História Hunters - Mandado de busca?

E são nesses momentos em que percebo que sou louca... Uma louca cercada por outros loucos, cuja loucura ultrapassa os limites normais da insanidade.

Eu já estava deitada em minha cama, olhando para meu teto estrelado enquanto minha pele era arranhada pelos papéis amassados à minha volta, rabiscos de pequenas incertezas de minha vida, como, por exemplo, se David poderia ou não ser o assassino de minha mãe por ele estar tão nervoso ultimamente, mas pensei em afastar isso da cabeça, ele havia tido um relacionamento fiel com ela, não havia motivos para que ele quisesse mata-la... Pelo menos eu acho.

Meus pensamentos também se voltaram para Thomas, se ele havia fotografado o corpo de Sarah já sem vida, isso não poderia significar que ele pudesse ter vivenciado o momento da morte dela talvez? Ou não...? Eu nunca vi minha mãe falando com ele, então ele não teria um motivo para mata-la. Na verdade, eu acho que ninguém seria capaz de odiar uma pessoa tão doce e gentil como minha mãe, que sempre gostou tanto das pessoas a sua volta, e sempre as tratou com tanto amor e carinho.

Eram voltas infinitas no mesmo assunto, eu tinha dois suspeitos conhecidos, mas não tinha certeza de quem poderia ser, ou até mesmo se fosse alguém de fora, como eu saberia? Não sou nenhuma expert no quesito “serial killers”, tudo o que faço quando vou ao trabalho de meu pai é ver algumas das fotos dos assassinatos e ouvir certas conversas em que eles interrogavam alguns suspeitos até chegarem a algumas conclusões... Espera, será que eu deveria fazer isso? Será que eu deveria interrogar algumas pessoas por mim mesma até chegar ao verdadeiro assassino de minha mãe? Eu realmente não sei, mas eu tentaria, eu quero tirar isso a limpo mais do que qualquer pessoa nesse mundo.

Levantei-me da cama e fui até a minha escrivaninha ao lado da cama, aonde abri meu notebook e comecei a digitar uma carta, como um diário:

“E é assim que começo, eu vou até o final com isso, é o que almejo: justiça.

Sarah não merecia ter aquele fim, nem mesmo Bianca, ninguém merece ter seu último suspiro em meio à grama como em um campo de batalha, tendo seu corpo marcado como se todo esse tempo fosse apenas mais uma peça de um jogo controlado por reis invisíveis a meu ver. Eu vou atrás desse assassino, nem que eu precise virar uma peça para isso.

                                                                                                              Maryenne Blake, 2016.”

Logo salvei o arquivo e fechei a tela do notebook, amanhã já começaria a agir... Desculpe Angel, desculpe Derek. Dei graças por já ter passado de ano com minhas notas, pois eu precisaria abandonar a escola novamente, nem que eu só volte no dia da formatura... Mas eu vou fazer justiça pela minha mãe e pela Bianca.

Deitei-me, pois já eram 22:30 da noite, demorei um pouco para adormecer pois estava agitada e angustiada. Coloquei meu clássico barulho de chuva no celular para me acalmar e logo adormeci. Cara... Eu vou acabar passando a odiar ter sonhos...

Novamente eu estava no campo de rosas azuis, com o mesmo vestido branco, e os mesmos arranhões nos tornozelos que estavam sendo ignorados pela minha consciência. A figura completamente escura em minha frente parecia ter ficado ali, na mesma posição desde a noite passada, apenas esperando para me encontrar novamente, em meio àquele cheiro forte de rosas e grama, mas dessa vez algo estava diferente, além do céu noturno acima de nós, eu sentia como se eu estivesse sendo observada de muito perto, não somente por aquela coisa em minha frente, mas por algo que eu não podia ver, era uma sensação completamente horrível.

- Quem é você? O que você faz em meus sonhos?

As palavras saíram quase que automaticamente de minha boca, fazendo com que eu me arrependesse ao piscar os olhos e ver aquela criatura, ou o que quer que fosse ela, a poucos centímetros de mim. Eu engoli em seco, sentindo o cheiro forte de rosas que emanava dela por eu estar respirando ofegante. Aqueles olhos completamente vermelhos e profundos me hipnotizavam, como se eu realmente estivesse caindo no inferno que era o interior daquela coisa. Tudo poderia ter sido menos louco, se ela não tivesse sussurrado com aquela voz cortante, rasgando meus ouvidos:

- Eu sou você... Maryenne...

Tudo escureceu, e eu acordei suando frio.

Eu estava completamente desnorteada ao levantar da cama, sequer olhei que horas eram pois eu não iria para a escola de qualquer jeito. Fui até meu banheiro e parei diante do espelho, não me assustei com minha cara de sono que fazia com que eu parecesse um zumbi, apenas reparei no quanto meus olhos pareciam vazios com relação à noite anterior... Deve ser apenas o sono, então voltei para meu quarto após minha higiene pessoal.

Decidi colocar um shorts jeans e uma regata azul - que era a minha cor favorita – e uma sapatilha branca que estava no fundo do meu armário. Sentei um pouco no chão e encostei a cabeça na borda de minha cama, fechando os olhos por um momento apenas para suspirar, como se estivesse tirando um enorme peso de dentro de mim, um peso que nem mesmo eu sabia o que poderia ser, minha consciência estava completamente limpa. Me levantei aos poucos após alguns minutos refletindo comigo mesma o que havia acontecido no sonho e prossegui até a porta de meu quarto, a abrindo com um rangido alto por suas fechaduras estarem enferrujadas.

Eu teria descido as escadas até a sala, se não fossem os vários homens fardados com o uniforme da Hunters andando pela minha casa revirando tudo, tirando fotos e fazendo anotações em blocos de notas. Estavam mexendo até mesmo na caixa de areia de meu gato: Kagerou. Não sei por que, era só uma caixa de areia fedida em que ele escondia alguns brinquedos novos que eu dava pra ele de presente.

Fiquei andando pelo hall dando licença para alguns dos investigadores que estavam passando por ali, sem entender nada do que estava acontecendo, e, pelo jeito, Kagerou estavam muito mais confuso do que eu, tanto que veio correndo em minha direção ao me ver e se agarrou em minha perna,  que machucou um pouco por eu estar de shorts, mas não liguei e apenas o segurei no colo, acariciando seus pelos negros como carvão, mas brilhantes.

David subiu as escadas em um pulo, se aproximando de mim com uma expressão extremamente preocupada em seu rosto e as mãos e pernas trêmulas, novamente ele parecia ter envelhecido com aquela situação, devia parar de se preocupar tanto, ia acabar ficando com rugas e cabelos brancos.

- Mary... Eles... Eles acham que fui eu quem matei a Sarah...

Em outro lugar...

- Você está jogando errado Mary... Mais peças vão ser sacrificadas por sua causa, não adianta, você sempre será pior do que eu nesse jogo...

Em suas mãos, a figura desconhecida segurava uma carta branca, escrita em letras negras: CÓPIA DO MANDADO DE BUSCA, EXIGIDO POR...