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História Hurts Like Hell - Vergonha


Escrita por: beabea e Gessikk

Notas do Autor


Oi, lindos! O capítulo hoje é totalmente por vocês por dois motivos:
Primeiro: Eu não ia postar hoje, mas duas leitoras muito importantes pediram para mim, então podem agradecer para a Ana e a Maria!
Segundo: Quando eu estava escrevendo o capítulo, estava MEGA travada até receber o comentário da "BansheeObrien" no meu último do capítulo, "Lábios". Então, não sei quem é você leitora linda, mas esse capítulo só aconteceu por causa! Ainda nem respondi seu comentário (nem de ninguém), mas me inspirei no que você disse para fazer os diálogos e algumas cenas. Espero que perceba isso e que goste do capítulo!
Boa leitura

Capítulo 23 - Vergonha


Terceira Pessoa

— Cora, eu preciso falar com você! — Foi a primeira coisa que Stiles falou quando viu a melhor amiga entrando no corredor da escola. — É sobre a Lydia.

— Por favor, não diz que você estragou tudo! — A preocupação invadiu os olhos expressivos da Hale. — Já basta que eu e o Scott ...

— Eu a beijei, Cora! No meio de uma briga eu a encurralei contra a parede e a beijei. — Ele falou de uma vez, os olhos brilhavam de satisfação e orgulho ao falar com a amiga. — Depois ela me deu um selinho e ontem eu fui para a sua casa e nós ficamos nos beijando durante uma eternidade! Ela fez com que eu segurasse nos seios dela, dá para acreditar?

Cora parou de andar. Os olhos escuros se arregalaram e a boca se escancarou. Todo seu rosto foi invadido pela surpresa e incredulidade. Ela ficou tão encantada pela felicidade incomum que Stiles transmitia, que finalmente parou de pensar nos acontecimentos desastrosos de sua vida pessoal.

— Calma, virgem! Muita informação de uma vez só. — Um sorriso safado e satisfeito tomou os lábios de Cora. Stiles retribuiu o sorriso. — Vai me explicar tudo direitinho e com detalhes!

Era raro ver Stiles tão feliz, tão animado. Ele contou tudo que aconteceu com Lydia, omitindo apenas a parte de que o motivo da discussão que levou ao beijo foi a Martin ter descoberto sobre os abusos. Afinal, Cora não sabia o que o melhor amigo tinha passado na infância.

Ele ria, sorria e corava enquanto falava sobre como foi beijar os lábios grossos e apaixonantes. Respondia a todas as perguntas constrangedoras de Cora, mesmo com timidez. A Hale literalmente pulou de felicidade quando Stiles confessou que gostou de tocar em Lydia e em como foi capaz de apertar os seios e o bumbum da menina.

— Eu não acredito nisso! — Cora quase gritou, incrédula. — Você nem consegue abraçar uma pessoa, mas já passou a mão no corpinho da Lydia?

— Ela que me fez apertar primeiro. — Ele olhava para o chão, tímido, porém o sorriso não saía da boca.

— E você continuou porque é um safado!

— Não me chama assim. — Resmungou com o rosto ainda mais vermelho.

— Por que não? — Uma sobrancelha castanha se ergueu em completo deboche. — Vai dizer que você não ficou duro de tesão durante os beijos?

— Cora!

A garota riu com a repreensão tímida do melhor amigo. Por instinto, ela jogou a mão até o braço dele, dando um aperto gentil. Esperou que ele a afastasse, mas isso não aconteceu.

— Essa garota está fazendo um milagre com você. — Ela concluiu perplexa, parando de rir para analisar a felicidade no rosto de Stiles.

— O quê?

— Não lembro da última vez que vi você tão feliz. — Enquanto falava, Cora arriscou acariciar o braço de Stiles com o dedão. — E ela enfrenta tanto a sua repulsa por toque, que você está deixando as pessoas encostarem em você.

Stiles franziu o cenho e olhou para o próprio braço. Viu a mão de Cora apoiada ali e percebeu que não causava nenhum tipo de incomodo. O carinho que ela fazia era até mesmo agradável.

— E-eu gosto mesmo dela. — Ele gaguejou, porém não hesitou ao liberar aquela verdade inegável que todo seu corpo já confessava.

— Isso se chama paixão, Stiles. Você está caidinho pela ruiva! — Cora corrigiu com um meio sorriso repleto de significado.

