História Hybrid: Um demônio em Beacon Hills - Garanhão Hale

 Lá estávamos Derek e eu cara a cara. Ele olhava em meus olhos com aquele seu sorriso, o que me deixava totalmente desconcertada. E o mais incrível é que ele parecia saber daquilo e fazia de propósito. Senti sua mão quente, um pouco áspera, deslizar sobre meu rosto. Parecia que tudo em torno de nós havia desaparecido e tudo o que restava éramos nós dois.

 – D-Derek, eu...

 – Shh... – fez ele.

 Seus lábios se aproximavam lentamente dos meus. Nossos corações pareciam bater mais fortes a cada instante que passava. Porém quando o beijo estava prestes a acontecer, um rock pesado começou a tocar e eu acordei.

***

 – Aff... – disse deslizando o dedo pela tela touch e desligando o alarme. – Foi só um sonho.

 – Torta... Torta... – ouvi tio Dean dizer enquanto dormia na outra cama.

 Sentei-me na cama, me espreguicei e olhei para meu pai que também dormia. Parando pra pensar, ele tinha demorado bastante a pegar no sono. Talvez estivesse assustado com tudo o que aconteceu na noite anterior ou então por estar andando com um lobisomem. Tio Dean provavelmente estava falando muito em seu ouvido por causa disso, mas o que ele podia fazer? Me mandar para um convento? Não ia rolar.

 Fui tomar um banho rápido e me vesti. Calça preta, camisa com alguma coisa escrita e tênis. De fato eu não tinha muitas roupas por conta da minha vida de nômade, mas as poucas que eu tinha dava para se virar no dia a dia. Fiz uma maquiagem simples, peguei minha mochila e parti em direção a escola. Quer dizer, primeiro passei na lanchonete porque não comia nada desde ontem na hora do almoço, e depois fui para o colégio.

 Minha primeira aula era de Economia, como no dia anterior. Entrei na sala treze agora mais vazia e me sentei perto da janela. Os outros alunos foram chegando aos poucos, mas nada de Liam e seus amigos. O professor Finstock entrou na sala e começou a dar sua aula normalmente. Será que os rapazes não viriam hoje? Aliás, Derek tinha dito que “eles deveriam estar tentando fugir das correntes” e que Liam também estava com eles. Seria esse o motivo da falta? Foi então que Mason entrou na sala, esbaforido.

 – Desculpa o atraso, professor.

 – Vá se sentar, Hewitt. – falou o professor interrompendo a aula.

 – Certo. – disse correndo e se sentando ao meu lado.

 – Mason. – cochichei para o negro. – Mason!

 – Emily? O que foi? – cochichou ele para mim.

 – E o Liam?

 – Ele disse que tinha que fazer uma coisa com a Talita e o Leon antes da aula.

 – Estou interrompendo as conversas de vocês, senhor Hewitt e senhorita Winchester? – perguntou o professor. Então nos calamos.

 Juro que não consegui prestar atenção naquela aula. Fiquei pensando se estaria tudo bem com os três, afinal, faltar sem aparentemente motivo algum depois do que aconteceu na noite passada. Então, graças a Axl Rose o sinal bateu, fazendo a aula de Economia finalmente terminar.

 Os alunos saíram da sala como um bando de presidiários fugindo da cadeia. Esperei a confusão se desfazer e saí da sala de aula junto com Mason. Enquanto andávamos pelo corredor conversando demos de cara com Liam e os outros chegando a escola.

 – Fala aí, gente. – disse Liam se aproximando.

 – Onde vocês estavam? – perguntou Mason.

 – Fomos ver o Derek no hospital. Ele queria falar sobre os weredemons. – explicou Liam agora me olhando. – E também falou de você, Emily. É verdade que você é...?

 – Se eu sou uma híbrida? Sim, sou.

 – Híbrida? – perguntou Mason.

 – Ela é meio demônio. – Leon foi bem direto.

 – Então – falou Mason aparentemente assustado com aquilo. – Eu tô indo pra a aula de inglês. A gente se vê mais tarde. – o rapaz praticamente correu dali.

 – O que deu nele? – perguntei.

 – As experiências dele não foram nada boas com o mundo sobrenatural. – explicou Talita.

