História Husten e Sulina - Mais perto da morte - Sulina

Faziam 4 meses eu que não falava com Tenner, ou melhor, com Husten, dês que ele descobriu que eu era uma alienígena e que trabalhava para o concelho, que foi onde descobri seu verdadeiro nome, ele nunca mais entrou em contato comigo. A última vez que nos falamos ele estava muito magoado, disse que eu não poderia ter escondido algo assim dele, que ele não sabia mais quem eu realmente era. No começo achei que era só uma irritação passageira, a final, ele também é um de nós e também estava escondendo isso de mim. Será que ele não se deu conta que nos dois fizemos a mesma coisa? 

Mas melhor mudarmos o rumo do nosso assunto. Preciso lhe contar o que aconteceu após isso, depois de eu e Tenner nos separarmos, o que acho até hoje que foi a pior coisa que já fizemos. Rafa foi um grande amigo, me deu muito apoio desde então e nesse dia não foi diferente.

Tínhamos recebido uma missão do concelho, ir até um local que eles haviam recebido denúncias que seria um laboratório de experiências em alienígenas recém-chegados a terra.

Achei aquela missão um pouco estranha, pois não tem nada a ver com o meu cargo, investigar denúncias, mas não podia desobedecer ao concelho ou sofreria as consequências.

Pela manhã liguei para o Rafa e pedi que fosse comigo. O meu corpo já estava muito fraco e eu não queria arriscar mais um desmaio sem que houvesse alguém por perto para me ajudar. Para piorar a situação, o conselheiro Padth que me atendera desde que nasci nesse planeta, havia dito em minha última seção que se eu tivesse mais dois meses de vida humana, seria sorte. Talvez essa fosse a minha última missão, mas mesmo que fosse, eu a faria com excelência como todas as outras.

Eram cerca de 22h quando o Rafa passou em minha casa para me buscar, iríamos no furgão vermelho que havia sido cedido a nós para essa missão, pelo chefe Jhatk.

  Eu já conhecia o chefe Jhatk por ele ser o encarregado de algumas das missões especiais que eu já havia participado, ele era um dos mais velhos e sábios alienígenas que ainda estava neste planeta. Nesse dia eu não o esperava, a final, era apenas uma investigação sobre denúncias, nada tão importante, mas quando vi que ele iria conosco, eu realmente fiquei preocupada.

Quando embarquei no furgão, Rafael e eu trocamos olhares assustados. Ele também percebeu que havia algo suspeito nessa missão.

- Boa noite – Eu disse tentando ser cordial ao entrar no veículo.

- Boa noite, Sulina – Foi a resposta amigável que recebi do Rafa.

Mas Jhatk permaneceu em silêncio, como se quisesse nos mostrar que isso era o que devíamos fazer também. Então assim permanecemos o resto do trajeto.

Chegando lá, avistamos uma grande placa luminosa aonde estava escrito "aliste-se aqui". Aquilo devia servir como um convite, a pessoas, para se alistarem ao exército, mas o que faziam nos fundos daquele prédio segundo as denúncias de alienígenas que supostamente haviam sido capturados e estudados naquele lugar, era algo bem mais cruel.

- Qual o plano mestre Jhatk? – Perguntou Rafael ao descer do veículo.

- Sulina abrirá a porta da frente para nós, enquanto você irá aos fundos do estabelecimento e dará um curto na caixa de força – Sua voz parecia mais tensa e seria que o normal.

Rafael obedeceu às ordens e seguiu para a parte de traz da loja por um beco escuro.

- Menina Arien - Ele disse olhando para mim enquanto respirava fundo – É por você que estamos aqui.

Fiquei confusa com aquelas palavras.

- Desculpe, mas o que você quer dizer com isso? – Falei preocupada com a resposta.

- Garth, seu conselheiro Padth, nos falou que você não tem mais muito tempo com o seu corpo humano. E como os seus serviços ainda são essenciais para o concelho, estamos aqui para resgatar alguém que pode te ajudar.

Fiquei espantada ao saber que essa missão não era realmente algo tão simples. Ainda por cima a missão era sobre mim. E porque o concelho ainda precisava de mim?