Stiles não respondeu. Sabia que não podia negar, no entanto, ainda não tinha coragem o suficiente para dizer aquelas palavras. Estar apaixonado parecia algo surreal para ele.

O Stilinski não sabia que era capaz de abrigar aquele tipo de sentimento em seu coração despedaçado. Porém, os olhos verdes corajosos estavam o transformando silenciosamente de dentro para fora.

Lydia, mesmo que sem querer, estava consertando aos poucos o interior de Stiles. Ela não sabia como fazia aquilo, muito menos ele. Mas era notório as pequenas e significantes mudanças que surgiram nele desde que a Martin chegou na escola e começou a afrontá-lo.

— Você parece melhor. — Ele comentou depois de alguns instantes. — Não está pensando tanto no idiota do McCall?

Stiles e Cora sentaram no chão do corredor do colégio. Mesmo sem proferirem nenhuma palavra sobre o tempo de matemática que estavam perdendo, os dois sabiam que precisavam matar o primeiro tempo de aula para conversarem.

— Era só sexo, Stiles. Não vou ficar pensando nisso para sempre!

O Stilinski revirou os olhos e virou todo o corpo em direção a Cora. A encarou em uma acusação muda, os lábios franzidos de insatisfação pela mentira óbvia da Hale. Ele a conhecia muito bem.

— Por que você tem a mania de tentar mentir para quem sabe a verdade, Cora? — As palavras dele fizeram com que a Hale encolhesse os ombros e fizesse um pequeno beicinho nos lábios finos. — Faz anos que você me contou que estava apaixonada pelo Scott e mesmo assim sempre evita esse assunto comigo.

— Não adianta eu ficar falando sobre isso. — Ela murmurou incomodada com a sensação de fraqueza e exposição ao lado do amigo. — Na mesma época que eu percebi que estava apaixonada, Scott teve sua primeira transa com outra garota e ainda veio me contar os detalhes, dizendo como foi diferente ir para a cama com alguém que não fosse...eu.

— Scott sabe como ser um idiota. — Stiles bufou e apoiou a cabeça na parede. Seus olhos estavam atentos em direção a amiga.

— Talvez o problema seja eu ser tão estúpida! — As mãos de Cora foram as suas têmporas. Ela começou a massagear o lugar ao sentir pequenas pontadas de dor de cabeça. — Quando a gente voltou a transar sempre, eu achei que finalmente ia dar certo!

— Mas aí ele surge com a Allison do nada. — Stiles complementou sentindo vontade de socar Scott.

Os amigos lembraram da época em que Scott conheceu Allison. Bastou uma semana conversando com a Argent, para ele parar de ficar com a Cora. E um mês depois começou a namorar.

Stiles não sabia se o pior foi ver que Scott não gostava de Allison e mesmo assim começou um namoro sem sentido ou se foi ver o estado de Cora quando Scott parou de lhe dar atenção.

Eles não só pararam de ficar por causa do namoro, como também se afastaram como amigos. Talvez porque, desde os onze anos, quando derem o primeiro beijo juntos, a amizade deles sempre esteve entrelaçada com algo além do que amigos comuns fazem.

O primeiro beijo tinha sido somente para não serem mais chamados de “bv”, no entanto, eles não esperavam que fossem gostar tanto de se beijar. E isso levou as primeiras mãos bobas, ao primeiro sexo oral e consequentemente, a primeira vez.

 — Ele não gosta de mim, Stiles e nunca vai gostar. Eu tenho que aceitar isso.

— Cora....

— Ainda por cima eu fiz ele trair a Allison! Você sabe que eu odeio aquela garota, mas ainda sim... Deus! Ela não merecia ser traída.

Stiles não sabia o que fazer, o que dizer. Com relutância, ele passou um braço ao redor dos ombros de Cora. O contato excessivo fez seus músculos se retesarem, no entanto, ficou feliz ao ver a amiga relaxar com seu contato.

— Ele traiu porque quis, Cora. Vocês dois erraram, mas era ele que tinha um compromisso com a Allison, não você.

— Eu não devia ter feito isso. — Ela se lamentou uma última vez enquanto suspirava. — Estava tudo melhor antes daquela maldita festa.

Com desgosto, Cora lembrou como tinha passado longos meses longe de Scott, respeitando o namoro dele. Lembrou também, como tudo foi por água abaixo na festa em que Scott estava excitado quando começaram a dançar juntos e em como isso resultou nos dois se trancando no banheiro e tirando a falta de sexo.

