História Hunters - Fotografias

    A morte pode ser cruel, mas as pessoas são piores ainda...

    Eu me afastei do corpo sem vida de Bianca para vomitar, o cheiro de sangue me dava náuseas fortes, não resisti muito tempo perto daquele local, então logo me retirei e fui dar uma volta pelo parque, chutando algumas pedras que encontrava no caminho, com apenas um pensamento em mente: Quem e por que havia feito aquilo.

    Confesso que não cheguei a nenhuma resposta por minha mente estar dando imensas voltas no mesmo assunto: Essa pessoa foi a mesma que matou a minha mãe... Eu não posso deixar isso continuar dessa forma.

    Eu estava me sentindo novamente sozinha, eram muitas informações para se processar em um dia só, acabaria ficando louca daquele jeito. Meus pés encontravam a grama que parecia não ter sido aparada a um bom tempo, o que causava um barulho agradável para meus ouvidos, junto com o balançar das folhas das árvores ao redor daquela área. O vento frio batia em minha pele fazendo eu me arrepiar bastante, meus cabelos castanhos ondulados eram jogados contra meu rosto mesmo eu estando de touca, o que tampou um pouco de minha visão por um momento. Dei um pulo quando afastei as mechas de cabelo de meu rosto e me deparei com Derek em minha frente, sorrindo daquele jeito caloroso de sempre, seus olhos castanhos claros combinavam perfeitamente com seus cabelos escuros, confesso que fiquei feliz em vê-lo.

    Derek é meu melhor amigo desde que entrei no ensino médio. Eu o ignorava nos primeiros dias, pois era muito tímida, mas ele sempre conseguia me aproximar de certa forma. Acabamos nos tornando amigos quando eu estava com problemas em química e ele veio me ajudar (essa coisa não é pra mim!), foi quando percebi que ele realmente queria me ter mais perto do que só uma colega. Desde aquele dia não nos separamos mais em hipótese alguma, ele sempre vai estar do meu lado quando eu precisar, assim como eu também vou estar ao lado dele.

    – Yo! O que tá fazendo aqui, Mary? – Derek me perguntou, tirando minha touca preta e bagunçando meus cabelos... Mais do que já estavam.

    – Derek... Mataram a Bianca...

    Minhas palavras quase não saíam, por mais que eu não conhecesse bem a Bianca, ela sempre me recebia com um sorriso no rosto quando eu ia visitar meu pai no trabalho, por isso senti uma pontada no coração ao lembrar-me dela.

    Um silêncio tomou conta por completo no espaço entre eu e Derek quando seu sorriso desapareceu e ele me olhou nos olhos de forma mais intensa, conhecia aquele olhar, ele estava preocupado comigo. Abaixei a cabeça tentando esconder que também estava preocupada, mas com a situação, não comigo.

    – Mary... Eu quero que você esqueça isso! – Ele parecia estressado, tanto que seu tom de voz me assustou. – Eu sinto falta daquela Maryenne que sorria sempre e que me xingava e tudo o mais! É aquela Mary que eu quero ver aqui!

    Naquele momento ele me puxou pela mão até ele e me envolveu com seus braços contra seu corpo quente. Eu não entendi o que ele queria fazer, até retribuir o abraço apertado que me dava a impressão de ter todos os pedaços quebrados de meu coração colados novamente.

    Ele tinha razão, eu tinha que parar de me esconder atrás de lágrimas, já estava há dias sem ir pra escola por causa de Sarah... Já estava na hora de mudar isso.

    – Derek... Eu tenho que ir pra casa, amanhã eu volto pra escola.

    Disse e abri um sorriso sincero, o que fez Derek sorrir também, eu sabia que era aquilo que ele queria ouvir, então simplesmente o ajudei a conseguir isso mais rápido.

    Logo me afastei após me despedir de Derek, voltando para perto de Logan e David, que estavam me esperando. Um forte flash clareou minha visão de repente, me deixando com algumas manchas em minha visão que logo sumiram, e pude ver o rapaz que segurava a câmera, olhando-o com os olhos semicerrados, que haviam ficado doloridos com o flash repentino.

    – Desculpa! Eu estava tirando umas fotos e... Foi sem querer – Disse o mesmo um pouco aflito, mas sorrindo envergonhado ao ver que o flash havia me incomodado um pouco.

    – Sem problemas! Eu que entrei na hora errada mesmo – Sorria de volta, para confortá-lo. Ele estava com uma câmera profissional, devia ser fotografo. – Meu nome é Mary e--

    – Mary está de saída – Disse Logan, me puxando pela mão apenas a tempo que eu pudesse ver o garoto acenando e formando em seus lábios "sou Thomas".

    Logan murmurou algo sobre Thomas ser perigoso e má influência pra mim, mas eu nem prestei atenção, estava mais preocupada com o que diria para Angel sobre voltar para a escola de repente, após três semanas faltando. Certeza que aquela louca surtaria, principalmente por ter mantido contato somente com Derek nesse meio tempo. Eu até entendo ela, mas eu precisei ficar longe, não queria acabar "contaminando" ela com toda a minha tristeza após a morte da minha mãe.
    Ao chegar ao carro de meu pai com Logan ainda me segurando pelos ombros, entrei no banco de trás e me encostei-me à janela, havia começado a chover então fiquei observando cada gota de chuva escorrer pelo vidro escurecido como se estivessem apostando corrida, sem perceber que estavam falando comigo até David por a mão para trás do próprio banco e me sacudir um pouco, me tirando de meu transe.
    – Mary, pega minha mochila pra mim aí atrás, por favor.
    Quando retirei a mala de David de cima da tampa do porta malas ela estava aberta e algumas fotos caíram sobre meu colo, eu as colocaria de volta... Se não fossem fotos de Sarah, então as deixei de lado e dei para meu pai a mochila fechada, pegando as fotos em minhas mãos e olhando o rosto feliz de minha mãe, o sorriso dela era tão constante, com certeza sentiria falta dela, mas eu tinha que ser feliz, e cuidar de David e de Logan como ela cuidava.
    Estava passando as fotos dela com lágrimas de saudade nos olhos e um doce sorriso no rosto, até que uma das fotos me quebrou completamente, mas se fosse só uma, com certeza teria sido menos horrível. Em minhas mãos eu tinha as fotos de minha mãe assassinada, eram cinco imagens no total, de todas as formas possíveis. Mas as coisas que mais me intrigavam eram que aquelas fotos estavam na mochila de David e que a mensagem atrás escrita em vermelho me deu um calafrio na espinha:
    “Aqui está meu bispo. Ela não soube jogar, e por isso acabou sendo mais um sacrifício, se fosse tão simples assim chegar até a rainha eu teria parado por aí, mas nós sabemos que não é assim... Capture-me se puder, uma jogada em falso e outras peças vão morrer.”