Eu estava tonta de tanto pensar.

Respire fundo Arien, respire fundo, era o que eu estava repetindo para mim mesma. Apoiei uma das mãos na parede daquele lugar e tentei parecer tranquila.

- Quem viemos resgatar?

- Arthillie é o seu nome, ele é um espírito mayorim em um corpo humano, como você – respondeu Jhatk.

- E porque ele foi capturado? Nem deveriam poder nos diferenciar de outras pessoas, nossos corpos são completamente humanos.

- Mesmo sendo só um espírito, os mayorins não conseguem esconder os seus olhos azuis brilhantes.

Olhos azuis brilhantes, como eu não percebi isso? Fui tão ingênua. Ou talvez aqueles olhos, olhos tão azuis, tão lindos... Aiiii, aqueles olhos devem ter me hipnotizado, foi isso. Não tem como eu, a garota encarregada pelo censo, a garota que deveria conhecer a todas as raças, não tem outra explicação para eu ter deixado aquele olhar tão reluzente passar despercebido. Tenner era um mayorim!

Parece que agora eu estava tão repleta de informações novas que nem percebi que o chefe Jhatk havia me deixado para trás e entrado no prédio.

Passei pela porta de entrada cautelosamente, observando tudo que havia naquele lugar. Apesar de parecer um escritório normal, com escrivaninhas e arquivos, tinha alguma coisa ali que me causava arrepios. Mestre Jhatk estava a observar um pequeno quadro que havia em uma das paredes, a pintura que lembrava uma nave de Iridium era ainda mais horripilante.

- Mestre Jhatk, acho que realmente tem algo muito errado aqui, vou analisar alguns arquivos – Falei em um tom de voz baixo pensando que alguém poderia nos ouvir.

- Menina Arien, tome muito cuidado. Está vendo esse quadro? Ele abre uma porta escondida sobre essa parede.

- Vou tomar, Mestre.

Revirei algumas pastas e não achei nada conclusivo, a princípio todos que passaram por ali eram humanos.

Até que...

- Mestre Jhatk, esse arquivo está trancado, pode me ajudar a abri-ló? 

-Sim querida – Ele disse já andando em minha direção.

Tentamos abrir a fechadura com uma chave mestre, mas é claro que falhamos.

- É claro que está chave não abriria uma fechadura alienígena – Disse Mestre Jhatk 

- O que fazemos agora? – Perguntei sem esperança de que pudéssemos mesmo fazer algo.

- Vamos tentar usar está chave aqui – Ele disse tirando de sua pequena bolsa, uma chave que eu nunca havia visto.

Em pouco tempo a gaveta estava aberta e nós já estávamos a olhar aqueles poucos arquivos que ali estavam.

Eles continham dados sobre alguns alienígenas bem raros no planeta terra. Falava sobre os katilunes e suas características bem peculiares, suas verrugas e suas rugas. Eles me assustavam um pouco, mas eram muito receptivos e atenciosos com todos os que os visitavam, os encontrei três vezes enquanto realizava um censo no sul do Brasil, assim como constava nesses arquivos, eles vieram de um planeta frio e por isso ocupavam essa região do país.

Os arquivos também descreviam os lonitibãs, sua forma especial de lidar com a natureza e sua aparência sempre magra e alta.

E por fim os Mayorins.

-Vamos embora Arien, já achamos o que procurávamos – Mestre Jhatk disse enquanto guardava novamente os arquivos.

Faço um sinal positivo com a cabeça e logo saímos daquele lugar.

- Vou até os fundos do beco para chamar o Rafa – Digo indo em direção aquele lugar totalmente escuro.

Felizmente não preciso dar muitos passos, pois o Rafa já vinha em nossa direção.

- Escutei barulhos vindo daqui, fiquei preocupado que alguém tivesse visto vocês e que estivessem em encrencas – Ele disse com um semblante assustado.

Sorrio para ele como sinal de que está tudo bem.

- Na verdade correu tudo bem, já estamos indo embora.

Vamos até o furgão e Mestre Jhatk nos leva para casa.