Depois daquilo, pareceu impossível parar a traição. Ela era apaixonada por Scott e o sexo deles era completamente viciante. Dava vontade de nunca mais parar. Sempre que começavam, desejavam não ter que nunca mais voltar a colocar uma roupa.

— Stiles! — Lydia quase cantarolou o nome do garoto.

Stiles estremeceu no lugar, arregalou os olhos e tirou o braço dos ombros de Cora. Lydia lhe lançava um sorriso exuberante que dominava cada pedaço de seu lindo rosto.

— Hey.

Apesar da extrema insegurança de Stiles ao cumprimentá-la, Lydia não pareceu se importar com isso. Sem precisar de convite, ela sentou no chão ao lado de Stiles, sem se preocupar muito com a saia curta que usava.

Pela segunda vez, Stiles viu a cor da calcinha de Lydia. A que ela usava naquele dia era azul marinho. Ele se xingou internamente por ter amado espiar quando a saia levantou, porém não teve tempo para se martirizar pois Lydia o surpreendeu com um selinho rápido.

— Soube que vocês quase transaram ontem! — O comentário maldoso de Cora fez com que o breve selinho terminasse.

— Foi isso que o Stiles falou? — Lydia pretendia provocar o garoto ao perguntar, porém ele mal escutava.

Stiles estava chocado, assustado. Não conseguia acreditar no que Lydia tinha feito. Ela o beijou em público! Juntou seus lábios em um corredor com alguns alunos presentes e bem na frente de Cora.

— Você devia ter vergonha de me beijar. — Stiles nem percebeu que com aquela frase repentina, interrompeu a conversa que as garotas tinham começado.

— O quê? — Foi Lydia que perguntou com estranheza, Cora apenas observou.

A Hale conhecia muito bem o melhor amigo e de certa forma, estava habituada a ouvir ele dizer coisas degradantes sobre si mesmo. Todos os dias ele parecia arrumar alguma forma de demonstrar a auto estima baixa ou o medo contínuo de rejeição.

— Você devia ter vergonha de me beijar. — Ele repetiu a mesma frase. O rosto corado, o medo mal escondido nos olhos.

— Por que eu... — A compreensão invadiu Lydia durante a pergunta. Isso fez com sua expressão se deformasse pela negação e tristeza. — Eu não tenho vergonha de você. — A incredulidade ainda dominava os olhos escuros de Stiles. — Por Deus! É impossível sentir vergonha de beijar você.

Lydia não conseguiu acompanhar a mudança repentina de humor de Stiles. Em um momento, a insegurança e a surpresa o dominavam e então, a raiva tomou seus olhos castanhos.

— Não minta para mim! — A explosão de Stiles veio com a frase que Lydia não pode compreender.

— Stiles, e-eu não...

— Não minta! — Ele voltou a repetir com uma raiva incoerente. As mãos tremiam e em um pulo, ficou de pé. Olhou para Lydia com uma agressividade que a fez tremer. — Você... você não gosta de mim. — A nova afirmação veio com um resquício de dúvida, mas ainda assim, Stiles não cedeu. — Você não pode gostar.

— Stiles... — Lydia pronunciou o nome dele e tentou levantar do chão.

Cora, que continuava em silêncio, posou a mão na perna de Lydia. A Martin a olhou com confusão e a Hale apenas negou com a cabeça, a expressão significativa. Temerosa, Lydia continuou sentada.

— Eu não menti. — Ela tentou dizer em um sussurro.

Stiles fechou os olhos. O tremor atingiu seus braços e agitou seu estomago. A respiração se tornou falha. Ele sentia nojo. Nojo de si mesmo e não conseguia aceitar as palavras e atitudes de carinho que recebia. Aquilo era demais para ele.

Foi Cora que levantou do chão. Ela se aproximou com muito cuidado de Stiles e o pegando desprevenido, passou os dedos nas bochechas dele. Ele encarou a melhor amiga sem compreender o que acontecia.

Sentia um misto de raiva, enjoo, incredulidade e medo. Muito medo. Ele estava apavorado com a ideia de acreditar em Lydia. Ele simplesmente não podia acreditar que ela não sentia nojo.

— Ela é perfeita demais... e-ela... — Stiles acabou murmurando como se Lydia não estivesse ali presente. Como se ela não escutasse o que ele falava. — Eu não sou o suficiente para ela.

Lydia paralisou. Os olhos arregalados, atentos. Stiles chorava e nem parecia perceber, enquanto Cora tentava recolher suas lágrimas com o mínimo contato possível.

