrien foi correndo para onde Matthew estava, ele tentou o acordar mas era inútil, suas feridas eram muito sérias, seu pescoço estava quebrado, mas de alguma maneira ele ainda respirava. Adrien abriu a bolsa do cinto de Matthew procurando pelos frascos, haviam apenas dois lá dentro. Ele pegou um e despejou na boca de Matthew, ele estava torcendo para que isso funcionasse. Ele estava preocupado com Matthew, mas ao mesmo tempo aliviado de não ter que lutar... Mas algo aconteceu…

Da escuridão um barulho, e atrás de Adrien uma enorme sombra se formava... O lobisomem estava vivo, seus olhos estavam com um estranho brilho roxo e sua expressão era de extrema fúria. Em meio à rosnados ele solta um ensurdecedor rugido que ecoa pela floresta. Adrien estava com muito medo, ele sabia que a criatura viria atrás dele agora e não havia como fugir… Só havia uma opção… Lutar... A única esperança de Adrien estava no último frasco de sangue da bolsa de Matthew… Ele agarrou o frasco determinado, enquanto a criatura o intimidava com sua selvageria. A imagem dos dois era engolida pelo crepúsculo da noite e as chamas ardentes das fogueiras… O cenário de uma breve batalha sangrenta.

Capítulo 3 -> Fim.

Continua…