 – A Besta de Gévaudan meio que se apoderou do corpo dele. – disse Liam. – E ele está assim, assustado com essas coisas desde então.

 – Coitado... Mas eu o entendo.

 – É, todos nós entendemos. – disse Leon.

 Por fim todos nós fomos para as nossas salas assistir mais algumas aulas. Na hora do almoço conversamos novamente e eu os expliquei sobre os meus poderes, que podia fazer quase tudo com o poder da mente. Inclusive demonstrei roubando a batata frita de um menino magrelo que batia papo com os amigos.

 Quando as aulas finalmente terminaram pude ir ao hospital ver Derek. Liam e Leon tinham treino de lacrosse, já Talita tinha que fazer alguns trabalhos atrasados e Mason, bem, ele sumiu o resto do dia. Então tive que ir sozinha até o hospital, onde fui muito bem recebida. E lá estava eu, Emily Winchester, na porta do quarto de Derek Hale. Ajeitei meu cabelo e entrei, dando de cara com o homem pronto para pular a janela.

 – O que você pensa que tá fazendo? – perguntei o olhando.

 – O que você acha? – disse pondo o pé sobre a janela com dificuldade.

 – Derek Hale, volta pra essa cama agora!

 – E por que eu deveria seguir suas ordens? – perguntou um sorriso no rosto. Estiquei a mão em sua direção e o homem voou pelo quarto, caindo sobre a cama com tudo. – Ai!

 – Por causa disso, talvez? – eu sorri e sentei na beirada da cama o olhando.

 – Ok, o que você quer? – perguntou ele com dor.

 – Vim ver como você está.

 – Estou bem, obrigado. Agora me deixa sair desse inferno de hospital!

 – Por que tanta pressa? Você está machucado!

 – Porque tem weredemons espalhados por toda a cidade e se não fizermos alguma coisa todos vão morrer, talvez?

 – E do que adianta tentar fazer alguma coisa se nem uma janela você consegue pular direito? – naquele instante ele respirou fundo e virou o rosto para o outro lado. – Derek?

 – Hum?

 – Posso te perguntar uma coisa?

 – É um país livre.

 – Como você se sente sendo um ser sobrenatural?

 – Como assim? – perguntou o Hale agora me olhando.

 – Digo, você é um lobisomem, certo?

 – Sim, eu nasci um.

 – Às vezes você não tem a sensação de que... Sei lá... De que tem algo muito forte dentro de si, mas que se colocasse para fora seria totalmente destrutivo?

 – O tempo todo. – respondeu Derek. – Eu poderia ser um monstro, mas não sou.

 – E como você consegue isso?

 – Com muito treinamento e esforço. – disse se sentando na cama. – Costumamos chamar de “âncora”.

 – Âncora?

 – Âncora é algo que nos ligue ao nosso lado humano. Cada um tem a sua própria, basta encontrá-la.

 – E qual seria a sua âncora?

 – Prefiro não responder. – disse pegando em uma mecha do meu cabelo e logo em seguida a soltando. – Você tem que encontrar a sua dentro de si. Mesmo que possa levar muito tempo.

 – S-sabe, tenho muito medo de ficar como minha mãe. – falei sentindo o homem começar a beijar meu pescoço, me deixando envergonhada.

 – Você só vai ser como ela se quiser. – ele mordiscou minha orelha e eu me levantei na mesma hora com o rosto vermelho feito um pimentão.

 – Bem, obrigada pelo conselho Derek. Eu tenho que ir, já está escurecendo. Nem ouse sair dessa cama, ok? Amanhã eu volto.

 Peguei minha mochila e saí correndo do quarto deixando Derek para trás rindo da situação. Eu, por outro lado, não sabia exatamente explicar o que estava sentindo. Mas não era algo ruim, muito pelo contrário, era bom. Maravilhoso. Não o Derek, o sentimento... Tá, os dois. Vocês entenderam.

 Olhei a hora no celular e já ia dar seis e meia da noite. Meu pai ia me matar por estar chegando àquela hora sem avisar depois do ocorrido e ainda tinha uns mil deveres pra fazer. Então saí correndo para o hotel, antes que desse de cara com algum bicho feio.