— Você também é perfeito, Stiles. Só não consegue enxergar isso. — O afeto que transbordava da amiga o fez abaixar a cabeça e encarar o chão.

Lydia não sabia o que sentir. Era assustador ver como Stiles mudava de humor em questão de segundos e a fragilidade que ele demonstrava a cada momento. Ela tinha certeza de que gostava daquele garoto problemático e temia não ser capaz de ajudá-lo como precisava.

Sentia vontade de abraçar Stiles e tirar toda a dor que o envolvia. “Como alguém foi capaz de destruí-lo dessa forma? ”, era a única pergunta que atormentava os pensamentos de Lydia. Ela não conseguia entender como o abusaram, quando ainda criança, ao ponto de fazer com que ele crescesse cheio de tantos traumas, medos, tristeza.

— Stiles, eu gosto de você. Jamais sentiria vergonha de...

— Por favor, não fale isso! — Stiles interrompeu a tentativa de fala de Lydia. — Eu.... Eu odeio você! Você precisa parar de falar essas coisas para mim!

— Lydia, você vai piorar o estado dele. — Cora avisou, porém Lydia não quis ouvir.

A Martin finalmente ficou de pé e com sua coragem típica, levou as duas mãos ao peito de Stiles. Ele estremeceu com o excesso de contanto, mas não foi capaz de se afastar.

— Stiles, depois de ontem, você acha mesmo que eu menti? — Daquela vez, nem mesmo a doçura na voz de Lydia foi capaz de acalmá-lo.

Então, ele finalmente se afastou. Como Cora previu, ele piorou com aquela simples tentativa de Lydia. As lágrimas aumentaram sem nenhum tipo de controle, o rosto foi preenchido por um rubor de vergonha e os dedos das mãos voltaram a tremer.

Os olhos castanhos só se ergueram para encarar Cora. Ela o olhava com compreensão e cuidado. Já tinha visto o garoto ficar daquela forma tantas vezes, que sabia o que estava acontecendo mesmo com as atitudes confusas dele.

— Eu... não minta para mim. — Foi só um sussurro que saiu dele. A voz era um clamor muito baixo.

Com o olhar baixo, negando com a cabeça, Stiles deu longos passos para longe das garotas. Saiu sem dizer mais nada e sem deixar que elas se pronunciassem mais uma vez.

— Droga! — Cora exclamou, levando as mãos até o cabelo escuro.

— O que eu fiz para ele ficar assim? — O corpo de Lydia estava inclinado na direção em que Stiles se foi.

Lydia só conseguia pensar no dia anterior. Pensou nos beijos íntimos e excitantes e na forma corajosa que Stiles enfrentou seu medo de toque. Além do modo que ele foi capaz de falar do abuso com ela.

Como no dia seguinte ele podia estar daquela maneira? Não entendia no que tinha errado. Não sabia o que fazer para vê-lo mais uma vez, sendo guiado pelos próprios desejos, pelas vontades, sem tanto medo, tanto receio.

— Ele gosta mesmo de você, Lydia. — A Hale disse em um tom preocupado, virando em direção a Lydia. Os olhos escuros a analisaram com atenção. — Para ele ficar assim, é porque... Deus! Ele gosta muito de você.

Lydia não entendeu aquelas afirmações. Olhou para Cora com uma dúvida explicita nos olhos. Rugas de preocupação se formavam na testa lisa. Ela queria correr atrás de Stiles, saber se ele estava bem. No entanto, não conseguia nem entender o que tinha acabado de acontecer.

— Como você consegue entendê-lo? — A Martin disse com frustração, os ombros caídos.

Com aquela simples fala, Cora mostrou a Lydia um lado de sua personalidade que poucos conheciam. A Hale mudou a expressão e sem nem pensar no que fazia, agarrou o braço de Lydia e a arrastou até um canto mais escondido do corredor da escola. Não queria correr o risco de alguém escutar a conversa que estava prestes a acontecer.

— Eu gosto de você, Lydia e por isso vou ajudá-la com o Stiles. — Apesar das palavras de aparente apoio, o tom de Cora era intimidador. — Mas eu juro por Deus que se você o magoar de alguma forma, eu vou arrumar uma forma de arruinar sua vida!

Lydia não gostou daquele tom. Com um puxão brusco, se livrou do aperto da mão de Cora e a encarou em completo desafio. A Martin não era do tipo que fugia de uma briga, fosse verbal ou física.

— Você acha que...

— Eu amo o Stiles, Lydia! Ele é meu melhor amigo e o conheço. É por isso que estou falando assim com você. — Cora tentou se corrigir, apesar da ameaça implícita nos olhos desconfiados. — A vida toda as pessoas o magoaram, o machucaram e ele nunca tinha se apaixonado antes, então você precisa entender o quanto ele vai ficar destruído se as coisas não derem certo entre vocês.

— Eu não posso prometer que vai dar certo se não consigo nem entender como ele age. — Lydia falou já mansa, deixando a raiva passar e a preocupação se apoderar sobre seu corpo.

— Stiles não sabe lidar com os próprios sentimentos, nem com o carinho dos outros. É por isso que ele está assim. — Cora disse cedendo. Apoiou as costas na parede e soltou um longo suspiro. — Na primeira vez que eu disse que o amava, nós já éramos amigos há anos e ele passou dois dias seguidos dizendo que eu estava mentindo.

— Do que ele tem tanto medo? — A voz de Lydia era apenas um fio.

Cora olhou bem para a garota e viu a sinceridade nos olhos verdes. Percebeu que Lydia estava realmente disposta a aprender a ajudar Stiles. Por isso, naquele segundo, Cora decidiu que ensinaria a Lydia a como conviver com o Stilinski.

— Medo de se machucar ou de machucar você. — Cora disse com segurança, os ombros encolhidos. — Medo de se entregar ao que sente e dar tudo errado. Ele já passou por muita coisa, Lydia. Você tem que entender os receios dele. Essa a forma que Stiles vê para se proteger.

— Ele acha que tem se afastar de mim. — Não foi uma pergunta, mas a Hale concordou com a cabeça.

— Você sabe sobre a mãe dele? — Lydia franziu o rosto com aquela pergunta. Percebeu que nunca tinha ouvido nada sobre a mãe de Stiles.

— Não, ele nunca falou.

— Ela o abandonou quando pequeno. Dizia que amava o tio John, mas que não amava o Stiles. — Cora olhava para o vazio enquanto proferia as palavras pesadas. — Stiles ouviu a mãe falando isso e se culpou pela infelicidade do pai. Porque é claro, tio John preferiu ficar com o Stiles do que com aquela mulher maluca.

— Eu não fazia ideia... — A voz de Lydia sumiu e quando percebeu, lacrimejava.

Secou a lágrimas que escapou dos olhos e tentou manter a expressão imparcial. No entanto, seu interior estava destruído. Não conseguia mensurar a dor que Stiles carregava dentro de si. Como uma quantidade tão grande de crueldades aconteceram na infância de um único garoto?

— Ele já falou sobre os transtornos. — Lydia confirmou com a cabeça. Cora suspirou antes de continuar a falar. — O transtorno da personalidade borderline faz com que ele tenha um medo excessivo de abandono. Stiles tem pavor com a ideia das pessoas que ele ama simplesmente desistirem dele, então consegue imaginar como é difícil para ele saber que a mãe o abandonou? — A tristeza no rosto da Hale não conseguia transmitir tudo que ela sentia ao falar sobre o melhor amigo. — O pior medo dele se realizou e isso só aumenta o desespero que ele sente.

Lydia ficou um longo tempo em silêncio, tentando absorver o que tinha ouvido. A barriga girava de forma desconfortável e pontas de dor atingiam sua cabeça. Seu coração se partia ao tentar se colocar no lugar de Stiles.

Mais uma vez, olhou na direção em que ele andou e se xingou internamente por não ter ido atrás dele. Queria estar perto de Stiles para abraçá-lo e dizer que tudo iria ficar bem. Ela desejava ardentemente ter o poder de sugar suas dores.

— É por isso que ele disse que eu estou mentindo? — Lydia perguntou fraca, a compreensão alcançando seus pensamentos.

— Stiles tem medo de acreditar em você. Medo de aceitar que você gosta dele e...

— Depois eu ir embora. Falar que não consigo conviver com ele. — A Martin completou com facilidade, os olhos arregalados. — Como você sabe de tudo isso?

— Os surtos que ele tem, de certa forma são previsíveis. Não é a primeira vez que ele age assim. Basta alguém se aproximar o suficiente, ou demonstrar algum interesse que.... Bum! — Cora gesticulou com as mãos como se uma bomba invisível explodisse na frente de seu corpo. — Ele se apavora e afasta a pessoa.

Lydia ficou repentinamente inquieta. Ela não aceitava aquilo, não podia aceitar. Ansiosa, deu alguns passos para frente e olhou para Cora com aflição. A Martin não podia suportar ficar parada sabendo o que o garoto sentia.

— Vai logo atrás dele! — Cora disse com simplicidade, fazendo movimentos com as mãos para a incentivar. — Aposto o meu rim que ele está embaixo da arquibancada da quadra.

— Eu vou! — Ela respondeu com certeza, para logo em seguida, travar no lugar. Olhou mais uma vez para Cora. — O que eu faço?

— Acho que colocar as mãos dele nos seus seios, consola qualquer garoto. — O tom de deboche atingiu em cheio a fala de Cora. — Falar que não vai deixar ele morrer virgem também é um ótimo incentivo.

Lydia conseguiu revirar os olhos e corou sutilmente. Cora tinha um sorriso repleto de malícia em direção a ela. Aquela simples provocação fez com que o clima entre as garotas melhorasse.

— Foi uma forma de fazer ele tocar em mim. — Lydia conseguiu sorrir mesmo ainda sentindo o enjoo no alto do estomago.

— Então vai lá e faz ele tocar no meio das suas pernas!

Soltando uma pequena risada em um misto de ansiedade e constrangimento, Lydia finalmente saiu do lugar. Em vez de só andar até a quadra, ela correu para chegar depressa. Seu coração quase pulava da boca.

O sorriso de Cora aumentou ao ver a cabeleira ruiva se afastar. Percebeu com satisfação que Lydia realmente estava disposta a tentar se acertar com Stiles e a Hale sabia como o melhor amigo precisava de alguém como Lydia para ajudá-lo com seus infinitos medos.

— Não acredito que ele finalmente vai deixar de ser virgem. — Falou consigo mesma, perdida em pensamentos.

Cora estava melhor naquele dia e se sentia bem com isso. Estava feliz por Stiles ao perceber os avanços com Lydia e o real desejo da garota de ajudá-lo. Então, ela achava que não aconteceria nada de ruim.

Depois de sofrer por Scott, Cora achava que teria um único dia para não pensar no garoto. Ou, pensar menos. Porém, esse pensamento se desfez assim que ouviu alguém chamando seu nome.

Não, não foi Scott que a chamou. Ela preferia mil vezes que fosse a voz do McCall, mas em vez disso, o dono da voz foi o efeito colateral que a briga com seu melhor amigo causou.

— Hey, Cora! — A voz se aproximou. Não tinha como Cora escapar.

Ela estremeceu ao encarar Matt. O garoto que ela cometeu o grave erro de ficar em uma tentativa estupida de se sentir melhor por causa de Scott. Nem mesmo ela sabia como foi capaz de um ato tão burro.

Só de encarar o sorriso malicioso de Matt, ela sentiu pontadas doloridas na barriga. Fechou os olhos por alguns segundos, sentindo o corpo tremer ao lembrar da forma violenta como foi penetrada. Nunca tinha sido tão humilhada em sua vida.

— Oi. — Ela odiava se sentir fraca, ou envergonhada. Isso ia contra seu jeito descontraído e desinibido. No entanto, Cora abaixou a cabeça e olhou para o chão ao falar.

— O que você acha de repetirmos aquele dia?

— O q-quê?

— É só a gente achar uma sala vazia e se divertir um pouco!

Ela não pode acreditar naquelas palavras. Como Matt chamava de se divertir? Não tinha nada de divertido em um sexo agressivo e humilhante. Cora se sentia usada, envergonhada e muito, muito arrependida.

— Eu preciso ir para a aula... — A voz da Hale foi ainda mais baixa.

Nervosa, sem saber como fazer, tentou andar na direção oposta de onde Matt tinha surgido. Não conseguiu dar nem dois passos para frente porque a mão pesada do garoto agarrou seu braço com grosseria.

Mais uma vez, ela tremeu. Lembrou da forma como Matt a segurou enquanto usava seu corpo como se fosse uma boneca inflável. Talvez, pior do que pensar na dor que sentiu, fosse lembrar dele a obrigando a engolir seu gozo. Ela ainda sentia nojo dos próprios lábios por causa daquilo.

Scott podia ter todos os defeitos do mundo, mas nunca tinha a tratado de maneira degradante durante o sexo. Ele respeitava seus limites, suas vontades, seus desejos. E isso fazia Cora se sentir ainda pior pelo momento que teve com Matt. Afinal, ela sabia o quanto sexo podia ser bom e que o que Matt fez, foi uma violência.

— Você não quer repetir, gostosa? A gente pode fazer depois da aula, já que você quer tanto ir agora para a sala.

Em outra ocasião, Cora teria coragem de desferir um tapa no rosto de Matt. No entanto, ela se sentia acuada com a ideia dele ser violento e forçá-la a fazer mais coisas que não queria.

— Acho melhor não... — O desespero aumentava dentro de Cora e sua expressão começava a demonstrar isso.

Agoniada, forçou a mão para baixo com muita força. Por distração de Matt, ela conseguiu libertar o braço e imediatamente, deu vários passos para frente. Desesperada para se afastar, apenas murmurou: “eu preciso mesmo ir” e foi andando com preocupação.

— Cora! — Matt a chamou mais uma vez.

Cora arregalou os olhos quando percebeu que Matt tinha acelerado o passo para segui-la. Antes de sentir as mãos do garoto em seu quadril, a Hale se deparou com olhos escuros muito conhecidos. Scott estava parado, atento, observando o que acontecia a poucos metros de distância.

Matt agarrou o quadril de Cora com certa violência e usou a força para a pressionar contra a parede. Ela gemeu de dor quando a cabeça bateu na coluna de concreto atrás de si.

— Até parece que está tentando fugir de mim, Cora. — Matt pressionou o corpo contra o da Hale. Ela arfou de desgosto quando sentiu o início da ereção que se formava na calça dele. — Já deu uma vez para mim e agora não quer repetir?

— Matt, me solta. — Cora se odiou por sentir lágrimas invadirem seus olhos ao falar aquilo.

Ela estava entrando em desespero. Matt a espremia contra a parede e esfregava a ereção contra sua barriga. Tudo isso em um corredor cheio, onde qualquer um podia ver e facilmente entender que ela estava sendo coagida. Cora se sentia envergonhada, mais uma vez humilhada.

— Você não gostou do que a gente fez?

Então, para piorar, uma das mãos de Matt deslizou para o corpo da Hale. Ela se remexeu inquieta, tentando se soltar, porém ele era forte demais. Matt agarrou o bumbum de Cora com uma força desproporcional.

Palavrões foram gritados de forma odiosa. Mas não foi Matt que falou, nem Cora. Os xingamentos contínuos surgiram de Scott. Em um instante, a Hale estava acuada pelo enorme corpo de Matt e no segundo seguinte, ela viu o garoto ser derrubado no chão.

— Ela disse para você soltar! — A voz de Scott era como um rugido furioso.

Cora arfou, abraçando o próprio corpo e se afastando alguns passos quando viu Scott acertar o primeiro soco no rosto de Matt. Alguns alunos começaram a se aproximar, formando um meio círculo para ver a briga que começava.

Matt estava tão surpreso por ter sido pego desprevenido, que não conseguiu nem tentar se defender ao receber os primeiros murros. Scott explodia de raiva, mas por um pequeno deslize, acabou recebendo também um soco no olho direito.

McCall cambaleou um passo para trás e isso foi o suficiente para Matt ficar de pé. No entanto, Scott usou o ódio que sentia por ver, mais uma vez, Cora sendo desrespeitada, junto com os ciúmes que agitava seu peito para criar a força necessária para agarrar o pescoço de Matt.

Foi capaz de fazer Matt colidir contra a parede, a mão o sufocava. Deixou o rosto perto do dele, transparecendo todo a ira acumulada dentro de si. Fazia tempo que ele queria dar uma surra em Matt e todos os acontecimentos recentes em sua vida, fazia ele ter mais ódio e mais força para atingir o garoto.

Pensou na briga com Cora, na briga com Stiles e na situação com Allison. Sentia raiva de si mesmo, por todas as escolhas estupidas e pela sua capacidade de magoar a todos que o amavam. Usou isso para socar a barriga de Matt enquanto ainda o sufocava.

— Se você tocar nela de novo, se eu ver ela sendo acuada de alguma forma... — Scott parou no meio da frase para apertar ainda mais a mão em volta do pescoço de Matt. Ele se debatia, mas claramente não era bom de briga e começava a perder o ar. — Por Deus! Se eu ver você se aproximando ou sequer olhando para o corpo dela, eu não vou parar de bater em você até escutar o som das suas costelas quebrando.

Cora assistia tudo com os olhos arregalados. Não conseguia reagir. Apenas assistiu o garoto que a magoou a defendendo daquela forma, tomado pelo ódio, tomado pelos ciúmes. Ela não sabia nem o que pensar. Estava paralisada no lugar.

— Você nunca mais vai tratá-la dessa forma! — A Hale reconheceu o típico tom de posse na voz de Scott. — Você nunca mais vai olhar para ela!

Quando Scott libertou o pescoço de Matt, o rosto dele já se tornava roxo devido à falta de oxigênio, além do nariz sangrando. Mesmo assim, Scott tinha vontade de continuar esmurrando o infeliz.

Suas mãos ainda tremiam e em sua mente, se torturava com a cena da mão de Matt agarrando o bumbum de Cora. Lembrava da conversa em que Matt a humilhava e sentiu seu ódio aumentar ao pensar, que além de Cora ter dormido com outro garoto, tinha sido machucada, maltratada.

Ele nem se importou em ver a direção em que Matt cambaleou, nem em olhar para saber se alguém tinha chamado o diretor. Seus olhos escuros apenas se voltaram para Cora. A olhou com firmeza, bem no fundo dos olhos castanhos como há muito tempo não fazia.

Viu a confusão de sentimentos que passava pelo rosto da amiga. Porém, a única coisa que conseguiu absorver foi o quanto ela era linda. Ele sentia falta de admirar aquelas feições e de fazê-la sorrir.

 — Cora. — Ele não pensou. O nome da amiga simplesmente pulou de sua boca.

Foi automático dar alguns passos na direção dela. A expressão era doce, os olhos demonstravam a culpa que sentia por todas as palavras erradas que fizeram com que ela se magoasse.

— Não. — Ela falou incerta uma única palavra. Deu passos para trás, sem permitir que ele se aproximasse.

Scott parou no lugar, suspirou e abaixou a cabeça. Queria ser capaz de apagar suas atitudes. Queria implorar pelo perdão dela, dizer o quanto estava arrependido e confessar a quantidade de noites que passou em claro pensando nela.

Não sabia se ela tinha noção do quanto ele chorou após a primeira briga que tiveram. E ele odiava chorar, não era algo que fizesse com frequência. Porém, sabia que não podia esperar que ela o perdoasse com tanta facilidade.

— Eu sinto muito... — Ele murmurou desconcertado, sem ter mais coragem para erguer o rosto. — Cora, eu... — Se engasgou na frase ao perceber que não tinha o que dizer. Não sabia como falar. Então, sem nem perceber, apenas uma verdade inegável foi proferida de seus lábios inchados por causa de um dos socos. — Eu amo você.

Antes que desse tempo de raciocinar o significado das próprias palavras, Scott virou de costas e se afastou de Cora. Não queria esperar por uma reação dela. Ainda mais, quando ele próprio não conseguia distinguir o tipo de amor que tinha acabado de declarar.

A forma como seu peito estava acelerado e a respiração curta, o fazia perceber que não parecia ser somente um amor entre amigos. Sua cabeça latejou com uma dor insuportável enquanto abandonava aquele corredor cercado por alunos curiosos.

A boca de Cora estava escancarada. As lágrimas que prendeu durante tanto tempo, escorreram por seu rosto. Não sabia o que fazer, não queria pensar na atitude de Scott e muito menos, formar alguma estupida esperança em seu coração.

Por isso, a única atitude que teve foi andar em direção a uma especifica sala de aula. Sabia que Isaac estava lá e naquele momento, parecia uma ótima ideia ter a companhia dele. Ele conseguia a distrair e fazer com que se sentisse um pouco melhor.


Notas Finais


Então... o que acharam??
Esse capítulo, na verdade, está GIGANTE e por isso eu dividi em duas partes hahah..isso que vocês acabaram de ler, meio que foi a parte 1 e o próximo capítulo que eu vou postar, vai ser a parte 2 hahaha
O que vocês podem esperar do próximo capítulo? Mais Stydia..mostrando do exato momento em que a Lydia foi falar com o Stiles ee mais um casal que eu quero que seja surpresa!
Gostaram da interação Stora?? Amo muitooo explorar a amizade entre Stiles e Cora! E o que acharam da Lydia querendo conhecer melhor nosso bebê Stilinski?
Estou curiosa para saber o que vocês têm a dizer sobre Scott e Cora... hahah
Não deixem de comentar, pois como eu disse hoje, muitas vezes vocês nos ajudam muito mais do que pensam! Seus comentários, suas opiniões, podem nos dar ideias e nos tirar de muitas travas!
Então até logo.. Espero vocês no próximo capítulo.
Beijinhos


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